03 - Um ralts dança melhor que um volbeat

Erica olhava e não entendia. Esperava um pokémon mais... imponente. Assustador, agressivo, ou de enorme elegância. O que estava na sua frente era um blob genérico metálico sem um pedaço da sua cabeça. Que por acaso era uma porca. Um magnemite era mais elaborado do que esse meltan. Ao mesmo tempo, Erica sentia pena do pokémon sem sua cabeça. Devia ser muito angustiante estar sem uma parte de si, algo que você nunca pode se imaginar sem. Tal qual ela sem seus irmãos por perto.

Não entendia porque ela tinha que falar com o pokémon, achava que Alyssia iria querer ter o primeiro contato e a fama. Apostava que ela iria escrever na matéria que ela resolvera toda a questão. Ainda assim, se apresentou para o meltan, tentando parecer o menos ameaçadora o possível.

- Oi, pequeno... tudo bem? Você precisa de ajuda pra achar sua cabeça? - ela se sentiu meio estúpida fazendo essa pergunta. Mas até aí, pokémon metálicos nunca fizeram muito sentido para ela.

Se antes Erica achava que Alyssa era esquisita, agora tinha convicção de que ela era inconveniente e com uma insensibilidade generalizada com outras pessoas. Não tinha intimidade nenhuma com aquela pessoa e dentro de dois minutos fora chamada de tapada e de criatura abstrata. Queria resolver aquela situação o mais rapidamente o possível e sair de lá. Se possível fosse, descobrir algo de seus irmãos, mas já havia postergado isso indefinidamente. Por enquanto, resolver a questão do meltan era mais essencial.

- Meltan, vou liberar meus pokémons para que eles ajudem a achar sua cabeça, tá bom? - avisou Erica enquanto pegava nas suas quatro pokébolas. Seus pokémons saíram um pouco sem entender onde estavam, mas ainda assim contentes por estarem fora das pokébolas. Ezra veio como sempre para perto de sua perna, assustado com o pokémon selvagem, Frida soltava umas pequenas bolhas distraídas, David voava perto, circulando Erica e o ralts ainda sem nome dançava distraído. - Bom, gente. Esse aqui na nossa frente é o meltan. Ele é um pokémon que perdeu a sua cabeça, que tem essa forma que ele tá mostrando. Quero a ajuda de todo mundo para tentar encontrar. Especialmente a sua, David, que consegue voar. Pode ser?

Desse jeito, talvez conseguissem encontrar logo a peça metálica que era a cabeça do meltan. Não achava que Alyssa fosse ajudar, por isso precisava de seus pokémon para isso.

Erica ignorava formalmente Alyssa. Se a jornalista não conseguia ter postura profissional e uma ética no trabalho, não seria ela que instalaria um show de horrores. E, para além disso, Erica ficava mais confortável entre pokémons e tinha um na sua frente que precisava de atenção especial. Meltan não estava feliz com aquela mola que ralts trouxera. Inclusive, não era nem um pouco parecido com a peça original e Erica se perguntava como é que seu ralts podia ter se enganado daquele jeito, sendo o seu pokémon mais inteligente.

Pegou um galho jogado no chão e desenhou a forma que estava procurando. Talvez ele não tivesse entendido quando o meltan mostrou para eles, então quem sabe assim daria certo.

Erica estava frustrada. Alyssa não ajudava em nada, seus pokémons não estavam encontrando a peça e nem ela mesma. Meltan continuava abatido e ela começava a se sentir culpada por não estar conseguindo ajudar o pokémon. A cada peça errada que seus pokémons traziam, ia ficando cada vez mais desgastante aquele empreitada. Estava cogitando se deveria enfrentar Alyssa e chamar-la para que ajudasse quando percebeu uma parte na terra em que algo parecia ter sido arrastado. Poderia ser qualquer coisa, mas àquela altura era a única pista que tinha e também uma possibilidade de tentar se afastar de Alyssa. Pediu que seus pokémons continuassem procurando, enquanto ela mesma ia investigar aonde o rastro levava.

Isso resolvia parte do problema. A porca estava logo ali e toda aquela bagunça estava bem melhor encaminhada agora que Erica sabia para onde ela fora levada. Mas o cansaço que lhe tomava por descobrir que fora um Taillow, pequeno e sem nenhuma novidade, que roubara a cabeça do meltan lhe pesava nos ombros. Se aquele era um pokémon lendário, porque haviam tantas histórias e mitos que eram contadas através das gerações? Quem afinal definia o critério para um pokémon ser lendário?

Erica não estava com disposição para uma batalha pokémon. Não tinha intenção de capturar o selvagem e só queria recuperar a cabeça do meltan e sair de lá. Queria, sim, ser paga e tentar descobrir algo sobre seus irmãos, mas queria mais que isso apenas dar um desfecho para aquele cenário. Chamou seus outros pokémons para perto, ainda tomando distância do selvagem.


- Ralts, Frida e David. Quero que vocês peguem as várias peças que encontraram e tragam para mim. - Assim que eles se afastaram, virou-se para Ezra. - Você eu quero que fique perto de mim. Você batalhou bem, hoje mais cedo, e caso o taillow ataque quero que esteja pronto para entrar, tá? Já prepara para entrar com ember, okay?- Ezra gemeu baixinho, com medo, mas se manteve pronto ao lado de Erica. Ela pretendia fazer uma troca das várias peças encontradas com a cabeça do meltan. Se o taillow não aceitasse, Erica entraria na batalha, a contragosto.