Cap piloto - Sem Quick Attack, um passo de cada vez!!

Rota 101. Um local extremamente pacífico e até um tanto… monótono. Com a pequena Littleroot atrás e a não muito maior Ordale à frente, a rota é pouco visitada, tendo somente alguns jovens treinadores iniciantes atrás de suas primeiras aventuras e pequenos produtores vendendo seus cultivos e tentando levar a vida. Ou seja, um ambiente extremamente bucólico.

Sota talvez fizesse parte do grupo de treinadores, mas ele possuía inspirações maiores, mais ambiciosas. Nem o céu era o limite, já que almejava dominar os tipo dragão, conhecidos por serem indomáveis, poderosos e raros. Dragões permeiam os contos e histórias fantasiosas em todos os tipos de literatura ou produções audiovisuais, e os treinadores que possuem algum em sua equipe se destacam como os melhores entre os melhores. E Sota sabia disso, e sabia que seria um desafio de uma vida ir atrás deles, capturá-los e treiná-los. Mas o que na vida dele não era um desafio? A determinação de superar um certo alguém de seu passado, que só a breve menção já traz à tona toda uma gama de sentimentos conflitantes, sobretudo a raiva e o rancor da humilhação sofrida por anos. Sim, os dias de adolescência podem ser bem cruéis.

Todavia, assim como sua nova perspectiva de vida, cada dia seria uma nova possibilidade. Por mais que as estradas fossem estreitas e desinteressantes, como diria o filósofo Joseph Klimber, a vida é uma caixinha de surpresas!

Ao seu lado havia seu velho companheiro de aventuras, o enérgico e animado Trapinch. Eles não eram recém conhecidos como a maioria dos treinadores de primeira viagem. Já possuíam uma história e sabiam muito um do outro. Mas claro, sempre há espaço para novas descobertas e novas formas de estreitar relações. Se tem uma coisa que a vida de aventureiro proporciona são formas bem inovadoras de criar ou estreitar laços. E o que na vida de Sota não seria resumida em laços? O colar em seu pescoço denota o laço com seu pai. As lembranças dos amigos de infância… até sua determinação em ficar mais forte, tudo isso poderia ser traduzido como formas que laços criados tomam para que sejam melhor compreendidos ou melhor relacionados. E Sota trazia cada um deles consigo.

Bom, diante do treinador havia algumas possibilidades, porém as mais óbvias claramente ganhavam mais destaque. A primeira delas era a campina rasteira margeando a estrada, considerada por muitos da região como sendo a mais segura para os inexperientes. Era possível ver alguns Pokémon nativos dali, visto que a dispersão do relevo era praticamente reto, quase um mar de grama bem verde e aromática. Saltando pela grama havia uma dupla de Zigzagoons brincando. Ao lado um Taillow se esforçava para levar uma fruta a seu ninho e um Poochyena parecia farejar o ar atrás de algo. A segunda possibilidade era um tanto misteriosa e, talvez, convidativa assim sendo. Se tratava de um fragmento de floresta que tomava uma descida por uma ribanceira, sem nenhum tipo de rio ou mesmo riacho aparente. Os sons comuns de uma floresta, como o vento fazendo os galhos dançarem ou insetos e Pokémon com seus crys indistinguíveis criavam a premissa de um daqueles livros de aventura e fantasia em que os dragões estrelam. O que Sota faria diante desse novo mundo de aventuras?                        
 

Sota com seu Trapinch no ombro, então, começaram a caminhar na direção do fragmento de floresta. O terrestre estava muito mais animado que antes, principalmente depois de seu treinador prometer um novo amigo para ele! De fato, tanto a floresta quanto a campina possuíam algumas opções bem interessantes, mas nenhum do tipo dragão, o alvo primário do rapaz. No entanto, nada impediria que ele tentasse expandir sua equipe, até para facilitar um pouco a vida na estrada e, quem sabe, fazer novas amizades.

Se fosse o caso, Sota poderia procurar dados sobre a região em seu Rotom Phone. Claro, explorar e descobrir é mais desafiador junto com a adrenalina. Contudo, por outro lado, ter informações sobre onde pisa e para onde olhar ajuda, e muito! Talvez essa ainda não fosse uma preocupação, afinal. Ele mal havia alcançados as primeiras árvores, não é verdade?

