Pokémon Mythology RPG
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Flesh without Blood

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O convite era um tanto inusitado, e provocava um questionamento verbalizado por parte de Winnie. Claro que Meredith ouviu, e a bela mulher não conteve uma risadinha inocente. - Heh, não perde por esperar, Dama das Rosas! - uma piscada finaliza o comentário, Na sequência, o príncipe desenha um sorriso em seu rosto enquanto se despede dos convidados. Mas as surpresas desse mundo onírico não estavam em seus momentos finais. Assim que o grupos deu os primeiros passos na direção da saída, tudo ao entorno deles se desmanchou. O grande castelo parecia as areias convocadas por Kouman, mas havia tantas cores vibrantes nelas que mais pareciam névoas coloridas? Eu disse névoa? SIM! Os grânulos minerais coloridos dançavam sem uma música específica e desfazia todo o cenário que antes estavam, e aos poucos remontavam um completamente novo. Agora, Winnie, Luke e seus parceiros estavam diante de um grande estábulo, com belos cavalos em seus cochos, com a luz da lua sendo a única testemunha da presença deles por ali.

Tudo parecia muito calmo e pacífico, até que Hati solta um grito estridente, como se tivesse recebido um ataque surpresa! E de fato isso aconteceu, ao menos em partes. Ao se virar para encarar seu “atacante”, a canina ígnea deu de cara com uma pequena figura encapuzada. Abaixando o capuz, revelou-se a face do príncipe! Ele piscou os olhos repetidas vezes, com um semblante arteiro no rosto. Em sua mão direita, uma pequena agulha. - E então, Mestra Hati, isso prova que estás acordada? - a pergunta vinha não em tom provocativo ou desafiador, e sim com inocência pura de uma criança. O príncipe estava bem mais à vontade ali, bem diferente de sua face coberta pelo tédio de antes.

Violate ainda encarava Kouman com um rosto sério, mas não estava fazendo nada a respeito. Thetis admirava a lua, e seu rosto acomodava um olhar distante, meio perdido. Miyan, pelo visto, era o que mais trouxe para si a ideia de time que Luke propôs, tendo um tipo de conversa casual com Ran. Pouco tempo se passou desde a “surpresa” do príncipe, até que todos puderam ouvir som de cascos e um relincho relaxado. Ali, montada em um poderoso Mudsdale, surgia Meredith. - Desculpem se me atrasei! Vamos, peguem os cavalos que quiserem e me sigam! - dizia ela, com um brilho diferente nos olhos, algo mais esperançoso, mais “vivo”.

O cenário novamente se transforma, desta vez todos estão galopando por uma extensa campina. Atrás deles, o castelo ficava cada vez mais distante, ao mesmo tempo que se aproximavam de um local diferente, bem adiante. O príncipe ia na garupa de Meredith, e estranhamente Luke e Winnie junto de seus Pokémon conseguiam sentir o que o infante sentia. Era um misto de curiosidade com a adrenalina de estar fora das muralhas daquele castelo pela primeira vez! E o destino? Um tipo de vilarejo bem pequeno e bem tímido, sob os galhos de uma imensa árvore no centro da campina. Há pontos de luz por todo o local, sendo o maior deles uma grande fogueira. Também era possível ouvir uma música bem mais agitada, assim como vozes, risadas e cantos.

Chegando, enfim, eles estavam diante do que era a tal “arte” que Meredith queria mostrar para o pequeno monarca. Era um tipo de taverna a céu aberto. O entorno era repleto de mesas entupidas de comida, cadeiras, estantes com muitas garrafas e barris de bebida, dos mais pequenos ao mais volumosos, do tipo que só Violate e Kouman poderiam carregar sozinhos, e ainda assim com certa dificuldade. Haviam muitas pessoas em torno da fogueira, Pokémon também, e todos dançavam alegres à música entoada por um grupo de menestréis e bardos. Um tipo de música muito diferente do que haviam ouvido no castelo.

