#Cinnabar - Pleiteando um estágio!

  Ainda questionando minha sanidade, pude ver de relance a menina brincando com alguns amiguinhos dela, que depois a deixavam para voltar para o festival. Ela, menos contente, seguiu. Cadê a revista dela? De certo não vi sendo atirado no mar negro que estava naquela noite. Afinal, estava na praia, longe das luzes do festival, em lua nova. Acho que a iluminação ali, embora fosse bem possível, era decente o bastante para ver uma bola de fogo se aproximando.

”BOLA DE FOGO?!”, foi o que imaginei quando vi Swampert olhando para o céu, vendo aquele brilho intenso descendo, onde eu poderia jurar que era um meteoro vindo pra terra. Swampert, mesmo sendo resistente ao fogo, não sairia imune daquele impacto. Dei uma crise de apneia naquele momento, enquanto meus olhos se esbugalhavam. Perdi alguns segundos de reação, mas também, que imaginaria que teria uma chuva de meteoros ali na praia de Cinnabar.

Quando resolvi agir, depois de muito questionar comigo mesmo da loucura que estava vivendo, Swampert estava diante da luz. Sim! Luz. De dentro, uma imagem que eu achei que nunca fosse ver no mundo Poklémon e por conta disso tinha estudo quase nada. Seu jeito infantil e ação melindrosa me fez questionar o porquê que eu não estudei os lendários com tanto afinco como estudei os outros Pokémons.

Ah, são lendários! Qual a chance de eu me encontrar com um lendário. Zero? Isso nunca aconteceu, nunca vi nenhum Pokémon de classificação pseudo-lendário, quiçá, um lendário ou mítico... Até agora fiquei perdido nas classificações, já que não esperava um JIRACHI AQUI.

Isso era real? Jirachi, o Pokémon desejo, estava diante de Swampert. O meu Pokémon o tratava como um Pokémon, não tendo os olhos vestidos de preconceitos que o meu tinha. Digo preconceitos no sentido literal da palavra. No sentido de ter um conceito pré estabelecido. Um Pokémon Mítico em minha frente e eu nem sei como reagir. Fiquei, a priori com medo, confesso, mas conforme o Pokémon interagia com o meu Swampert, fui perdendo.

Dei um passo. O que poderia dar errado? Era um Pokémon mítico... E parecia tão inocente quanto Swampert e Togekiss. Outro passo! Estamos falando de um Pokémon com feições infantis, não é um Kyogre saindo do mar e abrindo sua boca para engolir Tohjo (será que foi isso que aconteceu na última vez). Outro passo... - Ooi...- eu falei. Receoso. Não queria espantá-lo, mas também, não tinha mais para analisar. Era um Jirachi. Um puta Jirachi! Uma descoberta do mundo Pokémon que era tão difícil de se provar.

Claro, não quero aqui ser o cientista chato e ganancioso. Nem seria minha área de pesquisa, mas, cara, é um Jirachi! Lendários são possíveis! Daí, já parei de contar os passos, só para poder me aproximar mais dele. Seria as lendas reais. - Sou Ayzen Kitshomo e este é o Swampert.- o pokémon acenava. Eu me apresentava. Afinal, seria isso o correto a se fazer, né?

  Esperava reações negativas. Afinal, se Jirachi ficou tanto tempo sem falar com humanos, seria por que? Se ele era tão social assim, já era pra ter sido visto há anos. Mas não, ele apenas rodopiou no ar e se mostrou feliz por me conhecer. Eu até assumia uma posição defensiva quando o pequeno emitiu sons peculiares de diversão, até meu cérebro entender que aquilo era diversão. Ok, nada fora o normal, relaxa, Ayzen.

Mas, pensa em um Pokémon agitado? Bem, Jirachi era um tanto quanto agitado mesmo. Voava velozmente de um lado para o outro, enquanto parecia se divertir com os pequenos detalhes. Eu, na minha simplicidade, ria igual criança vendo um Pokémon pela primeira vez. E era a primeira vez que eu via um Jirachi! Ele é real! Lendários e míticos são reais! Eu só nunca tive a oportunidade de encontrar nenhum... Que pena!

