E então Alberto, lembra de algum demônio esguio azul mega forte? O homem possui uma expressão nervosa ao dizer:
- Eu já falei que me chamo Natã! E sim. Na verdade eu preferiria os demônios esguios azuis mega fortes do que duas garotas. Sabe, recentemente descobri que tenho um filho e...
Eu sei disso, eu estava lá! Eu sou amaldiçoado a narrar cada evento da sua vida chata! Preferia narrar até um daqueles garotos genéricos que só falam de amizade com os pokémon e que desejam ser um mestre pokémon. Pelo menos eles fazem algo emocionante, não ficar coletando cupons de desconto...
Minhas frustrações à parte, aquelas meninas pareciam estar perdidas, mas pareciam esperar por alguma pessoa com certas características para o trabalho, e, para a sorte, ou azar, de nosso herói, ele batia com tudo o que elas falaram. Mesmo o próprio não aceitando dizer que sua vida estava arruinada (ela está sim). Mesmo relutante, ele se aproxima daquelas garotas, querendo se apresentar a elas e oferecer ajuda. Ele arruma a barba, segura a pá em seu ombro com apenas uma mão e prepara o seu melhor nome falso para fingir ser um excelente treinador:
- Olá menina, precisam de alguma ajuda? Eu me chamo Roberto da cidade de Pallet. Eu ouvi que as duas estão perdidas, se quiserem, posso guiar vocês pela caverna. Eu só espero que não se importem de eu ser um homem de 40 anos com a vida arruinada. - "porque eu falei isso?", pensa Alberto, pois aquela última frase parecia ter saído do nada de sua boca.
Mesmo sendo consciente, não quer dizer que não seja obrigado por uma força maior a fazer alguma piada. Você aprende a conviver com isso eventualmente, ou não, eu sei lá, nunca tive esse problema. Eu ainda estou esperando aquela parte do quarto ato que você quase morre e se arrasta por um monte de coisas. Quem sabe dessa vez não é "a vez"?
Nosso herói acabava se aproximando das garotas desorientadas para poder ajudá-las. Elas notaram a presença do quase ancião e ficaram, a garota que deu a dica ficou surpresa com aquilo.
-Não pode ser! Ele realmente veio! - Ela possuía uma voz mais firme
-Quê?! Você não acreditava no que estava dizendo? - Esta, uma voz mais fina
-Sabe como é, a gente tem que ter umas ideias loucas, não é?
Ambas vestiam-se como arqueólogas, provavam ser parte da exploração e não apenas uma dupla que trazia confusão para onde iam. Deixaram de discutirem entre si e passaram a dar atenção a Natã, Alberto, Roberto, seja lá como quisesse ser chamado.
-Senhor Roberto, nós estamos perdidas, como fazemos pra sair daqui? Tenho que entrar na internet e narrar minha personagem num RPG. - Disse a garota da voz firme
-Eu também, prometi que faria maratona com meu narrador hoje! Se eu perder, vou ter que matar essa aqui.
Elas estavam realmente desesperadas, e vocês entendiam muito bem a dor delas, não é mesmo? Agora, vocês irão ajudá-las ou meter o pé?
Aquelas duas garotas pareciam muito preocupadas com a sua maratona de narração em seu RPG, era claro que elas provavelmente morreriam se não conseguissem o que queriam. Natã não conseguia entender porque tamanho desespero, mas deve ser porque ele nunca foi bom com tecnologias novas.
O homem olha para as moças, ainda confuso, e então olha para trás, o caminho era reto, não era? Ou a memória daquele explorador já não era mais a mesma? Porém, sem querer questionar a inteligencia daquelas duas meninas, ele preferiu ele apenas dizer o que elas - e provavelmente o público também - queriam:
- A saída é por aqui - ele indica, ao apontar o dedo para trás - Eu não me lembro de ter feito nenhuma curva ou algo do tipo, então deve ser uma linha reta.
Se o homem tivesse sorte, elas aceitariam a dica e seguiriam o caminho em linha reta, mas, no final das contas, aquelas garotas eram NPCs, que, além de serem um motivo para nosso protagonista questionar sua realidade e não conseguir dormir à noite, sempre tem algo a mais para dar trabalho ao personagem principal. Ou não, eu não sei, não sou eu que está no comando no final...
As garotas se puxavam para a saída, porém algo de surpreendente e totalmente inesperado acabara acontecendo. O quarto ato entrava em cena e o teto do caminho da saída começava a desmoronar. As jovens retornaram para atrás do tiozão que as salvou mais cedo. Quando acabou, perceberam que não havia mais como voltar.
-Droga, vamos perder a maratona!
-Não se preocupe, eu vou usar meu celular de última geração para postar. Faça o mesmo.
-Nossa, não tinha pensado nisso.
Antes que me pergunte, eu não estou identificando quem fala o quê por estar com preguiça mesmo, além disso não faria diferença. Ok, voltando à narração: Elas pegaram seus celulares, mas não tiveram uma notícia muito boa. Era o pior pesadelo de qualquer um que estivesse narrando fora de casa com maratona marcada.