Trilha Sonora da Vila :


O príncipe olhava para todo aquele cenário, maravilhado. Sua boa entreaberta, olhos arregalados, surpresa e empolgação crescendo a cada nota, a cada passo, a cada pessoa suja, simples, maltrapilha e desdentada que abriam o mais sinceros dos sorrisos enquanto se divertiam. Luke e Winnie podiam ver inúmeras pessoas se abraçando e balançando canecas de cerveja por todo o lado, um Ludicolo todo animado com a música, uma Misdreavus dançando no ar em torno dos fragmentos de madeira incandescentes e uma grande Nidoqueen arriscando alguns passos. Sim, Violate vidrou os olhos imediatamente na grande fêmea de sua espécie, e era nitidamente possível ver coraçõezinhos saindo de seus olhos! - Há! Agora sim é uma festa! - Miyan não perde tempo em pegar uma caneca de qualquer coisa que um Heracross passou servindo. Ran e Thetis observavam, esta última maravilhada com tudo aquilo. Outro que estava vislumbrado era Kouman. Não havia mais medo em seu rosto, por algum motivo. Será esse outro efeito do mundo do sonhar?

Quem também se apressou em pegar bebidas para todos foi Meredith - Uma bebida para nossos convidados e um suco para nosso pequeno! - ela estendeu um copo de madeira na direção do príncipe - Pequeno? - o monarca pareceu confuso, mas apenas recebeu uma piscadela da mulher - Vamos Philip! Vamos dançar! - Philip, seria esse o nome do garoto? Pelo visto sim, já que ele ficou ainda mais feliz e tomou a mão de sua professora, indo na direção da fogueira - Venham também, meus amigos! - então, o herdeiro ao trono convida Luke e Winnie para uma dança!                        




Progresso da Rota - Winnie e Luke :

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STRIATON CITY
flesh without blood
Não dava pra dizer que eu estava prestando atenção em tudo que acontecia, minha mente viajava pelas mais diversas coisas e assuntos enquanto tudo ao nosso redor mudava novamente. Primeiro, parávamos nos estábulos onde Winnie questionara; e na verdade, a viagem foi um tanto quanto estranha. Na verdade, nós não precisamos ir para lugar nenhum, o ambiente simplesmente se moldou a nossa vontade e um passo foi suficiente para nos levar ao estábulo; era muito louco pensar que estávamos MESMO no mundo dos sonhos, e que nada daquilo era real. Tive de respirar fundo antes de ouvir um grito imenso vindo de Hati.

Era o pequeno príncipe, trajado das roupas mais simples que ele conseguira encontrar, provavelmente de algum funcionário do castelo. Em alguns segundos, Meredith se juntou a nós, e eu não pude deixar de notar como aquilo era uma péssima ideia. - Tem certeza que levar ele para fora do castelo é uma boa? - Questionei a artista, que prontamente me ignorou, e pediu que pegasse um cavalo. Se ela não ligava, eu muito menos. Sequer tive tempo de escolher um cavalo, contudo, em poucos segundos de névoa estranha estávamos cavalgando em direção a um pequeno vilarejo, e não demorou muito para nos fazermos presentes numa taverna que estava claramente em festa.

Violate foi dar em cima de uma Nidoqueen falsa e eu fiquei num canto com Thetis, que estava maravilhada pela lua e pela forma que os aldeões se ligavam uns aos outros. - To sentindo que isso aqui vai dar merda... - Peguei um dos drinks imaginários e fiquei observando o ambiente, esperando alguma coisa acontecer. Não me julguem, eu tinha um sexto sentido para perigo, que desenvolvi depois de me meter em um monte de furadas através da vida. Posso dizer que tenho um sentido aranha para problemas, e que eu sempre acabava no meio deles. Eles começaram a dançar, mas me recusei, permanecendo no canto, observando a festa toda.