Eu sorria para ele enquanto ele parava, mais uma vez, com aquele semblante questionador. Ele ia para o mar? Bem, para ele é fácil isso, ele VOAVA. Eu não tinha isso, mas tinha Swampert. Que mal poderia fazer brincar um pouco com ele... Na água? Fria? Eu estava com receio, sim. Olhei para o festival e depois para o pin. “Ah, da nada, não, é um Pokémon único!”, pensei comigo, querendo justificar que caso fosse desclassificado, pelo menos conheci um Jirachi.

Montei em Swampert, guardei o Pin de forma bem segura na mochila nas costas. Swampert parecia ter entendido. - A gente tá indo!!!- e foi assim que Swampert mergulhava no mar, naquela água gelada que respingava em minha roupa e me fazia arrepiar. Talvez tivesse um pouco de emoção envolvendo aquela situação, onde eu e Swampert estaríamos junto de um Pokémon mítico. Esperava apenas que não fosse perigoso...

 Enquanto Swampert estava no mar, a água gelada fazia com que eu me agarrasse mais naquele grande Pokémon, na esperança de que ao menos o seu grande corpo pudesse receber toda a brisa do oceano, poupando-me daquele frio que eu sentiria .Claro, a água estava gelada, mas nada daquilo iria ser trivial com o tempo. Nadando no meio do oceano, Jirachi seguia tocando o mar e dividindo. - QUE- senti-me um pouco estranho diante do acaso.

”Como ele fazia isso?!”, já tinha estudado propriedade naturais de diversos Pokémons, cuja biologia e composição pessoal fazia a razão humana ser questionada. Mas aquilo estava em outro patamar de observação. Por ser um Pokémon pouco estudo, afinal, só existe um, até onde eu sei, e era extremamente raro encontrar com este um, ninguém conseguiu traçar características reais, exceto aquelas contadas em lendas que... Bem, são lendas, não são reais...

Jirachi parecia colocar em xeque todo o questionamento racional que eu queria ter. Eu observava sua forma de manipular a água, dando a impressão de que a velocidade de Swampert tinha crescido absurdamente, mas eu fiquei mais curioso com o que ele poderia fazer neste meio tempo. A água balançando naquele espelho do céu parecia criar em mim aquela sensação gostosa de medo com curiosidade. O céu refletido era incrível e eu reversava meu tempo para encarar o mar, ora o céu.

Uma lua bonita para a noite. “Lua?!”, ela voltava com força, deixando mais questionamentos do que eu poderia ter para poder apreciar a cena. Figuras no horizonte surgiam e eu pedia para que fosse o desejo de Jirachi não ir por ali, porque com certeza poderia ter criaturas no alto mar das quais eu não estava preparado para enfrentar. Respirei fundo, enquanto segui aquela viagem.

- Para onde vamos?!- questionei enquanto ele ria. Eu ria de volta. Era, sim, contagiante. Mas eu não deixei de olhar levemente para trás, onde tinha civilização e onde era mais seguro. Além disso, parecia que Swampert deveria ter adquirido alguma propriedade que dobrasse a velocidade ou Jirachi tinha tirado a resistência do mar para com ele. Para onde ele estava nos levando. Embora temesse alguma coisa, a minha curiosidade e minha animação perante o lendário era maior... Então, só vamo!

  O horizonte parecia um mistério para mim, já que eu não fazia a mínima noção para onde estava indo, ainda mais naquela velocidade estonteante. Eu engolia em seco e até algumas vezes cogitei ficar de pé nas longas costas de Swampert para poder ver o que tinha além dali para frente, mas facilmente me desequilibrava e voltava a me apoiar nas costas do meu Pokémon. Nada feito. Tinha que esperar e aproveitar. E estava me aproveitando, até ver o sorriso desnaturado de Jirachi e ser puxado para baixo.