-Estou sem sinal de internet!
-Eu também!
-O único caminho que lhes restava era seguir em frente. Será que nosso herói dos mil nomes conseguiria suportar as garotas e pegar seu segundo item sem sair do controle?
Ao citarem "velhote", automaticamente Natã havia se irritado. Aquela palavra lhe dava nos nervos, por algum motivo. Mas ele se conteve, afinal, eram duas jovens sem senso de localização que ele nunca mais veria na sua vida, não havia porque se incomodar, afinal, logo logo elas estariam bem longe daqui e... Opa, parece que houve um deslizamento de rochas. O aventureiro fica boquiaberto com o que acabara de observar, uma grande coincidência que não apenas as fez voltar, como também o prendeu ali com elas.
Foi muita inocência do rapaz de acreditar que, em uma aventura de Natã Dragonete, nada iria desmoronar. Na verdade isso acontece até demais com ele. Porém, mesmo sendo presas, a preocupação das duas ainda era com a sua maratona, afinal, uma maratona ás vezes faz o trabalho de semanas no que durou apenas horas, e ninguém gosta de ter um personagem atrasado. Enquanto isso, nosso personagem principal observava toda aquela situação indignado, ainda mais porque não poderia reclamar, pois seria taxado de louco por falar sozinho. Ele respira fundo, tentando manter o controle, e diz:
- É, eu já passei por uma situação como essa antes. Tentar retirar as pedras com as mãos, além de perigoso, demora muito, talvez horas até conseguirem se esgueirar por uma fresta. Na situação que estão, com pressa, o melhor a fazer é tentar a sorte e se aprofundar na caverna, e talvez encontrar uma saída alternativa. Mas bem, escolham rápido, porque eu ainda estou em busca dos artefatos e não planejo ficar muito tempo parado.
O quarentão tenta ser o racional daquele grupo, e, mesmo querendo ajudar as garotas, ele não iria se esforçar mais que o necessário por aquela meninas que o chamavam de velhote e que pareciam mais preocupadas com seus personagens online do que sua segurança própria. Ele não poderia se importar menos com um personagem virtual... Opa, pensando bem agora isso foi bem hipócrita vindo de um personagem virtual...
-Essa deve ser uma daquelas partes em que o narrador faz a gente escolher o que fazer.
-É! Vamos nos aprofundar na caverna e ver se acontece algum evento!
As garotinhas deram as mãos e saltitaram até Natã, elas estavam dispostas a seguir ao interior da caverna, ativar o evento e levar o prêmio do jovem(?)... Ou simplesmente queriam sair de lá. Torçamos para que seja a segunda opção. Elas aceitaram ir com o treinador.
-Vamos!
-É, vamos!
Só havia aquele caminho linear à sua frente, talvez encontrassem uma parte brilhante da caverna onde pudesse interagir e encontrar uma pena que dá status.
Natã realmente não gostava muito daquelas garotas, o jeito delas, todo gracioso, do tipo que só faltava soltar purpurina ao caminhar. O narrador nada-sutil também não ajudava naquela situação. Não que ele não gostasse de dicas, mas ele nem ao menos sabe o nome da espécie de pokémon que o acompanha, quanto mais qual a utilidade de um objeto encontrado em uma ruína. Ele sabia muitas coisas que outros não sabem por experiência, mas o mundo pokémon? Era completamente estranho e novo para o quarentão.
- Bem, fazer o quê, vamos seguir em frente, já que é o único caminho, se quiserem me ajudar, procurem pelo chão ou pelas paredes algo interessante. Ah, e mais uma coisa, cuidado com esse camaradinha aqui... - ele aponta para Nid
Porém, naquele momento, o ursinho não fazia a sua expressão comum de olhos cerrados sempre pronto para encontrar um alvo para tapear. Seus olhos pareciam maiores e brilhosos, como se fosse de uma pelúcia, dando um visual bem fofo para aquele ladrãozinho. Aquele Teddiursa estava tentando fazer o seu treinador passar como um mal caráter odiador de ursinhos na frente de pessoas que ele nunca viu! Ele tenta então arrumar sua fala:
- O Catatau... Ele consegue ver muito bem no escuro... Por isso trouxe ele... Mas ele é um pouco frágil, então tentem não esbarrar nele. - ele segue o caminho calado, sem saber o que mais falar.
Apesar de dizer isso, elas não fizeram. Adiantaram-se um pouco, isso foi um erro. Sentiram que algo passava a mão em suas curtas da retaguarda. As garotas davam um grito e olhavam para trás.
-Ei, tio, você não precisa passara mão na nossa bunda!
-É, isso não é legal. Vamos ficar atrás de você!