- AAAAAAAAAAAH! - um grito agudo irrompe o silêncio da caminhada e faz alguns Taillows voarem! Sota então se pega olhando para uma garota mais jovem que ele, trajando roupas de colegial clássicas: um terninho semelhante ao estilo executivo fechado até a altura do peito, uma camisa social branca e uma gravata vermelha simples. A parte de baixo era a grande diferença: no lugar da tradicional saia, ela vestia um par de calças jeans menos formais, além de uma bota de cano alto, boa para caminhadas em relevos com mais dificuldade. Sua pele era muito branca, dando um contraste singular com os cabelos negros e soltos. Ao lado da jovem, um Torchic corria com um visível semblante de desespero no olhar!



Antes que Sota pudesse ter alguma reação, a garota, que corria com os olhos fechados e cabeça abaixada, tentando retirar algo da sua cabeça, tromba com o rapaz, fazendo com que ambos caíssem no chão, por sorte na grama fofa! - Ai! Desculpa… - assim que viu que tinha trombado em um garoto desconhecido, a garota se jogou para trás, num misto de surpresa e vergonha! - AAAH! Desculpa, desculpa, desculpa! - ela falava repetidamente enquanto movia seu tórax para cima e para baixo, como uma flexão concordante com o pedido de desculpas!                       
 

Trapinch obviamente caiu do ombro de Sota, mas como dito anteriormente, eles caíram em uma grama bem fofa. O terrestre caiu de costas, então em um momento meio que “tartarugístico”, ficou balançando suas patinhas no ar, até que conseguiu voltar a ficar de pé. Sota teve só uma pequena-grande preocupação antes de se levantar, que era a estranha menina caída sobre si, numa típica cena de anime romântico…

Enfim, a garota levantou-se rapidamente, com o rosto completamente vermelho num misto de vergonha e esforço físico. Deu leves tapas em sua roupa para tirar a terra e pedaços de grama presos nela. Depois tentou desenhar um sorriso no rosto enquanto retribuía a mão estendida de Sota: - Hehe… desculpa mais uma vez… - ela tomba a cabeça para o lado, ainda tentando lidar com o embaraço - Sim sim, é meu primeiro parceiro! Me chamo Akemi, prazer em te conhecer Sota! Esse é o Chico! - ela aponta para o Torchic, que estufa o peito para frente, em uma pose toda orgulhosa - Hehe, ele faz essa pompa toda, mas é bem medroso, sabe? - o comentário da garota fez com que toda a pompa de Chico caísse por terra, e o pequeno galo de fogo só olhava para ela com uma expressão incrédula - Haha, eu tô brincando, seu bobo! - Akemi, então, pegou o Torchic no colo como pedido de desculpas.

Então, depois das explicações feitas, Akemi direcionou seus grandes olhos negros para a floresta - Ah, então… - ela se volta para Sota com o semblante mais calmo - Eu não sei bem como dizer, sabe? Tipo… - ela toma seu Rotom Phone em mãos e mostra para Sota uma notícia: “Estranho grupo de contrabandistas atuando na região de Ordale!” era a manchete. O corpo da notícia relata sobre ataques a treinadores e Pokémon selvagens por um grupo ainda desconhecido, além de divulgar a nota das autoridades pedindo que a população tome cuidado ao atravessar a rota 101. - Nós estávamos atrás de alguns Pokémon na floresta quando ouvimos um barulho esquisito. Fomos dar uma olhada e algo caiu na minha mochila e… espera! - Akemi então percebe algo e interrompe seu relato. Ela passa suas mãos sobre os ombros e então olha por cima deles, soltando um grito de surpresa e tristeza - Ah não! Minha mochila! Minhas coisas estão todas lá! - ela, então, tomba a cabeça para baixo, meio que se sentindo uma besta por ter saído correndo e esquecido a mochila, meio amedrontada por saber que terá que voltar para a floresta atrás de seus pertences - Ai ai ai… eu tava filmando com o Rotom Phone e só saí correndo, nem olhei para trás… aqui, me deixa te mostrar o vídeo pelo menos… - ela estende o aparelho para Sota e mostra o vídeo ao qual havia dito.

O vídeo mostrava apenas a floresta em uma filmagem toda trêmula, na vertical. Era possível ouvir a respiração ofegante de Akemi e pequenos gemidos de medo. - Chico.. tá ouvindo? - a voz chorosa da garota se mesclava com o piado tão medroso quanto de seu Pokémon. E então, o vídeo conseguiu captar o tal audio:

BUM! BUM! BUM!

Era ritmado, abafado e ecoava por toda a floresta. No terceiro “bum”, um farfalhar de asas de folhas eclodiu, seguido de um grito agudo de Akemi. Então a filmagem se encerra de maneira abrupta, após alguns segundos e correria e gritos.                            
 

