(006) — Holy Ground

Com a frase de Karinna, Elfman sentiu a necessidade de se explicar.

- Bem, não é exatamente a música, sabe... É mais a forma como você usou as notas. Tá mais pra um lance de sincronia. - Explicava o jovem de cabelos grisalhos, parecendo até meio confuso com sua própria explicação e fazendo o Sushi arquear uma sobrancelha. O que diabos estava se passando na cabeça do homem? Era difícil de dizer, os pensamentos dele estavam, de fato, meio confusos até mesmo para o Alakazam.

Sem se demorar muito, eles progrediam em direção ao velho pescador, que revirou os olhos quando viu os treinadores. Como se já soubessem o que eles queriam.

- A pronto, mais uma dupla de treinadores. Olha só, meu barco quase não aguentou a última viagem de volta. Eu não vou para o Mt. Pyre por nada! - Gritava o homem, visivelmente irritado.

Após a afirmação do homem, Elfman suspirou e olhou para a jovem Bley.

- Sabe, sou péssimo em persuasão. Daqui pra frente é contigo. O que vai querer fazer? - Olhava para a loira, torcendo para que ela fosse propor algo ao pescador.

Qual seria o próximo passo de Karinna?

Vendo a encenação de Karinna, Elfman decidiu que tinha que agir, pegou o papel em que desenhara uma rota de transição segura junto de Sushi e deu alguns passos a frente enquanto dava uma piscadela para a jovem Bley e seu Pokémon. O menino de cabelos brancos abriu o papel e mostrou a rota marítima para o pescador.

- E, aliás, essa aqui é uma rota de transição segura até o Pyre. O senhor deve ter percebido que em alguns momentos o mar parecia mais calmo, é porque tem um jeito certo de navegar por elas. - Falava enquanto apontava pro mapa e dava uma explicação completamente diferente do que fora dito para a loira anteriormente, fazendo até mesmo Sushi arquear uma sobrancelha.

Ele tentava ler a mente do jovem de cabelos brancos, mas não conseguia rastrear nenhuma intenção ruim. Na verdade, toda a linha de raciocínio na cabeça de Elfman era esquisita, tão esquisita, que fazia o psíquico ficar levemente confuso, a ponto de ele interromper seu ato e se recusar a repeti-lo. Não importava o quão mirabolante fosse o raciocínio do rapaz, dentro de sua cabeça, tudo fazia sentido e era bizarro! Até mesmo para o Alakazam.

Reparando no jovem que apontava para o mapa, o velho arqueou uma sobrancelha e pigarreou.

-  E você? Quem é?

Elfman gelou por um momento. Olhou para Bley, olhou para o pescador, olhou para Karinna de novo e uma última olhada no pescador. Por último, finalmente proferiu:

- Eu... Sou... O namorado? - Disse sem saber o que dizer.

O velho repetiu os movimentos do jovem de cabelos alvos. Olhou para Karinna, olhou para Elfman, olhou para a loira novamente antes de dar uma última olhada no rapaz e por fim disse:

- Okay, eu levo vocês até lá. Ter problemas de família desse cunho e ter um puta mal gosto pra homem não é pra qualquer um. - Disse enquanto convidava a dupla para subir. - E me da essa bosta de mapa. É bom que você esteja certo ou vamos todos queimar no inferno. - Falou ao aguardar Karinna e Elfman subirem até o barco e arrancar o mapa da mão do homem.

Dentro do barco era possível reparar que era uma embarcação de médio porte, não era um cruzeiro, mas tinha até um banheiro, quarto, cozinha... Tudo para o pescador viver por lá. O convés era coberto em sua maior parte, e foi exatamente na parte coberta que Elfman resolveu ficar, enquanto olhava para o mar distraidamente.

A viagem até o Pyre não seria tão rápida, mas valeria a pena trocar mais algumas palavras com Elfman até chegar? Tentar desvendar os mistérios da mente do jovem de cabelos alvos seria interessante ou era melhor tentar encontrar alguma coisa interessante pelo barco?

Com os dizeres de Karinna, o pescador suspirou, quase como se dissesse que ela não tem ideia do que a aguarda. Após adentrarem a embarcação, Bley confronta Elfman sob os entraves encontrados, e, quando questionado de suas habilidades, ou faltas delas, para interação com humanos, o jovem sorri e abaixa a cabeça, olhando para o mar enquanto este balança a embarcação de leve.

