Reboot

Off: Tudo bem, acontece.

Com os fantasmas já recolhidos Thomas tentava se aproximar de Cassandra que agora jazia desmaiada no chão. A jovem não parecia muito bem e para piorar Skitty agia como um cão-de-guarda impedindo que alguém tocasse nela, por sorte Hoothoot usava seu Hypnosis na gatinha deixando-a sonolenta e fazendo-a cair de sono logo em seguida.

Quando por fim conseguiu chegar perto da moça o treinador reparou que ela ainda dormia, não parecia ter se machucado quando caiu, porém Cassandra parecia suar frio. Sem saber muito o que fazer Thomas decidiu que era melhor que alguém especializado pudesse observá-la, sendo assim o mesmo pegou a garota no colo e decidiu sair dali.

- Vamos levá-la ao centro Pokémon, rápido pegue Skitty!

Paula recolhia a gata cor-de-rosa que dormia no chão, a dupla saía apressado junto dos Pokémon. Sadie ia voando na frente como se estivesse liderando o grupo, logo atrás Zuko, Néftis e Hero acompanhavam o grupo. O Pokémon de fogo parecia olhar constantemente para Skitty que era carregada por Paula, provavelmente observando se estava tudo bem.

O Centro Pokémon da cidade não era muito longe do local onde estavam e, certamente, seria um ponto ideal para conseguir algum tipo de auxílio. Assim, Thomas recolheu Cassandra em seus braços e rapidamente seguiu na direção do Centro, na companhia de seus pokémons e com Paula logo atrás, carregando a Skitty adormecida.

A jovem carregava ainda o chapéu de Cassandra, equilibrado sobre sua cabeça, e uma bolsa branca pendurada em seu ombro. A bolsa, claramente, pertencia à jovem de Hoenn, mas talvez estivesse posta em algum lugar do gramado aos pés da moça, de modo que Thomas não a havia notado até aquele momento.

Para a sorte do nativo de Johto, Cassandra era realmente tão leve quanto aparentava. Sem muito custo, o grupo alcançou o Centro Pokémon de Littleroot. Logo que entraram, a enfermeira do local, percebendo a situação, indicou um comprido sofá, onde Thomas pôde deitar a jovem inconsciente.

Paula sentou-se em uma cadeira logo ao lado, com Katy cochilando tranquilamente em seu colo. A respiração de Cassandra começava a assumir um ritmo normalizado e, lentamente, seus olhos se abriram.

- Onde... o que houve? - a voz da garota soava fraca. A enfermeira Joy ofereceu um copo d'água, e Cassandra bebeu alguns goles - Onde estou? Lembro que estava no parque, então... - ela fechou os olhos por um instante, como se retomasse o fôlego - Onde está Katy? E... minha bolsa?

Diante da resposta de Thomas, Cassandra permaneceu em silêncio por alguns instantes. Bebeu outro gole de água, então colocou o copo no chão. Sentou-se e respirou fundo, como se buscasse coragem para começar a falar.

- Bom, acho que não deve ser normal uma pessoa desmaiar por causa de uma brincadeirinha de um pokémon, não é? Digo, não deveria ser nada além de um susto, mas para mim é diferente. Quando se trata de pokémons fantasmas...

Cassandra tremeu novamente. Ao mesmo tempo, Katy começava a despertar. A Skitty olhou ao redor, confusa. Logo que avistou sua treinadora, pulou do colo de Paula e correu na direção da moça. Zuko tentou se aproximar, mas a felina simplesmente abanou sua cauda, dispensando o Quilava. Completamente chocado, o pokémon de Thomas se afastou.

- Está tudo bem Katy - Cassandra acariciava a pokémon a seus pés. - Muito obrigada por cuidar da minha Skitty, Paula. Será que poderia devolver a minha bolsa, também? - Paula entregou a bolsa e, assim que lembrou que ainda havia um chapéu sobre sua cabeça, devolveu-o também.

- Bom, voltando... Já ouviram falar de um lugar chamado Mt. Pyre? - perguntou a jovem, enquanto checava sua bolsa. - É uma espécie de ilha, mais ao norte do continente. Acreditem, aquele não é exatamente o tipo de lugar ao qual se levaria uma criança. Mesmo assim, eu ia muitas vezes lá, a alguns anos, com meu pai. Entendam, não era culpa dele. Eu não teria com quem ficar enquanto ele viajasse, e ele nunca me deixaria sozinha. Principalmente depois que...

A frase não se completou. O rosto de Cassandra congelou, mirando o interior de sua bolsa. A jovem revirou seus pertences, sua expressão  indo da surpresa ao desespero em um instante.

- Não... Onde está... Tem que estar aqui! TEM QUE ESTAR! - a garota despejava os itens de sua bolsa sobre o sofá: shards, poções, pokébolas, mas nenhum destes era o que Cassandra procurava. Katy se afastava alguns passos, claramente assustada com o comportamento de sua treinadora.