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Quando o castelo caiu por terra (literalmente), Kouman estava ainda um pouco anestesiado demais para notar. A névoa colorida tomou nossas costas e, pela graça divina, ele não se incomodou. No máximo, dera um espirro alérgico àquela fumaça toda, o que justificara um pouco seu incômodo de outrora.

Eu, particularmente, achei uma gracinha seu espirro fino e infantil, apesar de ser um enorme monstro. Parei um pouco de andar e olhei-o com um olhar de apreciação: ele era uma criaturinha tão amável. Tão sincera, tão ingênua e tão... arg! Um enorme bebêzão. Fui impelida a abraçá-lo com bastante força.

Sim, foi do nada que eu parei e lhe abracei; por causa de um mísero espirro. Tentei prendê-lo em meus braços mas sua cintura era larga demais para tal. Kouman, sem entender muito bem o ato, continuou andando e acabou tropeçando em si mesmo, caindo no chão e me levando junto. Bleh, não me machuquei, de forma alguma, na verdade cai em cima das pernocas de T-tar, o que me fez rir. No fim, aquele ato só serviu para atrasar a gente um pouco.

Isso e, é claro, eu comentar com Kouman, bem baixinho, que Nidoking e Luke pareciam estressados com ele. A partir de agora, o grande monstro ficaria mais atento a isso.

Eu diria que levamos um tempo para nos recompor e voltar ao ritmo. O tempo fora tanto que eu não estava ao lado quando Hati, por instinto, latiu enraivecida. A sobrancelha da pokémon já estava se arqueando, o canino já estava se levantando e um rosnar característico tomou suas cordas vocais. Encarou o alvo por um instante e, quando ele abaixou o capuz, não pretendeu baixar a guarda; estava realmente enraivecida.

Só "desarmou" um pouco quando vira que a arma era não mais que uma agulha, dando uma revirada com os olhos, um bocado emputecida e decepcionada. Ela, com um bocado de classe, levantou o queixo e respondeu:
- Pra saber tem que jogar uma moeda, não uma agulha - Foi um pouco ríspida, mas a brincadeirinha não deixou que tudo corresse tão mal assim.

Antes de chegarmos no estábulo, T-Tar parou em uma moiita e raptou uma flor. Quando terminou de puxá-la, viu-se teleportado imediatamente para junto dos outros; tal qual eu fui. Pisquei algumas vezes, tentando entender como diabos isso foi acontecer, mas no fim só aceitei: sonho é assim mesmo. Olhei os Mudbrayzinhos e analisei o quão viável era montar neles. Olhei para Ran e a sapa confirmara com a cabeça sua vontade. Olhei para Hati e, apesar dela mostrar um descontentamento enorme com a montaria, percebi que nem mesmo se quisesse seria possível montar. O bípede restante, Kouman, estava tão medroso que preferiu prosseguir a pé.

Que seja, montei num cavalo, enquanto Greninja pegava outro para si. Imediatamente o cenário se tornou outro e eu me vi indo até um vilarejo, repleta de sentimentos que não são meus. Só precisei de um instante para concluir o mistério:
- Isso vai dar merda - Falei em voz alta, sem explicar muito o que quis dizer.

Mas eu, verdadeiramente, acho que alguém vai matar alguém. Eu chuto essa Meredith, porque ela ta manipulando muito esse príncipe bobinho. Tal qual eu pensava, Luke disse a mesma coisa em voz alta, quando já havíamos no teleportado mais uma vez para uma taberna.

Ali eu posso lhe confirmar: eu estava no meu ambiente de segurança. Deixei grande parte da trama disso para trás e me sentei bem na frente de meu parceiro, pegando um copo de cerveja típica e deixando que Meredith apresentasse o príncipe para aquele grande mundo:
- É igual aquele episódio de House of Dragons... - comentei, levando um dedo até a boca. Um pensamento me veio a cabeça e, para sumir com ele, fui obrigada a virar toda a cerveja de vez. Infelizmente não funcionou, além de acabar me fazendo soltar palavras que não deviam - Meu deus, só não pode acabar com org - Um pingo de noção me fizera não terminar aquela palavra e dar uma gargalhada idiota. Peguei outra cerveja.

