Reboot

Fosse ou não o desejo da dupla de treinadores, Thomas e Paula davam o primeiro passo de um novo capítulo em suas jornadas, rumo ao desbravamento de um novo continente. Antes de começarem, porém, os jovens decidiram por seus pokémon a par da nova situação.

Littleroot era uma típica cidadezinha do interior. Nada que chamasse muita atenção, nem qualquer detalhe que a distinguisse de qualquer outro lugarejo de Johto. A diferença mais evidente, de fato, era o clima. Um sol forte e agradável erguia-se sobre o lugar, em contraste com a tempestade ininterrupta que assolava o continente de onde o grupo "fugira".

E os pokémon da dupla, apesar de confusos, pareciam empolgados com a mudança de ares. Talvez Néftis ainda preferisse um clima mais chuvoso, mas era difícil dizer. Em geral, Quagsires não têm uma expressão muito fácil de decifrar... Os outros evidenciavam um certo alívio em se moverem livremente sob o céu limpo. Zuko, em especial, devia estar muito alegre em poder caminhar sem o perigo de se encharcar completamente. Mas... onde ele estava?

Um momento de distração de Thomas, e seu Quivala sumiu de vista. Pouco provável que o pokémon houvesse se afastado muito - primeiro, por Zuko ser um dos mais sensatos da equipe, segundo, porque não havia muito espaço naquela cidade para que ele se afastasse demais. Entretanto, não seria muito sensato deixar seu pokémon perdido em uma cidade desconhecida, e um continente desconhecido.

Enfim, o que Thomas faria?

Off: Olá Klementt, muito prazer eu sou o Lix e obrigado por me narrar. Espero que possamos fazer uma boa rota juntos.

Os Pokémon da equipe pareciam evidentemente mais felizes com o clima ensolarado do que quando estavam em Johto com as constantes enchentes, apesar disso Néftis provavelmente se sentiria melhor em um lugar mais úmido, porém dificilmente a dupla decifraria as vontades da anfíbia que tinha um semblante um pouco...complicado de se ler.

- Ei, cadê o Zuko? - A garota levantava uma questão pertinente, em questão de segundos que a dupla estava desatenta o inicial havia sumido. Levando em conta a personalidade do Quilava aquilo era estranho, o Pokémon era calmo e sumir sem avisar para onde ia parecer não ser do feitio dele, o que preocupava um pouco Thomas que já pensava no pior.

- Sadie, Clyde preciso da ajuda de vocês. - Ouvindo o chamado do parceiro a coruja logo levantava voo e se posicionava pousando na cabeça do rapaz, alegre como sempre a voadora piava, feliz por ajudar o moreno. Enquanto isso Duskull continuava flutuando ao lado de Shuppet, o Pokémon fantasma era outra que tinha uma expressão difícil de ler, porém o mesmo parecia estar prestando atenção nos comandos do treinador.

- Preciso que usem Foresight e encontrem Zuko, quando acharem nos guiem até o local.

O desaparecimento de Zuko preocupava seu treinador, principalmente ao se considerar o comportamento calmo e obediente do pokémon. Assim, logo que Paula chamou sua atenção para o desaparecimento do Quilava, Thomas rapidamente pediu o auxílio de sua Hoothoot e seu Duskull, para que pudesse localizar o desaparecido.

Os olhos de Sadie e Clyde brilhavam enquanto ambos usavam seus poderes para examinar as imediações. Em poucos segundos,  a dupla pareceu encontrar algo que chamasse a atenção. A pequena coruja alçou voo e pôs-se à frente do grupo, indicando o caminho, parecendo extremamente alegre em ser útil a seu treinador. Por outro lado, o pokémon fantasma apenas flutuava tediosamente na mesma direção, como se encontrar ou não Zuko não fizesse muita diferença a ele.