”Never give up”. É um bom lema para se levar para a vida. Não é sobre o quanto você aguenta apanhar, mas o quanto você cai e continua a se levantar… e sim, eu sei que você ouviu a voz dublada do Stallone.

À medida que Sota falava, a garota ficava mais calma e mais envolvida na história. De fato aquilo se tornava uma aventura! Um elemento de mistério envolvendo pessoas desconhecidas que se conhecessem em um momento incomum e decidem unir forças? Receita para o sucesso! Ela fez menção de encher a bochecha com o primeiro comentário do rapaz, pressentindo uma provocação ou algo do tipo, mas ela não veio. Chico recebeu de bom grado o carinho, e então a garota olhou novamente para a floresta. Dando um longo suspiro, ela solta os ombros e concorda com a cabeça.

No momento que Sota a tomou pelas mãos, a surpresa veio junto com uma nova onda de ruborização facial! Tão vermelha quanto às penas de seu Torchic, Akemi seguia o caminhar de Sota na direção da floresta. Porém, ao ver o rapaz se abrindo daquela forma e até reparando a lágrima que descia por ser rosto enquanto falava de sonhos, Akemi soltou um pequeno risinho, daqueles de só soltar o ar pelo nariz. Pelo visto aquela demonstração de pureza foi o bastante para ela se sentir completamente à vontade com a nova presença. Então, ao invés de ser conduzida pelo caminho, ela seu um pequeno saltitar para igualar a caminhada com Sota e passou seu braço pelo o do rapaz, como aqueles casais dançando quadrilha em festa junina. Chico, assim como Trapinch, foi para o ombro de sua treinadora. - Domador de dragões, é? É um sonho e tanto! Também tenho um sonho, sabia? Quero ser uma grande pesquisadora! Me igualar ao professor Carvalho e descobrir várias coisas! - ela, então, contribuia com a conversa, então se surpreendeu com o comentário sobre o lendário? - Rayquaza? Haha! - ela solta uma leve risada, mas não de deboche - Seria incrível encontrar um lendário! Mas enfrentá-lo? Acho que vou tremer toda! - Chico estufava o peito de novo, como se dissesse que quer enfrentar o tal Rayquaza - Haha! Com esse ânimo todo, tenho certeza que vamos conseguir, Chico!

Eles, então, foram avançando pela floresta. Os primeiros metros eram mais tranquilos, com uma presença maior de espécies gramíneas, mas depois de mais alguns metros adiante, a floresta tornou-se dominante. As árvores não eram tão grandes, mas o dossel já cobria boa parte da iluminação natural, auxiliando a fomentar aquele clima fresco e úmido típico do ambiente. Akemi encolheu-se um pouco, mas tentava se manter segura, já que tinha Sota ao seu lado. Momentos depois, era possível ver um objeto vermelho se destacando em meio ao verde e tons castanhos dos troncos. - Ali! Minha mochila! - Akemi alertou sobre a procedência do tal objeto, preso em um galho pela alça superior.                              
 

A garota ficava satisfeita de estar diante de um futuro companheiro acadêmico, mas ficava ainda mais pela possibilidade de ter sua mochila de volta. Enquanto Sota salta para retirar a mochila do galho, ela fica de prontidão para recebê-la. Porém, o que Sota não sabia e só havia percebido tarde demais, e o que fez a garota se assustar e solta um grito bem agudo fora a presença incomum agarrada em sua mochila. Era um Pokémon bem grande, cor levemente esbranquiçada, com um tipo de pelagem recobrindo a carapaça e pequenos espinhos formados por seda cristalizada. Eram inclusive estes espinhos que o mantinha preso na mochila.

Akemi soltava a mochila, fazendo-a cair no chão, mas isso não fez o Pokémon soltar. Na verdade, o Silcoon parecia dormir profundamente. - Ah, é só um Silcoon? - ela comentava e então se aproximava do objeto com o Pokémon - Tadinho, deve estar na fase final de casulo… - ajeitando os cabelos para trás da orelha, ela se abaixava e examinava melhor a situação. Pelo visto ela não estava com medo do inseto, sendo sua reação mais um reflexo pela surpresa.

Porém, as surpresas ainda estavam por vir. Com o grito da garota, uma movimentação estranha sobre as árvores aconteceu, fazendo com que dois corpos estranhos descessem, bem irritados. Um era um tipo de inseto artrópode, com os membros inferiores bem definidos. O outro passava por uma castanha ou bolota facilmente.