Ran, que não gosta tanto assim desses expressões culturais burras (pessoas bêbadas, de modo geral), acabou andando pelos cantos, rezando para não ser incomodada. Hati, por outro lado, sentou-se na terceira cadeira da nossa mesa e começou a lamber alguns drinks. Kouman, que FINALMENTE, AMÉM SENHOR, começava a se acostumar com o ambiente, se aproximava da mesa de fininho e colocava a flor - que outrora pegou de um arbusto - no campo de visão de Luke, lhe entregando:
- Desculpa, monsieur - Disse o T-Tar, com uma voz meio tremida, bem tímida.

Achei o ato tão fofo que fiquei vermelha, ainda que não fosse eu que estivesse participando daquilo ali. De relance, voltei a prestar atenção na taberna, bem a tempo de ouvir o convite para dançar. Infelizmente, fui um pouco franca quando falei:
- Desculpa, Philip, mas eu não sei dançar...

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O menino abre ainda mais o sorriso com a resposta de Winnie: - Nem eu! - e sem mais se demorar, segue Meredith para junto dos dançarinos. Ali, do ponto em que estavam, os dois jovens treinadores podiam ver toda a extensão da taverna. A mulher e o menino dançavam alegremente, outras crianças se juntaram a eles, cada um dançando do seu jeito. Diferente do castelo, não havia uma coreografia ensinada, cada um fazia seu próprio passo. Meredith, no entanto, era de longe a mais graciosa e iluminada de todas as pessoas; Seus longos cabelos cacheados se moviam como tecidos leves ao vento. O estalar da madeira em chamas atiravam para o alto uma sequência de fragmentos incandescentes, e estes pareciam seguir as mãos da dançarina. A música, a alegria, os passos… aos poucos iam contagiando a todos… até mesmo os menos dispostos a dançar! Uma vontade incomum começou a surgir no peito de cada um deles. Violate arriscava alguns passos junto da Nidoqueen, Thetis encostou sua carapaça na perna de Luke e suspirava profundamente, admirando a fogueira. Miyan começava, digamos, a ficar “animado” com a bebida. Dentro do peito deles aquecia uma sensação estranha: alegria.

Novamente as sensações dentro do peito de Philip eram projetadas para os demais. Para além disso, os convidados conseguiam ouvir a conversa que o menino e Meredith estavam tendo durante aquele momento. - Isso é incrível, Meredith! Ainda estamos no nosso reino? - o menino questionava, maravilhado - Sim, meu pequeno! Todas estas pessoas trabalham no castelo ou nos seus arredores! - a resposta veio com um sentimento de surpresa por parte do garoto. Ele então para olhar o rosto daquelas pessoas. O ajudante de cozinha, um dos adestradores, algumas camareiras, rostos conhecidos pelo garoto! - Mas como nunca ouvi essa música ou essa dança no castelo? - a pergunta inocente quase fez o sorriso de Meredith se desfazer - Há assuntos muito complexos para serem respondidos em uma única noite, pequeno! Por ora, vamos dançar! - e mudando o assunto mais “espinhoso” para algo mais agradável, eles voltaram a dançar.

A cena então acontecia sem problemas, com as pessoas se divertindo à sua maneira. Porém, como se estivessem assistindo uma apresentação teatral além de interpretarem, Winnie e Luke sentiam algo chamando sua atenção em um ponto obscuro do lugar. Ali, escondido entre a vegetação, havia uma figura encapuzada. A visão quase onisciente dos treinadores perceberam a insígnia do castelo presa nas vestimentas. Este batedor, escondido da atenção de todos, menos de dois convidados daquele lugar, observa o príncipe e sua professora dançando, e então desaparece nas sombras.                        




