Na Corda Bamba

— ...Eu já estou acostumada com esse tipo de companhia, Jack. — Veio o retruco imediato diante dos comentários do Bicho-Papão. Veja, não é nem que quisesse fazer pouco caso do ser ou qualquer coisa do tipo, mas entenda uma coisa - simplesmente não costumava estar rodeada de pessoas normais. Demônios invisíveis, mestres psíquicos invadindo mentes, lendários e até mesmo o próprio Arceus: Mais uma pessoa (ou, no caso, criatura) naquela pilha já não fazia simplesmente diferença alguma, entende?

— ...mas, se você sabe tudo... — Uma pausa, e o olhar percorreu com certo receio os botões divergentes após o convite de sentença do homem. As unhas se apertaram na pele com delicadeza pois, em suma, só queria ganhar um pouco mais de tempo. — ...também deveria falar um pouco mais a respeito. Ou quer ser visto como um juiz parcial e injusto?

- Ah, enrolei a língua, estive tão fascinado com a beleza da querida Natalie que pensei "convidada" e saiu.

O ser vegetal se dá os ombros num gesto de "tanto faz". Assim como rolou as encarvações que represetam seus olhos para o lado (tipo assim >.>)

- Eu realmente não preciso explicar nada para meus amigos e companheiros dos sonhos, eles VIVERAM essa experiência horrível que Meloetta jogou nesse mundo.

- E além do mais... que diferença fariam para VOCÊS?! Eu sou um mestre da ilusão e da trapaça, tá no nome! Como vão acreditar independente do que eu disser ou mostrar? E desde quando vocês viraram experts da vida de Meloetta sendo que a única informação que vocês possuem são de livros sobre sua existência, hmmm?

O ser de terno coloca suas mãos na cintura com uma cara cansada, mas logo se forma um sorriso novamente.

- A melhor parte é que vocês não importam para a votação, pois já atingimos uma margem matematicamente absoluta de votos, HAHAHA!

- SENHORAS E SENHORES, DEVO INFORMAR-LHES QUE O RESULTADO SAIU! POR GRANDE MAIORIA, DECIDIMOS QUE A PUNICÃO DESSA MAL FEITORA SERÁ CORTAR SUAS PERNAS

- Nãããoooooo! - Meloetta grita, seu berro ecoando por todo o salão.

Um machado gigante então surge do ar, cortando as pernas da Pokémon, sangue visivelmente jorrando de suas pernas e um berro desumano saindo de sua boca...

E aí que aconteceu... um buraco surge em seu abdômen, um buraco onde não se pode ver nada do outro lado além de escuridão, e assim que ele cresce em tamanho, uma força gravitacional começa a puxar tudo ao seu redor: criaturas, partes da mansão... inclusive fica tão grande que puxa violentamente os dois humanos... mesmo se liberassem outroa Pokémon pouco progresso obteriam...

- Eita porra! Bem... tá vendo?!

O malvado diz, surpreso com todo o desenvolvimento...

- Olha a hora... tá na hora de eu dar o fora, tchauzinho!

E com mais um estalar, sua imagem é apagada do campo de visão de Rafael e Natalie que são jogados contra o buraco negro da Meloetta...

...e independente do que quisesse argumentar, o fato era que os argumentos do cabeça de abóbora eram simplesmente infinitamente melhores que os seus. E levando em consideração que eram minoria pesada daquele ambiente (quer dizer, dois contra sabe-se lá quantos), não era como se pudessem fazer muita coisa para uma decisão obviamente já tomada naquele lugar.

Quando o machado veio, sua única reação foi a de usar as duas mãos para tampar e pressionar os ouvidos pelo simples desejo de não querer saber exatamente o que viria dali. As pálpebras fecharam em aceitação curta e rápida, pois não tinha tempo o suficiente para fazer o contrário - e o corpo se movimentou de forma a grudar contra o de Rafael para que não corresse o risco de perdê-lo no meio do caminho.

...mas o caminho se perdeu deles.
Com a sucção, o caos, o escuro.

...e não havia como saber o que viria depois.

