Regra nº 274: Primeiro você vê, depois faz, depois ensina!

A equipe reagia conforme as proporções do evento exigiam. Dragonair me levava para uma visão privilegiada do alto. A serpente dracônica conseguia deslizar no ar como se tivesse flutuando, causando o mínimo de resistência possível, ainda mais com suas asas. No momento, a minha atenção era em tudo, tanto em Lampent usando seus golpes fantasmagóricos para afastar os mais selvagens da cidade, como a ação do corpo de bombeiros, como, também aquelas imagens que se seguiam, tanto na floresta, como vindo de Peralta.

Aquela luz como de fogo sendo refletido no meio da floresta me inquietava, hipnotizava e me deixava meio pensativo. O que era de fato? Fogo e gelo no meio da floresta não é um evento que ocorre todos os dias. Os veículos rockets estavam posicionados na floresta. Os RR estão na área! Havia um misto de emoções, entre ficar empolgado por ter uma agitação, como também uma ansiedade para saber o que estava acontecendo. Peralta não ajudava chamando minha atenção.

Com uma leve inclinação para o lado, Dragonair dava meia volta. Enfrentar os rockets sem preparação não era uma boa ideia. Estiquei o braço direito, onde o drone era acoplado como em um personagem de jogo de tiro, e ele abria suas hélices e se movia automaticamente em seu voo silencioso para a floresta. Queria imagens, áudio e informações. Espero que o piloto automático ajude neste momento.

Agora, eu dava uma volta para tentar ver o que Peralta estava indicando. Confesso que tive que usar o Rangertools para pegar mais um item hightech: o binóculo. Queria ver o que era. E fazia mais um pedido de ajuda para Gyarados tentar intensificar aquela chuva.

Aconteciam muitas coisas ao mesmo tempo, e Ayzen tentava se dividir para pensar, ou ao menos tomar ciência da maioria delas. O problema era: ele não podia se aventurar para a floresta, não enquanto estivesse na tutela/comando daquele grupo de agentes de segurança. O máximo que podia fazer era feito, ao lançar seu drone hi-tech Rangertool Tabajara na direção da imensidão verde, a fim de conseguir mais informações sobre o que acontecia na floresta. Enquanto isso, ele tinha uma situação já tensa localmente, então ordenou que seu Gyarados intensificasse a chuva. E lá embaixo, seus comandados faziam o possível, de acordo com o que conseguiam agir e pensar com as instruções dadas.

Com a ajuda do binóculo, o capitão tinha uma visão do que acontecia. Rosa ao lado de Gyarados, Santiago botando para dormir, e Peralta chamando a atenção. Pelo movimento da boca, Ayzen conseguiu identificar as palavras “corredor” e “floresta”. O fato é: do alto, não teria como entender plenamente a ideia do policial. Mas pelo menos, do alto, ele conseguia ver um fluxo maior de Pokémon chegando até a cidade. O plano de contenção talvez não funcionasse com esse volume de indivíduos, então ele teria que pensar em um plano, antes que a cidade sofresse alguma consequência! O drone seguia para longe, sobre a imensidão verde, e abaixo dela, uma ocorrência de proporções bem grandes!

Alguns Pokémon conseguiam passar pelo bloqueio que começamos, e estavam indo para a cidade, enquanto o drone fazia a sua vistoria misteriosa na floresta. Eu não conseguia exigir muito de ninguém, porque eu mesmo não estava conseguindo exigir mais do que já estava dando. Engoli em seco e desci de Dragonair, enquanto me aproximava do povo. Chuva, então, já imaginava que estava encharcado. Acho que as roupas rangers já me ofereciam uma proteção adicional para poder ser impermeável, mas não iria fazer um milagre. - Há uma base RR montada na floresta. Não sabemos o quanto são e como estão agindo, mas nossa prioridade é defender a cidade. - ofegante, claro.


