[001] — Apesar de tudo, façam laços;

A importância de uma relação de confiança entre treinadora e pokémon logo de início se destacava: Não somente pela necessidade de coordenação e obediência entre os movimentos instruídos para a canina, mas também para a própria treinadora possuísse em mãos a calmaria necessária para não simplesmente abandonar o combate antes da hora e partir em disparada para outra direção. Uma jornada era, acima de tudo, não somente saber quais são seus limites, mas ser capaz de afirmar com tranquilidade quando se pode tentar. A determinação demonstrada por Girly possivelmente era um dos maiores motivos para que o confronto pudesse se desenrolar sem mais problemas - pelo menos, para Saint'Clair.

Era com essa confiança restaurada que um novo turno se iniciava. Zigzagoon, por sua maior velocidade, era o primeiro a agir, chutando um pequeno pedaço de terra que voou na cara de Snubbull - a pequenina emitiu um ganido baixo, levando as duas patinhas para o rosto e o esfregando incessantemente, ato que arrancou um "riso" abafado do selvagem. O barulho foi suficiente para chamar a atenção de uma nervosa fada que, sem pensar direito e meio às cegas, se lançou em sua direção: Entretanto, sem parar para tirar corretamente a areia que se acumulara em seus olhos, o quadrúpede não precisou de muito mais que um simples pulinho para o lado para evitar o avanço irritado da buldogue - talvez houvesse usado de uma artimanha suja, mas ela certamente se provava útil naquele exato momento. (Sand Attack/Tackle)

Aproveitando a corrida em que a canídea passara direto, Zigzagoon voltou-se para trás: Com uma cabeçada certeira, a pobre Girly foi arremessada de cara no chão; O impacto não havia sido forte o suficiente para ser preocupante, mas com certeza humilhante o suficiente. Era difícil dizer se movida pelo ódio ou pelo amor à treinadora, mas a pequena encontrou forças para levantar quase de uma vez, voltando-se contra o bicolor: Uma nova faísca elétrica surgira de seus caninos e, em uma só dentada, fincou-se sobre o pelo do animal. A umidade foi responsável por fazer com que um pequeno choque corresse pela área, não fatal, mas ocasionou alguns danos extras no mascarado e arrancou um baixo ganido - entretanto, a buldogue continuou lá, pendurada no selvagem, enquanto ele se sacudia de um lado para o outro para se livrar daquela dentada. (Tackle/Thunder Fang)

Uma nova estratégia até interessante era bolada pela jovem monotreinadora: Visando se aproveitar da cadela já pendurada no guaxinim, a esperança era que a força da pequena fosse suficiente para não somente se livrar do quadrúpede, como também obrigá-lo a encarar mais alguns danos extras no confronto que se desenrolava. Infelizmente, a buldogue não foi bem sucedida na tarefa - fosse por irritação ou sorte do destino, a reação imediata do selvagem foi virar o corpo com violência contra o chão, prensando-a no solo; O peso e a investida do animal aplicados no processo foi suficiente para que a rosada não aguentasse a mordida por muito mais tempo, ainda que conseguisse dar uma última dentada antes que o mascarado se afastasse para se recuperar e prosseguir com uma nova investida. Já parecia exausto mas, ainda assim, persistia; Tanto que, quando a fada tentou um novo avanço para que pudesse grudar outra vez no pelo do espécime, o irritado pokémon apenas deu um salto para o lado, e a areia acumulada nos olhos da pequenina foi mais que suficiente para fazê-la apenas passar direto, perdida como uma barata tonta. (Tackle/Ice Fang/Tackle/Ice Fang)

Se parasse para pensar, chegava a ser quase inacreditável a garra demonstrada pelo selvagem - e também pela buldogue, na verdade - naquele combate repentino e improvisado. Era difícil dizer ao certo que tipo de coisa teria chacoalhado a ira no coração do guaxinim, mas ela também parecia responsável pela atitude insistente do quadrúpede em recusar-se a recuar ou até mesmo fugir, como seria compreensível em uma situação claramente desvantajosa como aquela em que o pequeno havia se metido. Até onde se podia ver, pelo menos, nada o impedia de virar e desaparecer pelo alto matagal ao lado: Não existia treinador para defender, filhotes, alguma posse roubada, nada - a única coisa que o segurava ali, em realidade, era a própria força de vontade do espécime, que desabrochara por sabe-se lá qual motivo: Seria o rapaz fugitivo de há pouco o culpado por todo aquele conflito, ou também havia sido uma infeliz vítima do temperamento de Zigzagoon?