Seria esse verdadeiramente o fim da dupla? Sugados para outro plano de existência junto com tudo alí, e afinal que força seria essa? De fato veio da Meloetta? Rafael possuía uma certeza de que por algum motivo era impossível ser ela a anomalia, se bem o fato de ela estar lá ser anômalo em sua própria causa...

Recuperando consciência, a dupla desperta se encontrando em um campo florida, próximo uns aos outros e sim, incluíndo a Ace. Era um vasto plano, flores muito coloridas e várias elevações e morros, assim como muitas ávores um pouco a frente... estariam de fato no paraíso? Ou talvez... dentro da Pokémon mística? Averiguando a localização, não parecia ter nada além de flora, e nada do cabeça de abóbora, se é que ele conta como flora. Mas, ao andar um pouco, eles avistam algo longe: uma boneca. Uma boneca de Meloetta.

...E se a escuridão era um conforto, o odor floral e a visão colorida que se alastrou por toda a sua visão assim que as pálpebras abriram amis uma vez foi, por assim dizer, uma maldição. A tranquilidade sequer ousou bater asas por perto: Em realidade, os dedos se apertaram contra o braço do ruivo enquanto os pés se mantiveram fincados no mesmo lugar por alguns instantes.

Cá entre nós, Lúcifer um dia foi o anjo mais belo de todos.

— ...não confie. — Foi tudo o que sussurrou, devagar, os dedos recuando ao se dar conta de que as unhas já marcavam a pele do coitado do fazendeiro. — ...esse é o tipo de lugar que um glitch adoraria se esconder. — Podia estar errada, é verdade, mas a experiência oferecia que aquele não era o tipo de tapete de boas-vindas que desejariam ter em uma situação daquelas.

...mas...
BONEQUINHA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

...
Ok, vamos andando até lá!!!!!

Observando o novo cenário que certamente era distinto do grande vazio escuro anterior, podia ser visto até como esquisito essa mudança brusca, Natalie certamente estava aguçada quanto a isso, enquanto Rafael estava com seu senso de justiça na pele, pronto para se vingar desse vilão que fez um ato tão brutal com a cantora e dançarina...

Ao avistarem a boneca, eles naturalmente vão atrás dela, sendo a única coisa que se destaca em toda essa paz falsa... aproximando-se, no entanto, poderia ver mais de perto detalhes... era uma boneca de pano, custurada e com botões por olhos... suas pernas estavam cortadas até o joelho e sua expressão facial era de tristeza... até sua cabeça cair para baixo... lentamente levantando com um sorriso aberto e macabro.

- Vamos brincar!

Diz a boneca, ou uma voz localizada dentro dela, fosse quem for que reproduziu o barulho...

- Eu vou contar até 10... é melhor se esconderem!

E assim ela começa a contar...

- 9...

Seu corpo se levanta.

- 8...

Uma faca aparece na mão da boneca.

- 7...

Sua cabeça contorce... acho que está claro que eles deveriam correr... esconder em algum canto, onde fosse, nas árvores, arbustos, flores... algum lugar!

...e o acerto em cheio não soava como sequer a mínima das surpresas diante de seus sentidos.

Digamos que assim que a boneca se levantou mesmo com os joelhos cortados e deixou escapar o sorriso completamente contrastante com toda a situação que haviam presenciado até então, a ruiva simplesmente se recusou a dar sorte ao azar. A mão mais uma vez se fechou com violência sobre o pulso do ruivo e os calcanhares se viraram imediatamente, as próprias pernas zunindo na maior velocidade que podiam para que se afastassem dali o mais rápido possível.

Normalmente, gostaria de enfrentar aquele tipo de coisa com seus pokémons.
Mas... Balthazar não estava ali e aquilo por si só já era um golpe silencioso em sua confiança.
Além disso, também não tinha a mínima pista das regras daquele lugar.

Ou seja: Era hora de cair fora.
E caiu, ou poderia até dizer mergulhou com o rapaz no primeiro arbusto que julgou fora de vista, por detrás de algumas árvores aleatórias dispostas por perto.

Manteve-se próxima, a mão livre imediatamente se pressionando contra a boca do rapaz.

...não era muito, mas se pudessem enrolar só um tempinho...