Ainda estávamos em quatro, com mais dois oficiais na delegacia procurando pistas e confissões para com os capturados. Drone estava a solta. Mais uma divisão era necessária. - Santiago, Peralta. Tentem deter os Pokémon que escaparam da primeira leva. Rosa, você vem comigo para uma sondagem na floresta.

Como Peralta tem o furgão, remover os pokémon sonolentos da cidade, que Santiago colocaria para dormir, era mais fácil. Recolhia na minha frente Gyarados e Lampert que seriam usados depois, principalmente para evocar uma chuva no meio da floresta, foco do fogo. Enquanto isso, chamava Rose para ir comigo. Não sei se tem transporte, mas caso não tenha, acredito que Dragonair seja forte o suficiente para dois – pra isso que eu dou Whey Protein para ele.

Já no Rangerpad eu enviava o pedido de alerta e ajuda aos rangers, sobretudo, os que estavam já em missão por perto. Ao mesmo tempo, aguardava o retorno da delegacia e sua busca por informações, e assumia o controle e visão do Drone, para nos dar informações para isso. GPS compartilhado para todos. Jenny, cadê você?

O capitão Ranger descia e logo Santiago, Peralta e Rosa iam para seu encontro. - Capitão… ah… ah… fôlego… pera… - Peralta tentava retomar o fôlego depois de tentar chamar a atenção dele por esse tempo todo. Mas antes que ele pudesse dizer algo, Ayzen vinha com mais ordens. Ele apenas olha para o Ranger, com a expressão num misto de cansaço e decepção, e solta. - É, eu sou o Ethan Hawke…

- Espera, base de quem? Dos caras que atacaram a gente? - Santiago questiona, descrente, diante das notícias. Sim, estavam todos encharcados e bem cansados, mas havia muito trabalho a ser feito ainda! Rosa consentia com a parte do plano, enquanto Santiago e Peralta também confirmavam, meio desanimados. Gyarados e Lampert eram recolhidos, e isso deixava uma grande parte do trabalho para somente dois policiais e seus Pokémon aquáticos. Por sorte não haviam mais tantos Pokémon dispersantes assim.

Assim que alçaram vôo novamente em Dragonair, eles iam na direção da floresta. O Ranger Pad enviara o pedido de ajuda/reforços e já recebeu uma nova mensagem, dizendo que um destacamento de rangers fora enviado para a floresta junto da equipe científica para lidar com os invasores e sua tecnologia. Restava agora, então, para Ayzen e seu pelotão, encontrarem Jenny. Bem, não dava para ver muito bem lá do alto por conta das árvores, e o foco do incêndio era muito para dentro da floresta, mas havia algo para ser feito: um grupo de pessoas tentava sair da floresta. Algumas delas apresentavam sinais de ferimentos, e comandando a evacuação, estava Jenny. E junto a isso, o drone do Ranger podia ser avistado já retornando para o ponto de origem, o braço do capitão.    

Confirmava sobre a presença dos RR ali em Azalea, mais precisamente, na floresta. Infelizmente, era muito trabalho para pouca gente. A delegacia não me retornou com as informações dos RR, não tive tempo de ver as imagens do drone para saber o que estava lidando, os oficiais ali estavam exaustos com a grande parte do trabalho que tinha. Isso porque eles eram bons de briga, mas nem sempre na vida do dia a dia e resolve com umas boas porradas – 90% dos casos, ne?

Teria que ir conter aquele incêndio que estava ocorrendo no meio da floresta. Dragonair sobrevoava com leveza sobre a mata fechada e não tinha ali além de uma mata fechada. Isso é, até ver alguns pontos humanos saindo da floresta, correndo e fugindo de algo. Eles não estavam bem, era possível ver de longe. Descia com um rasante sobre o ambiente, indo prestar ajuda. Mais um foco dispersado? Sim! Vamos por prioridades. Salvar vidas seria uma bem alta.