SIM! Para baixo. Não que fosse possível ser puxado para cima (Será?), mas naquele momento eu senti toda a pressão da água me engolir em um gelo profundo, enquanto eu, lentamente me desprendia da superfície fria do meu Pokémon para ser abraçado pela água. Abracei em seguida a minha mochila, que querendo ou não, era a única fonte de calor, graças ao poder natural de Litiwick, que irradiava para fora da sua esfera bicolor.

Abracei o pescoço de Swampert quando tive oportunidade e prendi a respiração. Meu Scuba Gear dentro da mochila, única equipamento que eu lembrei, mas que estaria bem escondido por vários ovos que eu não encontraria de imediato e nem sabia como aquilo funcionava, uma vez que eu deveria ter que sair da água para poder usá-la ou engoliria mais água salgada do que gostaria. Até senti meus olhos arderem, podendo ser coisa da minha cabeça ou não.

A negritude daquele mar parecia querer me engolir, enquanto Swampert parecia contente e desprovido de qualquer interesse em querer pegar o seu oponente. Foi assim que ele começava a nadar em círculos, enquanto Jirachi se movia ali debaixo... E se movia muito bem... Ele não precisa respirar não? Eu preciso e aos poucos meus pulmões precisavam arder, enquanto eu dava leve batidas em Swampert, apontando para cima.

Tentei apontar quantas vezes desse. Claro que os movimentos estavam lentos, graças a pressão da água ali embaixo. Eu não conseguia mais distinguir como iria sair dali, mas, agora, eu estava mais nervoso em querer viver, não importa como. E eu batia para Swampert saísse dali. Eu iria morrer, caralho! Me tira daqui. Queria falar, mas isso só consumia meu fôlego o suficiente para poder querer ficar mais quieto. Meus pulmões sem ar pediam para abrir a boca. Pediam para romper a pressão negativa que coloquei nas narinas para não entrar água.

Meus olhos embaçavam, enquanto via Swampert negociando um asilo com o Jirachi, que estava nem aí pra mim. ”Disgraça de pokémon...”, foi o que pensei antes de tudo ficar preto... Pelo menos por segundos, pois que finalmente soltei aquela pressão impostas pelos meus próprios músculos, soltei de imediato sentindo todo aquele ar entrar e eu senti mais suave diante daquela situação. Até tossi, enquanto bolhas saiam de mim.

A cara de assustado foi tremenda quando percebi que estava boiando ali no centro do mar, sem entender o que estava acontecendo. Quando me dei conta que estava ainda no mar, eu coloquei minhas mãos na boca para impedir se sentir aquele gosto salgado e impedir de me encher de água, mas, não foi preciso. Meu tórax inchava naquele ardor e naquele prazer de ter ar em meus pulmões. Como? Eu não sei...

Sei que eu estava ali, respirando debaixo d’água, olhando Swampert aliviado em minha frente e Jirachi rodopiando de alegria. - O que você fez? – era a intenção falar, mas só bolhas saiam de mim, com o som abafado. Era até que entendível, mas era o que tinha, todo embolado. Nadei um pouco para coma, mas notei que não conseguia subir. Via até o brilho da lua cheia misteriosa no alto, com vários pontos borrados, mas nem assim eu conseguia fazer alguma coisa.

Bem, se já estava no mar, era pra se molhar. E com isso que eu notei que eu conseguiria nadar para os lados. Como ele fazia isso? Era algum tipo de truque? Azumarills conjuravam bolhas para isso, mas acho que de longe conseguiria fazer o que Jirachi fez, diante de tanta... tanta... Sei lá como descrever isso... O importante era que eu estava vivo! E bem! Então, vivo e bem, eu continuaria. Nadei para perto dele, não podendo deixar de soltar uma gargalhada. Aquilo era... Incrível! Como poderia viver com aquilo? Eu estava respirando debaixo d’água. E até sentia menos pressão que antes... Será que eu virei um peixe? Decidi conferir mais uma vez o meu corpo, antes que ele se transformasse em um tritão...