Rota I - Froste

Vencer era possível. Houndour estava em seu limite, mas podia vencer, bastava apenas continuar suas investidas. Froste sabia disso, esticou o braço num movimento violento apontando para Corphish e bradando:

Sentiu uma satisfação diferente ao ver Corphish cair, algo semelhante a um gol no futebol, mas ao perceber o estado de seu pokémon sua alegria temporária esboroou-se, a vitória pareceu-lhe um golpe de sorte. Fora além dos limites contando unicamente com o acaso, uma vitória incompleta. “Que seja...” Sacou uma pokebola e lançou-a contra o crustáceo esparramado no chão.

Nunca fora tomado por tal ansiedade antes, seus músculos se contraíram violentamente travando todo seu corpo, o coração pareceu parar brevemente, retomando os movimentos em sincronia com o tremeluzir da pokebola. A captura se confirmou com o estacar da esfera, Froste se permitiu relaxar, soltando os ombros, outrora tesos, com um suspiro de alívio.

Houndour entregou a seu treinador um olhar de ígnea determinação, o canídeo executou com maestria seu dever, contudo, Froste limitou-se a retribuir o olhar e assentir com a cabeça. Em seu imo desejava compartilhar verbalmente com seu companheiro a satisfação que sentia e parabenizá-lo, mas as palavras permaneciam encarceradas no ponto mais recôndito de seu pensamento, sem forças para escapar. Que a incapacidade de sua boca fosse compensada pela intensidade dos olhos.

- Tá escuro e eu tô entediado com o desafio, vamos tratar de você e procurar um lugar para ficar. – o tom sereno disfarçava a urgência.

Caminhou até a pokebola, que estava no chão, apanhou-a e a depositou na mochila descuidadamente. Acreditava que o centro pokemon não estava tão longe, pôs-se a andar e convocou seu parceiro com um assovio. Não mentiu ao falar sobre o tédio, a realidade é que os desafios propostos não pareceram nada mais que uma colossal perda de tempo.

A velha desaparecera tão rápido quanto aparecera. Diante de Froste restavm o presente e um silêncio inquietante. Guardou a primeira pokebola em sua mochila e abriu a segunda liberando Houndour, abaixou-se e coçou a cabeça de seu companheiro, agora, revigorado. Observar o semblante saudável do cão acalmou seu coração inquieto, entregou um sorriso ao mesmo e permaneceu imerso em seu silêncio glacial. Abriu o pacote movido pela mais pura curiosidade.

Uma existência pautada em constante azar não conseguia compreender ou corresponder com gratidão aos afagos da sorte. Um estranho mau pressentimento invadia-lhe as entranhas trazendo a tona um mal estar frígido. Com o fruto em mãos restava apenas contrariar suas próprias palavras e caminhar em direção ao dojô.

Durante a caminhada a imagem da velha lhe surgia constantemente, toda sua estrutura parecia envolta por indescritível aura mística, como uma criatura mágica envolta em uma membrana de mistério. Froste não sabia como descrevê-la, humanamente falando, portanto limitou-se a tentar esquecer.

“Vai ver eu só to delirando!” – pensou dando tapas em sua testa tentando espanta-la de seu pensamento.