O grupo não precisou caminhar muito, afinal. Uma rua abaixo da que estavam, encontraram o Quilava sumido. Estava a alguns metros de distância, junto de outro pokémon. Pareciam batalhar, a princípio, mas na verdade faziam algo ainda mais estranho. Um pequeno pokémon rosado, semelhante a um gato, saltitava ao redor de Zuko, balançando sua grande cauda. O Quilava seguia os movimentos com um olhar estranhamente encantado. Quando o pokémon de fogo estava a ponto de alcançar a cauda do outro, o gato se afastava um pouco, e a dupla recomeçava.

- Eles estão... brincando? - A surpresa no tom de voz de Paula era justificável. O pokémon mais isolado e retraído de Thomas, brincando alegremente ao lado de uma criaturinha que conhecera a poucos segundos? Algo tinha de estar muito errado...

De qualquer forma, Zuko e o outro pokémon estavam se afastando ao longo da rua, ainda entretidos em sua "dança". O que Thomas faria a seguir?

Logo que Thomas apontou sua pokédex na direção do "novo amigo" de Zuko, suas informações apareceram na tela:

Skitty
Eneko

Fica facilmente fascinado por objetos em movimento, por isso fica perseguindo-os. Muitas vezes fica girando tentando pegar o próprio rabo até ficar tonto. É difícil para alguém conquistar sua confiança.

O Skitty começava a se afastar, e o pokémon de Thomas o seguia. Assim, não restava opção ao grupo senão seguir a dupla de pokémons. O treinador chamava seu Quilava repetidas vezes, mas a criatura apenas hesitava por um curto instante, antes de voltar a perseguir o pokémon rosado. A perseguição perdurou por mais alguns metros, até o ponto em que o Skitty chegou a uma pequena área gramada, como uma praça. Lá, o pokémon correu na direção de uma garota, provavelmente sua treinadora.

A moça era jovem, de pele tão clara que era de se estranhar que o Sol não a queimasse. Seus olhos verdes chegavam a contrastar com a alvura de seu rosto, emoldurado por longos cabelos dourados, com uma pequena trança em cada lado, presa por um laço azul. Ela era bela, sem dúvida, mas ela não dava a impressão de se importar com esse fato. Do chapéu de praia que lhe cobria até as sandálias em seus pés, passando pelo discreto vestido branco que usava, tudo na garota parecia transbordar simplicidade e leveza.



- Aí está você, Katy... Por onde andou, mocinha? - A voz da moça era calma, quase sonolenta. A  Skitty continuava sua brincadeira com o Quilava, ambos correndo ao redor da treinadora - Vejo que já arranjou um novo "amigo". Você realmente não se cansa disso...

Katy e Zuko continuaram brincando, se afastado alguns metros, mas ainda no campo de visão do grupo. Só neste momento, a garota parece ter se dado conta da caravana que seguia os dois pokémons.

- Oh... olá. Então vocês... devem ser os donos daquele pokémon, certo? - Seu modo de falar evidenciava um leve desconforto - Sinto muito... Quero dizer, em que posso ajudar?

A moça deu uma risadinha contida. Aparentemente, a enxurrada de questões lançada por Paula não a incomodava.

- Meu nome é Cassandra, prazer em conhecê-los. A minha parceira ali chama-se Katy, e... Bom, eu a ganhei de meus pais, a mais tempo do que eu consigo lembrar.

A jovem mantinha os olhos na direção de sua Skitty, que ainda brincava com Zuko. Era cada vez mais óbvio que algo a incomodava.

- Eu temo que separar aqueles dois não seja algo muito fácil. Digo, a Katy tem o péssimo hábito de usar seu Attract para conquistar outros pokémons. Isso não é um problema em uma batalha, pois no máximo o alvo irá hesitar ao atacar. Mas fora de uma luta, entretanto, a  situação se complica, porque o pokémon apaixonado pode realmente acreditar que existe um sentimento real. Principalmente se ele nunca tiver experimentado um amor real...

Cassandra parou por um instante. Não era possível enxergar seu rosto, mas era evidente que o assunto  em pauta não era o seu favorito.