De qualquer jeito, não existiriam respostas ali, ou pelo menos não agora. Uma batalha ainda ocupava os dois pokémons e, como já era de praxe, o quadrúpede foi o primeiro a se movimentar, ainda que com os passos meio cambaleantes e a respiração ofegante. Diante das novas ordens ditas por Saint'Clair, a reação do castanho foi pressionar as patas no chão, emitindo "latidos" altíssimos - talvez em uma tentativa de fazer com que Girly desistisse de uma nova ofensiva, fato que pareceu funcionar por um momento, dada a maneira como a pequena deu alguns passinhos para trás, incerta. Entretanto, a intimidação do pequeno não era suficiente para suprimir a obediência da canina para com sua treinadora e, suprimindo todas as dificuldades - a areia, o clima e o próprio adversário -, a fada avançou uma última vez, dando uma potente mordida elétrica no guaxinim que, daquela vez, foi suficiente para fazê-lo tombar na relva, sem forças e desacordado. (Growl/Thunder Fang)

Hora da Experiência! escreveu:

Girly (Snubbull) recebeu 675 de experiência por vitória contra Zigzagoon e ganhou 7 pontos de felicidade, subindo para o nível 9.
Girly pode aprender Bite. Deseja substituir algum dos movimentos atuais?

— Whow! — Veio, então, a exclamação. Uma voz já conhecida - ainda que talvez não tão íntima para a moça -, de alguém que se mantivera em silêncio até então; Talvez a moça não houvesse percebido até o momento, mas o rapaz de há pouco não havia aproveitado a confusão para simplesmente desaparecer nas entranhas da 121. — Incrível! — Elogiou, de um jeito meio sem jeito, dessa vez mais próximo. — Não achei que você fosse lidar tão rápido com ele... — Riu, sem graça, encolhendo brevemente os ombros.

Como procederia a moça, então?

Foi com repentina - e talvez até justificada - agressividade que a acrobata virou-se de supetão ao jovem rapaz: Passado o susto e a adrenalina causados pela obrigatoriedade de uma batalha inesperada, o que restava à moça era a frustração não somente por ter sido arrastada para aquele tipo de situação, mas também pelo fato de que o responsável por tê-la atirado em seus braços não havia se dado o trabalho de mover um músculo sequer para auxiliá-la em seu pavoroso (e primeiro!) embate. Claro, era de se levar em consideração que tudo dera certo no final mas, bem, e se não houvesse dado? Como poderia lidar com um selvagem agressivo daquele jeito caso sua pequenina buldogue encontrasse o destino do nocaute entre as garras do raivoso guaxinim? Poderia correr, claro, mas por quanto tempo aguentaria? E se acabasse encurralada por outros espécimes do bioma, ou até mesmo por aqueles que estavam de migração - na pior das hipóteses, e se desse de cara com uma pessoa não amigável no meio do caminho?

Eram muitos hipóteses a serem consideradas, e talvez todas elas servissem de combustível à ira da monotreinadora. A chama que irradiava em seus olhos eram a ameaça principal que faziam o loiro dar alguns pequenos passos recuados, junto à pressão constante das cutucadas fortes que a morena investia contra seu peito. As palavras pareciam não ser amigas do jovem, visto que em nenhum momento daquela interação irritadiça haviam surgido de sua boca para defender a si próprio, e um pequeno tropeço para trás (ainda que, felizmente, não houvesse ido ao chão) foi o único detalhe que impediu os contínuos avanços de Ísis, fazendo-a recuar para enfim dar atenção à dócil Snubbull.