Enquanto elas caminhavam, Natã viu que seu ursinho estava dando uma risadinha bem de leve, era como se dissesse - Vamos brincar um pouquinho, trouxa hehehe - Tipo, é isso que dá dar essas personalidades pro pokémon, entende? Ele não vai ficar de boa até o final da rota. Podemos dizer que ter falado mal do narrador novamente foi uma das causas para que isso ocorresse, agora elas não irão mais confiar em você.
Vamos acelerar um pouco as coisas. O grupo caminhou pelo único caminho que lhes restara, não demoraram a chegar a uma área bem maior. Ela não tinha nada de especial, só que o teto estava totalmente coberto de estalactites, a única coisa que as impedia de cair era a vontade do narrador, portanto Natã precisaria pensar muito bem no que iria dizer. Fora elas, ainda haviam rochas espelhadas pelo chão daquele salão, talvez fosse uma boa para explorar o local e quebrar algumas pedras.
"Maldita seja a facilidade que o cara que me escreve tem para dificultar minha vida", pensa o barbudo. Ele poderia ter mantido-se quieto, mas ele que começou chamando aquele Teddiursa para briga e o pokémon apenas respondeu, mesmo que de uma maneira não muito amistosa. A sorte daquele ursinho era que não conseguia ouvir pensamentos, pois seu treinador estava amaldiçoando até a sétima geração daquele coitado.
Não bastasse esse constrangimento, o local aonde Natã se encontrava estava cheio de estalactites. "Aposto que se uma dessas cair do jeito certo empala uma pessoa", ele continua a pensar. Era provável que se ele fizesse muito barulho aquilo caísse, ou nem isso. Entretanto, haviam pedras espalhadas pelo local, seria uma boa ideia quebra-las? Aos olhos daquele explorador, ele não fazia nem ideia de como quebrar aquelas pedras, que ele saiba, o seu companheiro estava mais para ladino do que paladino. Talvez a melhor tentativa fosse, afinal, tentar passar por ali sem morrer, se possível. Ele se vira para as duas garotas e diz:
- Vamos passar silenciosamente aqui, eu não estou muito confiante sobre essas estalactites que tem ali em cima.
Alberto segue em frente, mas então ele para. Ele faz um sinal para os outros pararem também. Ele volta a pensar bem sobre a situação. Era claro: ele só precisava atirar uma pedra numa estalactite que esteja diretamente acima de uma dessas pedras e BUM, a pedra se quebra e talvez saia o loot. Ao menos era isso que ele esperava. Só precisava achar alguma pedra solta por aí, mas com peso suficiente para derrubar uma estalactite. Ele vê por sua mochila, e percebe que lá estava, uma pedra que ele ainda não entendia o valor, a tal pedra úmida que aquele urso conseguiu. Tudo fazia sentido aos olhos do treinador, ele havia ganho aquela rocha porque era o artefato secreto aparentemente inútil que desbloqueia o artefato secreto do final. Ele pega aquela úmida pedra e entrega ao ursinho e cochicha para ele:
- Sinto muito, mas por favor segue minha ideia que eu acho que vamos ficar ricos! Pegue essa pedra e use Fling, jogando ela em uma das estalactites que esteja bem embaixo de outra pedra, aí essa pedra vai quebrar e o artefato vai sair... Bem ao menos a minha teoria é essa, o que acha? Não tem nada a perder além de tempo...
Natã praguejava seu narrador por ter o poder de fazer coisas como aquelas acontecerem. Ele teve uma ideia que, em sua mente, era totalmente brilhante, mas não tanto. Por sorte, este que vos fala possuía um enorme coração e resolvia interferir... PESSOALMENTE!
-O que é aquilo?
-Não sei, mas deve ser uma distorção no espaço-tempo que liga diferentes dimensões!
É isso mesmo. Através desse portal, eu me materializo em seu mundo e impeço que o nosso treinador aqui faça cagada. Como eu mando nisso tudo, chego fantasiado de como O Imperador Supremo do Universo. Seguro o ursinho e impeço ele de usar seu movimento e derrubar a estalactite - eu posso - então comecei a conversar educadamente com nosso amiguinho.
-É sério isso? Você vai mesmo destruir um item desses para encontrar algo que pode ser uma enorme inutilidade? Quer dizer, quem te garante que vai ter algo aí dentro que possua um sprite próprio? Além do mais, você tem medo de golpear a rocha com seus equipamentos porque pode fazer umas vibrações estranhas e fazer aquelas coisas caírem. Diga, você acha que derrubar uma delas na rocha não vai fazer o mesmo? Você tem uma chance de me ouvir e não perder um item que você, provavelmente, nunca mais vai achar na sua vida.
Larguei o ursinho e saí pelo portal, voltei ao meu quarto refrescante e gelado no interior de uma casa gelada. Já poderia voltar a trollar e novo. As garotas não entendiam nada.
-O que foi aquilo?
-Não sei, mas não deve fazer parte do evento.
Elas ficavam paradinha ali. Será que Natã ouviria seu narrador? Será que ele faria certo dessa vez? Será que o ursinho pararia de passar a mão na bunda das garotas e culpas Alberto?