-  De qualquer forma, o seu Quilava deve se livrar do efeito logo - A moça se virou para o grupo, com um sorriso quase forçado - Só espero que ele não fique de coração partido com essa desilusão. Vocês devem saber o quanto um amor pode significar...

A moça lançou um olhar incomum para Paula e Thomas. Passaram-se poucos segundos até que a dupla, quase ao mesmo tempo, entendesse o que Cassandra queria dizer.

-  Você acha... Não!, Quero dizer, nós não... - Paula tentava formar uma frase completa, seu rosto completamente ruborizado - Nós não estamos juntos! Digo, nós viajamos juntos, mas é só, somos apenas amigos!

Mismagius pareceu tentar puxar Paula para longe, enquanto lançava um olhar ameaçador para Thomas, como se dissesse: "Nem pense em dar uma de galanteador barato para cima da minha treinadora..." O mais estranho, no entanto, foi a reação de Cassandra quando a Mismagius se aproximou de Paula. A moça de Hoenn se encolheu, como se sentisse um calafrio, como se o gesto da fantasma a incomodasse de alguma forma. Ou talvez a própria pokémon a incomodasse...

Antes que Thomas pudesse chegar a qualquer conclusão quanto a isso, uma sequência de fatos foi deflagrada. Clyde, aparentemente, havia enxergado a oportunidade perfeita para pregar sua primeira peça em Hoenn. O Duskull se aproximou sorrateiramente de Cassandra e, usando toda a sua habilidade, deu um grande susto na moça. Infelizmente, o susto fora um pouco além do esperado. Cassandra nem ao menos gritou. Seu rosto simplesmente perdeu a cor e ela caiu, desmaiada.

Katy surgiu como um raio, antes mesmo que Thomas e Paula pudessem se aproximar para acudir a garota. A Skitty se posicionou à frente de sua treinadora, furiosa com o grupo que, ao seu ver, a havia ferido. Zuko parecia completamente desorientado pela repentina mudança de atitude de sua "amiga", e parecia tentar decidir de qual lado estava a razão.

A pokémon não parecia disposta a "dialogar", nem recuar. Como Thomas faria para consertar essa situação?

Felizmente, Thomas tinha um rápido raciocínio. Não era difícil concluir, à partir dos fatos que se sucederam, que Cassandra tinha algum tipo de trauma quanto a pokémons fantasmas. Tão logo chegou a tal conclusão, o rapaz recolheu Bonnie e Clyde, sua dupla fantasmagórica, e pediu que Paula fizesse o mesmo. A garota prontamente recolheu sua Mismagius, o que certamente evitaria que Cassandra tivesse mais problemas ao encontrar.

Ainda assim, Thomas teria que lidar com uma Skitty raivosa, determinada a proteger sua treinadora a todo custo. Para acalmar Katy, o jovem contava com os poderes de sua Hoothoot. Sadie levantou voo, enquanto Thomas tentava se aproximar de Cassandra. A Skitty encarava o rapaz fixa e agressivamente, mas sem sair de sua posição, sempre próxima da garota caída. Enquanto a felina se concentrava naquele que se aproximava à sua frente, Sadie, em um rápido movimento, desceu à frente da Skitty e lançou seu golpe. Os olhos da Hoothoot brilharam, lançando anéis de energia (Hypnosis). Ao ser atingida, os músculos de Katy começaram a fraquejar, e logo ela caiu em sono profundo (SLP).

Sadie permaneceu logo à frente da Skitty, vigiando para caso ela acordasse. Zuko também estava próximo, com um olhar ainda mais confuso . Thomas e Paula, enfim, se aproximaram de Cassandra. A jovem de Hoenn não parecia ter se machucado ao cair, mas permanecia inconsciente, suando frio, como se estivesse tendo um péssimo sonho.

- O que vamos fazer? - perguntou Paula, um certo medo evidenciado em sua voz. Como a dupla ajudaria aquela garota?