— Com certeza! — O rapaz disse, com um riso sem jeito, enquanto desviava de algumas pedras pelo caminho para poder avançar na direção da praia - e, felizmente, não foi preciso muito tempo antes que abandonassem o interior da caverna. Erick puxou o capuz da capa para cima dos cabelos com a mão livre, se escondendo por baixo do tecido e indo na direção oposta àquela em que haviam "aportado"; Lá, não muito distante da entrada do túnel, um pequeno barco (talvez pequeno demais para se acreditar que podia cruzar o furioso braço de mar à frente do grupo) aguardava, com um homem que provavelmente beirava seus quarenta e trazia consigo a imponente aura que envolvia o próprio oceano - um verdadeiro amante do mar, se podia arriscar dizer. Não é muito necessário dizer que foi para ele que o retratista se encaminhou, e só ao chegar que a mão soltou a do companheiro, apressando-se para cumprimentar o Capitão, levemente sem jeito. — Desculpe a demora! — Pediu, com um sorriso sem graça. — Acabamos tendo um e outro contratempo, espero não termos atrapalhado o senhor. — Explicou, dando uma rápida olhada de canto para o bardo antes que a atenção, enfim, se voltasse para o estranho.
— Ah, não precisa se preocupar. — O homem riu, tranquilo, desencostando de uma rocha mais alta e indicando o veículo com o polegar. — Não é como se eu tivesse muita coisa a fazer, sabe? — Comentou, dando de ombros e vasculhando os céus com o olhar castanho. — E, sinceramente? Um tempo a mais vendo tudo isso aqui de perto não faz mal a ninguém. — Murmurou, apertando de leve os dedos na capa de chuva antes de caminhar na direção do barco. Com um salto curto e pesado, o capitão subiu no convés, antes de estender a mão para o fotógrafo e o auxiliar a subir. — Você deve ser o Tielo? — Perguntou, um breve desvio de olhar na direção do albino, cumprimentando-o com um balançar discreto de cabeça. — Não nós apresentamos ainda, hm? — Sorriu, relaxado. — Peter. Mas, por enquanto, pode chamar de Capitão. — Apresentou-se, estendendo a mão para o arlequim para também auxiliá-lo a subir - logo depois de observá-lo de cima a baixo, divertindo-se com a escolha exótica das roupas do outro. — Algum show de teatro rolando que não avisaram? — Riu, e se afastou na direção do leme, à frente do barco.
— ...Mwn, não. Nenhum, não. — Apressou-se o fotógrafo, outro olhar de canto na direção de Tielo antes de se acomodar em um dos bancos do lugar, um olhar receoso na direção do mar agitado. — Você tem certeza que esse barco aguenta atravessar? Digo, você chegou até aqui, mas... — A voz perdeu-se no meio do caminho, um encolher de ombros inquieto enquanto observava Peter ligar uma enorme lanterna na frente do barco, um farol claríssimo que fez cintilar as águas escuras.
— Tá tranquilo. — Foi tudo o que respondeu, antes de usar um pedaço de madeira para empurrar o barco da areia - com o mínimo movimento, o veículo balançou na turbulência marinha, sacolejando e exigindo que todos os tripulantes segurassem bem firme se não quisessem ser atirados ao mar nos primeiros centímetros de viagem, o que seria preocupante se considerassem que ainda existia um longo caminho pela frente. — Vamos chegar antes que vocês percebam. — Garantiu o homem, enquanto retirava uma pequena esfera azulada do bolso. Estendendo-a para a frente, permitiu que o objeto se partisse e libertasse um feixe de luz tão ofuscante quanto um dos tantos relâmpagos que coloriam os céus - dali de dentro, um molde enorme começou a se formar: Colossal, ao ponto de sacudir a área e fazer o barco perder o equilíbrio, balançando com violência antes de, enfim, a imagem de uma gigantesca baleia brilhasse à frente da embarcação e, como se ensaiado, abriu a boca...
E simplesmente engoliu o barco.
Erick foi o primeiro a reagir, com um grito curto de susto - que foi seguido por uma risada relaxada do capitão. No interior de Wailord, com a boca fechada, o feixe luminoso que escorria da lanterna do barco iluminava por completo as paredes de carne carmesim, e o veículo balançava sobre águas salgadas que o mamífero havia resolvido engolir junto ao trio, concedendo a sensação de uma verdadeira navegação.
Alguma vez já ouviu falar da história de Jonas e a Baleia, senhor? Ou então talvez sobre a viagem feita no interior de uma, em Procurando Nemo?
Pois esteja pronto para vivê-la.
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O amanhã é efeito de seus atos. Se você se arrepender de tudo que fez hoje, como viverá o amanhã?