- Não, não, não... - Cassandra repetia, cada vez mais transtornada. Subitamente, a jovem jogou seus pertences de volta na bolsa e pôs-se a correr, para fora do Centro Pokémon, na mesma direção de onde o grupo viera. A Skitty, logo que se recuperou do choque, correu em seu encalço.

Por quê Cassandra estava tão fora de si? o que ela haveria perdido?

Cassandra corria à frente, com Katy em seu encalço, e Thomas e seu grupo logo atrás.

- Não é possível. Digo, não tinha nada caído perto daquele lugar - Paula parecia se sentir culpada - A bolsa estava aberta, mas não tinha como nada ter caído dela sem que eu visse.

Por fim, os três treinadores e os cinco pokémons chegaram novamente ao parque. Cassandra parou subitamente, como se tivesse visto outro fantasma. A alguns metros dela, perto do lugar onde havia desmaiado, estava um homem de cabelos brancos. O terno que usava contratava com o clima quente. Ao seu lado estava um pokémon humanoide, com o que parecia ser um enorme bigode, portando um par de... colheres?

- Perdeu alguma coisa, senhorita Thoumeaux? - O desconhecido jogava uma pokébola para o alto, enquanto ajeitava seus redondos óculos de sol.

- Você... - A expressão de Cassandra mudou de espanto para raiva em um instante - Devolva, agora!

- Ah, fala disso aqui? - perguntou o homem, casualmente - Pode pegar - e soltou a pokébola, como se quisesse libertar a criatura que houvesse ali dentro.

- NÃO! - gritou Cassandra, quase em pânico. O que poderia haver  naquela esfera que causasse tanto medo à garota. Thomas não chegou a descobrir naquele momento, já que a pokébola não chegou ao chão. Ela parou no ar, no instante em que o pokémon do homem desconhecido apontou suas colheres na direção da esfera.

- Patético... - o velho soltou uma risada desdenhosa, enquanto a pokébola dançava no ar e logo retornava à sua mão - Você não merece esse pokémon. Quer ele de volta? Então venha pegar.

Katy parecia pronta para atacar, mas Cassandra estava estática. A garota parecia mais assustada do que quando a Mismagius de Paula e a dupla de Thomas flutuavam à sua frente. A pergunta é: por que?

A primeira dúvida da dupla era quanto à identidade do pokémon que levitava a pokébola que seria de Cassandra. Logo, Thomas apontou a pokédex na direção da criatura, e o equipamento mostrou os dados.

Alakazam
Foodin

Dizem que as colheres em suas mãos são frutos de seus poderes psíquicos. Seu cérebro é tão grande que dizem que é o pokémon mais inteligente que já existiu.

Em meio ao conflito entre Cassandra e o misterioso homem, o rapaz de Johto buscava explicações. Entretanto, antes que pudesse ser respondido, seu Quilava tomou a dianteira. Zuko avançou com toda a sua velocidade (Quick Attack), na tentativa de recuperar a pokéball que o homem tomara.

O homem simplesmente agarrou a esfera e moveu-se para o lado, com uma velocidade espantosa para alguém que aparentava ter mais idade, deixando Zuko cortar o ar a poucos centímetros de seu terno.

Hero, aproveitando a distração de seu parceiro, lançou seu corpo na direção do velho (Take Down). Este, por sua vez, nem se virou na direção do Eevee.

- Alakazam, Teleport... - o pokémon psíquico e seu treinador começaram a brilhar e, pouco antes que Hero os atingisse, desapareceram. A pequena raposa investiu contra o ar, caindo na  grama de forma nada suave. Ao mesmo tempo, Alakazam e o homem reapareciam sob uma árvore, poucos metros adiante.

- Minha senhorita, com que tipos anda se envolvendo? Com toda essa confusão, podem até achar que sou algum tipo de criminoso. - O homem falava com certo deboche, como se repreendesse uma criança - De qualquer forma, creio que também tenha ignorado os bons modos, já que nem me apresentei. Me chamo Victor Ferkiss, e sou empregado da familia Thoumeax. E sim, essa pokébola pertence à senhorita Thoumeax, por mais que não mereça... Eu, por outro lado, só estou preocupado com o bem estar desta pobre criatura.

- Você não se importa com ele! - gritou Cassandra, saindo de seu estado de choque  - Nunca se importou, só que mais uma peça para sua coleção!

- E você, por acaso liga para o que aconteça a ele? Diga-me, qual a última vez que batalhou com ele? Melhor ainda, qual a última vez que o tirou da pokébola?

A garota permaneceu em silêncio.

- Como imaginei... Entenda, eu irei devolver seu amiguinho. Não sou nenhum ladrão, afinal. Só gostaria de fazer um favor a essa criaturinha aqui - o homem acenou com a pokébola - e lhe proporcionar um pouco de diversão. Apenas uma batalha, o que acha?