Progresso da Rota - Winnie e Luke :

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Fora o próprio Tyranitar que, após dar uma flor para Luke, convidou-o para uma dança, animado pelo ritmo local. Hati, tão alegre quanto, não arriscou passinhos, mas bebeu ainda mais depressa. Depois disso, admito: ela arriscou uns passinhos. Ran, tomando o lugar do desesperado Kouman, se segurava para não surtar.

O misto de angústia e alegria tomavam a pokémon, lhe deixando tão confusa quanto poderia estar. Isso porque nem estava bebendo!

Eu, depois do segundo copo virado, reparei que Muk estava para lá de Bagdá. Se uma gosma grudenda já esta nesta situação, imagine uma humana fracote que nem eu? De imediato levantei, tentando medir meu nível de álcool. O ato foi denunciado por um esbarrar na mesa, onde quase derrubei algumas coisas no chão.

Forcei-me para me equilibrar, até apoiar em Hati, que me deu o chifre como apoio. Segurei firme em seus dois cornos e fui caminhando com ela, onde fui levada - magicamente - até o centro daquela dançaria. Antes de começar os passos, parei para ouvir aquilo que não deveria ouvir, percebendo que eu era muito mais uma telespectadora do que uma atriz.

Devo admitir que me reposicionar me deu um pouco mais de liberdade. Meu papel não deve ser tão relevante assim... não é?! Afim de contas, a história continuou com bastante fluidez, ainda que eu estivesse completamente cheia de nós, embaralhos e dúvidas. No fim, cedi, até que uma sensação horrorosa me fez olhar para o fundo da tela.

Sim, da tela. O cenário que tanto muda, para mim, é semelhante a um filme projetado.

Lá estava um ser encapuzado. Eu não ouvi ou vi o grito de Hati outrora, mas cogitei ter sido sobre isso. Precisei só de alguns instantes para raciocinar e repentinamente gritar:
- MEREDITH, UM ESPIÃO! - Apontei na direção da fuga, correndo em sua direção. De imediato Hati e Ran vieram atrás de mim.

É agora que eu descobriria o quão impactante eu sou para esse troço.

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Eu estava me divertindo muito, e não demorei para me deixar levar pela alegria do ambiente e ir dançar também. Antes disso, contudo, reparei Thetis distante, encostada em mim, mas aparentemente calma com tudo aquilo, o que me deixava mais tranquilo; Miyan estava completamente bêbado com o que quer que servissem ali, e Vio... Bem, ele estava muito bem com a Queen que encontrou ali. Não os interrompi, deixei que curtissem a noite e fiquei apenas observando a maneira que cada um deles curtia a noite; era no mínimo estranho ver meus Pokémon tão expressivos e falantes, principalmente Thetis, mas eu já estava me acostumando a essa altura.

Meus pensamentos fugiram de mim quando uma florzinha surgiu no meu campo de visão: era Kouman. Ele segurava a plantinha mas não ousava me encarar, completamente envergonhado; devo admitir que foi a coisa mais fofa que vi a noite toda; veja bem, eu não estava com raiva dele ou qualquer coisa do tipo, só o achava um pouco mimado. Mas, com aquele rostinho fofo e monstrengo todo envergonhado eu não tinha como competir. Aceitei a flor e a coloquei entre minha orelha. - O que achou? - Questionei o tiranossauro, sorrindo. Era claro que eu o desculpava, e ele entendeu isso perfeitamente quando me chamou para dançar. E eu, sem pensar duas vezes, aceitei.

Então, estávamos todos ali, dançando e curtindo a noite. Eu comecei a beber bastante, a ponto de sequer prestar atenção na conversa do príncipe e Meredith; já estava tão bêbado quanto Miyan, e Winnie parecia seguir o mesmo caminho. Dei uma grande risada quando olhei para ela e a vi quase caindo ao se levantar, recebendo ajuda de Hati; naquele momento eu não pude deixar de lembrar da noite na balada. Tudo começou dessa mesma maneira, eu bebendo com alguns amigos e acabando naquele lugar tenebroso... Nem tive tempo, contudo, de me perder nos pensamentos de novo.