Com o pouso no solo, eu precisava me identificar, claro, afinal, seria algo estranhando voando e cercando aquele grupo. - Oficial Jenny.- ela me viu uma vez, esperava que fosse o suficiente para me ver. Descendo do voador – que não era voador, mas será no futuro – eu engolia em seco, tentando preservar minha saliva. - O que aconteceu, você está bem?

As variáveis eram inúmeras, e as informações poucas. Sobrevoando a parte da floresta com Rosa na garupa, o capitão visualiza a oficial Janney com um grupo de pessoas. Algumas chamuscas, outras cobertas de fuligem, mas nenhuma com ferimentos mais graves. Até a oficial estava um tanto descabelada e tossindo, mas estava bem. Ela acena ao ouvir seu nome e logo vai ao encontro da dupla. - Bom que chegaram! - ela parecia realmente aliviada - Essas são as últimas pessoas a evacuarem a entrada da floresta! - era um grupo considerável de pessoas, talvez uma dúzia delas, dentre adultos e crianças. O caminho até a cidade não era muita coisa, mas ainda assim eram algumas centenas de metros, talvez um quilômetro.

Então, uma mensagem chega no Ranger Pad do capitão: “Um destacamento foi direcionado para o controle de um incêndio na floresta Ilex. Vítimas direcionadas a cidade de Azalea, reportem ao Capitão Kitshomo. Bombeiros e agentes de resgate, reportem ao Capitão McGonell em campo.”. Ao menos o incêndio foi direcionado para um destacamento, e não estava mais somente na mão de Ayzen. Além disso, ele foi colocado como referência para equipes de resgate que seguirem para a cidade de Azalea. Bom, de certa forma ele estava encarregado da cidade por aquela semana, então nada mais justo que se tornar referência na cidade. Mas primeiro, havia uma equipe a ser resgatada… bom, ao menos… - SOCORRO! - os ouvidos atentos de Ayzen e Rosa captam um pedido vindo da floresta!

Era muita coisa acontecendo. Liderar nunca foi tão difícil. Por isso que a maioria dos líderes ficam em suas cadeiras pomposas, sentados sobre um computador, onde pode realmente fazer o que precisa, que é dar ordens. Não eu! Acho que estaria longe de ser um líder inerte. Preferia o campo desde cedo, então, teria que me adaptar entre as atividades de campo e liderança para poder finalizar aquela missão. Isso é, a missão em si demorava uma semana. Mas preferia resolver aquela crise agora.

De olhar sério, cabeça pensativa e informações chegando. O relato de Jenny fora ouvido com muita facilidade e silêncio. Meus olhos penetravam a floresta, enquanto Dragonair permanecia em meu lado quieto. Ele sabia que tinha uma situação séria. Na verdade, ele sempre foi quieto, né? Amoroso, mas não muito agitado. O grito na floresta promoveu um pouco de agitação, mas em meu coração.

Mais uma vítima? Possivelmente! Faltaria um bom trecho de metros entre aquela borda da floresta até a cidade, fora que ainda poderia ter algum selvagem a solta. - Rosa.- dizia sem tirar o olho da floresta. - Vá com eles para um abrigo. Eles precisam de ajuda médica. Eu vou atrás deste.- era uma ordem sim. Montava em Dragonair já, enquanto as asas cresciam na cabeça do azulado. - Reporte quando encontrar os outros. Preciso saber o que tá acontecendo na cidade. Com detalhes!

Ordens eram ordens, mas mesmo assim não são livres de serem interpretadas de formas diferentes. Rosa torceu o rosto quando foi enviada de volta com o grupo de Jenny, e limitou-se a responder um “Sim senhor” entre os dentes, da forma mais automática possível. Ela e Jenny seguiam para a cidade enquanto Ayzen corria para responder ao pedido de socorro. Mesmo silencioso, Dragonair olhava para seu mestre com uma leve confusão no olhar, mas não questionava os métodos dele. Logo algumas atualizações surgiram no Ranger Pad do capitão.

