Malfeito feito

Havia uns dias que, numa das reuniões da Requiem, surgiu a notícia desse contrato que recebemos daqui, de Violet. Olha que eu não costumo ser tão empolgada para essas coisas, mas esta em particular eu fiz questão de ser a primeira manifestar interesse em assumir. Quer dizer, tem tudo a ver comigo! É na minha terra e para lidar com festa. Não tem como eu passar vontade aqui, né?!

Além disso, seria um dos meus primeiros compromissos em campo como sócia, o que me deixava bastante empolgada. Por isso fiz questão de vir vestida à altura, num look jovial, sim, mas bem mais comportado e maduro, só jeans e camiseta simples, mas calcei até um salto! Meu cabelo voltava a ser o que era, curto e volumoso, pois eu nem me sentiria bem de outra forma, cercada do saudosismo do lugar. [imagem ilustrativa]

Saí do Centro Pokémon com um baita sorriso no rosto, deixando para trás um rastro de perfume suave e adocicado. Mas eu não fui longe, não. Apenas queria admirar minha cidade. Deixar que meus olhos a captassem com quê de boas lembranças. Me sentia quase como uma criança de novo, o que era muito pertinente, pois eu realmente estava sonhando acordada enquanto esperava a chegada do meu príncipe encantado... É, ele deve chegar a qualquer instante. E eu não consigo reprimir a felicidade de lembranças mais recentes.

Eu me distraía caminhando pelo que, só depois fui perceber, era o caminho da minha antiga casa. Parte de mim reconhecia como se nada tivesse mudado, mas a outra sabia que, naturalmente, tudo mudou.

Minha antiga escola tinha sido substituída por um prédio comercial. As casas dos meus amigos, que tanto visitei na infância, tinham dado lugar à outras. Eu sorria para todos os rostos que me observavam. Em parte na intenção de querer reconhecer neles alguém familiar. Alguém que, diferente de mim, tivesse voltado a morar lá... Alguém que lembrasse de mim.

Meu transe foi interrompido quando o PokéNav vibrou no meu bolso. Atendê-lo foi praticamente um movimento automático, assim como a gargalhada que dei quando meus olhos captaram a mensagem e o emissário.

A: Bom dia (dessa vez foi diferente)
A: Estou na cidade, me encontre na Sprout Tower
K: Bom dia, lindo! :3
K: Na roda gigante então!
K: Digo, na Sprout Tower! Hihihihihihihi ;P
K: Chego logo

Conhecia o caminho de cor e sem erro, já que aquele ponto turístico icônico foi uma das poucas coisas que se mantiveram no lugar, dentro da nova arquitetura na qual a cidade foi reconstruída. Em instantes eu via a torre, ao longe, e já até podia escutar o som do vento remexendo a superfície do lago.

Mais alguns metros e eu avistei Ayzen. Ele estava bem mais casual agora de dia, com seu jeans e camisa de flanela. Tinha deixado o cabelo crescer, se parecendo mais com aquele que eu conheci, anos atrás. Mas, fora isso, tudo parecia estar exatamente onde e como eu me lembrava - pelo menos até onde eu vi dali, claro. Sem controlar muitos impulsos, dei uma corridinha, no intuito de pegá-lo de surpresa, mesmo sabendo que aquilo seria muito improvável de acontecer.

– Oie! – disse me atirando num abraço apertado e um beijo em sua bochecha; nada além do esperado para minha personalidade, fiz o mesmo até quando ele era apenas um Requiem desconhecido no Centro Pokémon – Cabeludinho... Gostei. – fiz um bico, expressando admiração, enquanto me permitia um cafuné ligeiro entre seus fios loiros, só pra que meus dedos matassem algumas saudades – Bom te ver. Como você tá? Chegou tem muito tempo? – se o sorriso já tinha se estampado no meu rosto só por estar em Violet, agora com Ayzen por perto é que vai continuar aí por muito tempo. Meus músculos faciais que lutem. Por sorte eu os exercito bem, pro canto.

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Encontrar Ayzen numa aglomeração já nem me surpreendia tanto. Mas não posso dizer o mesmo dele, que apesar daquele sorriso maroto - de sempre - parecia um bocado apreensivo. Não com a multidão de turistas em si, mas uma em particular para a qual vi seus olhos desviarem algumas vezes: os que protestavam.

Ousei um dar de ombros no estilo "não é pra tanto" mesclado com uma caretinha de "vai ficar tudo bem", quando ele falou da agitação. Tarde demais, Ayzen já tinha um braço atravessado pelas minhas costas, colando meu corpo ao dele. Achei um pouco apressado, nem me deu "Oi", mas eu beijaria sem... Ah, não era pra me beijar. Doce ilusão.

– Amado?!

Não vou mentir que dei algumas gargalhadas com a surpresa, assim que ele me deu uma leve arrastada por entre as pessoas. Me lembrou nossa forma mais frequente de deslocamento naquela noite, no parque. Mas isso passou logo, porque conforme ele nos conduzia até a entrada da Torre, mais apertado tudo ficava. Eu seria capaz de dar algumas cotoveladas, pisar com o salto em alguns pés... Só respirei fundo, controlando impulsos encrenqueiros; me abracei à cintura dele e foquei no caminho que tentava abrir para nós.

– Por isso prefiro voar... – resmunguei baixinho o que no fim poderia ser uma alternativa – Se não conseguirmos por aqui, que tal ir por cima?! – ideia boba; sei lá, algo me diz que seremos muito criticados por tentarmos furar filas, independente da forma.

Oi Kaze!!! :3
É aqui que eu vou fazer cosplay de Senna True Damage? :B
-q

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É, voar não seria preciso, infelizmente ainda bem. Um dos monges que recepcionavam a entrada veio ao nosso encontro com um cumprimento até carismático e sugestivo, mesmo diante do que passavam ali. Não contive uma súbita alegria em ver uma figura levemente familiar - figura, não rosto - depois de tantos anos. Até ri e senti minhas maçãs corarem quando o monge insinuou que eu e Ayzen fôssemos namorados...

Diferente de mim, Ayzen parecia um pouco mais apreensivo, o que contribuía para seu diálogo bem objetivo com o homem. Talvez o loiro não estivesse esperando tanta tranquilidade de alguém que tem uma multidão e um protesto à sua porta. Mas, eu esperava aquilo, por conhecer um pouco da visão que aqueles discípulos tem da vida.

– Ca-ham... Obrigada, senhor Fafnir, mas... – intervi com um pouco mais de cordialidade – É, como ele disse, temos algo importante a tratar com o superior, por favor. – um sorriso simpático e uma ligeira reverência com a cabeça, para enfatizar o respeito ao pedido.

Mesmo já um pouco longe da aglomeração eu continuei abraçada ao Ayzen. Vamos dizer que tenha sido por instinto. Quando me virei pra olhá-lo ele sorria, finalmente trazendo um pouco de humor para a situação e me deixando mais confortável - além, claro, do beijinho pra completar e me arrancar um riso de orelha a orelha.

– Pois é! Juro que eu não lembro disso ser assim... Vai ver é porque eu esperava o espetáculo de casa. – dei de ombros, sem lembrar de nenhuma ocasião em que eu tivesse no meio daquela multidão no dia da festividade – Não gosta de se misturar com as pessoas?! – lancei com uma gargalhada, só para provocar mesmo, junto com algumas cutucadas leves em seu abdome.

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