O grito de Winnie me trouxe de volta a sobriedade e eu me virei rapidamente para a direção da pessoa encapuzada que saía correndo ao perceber nossa atenção. O tempo parou ali, meus Pokémon todos voltaram para si e em pouco tempo estávamos correndo atrás do impostor; eu sabia porque? Não, mas algo me dizia que Meredith (e nós) estaria ferrada se descobrissem que ela levou Phillip para o meio do nada, com vários desconhecidos. Eu conhecia o suficiente sobre séries de época medieval para saber que os castigos eram os piores... Talvez não tanto quanto Winnie, mas o suficiente para me motivar a seguir adiante. Seja-la quem fosse aquele, precisávamos impedi-lo de chegar ao castelo novamente.

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A alegria ia contagiando todos e todas por ali, algumas mais que outros na verdade. Ninguém se preocupou com a queda de Winnie, muito pelo contrário. Outras duas mulheres, com vestidos semelhantes ao que ela usava, foram ao seu encontro e a puxaram para perto do fogo. Logo uma corrente de pessoas formava uma roda em torno da fogueira, propondo uma espécie de ciranda meio maluca. Luke estava de mãos dadas com Kouman, e mesmo em seu estado alcoolizado, pode perceber algo no grande tirano: ele estava feliz, muito à vontade com tudo. Era como se seu tamanho e seu poder bruto não fossem um problema ali. Ele poderia dançar e se mover, mesmo fazendo o chão todo tremer com os passos, mas as pessoas não o temiam. Elas se divertiam com a presença dele ali, e o incentivaram a dançar junto a elas. Ali, Kouman não era o gigante com medo de destruir uma cidade como mostrado no quadro. Ele era apenas uma criança feliz.

Winnie, por outro lado, estava completamente bêbada. Mas ainda assim pôde perceber a satisfação de Hati em tê-la por perto. Era como… um descanso merecido em uma campina verdejante. Mas esse sentimento se rompeu com o ecoar de seu grito. Meredith virou-se, com a face desfazendo a alegria de antes para formar o medo. Tão logo que gritou, todos se puseram a perseguir o batedor. - PeGuEm EsSe DeSgRaÇaDo De UmA fIgA! - Miyan gritou, em sequência, colocando seu corpo gelatinoso para se mover… para o lado errado! - Francamente. Ele não vai escapar de mim! - Ran partiu. Mesmo com sua perna coxa e diminuta, ainda era uma ágil Greninja, e não deixaria o homem escapar. Kouman ainda estava confuso. - O que está acontecendo? - gritou para Hati, que estava indo na direção do homem - Ele vai entregar Meredith! - respondeu a canina. O tirando virou-se, encarando a mulher e o príncipe. O menino estava sem entender, enquanto a mulher o abraçava, já aceitando seu destino. E Kouman entendeu. E ficou irado. - NEM A PAU! - rugiu, mas sem convocar a tempestade de areia. As pessoas à sua volta se surpreenderam, mas o incentivaram. Violate, igualmente - Vamos, Kouman! - e ambos correram, como dois enormes tanques de guerra.

O batedor tinha a dianteira, pois estava à cavalo. Mas a determinação de todos parecia afetar de algum modo aquela cena, pois mesmo em desvantagem, estavam conseguindo alcançá-lo! Ran e Hati saltaram, Violate e Kouman na sequência, Thetis e Miyan na retaguarda, Winnie e Luke no comando. Um time e tanto, agora a poucos metros do batedor. Momentos depois, estavam a centímetros dele!