- Por que acha que passei tanto tempo na Rota 121? Olha, não é brincadeira, e é difícil vir para cá sozinho. - Falava, enquanto dava uma explicação que pensava ser razoável. - Não consigo enrolar as pessoas para me levar até lá, e quando me aproximo, me acham esquisito e fingem não me ver... Sempre fui assim, tanto que no Ensino Médio me chamavam de AZ. - Falava enquanto perdia o sorriso pouco a pouco e ainda se perdia no mar. Por algum motivo, Sushi conseguiu ler a mente de Elfman melhor agora, uma memória distante, dolorida, o suficiente para que o mesmo fizesse uma cara feia, como de quem provou algo e não gostou.

Quando a loira empurrou o jovem contra a parede ele se assustou, mas gargalhou e não perdeu a oportunidade para caçoar.

- Ei, calma lá loirinha, quando disse que era seu namorado, eu não queria que se empolgasse. - Até que a brincadeira foi cortada quando Karinna mudou seu tom de voz e o tentava colocar contra a parede, não só no sentido literal da coisa. - Ah, pergunta aí pro seu amigo Sushi, eu tenho alguma intenção de machuca-los?

A pergunta de Elfman soou como deboche para o Alakazam, que expressou sua indignação em face no mesmo momento, deixando o jovem de cabelos alvos aparentemente... Confuso? Sério? Algum deus poderia intervir na causa? As coisas não estão ficando mais simples por aqui.

Após a risada de Bley, Elfman retomou a expressão neutra e fechou os olhos, enquanto a acompanhava a descer as escadas da embarcação, eles foram flagrados pelo pescador, mas antes de que ele pudesse questioná-los, o jovem de cabelos alvos o respondeu sob suas intenções.

- Queremos ir ao banheiro, relaxa, só isso. - Dizia com a maior naturalidade, que foi perdoada para o pescador que caminhou em direção ao leme novamente, no entanto, o homem alto se virou para Bley e disse. - Faz o que quiser, só me ajuda a achar o banheiro primeiro, sério. Preciso mijar em um lugar decente... E não me vêm com essa de menina inocente, só ta vindo comigo porque já fez coisa ruim, tô ciente da minha cara de psicopata. Além do seu visível desconforto na rota, parecia até que tinha matado alguém lá. - Falava como se fizesse suposições absurdas e tentasse saber porque Bley simpatizara com ele.

Enquanto caminhavam embarcação adentro, foi possível ver três portas, junto com algumas rachaduras no teto. Realmente, a embarcação havia sofrido bastante com as viagens. Eles estavam numa espécie de hall circular, bem pequeno e sem nada a volta. Atrás deles, as escadas. A sua frente, uma porta a esquerda, outra a frente e outra a direita. Em qual delas eles iriam?

Com o visível deboche de Karinna à sua suposição, Elfman revirou os olhos, e, quando ela encenou que apontava a faca para seu pescoço ele levantou as mãos, fingindo demonstrar medo.

- Uau, que ameaçador. - Falava, debochando em mesmo tom. - Só espero que a realidade não deboche de mim, no fim das contas. - Falava retomando a compostura.

Quando chegaram ao hall circular, seguiram o que Bley dizia, e Sushi abriu a porta do meio, a jovem a da esquerda e Elfman a da direita, que riu enquanto abria a porta para descobrir onde repousava o pescador pela noite, o cômodo era simples, tinha uma cama e algumas gavetas em baixo dela.

- Última chamada para o golden shower. Agora ou nunca, minha cara. - Falava retomando a brincadeira.

Quando Alakazam abriu a porta, flagrou um banheiro comum, mas não daqueles padrões de embarcação, o próprio vaso era ornamentado e sua tampa parecia lembrar um ladrilho de catedrais antigas, com o desenho de um Kyogre feito em azul, vermelho e amarelo. Parecia um banheiro de hotel, com o próprio piso imitando um porcelanato.

- Sushi, se não sair da frente, vai descobrir o que significa o tal do banho dourado. Da pior forma possível. - Falou o jovem de cabelos alvos ao empurrar o Pokémon da frente da porta e entrar nela, trancando-a na mesma hora.

Na porta de Karinna, foi possível ver mais para o interior da embarcação, ela não era muito clara, mas era possível os aparatos mecânicos que faziam a embarcação funcionar. Era a Sala de Máquinas.

E agora, Karinna? Como vai proceder?