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O único momento de paz do dia já tratava de converter-se em algo misterioso: Will encontrava uma carta criptografada, que não sabia ideia de como fazer para ler. Também ao observar seu antigo quarto, não reconhecia absolutamente nada, a não ser as fotos em que estava presente e lembrava ter vivido — não ali, mas em seu mundo "real". Não demorou muito e Tomoe surgia. Antes vista como uma ameaça, a jovem conseguia se desvincilhar brevemente do que a hipnotizava e controlava suas ações, caindo no chão fraca e suplicando ao carateca que ceifasse sua vida.
—E-Eu estou te pedindo... — a loira posicionou sua leve e macia mão direita sobre o rosto de Will
— Por favor.Com os dedos a jovem acariciava os cabelos de Will, puxando seu rosto imediatamente para um beijo, erguendo sua cabeça com a pouca força que possuía para encontrar seus lábios rosados no meio do caminho. Sua boca macia porém volumosa encontrava a fina do rapaz, que não parecia relutar; ambos se entregavam ao afeto que teve início naquele mesmo Reino, pelo menos segundo a história contada pelo felino mágico. Tomoe agora envolvia sua outra mão sobre o pescoço do rapaz, se apoiando somente sobre os braços de Will que envolviam sua cintura e suas costas. O beijo, que começara lento, aumentava gradualmente com o passar do tempo, cada vez mais intenso e apaixonado. A loira pressionava seu corpo contra o do carateca, descendo sua mão direita pelas costas de Will, arranhando-o por debaixo de sua capa. O sol, que estava se pondo, penetrava a porta com seus belíssimos raios solares alaranjados, tornando a cena digna de cinema, reluzindo tanto as vestes quanto os cabelos da jovem.
Um barulho vindo da porta chamava atenção dos pombinhos:
— Err...A característica voz de Chesire ecoava pelo quarto. A cena era cômica: o felino estava de boca aberta e Hawk que estava ao seu lado também: o pássaro até mesmo deixava algumas frutinhas colhidas caírem no chão ao presenciar a cena.
— Você sabe que ela estava tentando nos matar há poucos minutos, né?O roxo Persian balançava sua cabeça negativamente e Tomoe interrompia as carícias com uma risada sem graça, corando imediatamente e apoiando seu braço direito no chão.
— Sempre chegando na hora errada, não é, pulguento? — o tom da garota era de brincadeira, como se contasse alguma piada interna, que fez com que Chesire arregalasse os olhos, não acreditando no que estava vendo
— As coisas nunca mudam mesmo. — Tomoe ajeitava sua cabeça no ombro de Will, respirando fundo aliviada
— Preciso tanto da ajuda de vocês.O felino abria um sorriso e era possível ver até mesmo algumas lágrimas se formarem sob seus olhos, estas que o mesmo tentava limpar nas penas de Hawlucha, que empurrava Persian contra a parede, não permitindo-o fazer o que queria.
— Aff passarinho, achei que já fossemos amigos. — Chesire saltava de um lado para o outro dentro do quarto
— Eu SABIA que era só o Jack te pegar de jeito que o feitiço ou maldição sairia de você... — piscou para Will
— Boa garanhão! Só não levanta agora porque vai ficar feio pra você... — apontou para a pélvis do rapaz, mas sabendo que o treinador havia pego o que queria dizer de verdade
— Hahahaha, que felicidade!Com a mão que apoiava no chão, Tomoe agora apertava o braço de Will, engolindo seco e começando a gritar de dor: seu corpo se contorcia e era possível ver uma aura negra emanar de todo seu corpo. A loira desmaiava e começava a transpirar absurdamente; os braços de Will que seguravam-na aos poucos eram cobertos pelo que parecia ser um pano branco todo rasgado. Hawk, com sua enorme velocidade, rapidamente tentava afastar seu treinador da garota, mas já era tarde demais: ambos os braços do carateca já estavam quase que completamente tomados. Com um salto, Chesire utilizava seu Bite no braço de Will, que apesar da dor, fazia os panos retrocederem, liberando o rapaz da imobilidade iminente.
— N-Não pode ser! — Chesire soltava e rapidamente voltava a morder, dessa vez o braço da garota, que estava envolto pela aura negra
— Capitão, eu já sei o que é! Desgraçado!Tomoe dava mais um grito estridente... Mas não parecia ser dela. A voz era grossa e profunda, como a de um fantasma. Rapidamente a aura negra que a envolvia se materializava perto da porta, deixando o corpo da jovem aos poucos. Uma enorme esfera negra pairava sobre a porta, que rapidamente começava a conjurar diversos panos brancos, que corriam junto com a negra energia para fora do quarto, tentando fugir.
— Não podemos deixá-lo escapar! — Persian gritava, rangindo os dentes de raiva e disparando atrás do tecido, parando brevemente na porta
— Vamos, ele está indo para o salão principal!A loira estava desmaiada, completamente sem forças. Hawk observava Will apreensivo, sem saber direito o que fazer diante daquela situação, aguardando suas ordens. Caso resolvessem seguir imediatamente o felino, desceriam as escadas e estariam de volta no majestoso salão que encontraram anteriormente. Próximo a porta e à ponte retrátil, a energia começava a tomar forma: atrás dela, um homem com um chapéu extravagante estava encostado na parede, rindo descontroladamente e com o que parecia ser um caixão ao seu lado:
— Chesire! — a fina voz do homem gritava para os quatro ventos
— Demorou mas finalmente entendeu, não é? — voltava a gargalhar
— E olha se não é Capitão Jack! Ao vivo e a cores! — debochava, retirando um cantil metálico de suas roupas vermelhas de veludo
— Servido?Após alguns segundos, a energia corria para dentro do caixão e se transformava em um conhecido Pokémon múmia:
— Minha paixão vai ficar muito orgulhosa quando entregar a cabeça de todos para ela!