Durante o processo de cuidados da canina, o garoto em momento algum se pronunciou - talvez por ainda estar digerindo toda a bronca dada por Ísis, ou meramente por não ter o que falar. O silêncio, entretanto, não durou muito tempo; E as palavras vieram num ímpeto só, quase rancoroso:

— Quê?! — Foi o primeiro questionamento. Rápido, o loiro franziu o cenho, balançando a cabeça em negativa. — Como assim meter pessoas no meu caminho? Eu literalmente tirei você dele, ou você ia dar de cara com um Zigzagoon no meio do mato, sua mal agradecida! Quem voltou foi você! — Retrucou, apertando vagamente os dedos contra a palma da mão. — Quem é você pra me chamar de estúpido? Quem disse se eu fiz ou não algo com o bicho? É um selvagem! O que acha que vai encontrar aqui, domésticos que você passa por e viram de barriga pra cima pra receber um carinho? Bom, dona sabichona, talvez você até encontre, mas com toda a certeza não precisa de muito azar pra esbarrar com algum que queira arrancar teu fígado! — Desabafou, frustrado. — Inclusive, muito me admira que tenha vindo pro meio de uma rota onde avisaram da agressividade dos pokémons, e acha que precisa sim fazer alguma coisa pra eles te atacarem! De onde você veio, do mundo da lua? — Debochou, cruzando os braços em frente ao peito. — É óbvio que eu tenho um pokémon, duh! O que eu ia fazer aqui sem nenhum? Tomar uns sacode de graça?

Potion utilizado por @Santtinea!
Snubbull recuperou sua vitalidade em 20 pontos: [HP: 29/29]!
Itens restantes: x05

— Se ele tivesse ido para cima de você, você não teria tempo nem de batalhar, porque não teria visto e não conseguiria reagir. — Retrucou o rapaz, torcendo com sutileza o canto dos lábios. Sentindo as gotas caírem em seus cabelos dourados, se ocupou em puxar o capuz da capa de chuva para cima da cabeça outra vez - teria caído em toda a confusão? -, acertando-o sobre o corpo enquanto ouvia as palavras da treinadora. Parecia prestes a acrescentar mais algumas coisas para defender seu ponto de vista, porém, foi calado ao perceber o rosnado nada amigável emitido por Girly; Diante do "pronunciamento" da buldogue, o treinador deu alguns passos para trás, inquieto - não parecia muito disposto a ter de fugir outra vez de um bicho furioso, porém, não hesitaria se enxergasse necessidade.

Felizmente para o jovem, porém, Saint'Clair não parecia interessada em continuar uma briga. Na verdade, os planos da Dama Dourada eram se retirar dali, quem sabe o mais rápido possível, entretanto suas intenções foram frustradas ao perceber que: Não sabia onde estava. A agitação, seu arrasto repentino, todos os fatos recentes trabalharam para confundir o ponteiro anteriormente tão bem encaminhado de sua bússola - e, ao se dar conta dessa situação, os pés permaneceram parados, emitindo a confusão que pairava na mente da moça. Restou-lhe recorrer ao rapaz que há pouco discutia, com um breve pedido para que deixassem para trás aquela "briga boba" e, logo a seguir, um pedido de auxílio. O treinador, por sua vez, que já estava indo embora para outra direção, parou; Encarou-a em quietude por alguns segundos, movimentando-se desconfortavelmente no lugar, como se hesitando responder a questão e provocar a fúria da dupla feminina à sua frente.

— ...Não tem. — Respondeu, enfim, após um longo momento de silêncio. — Só a cidade. — Apontou para trás da moça, ao horizonte. — Ou você se mete debaixo de uma árvore e espera a chuva passar. — Concluiu, coçando o braço. — Mas não conta com isso, não. Daqui pra frente, só piora. Você deve saber, mas tá um temporal desgraçado lá pros lados do Pyre. — Comentou, erguendo uma das sobrancelhas como se em desconfiança de que a moça realmente houvesse se informado antes de adentrar a 121. — Engraçado não vir preparada pra isso, já que você parece ter o controle de tudo nas mãos... — Alfinetou, com a sombra de um sorriso nascendo no cantinho dos lábios. — Não é pro Monte que você vai?