A primeira delas foi um tanto atormentadora: um dos Rockets, um dos que foram questionado por Terry e Boyle, foi encontrado morto em uma das salas da delegacia. Não chegaram mais informações sobre a condição, possivelmente eles estavam lidando com a coisa naquele instante. A segunda era uma ordem de retorno: todos os agentes enviados para resolver a situação na entrada da Ilex, oficiais e superiores, deveriam retornar para a estação imediatamente. Era uma ordem expressa da central. Mas Ayzen estava ali, respondendo a um chamado de socorro que parecia ser urgente!

E realmente era. A cena que Ayzen viu era, minimamente, estranha. Uma garotinha, com um macacão de fazenda, cabelos loiros pendendo para o castanho presos em uma maria-chiquinha. As pernas da garota estavam presas por um galho não muito grande, mas grande demais para ela, que talvez tivesse por volta de seus 7, 8 anos. Ela segurava por entre os braços uma Teddiursa desacordada. E em pé, atrás delas, segurando um tronco que ainda não estava em chamas, mas tinha sido derrubado por consequência, estava um grande Ursaring, usando todas as suas forças para não deixar que o pior acontecesse.      

Eita, pleura! Mais uma vez, as ocorrências surgiam ao mesmo tempo. Não era só a situação de emergência da cidade, com um ataque RR há poucos minutos, uma invasão de um bando de Pokémon e pessoas feridas. Havia uma morte na delegacia – QUE – e um pedido de socorro para a floresta. Se não fosse isso, ainda tinha uma ordem para todos voltassem para a cidade e deixassem a floresta. Como eu poderia seguir uma ordem dessas, quando alguém pedia ajuda explicitamente? Fodac a ordem – desculpe o termo!

Dragonair voava entre as árvores no momento, desviando de um e outra, até encontrar o grande Ursaring segurando aquela tora de madeira incandescente. Eu me atirava para fora das costas do meu Pokémon com uma ordem direta. - Aqua Tail. - além da força do golpe físico, que possivelmente ajudaria contra as chamas, tinha o fato de que poderia retirar a madeira de perto do urso protetor. Minha visão encarava a indefesa criança. Saia correndo até ela, enquanto tentaria tirar o tronco sobre ela.

- Tá tudo bem, tio? - tentava trazer um pouco de segurança para ela. Em um adulto isso raramente funcionaria, esperava mais visando que era uma criança. - Vai ficar tudo bem, ok? Esses Pokémon são seus? - tentava retirar o tronco de cima dela, enquanto a pegaria no colo e sairia dali com Dragonair. Ursaring era dela ou era selvagem? Saberei agora...

Dragonair atendia a ordem de Ayzen, atingindo a tora chamuscada, apagando a chama mas não partindo o tronco, que era bem grande. Ursaring percebeu que aqueles invasores eram aliados quando viu que o peso sobre seus ombros diminuía e ele pôde golpear a parte fragilizada do tronco, agora sim o quebrando. A garotinha, suja e com um misto de cinzas e lágrimas na bochecha só balançava a cabeça, dizendo que sim, mas claramente segurando o choro. Ursaring caía de joelhos e rosnava algo para Dragonair, talvez um tipo de agradecimento. Depois de remover o tronco das pernas da pequena, ela tenta se sentar, ainda com o ursinho no colo. - Não, eu tentei ajudar o ursinho, daí o ursão apareceu! - ela dizia, com aquela vozinha fofa de criança com o embargo do choro. Então, ela estende o Teddiursa para o lado de Ursaring, que pega o pequeno com todo o cuidado no colo e sai andando pela floresta, em uma parte não afetada pelo fogo.

Acontece que: o grito de socorro que Ayzen ouviu não era de uma criança, principalmente depois de ouvir a voz da pequena naquele momento. Não, era uma voz de mulher adulta mesmo. Mas não havia sinal de ninguém mais por perto, e por mais que ele quisesse deixar a ordem de recuo de lado, ele teria que retornar e reportar à base. Ao menos ele conseguiu salvar a pequena!