Recrutamento de Aprendiz - Gabriel Paiva

Quando a senhora saiu, tudo que me restou fazer foi cumprimentar apropriadamente a criadora de cachorros e ouvir sua explicação.

Entre o Granbull pertencer à moça e o comportamento dos Snubbulls concluí que obediência não é problema por aqui, ao contrário do que a princípio imaginei ser o caso. Já que estão sob controle, minha tarefa provavelmente se resume a arrumar um lugar pra morarem. Fiquei ponderando isso enquanto Sara alimentou os pokémons, embora quase tive um treco quando ela carregou um saco de VINTE quilos daquela maneira, a ponto de que nem pensei em ajudar a carregar. Não precisei, pelo menos.

Os Pokémons ficaram trancados lá dentro enquanto nós saímos até uma área tomada pelo mato. Não fosse a grama, imagino que seria uma área razoavelmente aberta, perfeita para deixar esses pokémons soltos ao invés de trancados como estão atualmente.

- Entendi. Acho que não vai ter dificuldade. - A menos que apareça algum pokémon puto da vida. Se for o caso teremos que expulsá-lo e sacrificar a moradia do coitado, o habitual, né? Acredito ser isso que Sara insinuou quando pediu cautela. - Suco de laranja, por favor.

Feita a resposta me virei completamente para o dever à minha frente. Escolhi Scizor para realizar o trabalho.

- Quero que esse lugar fique com grama curta, consegue cortar? - O Pokémon ergueu o braço e fez seu som característico de tal maneira que não preciso entender "Pokémonês" pra saber que foi um Sim. - Ah, mas tem a possibilidade de encontrarmos Pokémons por aqui, então tome cuidado. - Dei o aviso por via das dúvidas, mas em todo caso vou me manter perto de meu pokémon durante o trabalho.

Felizmente não fomos atacados durante o trabalho, o que nos salvou uma bela dor de cabeça. A área na qual trabalhamos é maior do que eu imaginei a princípio, visto que foram duas horas de trabalho, talvez atrasadas pelo perfeccionismo que Scizor demonstrou: Esforçou-se para deixar a grama o mais ajustada possível. Não foi uma ordem minha, mas veio a calhar.

Embora eu tenha mencionado que não fomos atacados, isso não significa que não tivemos convidados: Os insetos que moravam nas árvores não fizeram esforço em se esconder, claramente tinham seus olhos no que - para eles - era o novo inseto alfa da região. Ou talvez eu esteja deixando minha imaginação correr solta, fato é que nós chamamos atenção de alguns pokémons. Fato que seria relevante mais tarde.

- Valeu, acho que dá pra fazer algo com esse terreno agora. - Durante a explicação de Sara me limitei a beber suco, só vim a falar quando terminou. - Parece que é minha vez. - Mirei nas pinças de Scizor. O Pokémon ficou um pouco sem jeito. Seria um ótimo momento para ele descansar não fosse a aparição de um Heracross.

Arriscaria dizer que me lembra do meu com esse espírito competitivo, mas acho que esse é menor. Ou talvez seja meu ego me fazendo pensar isso, whatever. Dei uns leves tapas nas costas do vermelhão.

- Pode deixar o trabalho comigo, divirta-se. - Me aproximei de seu rosto para sussurrar. - Lembre-se de começar com um Swords Dance e que seu único ataque bom contra esse aí é Bullet Punch. Se forem lutar leve ele pra um lugar melhor. - Instruí. Scizor vai saber lidar com o resto. Por hora... mãos à obra! Peguei as ferramentas e comecei a delinear a área do cercado, depois faria as cercas. Vez ou outra posso dar uma olhada em como Scizor está indo em seu... treino? Batalha? Não sei quão longe esses dois vão ir.

A pergunta de Sara me fez pensar em como eu basicamente não recebi instruções sobre a tarefa, embora tenha o número de Mina e também recebido informação sobre os Snubbulls. Cocei um pouco a cabeça nesse momento.

- Na verdade ela nem me falou muito, só explicou um pouco sobre os Snubbulls. Tipo como eles conseguem ser meio mau humorados com estranhos. Mecanismo de defesa e essas coisas, eu acho. - Sincronizei minhas palavras com as marteladas que eu dava na madeira para fincá-la no solo. Foi quando Scizor se aproximou. Não acho que fará mal continuar a brincar ou treinar com seus novos amigos, então dei permissão. - Fique à vontade, mas não demore muito, daqui a pouco devemos terminar.

A moça decidiu dar todo um contexto sobre como esses pokémons se comportam. Para ser sincero, não são uma espécie que me interesso muito, então com a exceção do conhecimento popular ou o que Mina e Sara me ensinaram, eu realmente não sei muito sobre.

- Não são os únicos pokémons que têm uma fama ruim por causa de sua aparência. - Nem precisei pausar por muito tempo para pensar em um exemplo, existem vários. - Quanta gente não tem medo de Spinarak? Não ajuda que tem alguns pokémons que são realmente perigo... - Meu comentário foi interrompido quando ouvi barulho de terra sendo escavada - e não por mim dessa vez - e ao notar que vinha do abrigo, corri até a origem do som.

- Estão tentando fugir! - Exclamei para Sara. Com sorte alcançaria o Snubbull antes que ele corresse, embora tivesse algo a propor. - Acha que já dá pra deixar eles saírem?

Juro que não propus isso por preguiça.

Felizmente Sara foi receptiva à ideia de deixar os Snubbulls saírem daquela casinha. Maravilha, realmente acho que só daria mais trabalho tentar prender eles lá, visto que não parecem mais aguentar ficar trancafiados. Como ela queria, fizemos um pequeno corredor do buraco ao cercado para que os Pokémons fossem direto à área que preparamos. Nice. Ela começou a citar aqueles preconceitos sobre fadas, mas... vou ser sincero, meio chato ouvir isso quando eu não penso desse jeito.

- Tem muita gente que pensa assim hoje em dia, mas eu não, e se tu parar pra pensar... Os contos de fadas originais normalmente eram bem sombrios, e é só olhar para pokémons como Mimikyu e Mawile para ver que é um tipo de Pokémon bem perigoso. Acho que isso é algo recente, talvez culpa de filmes infantis. - Esperei por uma reação da moça antes de continuar. - E em questão de batalha... não tenho dúvida de que é um dos tipos mais fortes.

Óbvio que o que eu disse não vai valer pra todos, mas até esses doguinhos podem ser razoavelmente formidáveis... embora eu tenha que admitir, nunca fui muito com a cara deles. Prefiro gatos, sabe? São bem mais higiênicos, por sinal, só precisa observar como esse bichinho aqui tá sujo e parece não se importar com o fato. Notei que tem uma mangueira por perto, provavelmente para dar banho neles, mas vou com a solução mais prática. Levantei e liberei Skrelp à minha frente.

- Eles parecem um pouco sujos, então que tal dar um banho com ajuda desse meu amigo aqui? - Skrelp não parece muito feliz, mas é só a cara dele que é assim, eu juro.