001!
6:06pm
Depois de relutantemente aceitar a oferta, Aiko se aproximava em pesados passos de onde a velha se mantinha em pé com dificuldade, se apoiando na base que sustentava a antiga porta de madeira. Mandy corria na frente de sua treinadora, parando exatamente alguns centímetros na frente da alta senhora, que por sua vez começava a fazer carinho na cabeça da Pokémon.
— Bem-vinda, minha filha... — caminhou com dificuldade, dando um trago em seu cigarro e soltando a fumaça para o alto — Não repare na bagunça, por favor.
O interior da casa era belíssimo, com uma enorme sala no estilo vitoriano com paredes em creme e um enorme tapete com desenhos rupestres que ocupava todo o cômodo. Uma lareira se encontrava acesa, apesar do calor da região, com alguns quadros antigos dispostos acima dela, dando um toque acolhedor ao local. Um sofá de três lugares e duas poltronas próximas à porta enfeitavam o aposento, bem como uma baixa mesinha de centro de madeira com uma jarra de flores e um cinzeiro de prata repousado em cima.
— Me chamo Lily, muito prazer. — sentou-se com dificuldade, buscando o cinzeiro da mesinha de centro e apoiando nos braços da poltrona — Há muito tempo não recebo visitas... Tenho três filhos, mas fazem anos que não vêm me visitar.
A senhora lamentava, enquanto tossia entre uma sentença e outra. Seu estado de saúde não parecia muito bom: sua pele, alva, era mais clara que o normal, com algumas vermelhidões dispostas no pescoço e nos braços — o que era possível Aiko ver, já que o pijama recobria a maior parte de seu flácido corpo. Alguns segundos se passavam e um pequeno barulho poderia ser escutado de dentro dos aposentos. Rapidamente Lily ria, talvez para nossa heróina não se preocupar com o barulho:
— Deve ser a Eva fazendo bagunça... É uma Pokémon que apareceu aqui em casa há uns meses e eu acolhi. — sorriu gentilmente, dando um último trago e apagando seu cigarro. — Você entrou aqui por que achou que não tinha ninguém, né? — indagou, encostando suas costas no apoio do assento — Eu possuo uma condição genética chamada xeroderma pigmentosa, então não posso sair no sol. — seu semblante agora era triste e sua voz quebrava um pouco, tentando esconder suas feridas na pele — E a idade também não ajuda... Mas sempre que posso vou lá fora e cuido das plantas, são meus chamegos.
Após o grande monólogo, Lily tentava se levantar mais uma vez, demorando alguns longos segundos para se manter em pé. Caminhou com dificuldade até a lareira, pegando um pequeno envelope fechado dentro de um baú de madeira, voltando sua atenção novamente para nossas heroínas. Mandy, à essa altura, se divertia no aconchegante tapete, rolando de um lado para o outro.
— Tenho um pedido para lhe fazer... Posso te dar Pk$500 de recompensa, somente pelo incômodo. — sorriu gentilmente mais uma vez — Há anos tem uma encomenda parada para mim nos Correios da cidade, mas nunca pensei que precisaria buscá-la... — ficou triste novamente, abaixando o tom de voz conforme dizia a frase — Mas acho que chegou a hora.
Lily respirou fundo, posicionando o envelope em cima da mesa de centro. Caminhou com dificuldade até uma de suas janelas, fechando os olhos e aproveitando o aroma de flores que o vento carregava. Seus olhos lacrimejaram, talvez pensasse na difícil vida que levara todos esses anos com essa condição complicada.
— Não tenho ninguém mais na minha vida, todos se foram... — se apoiou na beirada da janela — Hoje fazem 10 anos que perdi o amor da minha vida. — engoliu seco, respirando fundo mais uma vez — Me perdoe por estar sendo tão mórbida, mas não converso há tanto tempo que acabo me deixando levar.
Aiko aceitaria a oferta?