- Só porque você cuidou dele algumas vezes, não quer dizer que ele vá lhe obedecer em uma batalha!

- Não custa nada tentar. O que poderia acontecer de pior? - Pelo leve sorriso de Victor e pela expressão assustada de Cassandra, certamente havia algo de "pior" a acontecer. - Mas, caso não queira aceitar o desafio, eu ficaria igualmente satisfeito em uma luta contra um de seus colegas - o homem se virou na direção de Thomas e Paula - Então, o que acham de uma partida amistosa, senhores... Perdão, creio que ainda não escutei seus nomes.

Com o clima que se instalava naquele parque, uma batalha naquele momento poderia ser qualquer coisa, menos "amistosa". A moça não respondeu ao desafio. Permaneceu parada, em seu rosto uma mistura de medo, ressentimento e ... culpa, talvez. E os dois jovens de Johto, o que fariam? Algum deles aceitaria enfrentar o homem misterioso e o pokémon que ele tomara de Cassandra?

Off:

Off: Confuso? Só um pouquinho.

A Pokédex dava os dados e aquilo parecia impressionar Thomas, Alakazam parecia ser inteligente o que deixava o treinador com vontade de ter um igual. A investida dos Pokémon de Thomas contra o homem não dava certo, mesmo aparentando uma idade avançada conseguia desviar do golpe de Quilava com rapidez e fazia o mesmo em relação a Eevee, apesar de nesse ter a ajuda do Teleport do psíquico.

O homem se denominava como Victor e dizia ser o empregado da família de Cassandra, aparentemente a loira vinha de uma família rica, apesar de não aparentar nem um pouco. De repente empregado e empregador entravam em uma discussão sobre a guarda do Pokémon que habitava aquela esfera, pelo que era entendido da briga o mesmo parecia ser feroz o suficiente para ficar preso na Pokéball por algum tempo.

Intimidada a dona de Katy não fazia nada a não ser recuar, porém o homem ia mais além e dizia que só entregaria o Pokémon depois que tivesse uma luta-teste com ele, desafiando qualquer um ali presente. Thomas parecia não gostar da situação, mas como não queria colocar Paula em perigo e Cassandra estava totalmente estática o mesmo se dispunha.

- Tudo bem, eu luto - dizia dando um passo a frente - porém quero a certeza de que depois dessa luta a guarda de "quem quer que esteja aí" ficará com Cassandra. Pode começar escolhendo seu Pokémon.

Apesar dos protestos de Paula o moreno fingia não escutar, sabia que era perigoso, porém faria o que fosse necessário para não colocar a vida dos outros em risco se pudesse. Zuko e Hero rosnavam para Victor e seu Alakazam, cada um de um lado, com um movimento de mão a dupla voltava para trás de Thomas e ficava ao lado de Néftis e Sadie.

- Meu nome é Thomas e acredito essa ser a única coisa que precise saber.

Afim de recuperar o pokémon de Cassandra e evitar que Paula se envolvesse, Thomas aceitou o desafio de Victor.

- Vejo que não é um garoto de muitas palavras... Ótimo, podemos ir direto ao ponto. E já escolhi meu pokémon para a batalha - o homem ergueu a pokébola que pegara da garota - Ele pode não ser meu, mas tenho certeza que o conheço melhor do que sua própria treinadora.

Victor lançou a esfera para o ar. Thomas esperava que o que saísse de dentro do objeto fosse algo feroz ou ameaçador. Entretanto, o tal  pokémon não passava de uma criaturinha com uma aparência familiar. Um Duskull, claramente, a mesma espécie de Clyde. Mas o fantasma que pertencia a Cassandra parecia diferente. Ele parecia emitir um leve brilho, e seu corpo era tingido de vermelho. Ainda havia algo de diferente em comportamento: enquanto o pokémon de Thomas tinha um jeito travesso e rebelde, o Duskull da moça parecia... vazio. Não parecia ressentido por não sair de sua pokébola a, aparentemente, um tempo considerável. Nem parecia desconfiado ou confuso por ser chamado por outro treinador, em meio a toda aquela bagunça.

O Duskull flutuava monotonamente, seu único olho dançava entre suas órbitas, mirando cada um no local, até se focar em Cassandra. A treinadora nem ao menos conseguia olhar na direção do pokémon por mais do que alguns intantes. Mas seu comportamento era diferente do que quando estava na presença dos fantasmas de Thomas e Paula. Parecia haver algo mais.

- Desculpe por lhe meter nisso. É que, eu não... Eu simplesmente não conseguiria enfrentar esse Duskull.

- Vamos logo Thomas, - Victor parecia ansioso em começar - escolha seu pokémon!

- Eu explico tudo quando isso acabar, prometo - a jovem lançou um último olhar raivoso na direção do homem - Boa sorte.