#005 - Alvorecendo

Com um alivio nítido em sua face devido à reação da rochosa diante as suas últimas palavras, o garoto apoiou a mão sobre o galho de sua parceira e levemente o segurou, respondendo ao cumprimento que lhe fora oferecido, soltando-a calmamente em seguida. Assim, em decorrência ao fato de estar desconfortável naquela posição, deixou que seu corpo cedesse para trás, sentando sobre aquele espaço de modo que suas pernas ficassem cruzadas.

Olhou para a Nidorina que, apesar da Sudowoodo ter se acalmado um pouco, ainda exibia irritação para com a situação, lembrando a Raiko que deveria tomar cuidado com as palavras para não tornar a magoar a rochosa ao passo que sentia a necessidade de tentar acalma-la também, afinal, não queria que ela continuasse a agir irritada em um momento como aquele. Então, estendeu a mão para a venenosa e começou a fazer gestos com a mão, como se estivesse chamando-a para ficar ao seu lado.

- Vem cá. – Anunciou rapidamente.

Tendo Nina vindo ficar ao seu lado, o jovem apoiaria o braço direito sobre o corpo dela, seguindo o entorno do pescoço e passando a envolver aquele local para, em seguida, começar a fazer caricias desde a base do pescoço até a região sob o queixo. Ao agir dessa maneira, deixava explicito que queria acalmar os nervosos de sua parceira, mas não parava por aí. Aproximava-se e murmurava em dos ouvidos dela o fato de estar satisfeito por ela ter vindo em socorro a Bells, mas que não precisava agir de maneira tão brusca quando um de seus parceiros cometesse um erro daquele tipo.

Retornou os olhos para a rochosa, sem parar de fazer carinho na venenosa, e repetiu a menção que havia feito para a outra, querendo que ela se aproximasse mais um pouco dele. Ela se aproximando também, levaria a mão levemente à protuberância em sua cabeça e focaria seus olhos negros, tentando lhe passar calmaria.

- Está se sentido um pouco melhor? Então... Eh... – Começava o jovem enquanto pensava no que devia dizer a seguir. Tentava encontrar uma maneira de continuar naquele assunto sem que tornasse a magoá-la. Então, algo lhe surgiu em mente, faria a mesma pergunta de antes, mas se referindo a alguém diferente. – E em relação a mim, como se sente? Eu consigo lhe tratar bem ou fazer você se sentir a vontade?

Um tanto feliz diante a resposta que obtivera de sua parceira rochosa seria impossível não retribuir o abraço da mesma maneira, envolvendo o corpo dela com os seus braços e desferindo um apertado abraço. Por fim, a soltou, tornando a visualizar a face sorridente dela à medida que voltava a afagar sua cabeça.

- É bom saber que eu ao menos consigo fazer você sentir bem. Mas ainda há algo mais que gostaria de fazer por você. – Anunciou com um sorriso na face, para então dar continuidade de maneira calma. – A gente poderia re... Não, melhor. É... Se estiver disposta a tentar, eu gostaria de te ajudar a enfrentar essa coisa ruim que lhe atormenta... O que me diz?

Dito isso, seus olhos mais uma vez tornaram a analisar o corpo da Sudowoodo, prendendo-se sobre as feias cicatrizes e estando a imaginar de que forma elas haviam sido realizadas e por que disso. Deveria haver um motivo central que as ligasse diretamente aos traumas de sua parceira, pelo menos era isso que o jovem achava. Sabia, em parte, que o antigo treinador dela a maltratava de forma descarada, assim como presenciara o pânico que exalava dela ao entrar em batalhas. Na melhor das hipóteses, uma coisa era decorrente da outra, e a única suposição para isso que se fazia presente na mente do rapaz poderia ser... O fato de que talvez ela não conseguisse ter um bom desempenho nos embates e ele a maltratasse depois? Não tinha certeza, se tratava apenas de mais um “achar” como tantos outros.

“... Mas talvez possa ser...”

Se, em decorrência a pergunta anterior, Bells houvesse aceitado a ajuda do jovem em superar seus temores, continuaria naquele assunto, dizendo as palavras a seguir. Do contrario, nada falaria. Dessa vez, saberia respeitar o tempo que fosse necessário para que sua parceira criasse forças contra seus males.

- Então... – Começou enquanto tentava procurar palavras que transpassem sua dúvida de maneira amena. – Assim, é... O fato de você não gostar de batalhas tem a ver com aquela outra pessoa?

Apesar de estar decidido quanto à ideia de ajudar a sua parceira a enfrentar os seus temores, ainda se mantinha duvidoso sobre o assunto, algo que talvez se originasse do receio em estar apressando demais aquele processo e pudesse resultar em somente mais um declive daquela relação. Entretanto, antes que pudesse ir adiante com aquilo, uma moça surgia em cena, desconcentrando os pensamentos do garoto enquanto oferecia ajuda.

A olhava dos pés cabeças, por ínfimos instantes se detendo em peculiaridades do seu corpo, de suas roupas, de seus cabelos loiros, até fixar-se em seus olhos, achando-os sobretudo bonitos em meio aquele tom carmesim. Em seu interior, rezava para que não estivesse deixando transparecer em sua face tal reação. Levou a mão à cabeça e passou a movê-la por ali, como se discretamente estivesse tentando ajeita-lo, só então se pôs a responder a jovem.

- Bom... Er... Depende de como você faria isso. – Disse enquanto erguia-se sacudindo a roupa. – Raiko, prazer Amélie.

À medida que palavras fluíam dos lábios da moça, o garoto observava com atenção os movimentos que eles representavam, deixando-se encantar um pouco de maneira estúpida, mas sem deixar de acompanhá-los com os ouvidos também, prestando atenção na oferta.

“Foco... Foco, cabeça de grama! Por que está deixando se impressionar por coisas assim quando está tentando ajudar sua amiga com algo sério. “ Pensava. “Pera, será que tô com uma expressão muito idiota na cara? Mas quem diabos liga?!”

Apesar daqueles estranhos pensamentos que perpetuavam por sua mente, o fato de talvez poder realmente presenciar tudo pelo qual a rochosa passara até ali lhe parecia tentador, claro que apresentava desconfianças quanto aquele tipo de experiência, já que nunca ouvira falar ou vira nada daquele tipo, algo que se devesse ao fato de nunca ter encontrado com uma criaturinha de natureza psíquica em suas viagens. Entretanto, conhecendo de maneira tão profunda aquelas lembranças, talvez houvesse a possibilidade de auxiliar melhor a resolução dos problemas de Bells... E era justamente por isso que o garoto procurava. Estava decidido, iria tentar mesmo diante as dúvidas. Quanto as suas próprias memórias, apesar de ser constrangedor imaginar que alguém estava a nadar em conhecimento, achava que não houvesse nada com o que preocupar... Rezava para que estivesse certo quanto a isso.

- Er... Digamos que se isso ocorrer, tudo ficara somente entre mim e minha parceira, não é? – Perguntara de maneira estranha, dando continuidade ao fixar seu olhar sobre a Sudowoodo. – Eu aceito a ajuda. Mas e você, Bells, o que acha?