- HYAHYAHYAHYAHYAAAAAAAAAAAAAAA

Uma gargalhada estridente ecoa, deixando todos amedrontados e um tanto atordoados. O cenário como um todo foi afetado. Antes, era uma longa campina sob a luz do luar. Agora, os céus criavam rachaduras, e se partiam como vidro estilhaçado. A gargalhada continuava a ecoar enquanto Luke, Winnie e seus Pokémon se sentiam mais leves, como se não houvesse mais gravidade os mantendo ao solo. Flashes de imagens de tudo que aconteceu até então explodiram em suas mentes, numa frequência absurda, impossível de acompanhar. As cores se invertem, para um estado semelhante a um negativo de fotografia. E então, tudo se despedaça e escurece, como… em um pesadelo.

Sem perder a consciência, o grupo todo é jogado em um local completamente novo. Era um grande salão redondo, com estruturas que remetem a um tribunal. E ele estava repleto de guardas e pessoas trajando roupas finas e elegantes. Acima de todos, havia um homem trajado como juiz, e acima dele, em uma tribuna de honra, estavam três pessoas: um homem de idade mais avançada, expressão fechada com uma grande coroa sobre a cabeça, uma mulher anos mais jovem que ele, também portanto uma coroa, e Philip, com o rosto inchado de chorar, desolado. E ao centro do salão, acorrentada junto ao chão, completamente suja, descabelada e apresentando muitos sinais de agressão, estava Meredith.

- A Corte está em sessão! - declara o juiz, com sua voz imponente - Com a palavra, a acusação! - ele bate com seu martelinho sobre a bancada. Eis que o próprio rei, em pessoa, se levanta! - Meredith, eu a acuso de alta traição! - ele aponta o dedo na direção da mulher, que recebe uma chuva de vaias por parte da platéia ali presente - Sua função aqui era ensinar meu filho, o príncipe, sobre nossa cultura, nossa arte! E o que você fez? Lhe ensinou sobre artes profanas! Sobre músicas inferiores, sobre danças amaldiçoadas! - o rei proferia as acusações, mas neste momento o pequeno Philip se coloca de pé - MENTIRA! Aquele povo é NOSSO povo, pai! Pessoas que servem ao castelo, pessoa que… - ele nem pode terminar de falar, já que fora interrompido por um soco desferido pelo rei - Basta, Philip! A coroa sobre sua cabeça é mais importante que seus devaneios infantis! Meredith, eu sou o rei! Eu sou a lei suprema, e considero-te culpada! Mas não serei eu a lhe dar sua sentença! - o rei, então, direciona o olhar a Winnie e Luke - Vocês, convidados ingratos, foram cúmplices deste artimanha! Mas serei misericordioso! Escolham: devo arrancar as cordas vocais de Meredith, para que esta jamais volte a cantar tais profanações, ou devo cortar-lhe as pernas, para que jamais volte a agraciar demônios com sua dança! Todavia, advirto-lhes: recusem-se a escolher a sentença, e condenarei todos vocês à morte na fogueira! - era a sentença real. Agora, Luke e Winnie têm uma escolha difícil nas mãos. E em jogo, a continuidade da investigação. Aquela gargalhada… era estranhamente familiar.                          




Progresso da Rota - Winnie e Luke :

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Vertigem.

Não sei ao certo se é pelas mudanças abruptas de cenário, ou se a culpa é da bendita cerveja. É um pouco estúpido como eu, ao dançar, gritar e correr, não larguei meu copo em momento algum e, quando tudo mudou para algo mais "leve", vi o líquido suavemente deslizar para fora do recipiente. Um pouco desesperada quanto a isso, estiquei o pescoço e tentei colocá-lo sobre a boca. Bebi três quartos do copo até que a gravidade volta e eu esborracho no chão.

Nos instantes que se sucederam, minha memória funcionara como num universo onírico; ao passar de um lance para o outro, era como se eu esquecesse ou não me atentasse aos detalhes anteriores. Eu esqueci por completo toda a trama quando estava a levitar e, quando caio no chão, questiono-me por um instante "como fui parar aqui?". Olhou em volta, vejo meus pokémons e confirmo: só eu estou nesse estado.

