#010 How far I'll go

Rumamos pro ponto da nascente sem hesitar. Tinha um ar estranho, meio tenebroso, mas eu não temi nem recuei. Precisava seguir adiante com aquela investigação e se alguém poderia lidar com um monstro alado, naquela vila, era eu - sim, eu posso ser meio convencida às vezes. Além disso, tava bem acompanhada do meu time.

Assim que pousei já fui direto vasculhando a área. A grama e a floresta eram densas, o que me deixava com pouco espaço de ação para meus maiores voadores, com exceção do campo sobre e ao redor da nascente, ou talvez tivessem complicações de se deslocar entre a vegetação. Meu lado otimista diria que o mesmo valia para a criatura. Meu lado pessimista me lembrava que ele vivia ali provavelmente há mais tempo, então é mais apto a batalhar naquele terreno do que eu...

– Mas o que...?! – os arbustos mais próximos se moviam bem no instante em que eu refletia; tinha alguma coisa me ameaçando ali – Allomere, fique comigo. Se o que estiver aí agressivar eu tento ganhar tempo com outros.

Iria me manter no lombo do Noivern, só pro caso de o perigo ser maior do que posso lidar, então terei uma fuga rápida com ele. Enquanto isso já deixava duas esferas preparadas para lançar numa possível batalha. Rotom entraria só pra farmar exp dar o ar da graça, mas a luta seria de Charmeleon e Togekiss. Isso é, se o que estiver ali nos arbustos for mesmo uma criatura...

– Apareça! É comida que você quer? Tenho algumas frutas... E não tenho medo de você! – um blefe.

O que quer que fosse ali, não saía mesmo depois de eu chamar. Então foi quando fiquei dividida entre a imprudência mascarada de coragem, e a curiosidade mascarada de dever. Como não sou do tipo agressiva, só precisava achar um jeito de abrir caminho e revelar quem remexia a moita, que no fim podia até nem ser a criatura que eu buscava, né?!

– Allomere, use seus poderes telecinéticos de Pyschic pra abrir a moita e expor o que tem ali!

Se Maomé não vai a montanha, a montanha vem até Maomé, eu acho (?). Espero que isso funcione... E de preferência sem machucar o que estiver ali, não quero soar hostil quando na verdade só tô muito curiosa.

Okay, agora eu estava confusa... Eu esperava um monstro terrível e amedrontador, pelas descrições que recebi, mesmo achando que qualquer voador estaria longe de ser um monstro. Só que aquilo era bastante diferente. Eu podia sentir o medo no olhar do bichinho encolhido que foi revelado no meio do arbusto.

– Pelas deusas é... É um Mantyke! – sim, exatamente quem eu procurava.

O que ela fazia ali fora da nascente? Tão vulnerável. Alguma coisa não me cheirava bem, mas eu precisava dar atenção ao pequeno Pokémon primeiro. Por isso me aproximei dela com cautela, me abaixando pouco a pouco e pegando uma Lum Berry para lhe oferecer.

– Vem cá, coisa linda... O que houve? O que te aconteceu? Desculpa te assustar mas não precisa ter mais medo. Eu posso te proteger e te ajudar. Olha só, tenho algo aqui pra você. – estendia a ela a fruta, esperando que atendesse ao meu apelo e não tivesse tanto medo de mim... Mas ainda me restava a dúvida de o por que de ela ter estado fora de seu habitat?! E ainda procurando alimento fora?! Seria algo com o lago? Preciso averiguar depois...

Um primeiro passo foi dado. Mantyke veio até mim ainda que timidamente e aceitou minha oferta. Ela ainda estava acuada e com razão, agora mais de perto eu notava que não era só um Pokémon ainda não evoluído, aquela era literalmente um bebê que tinha sido tirada de seu habitat e mal sabia como obter alimento no meio natural.

Alguns pontos se conectavam na minha cabeça graças à comentários do narrador. Mantines estiveram pelas redondezas pelo evento de reprodução da espécie. Aquele possivelmente era um bebê que foi deixado para trás. Um ovo tardio que demorou a eclodir, ou que simplesmente teve que ser abandonado por algo que tenha acontecido no local de reprodução. A nascente! Tinha algo ali, com certeza. Eu precisaria averiguar assim que tivesse amenizado as coisas com Mantyke.

– Pode ficar tranquila, bebê, eu não vou machucar você. – me sentei no chão pra demonstrar igualdade e vulnerabilidade – Me conta, o que te assusta, hein?! Por que você não tá em casa? Tem alguma coisa no lago? – apontei para a nascente, prestando atenção nas reações da Pokémon.

Foi de partir meu coração ver como a Mantyke se sensibilizava quando mencionei a situação do seu lar e, indiretamente, o porque de ela estar sozinha e assustada. Esse foi o gatilho pra ela vir aos prantos até o meu colo, procurando conforto. Aí eu cedi completamente e meus próprios olhos se enchiam d'água. Sempre fui muito apegada às criaturas, principalmente as tão indefesas e frequentemente incompreendidas como essa. Só me restava fazer o que sempre faço quando preciso por sentimentos intensos, bons ou ruins, para fora: cantar.

– Não tenha medo pare de choraaar... Me dê a mão, venha cááá. Vou proteger-te de todo mal, não há razão pra chorar... – acariciei o filhote no meu colo, tentando encontrar seus olhos para lhe transmitir segurança e conforto; algo que aprendi com a pequena Lilo, me comunicar não só por palavras – No seu olhar eu posso ver a força pra lutar e pra vencer. O amor nos une para sempre. Não há razão pra choraaar... – segui cantarolando baixinho até que se acalmasse.

Ela tinha sido abandonada, isso ficava cada vez mais claro pra mim. Não imagino que tenha sido proposital nem nada, pois era perfeita aos meus olhos! Deve ter sido um acidente. Algo tinha afastado os Mantines daquela área. Provavelmente um mal súbito que os fez escapar às pressas.

A nascente... Minha intuição me levariam até ela. Assim que Mantyke estivesse mais calma e eu a manteria acolhida em meus braços, mas finalmente caminharia até a beira da nascente para averiguar o que se passava ali.

– Allomere, consegue detectar algo de errado? – pedia apoio ao meu Noivern, que com seus instintos e sentidos apurados poderia perceber algo que eu ainda não teria notado.