Todos eles pareciam certos do que fazer.

Eu, oficialmente, bebi demais.

Um pouco cambaleante, fiquei de pé. Demorei um pouco recompor os dois neurônios que me restavam para entender aquela balburdia. Fui estupidamente desatenta e nem sequer um soco num pequeno-príncipe me alardou. Ao invés disso, virei o restante do copo, joguei-o no chão e levantei o dedo para falar algo.

Não falei nada, apenas me esforcei para continuar sobre meus dois pés. Pode parecer um bocado afrontoso ou desrespeitoso para quem estava vendo, mas toda aquela bebida, somada as viagens entre cenário, flashs de luz, imagens sortidas e sons malucos me deixou... bem... quer dizer... me deixou mal.... me deixou, em suma, bem mal.

Fechei os olhos com força, me esforçando para não passar mal. Tentei focar na teatralização a frente, visando uma mísera pontada de foco e consciência. Quando o fiz, apenas ouvi sobre a sentença final e proferi, sem pensar duas vezes:
- AS PERNAS.

Eu pensei para tal? É claro que não. Mas, num revisionismo besta da minha história, julgo que fiz bem. Não iria para a fogueira por uma mulher que mal conhecia. Não posso julgar-me cumplice de um crime que não sabia que existia. Não posso julgá-la inocente sem conhecê-la. No fim, se são as leis desse mundo, há de respeitar. No mais, se há que escolher uma pena, escolhi a pena que de fato cometeu: levou o garoto até onde não devia, com suas pernas. Não foi com a música, mas com suas malditas pernas. Pois cortem-nas então.

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Quando estávamos quase alcançando o maldito batedor, o cenário mudou novamente, dessa vez para um grande e imenso tribunal. Estava bem claro que não conseguimos proteger a pobre Meredith, mas eu já não entendia muito bem o que acontecia com ela. Eu não estava tão mal quanto Winnie, pode ter certeza disso, mas minha mente ainda estava suficientemente enevoada para que eu não conseguisse processar exatamente as falas do juiz. Aparentemente Meredith não poderia ter levado o príncipe para lá, o que eu já suspeitava desde o princípio. - Eu sabia que ia dar merda... - Falei baixinho, mais para mim mesmo.

Era óbvio que levar um príncipe para o meio de uma taverna não era uma boa ideia, mas meio as bebidas e danças, eu acabei me deixando levar junto com a multidão. Não me arrependo, contudo, afinal a ideia não foi minha. Estava servindo apenas como coadjuvante naquela história, e o juiz fez questão de deixar isso claro quando culpou apenas a dançarina. Quando o resto de minha consciência conseguiu finalmente processar o que eu e Winnie teríamos de fazer, eu paralisei. Mais uma vez eu teria de decidir o destino de outra pessoa.

Era bem óbvio que, a primeira coisa que passou pela minha cabeça, foi a lembrança embaçada de tudo que passei em Cerulean, nas apostas que tive de fazer para escolher quem morreria e quem viveria naquele dia; eu sei que eu estava me repetindo, mas é que literalmente tudo me lembrava aquela experiência traumática. Eu precisava arranjar algum jeito de superar, eu sei disso também, mas até agora, nada do que tentei funcionou no tempo que fiquei sem partir para novas aventuras. Na verdade, sendo sincero, só piorou. Ficar sozinho e sem ninguém para conversar definitivamente implantou algumas minhocas na minha cabeça e eu simplesmente não conseguia parar de pensar sobre aquela noite.

Mas, diferente daquele dia, hoje minha vida estava ainda mais em risco. Eu precisava escolher um destino para Meredith, se não quisesse literalmente morrer. Winnie gritou primeiro, foi até bem rápido, e eu me perguntei se ela realmente pensou sobre a decisão; quer dizer, fazia sentido ela ser punida daquela forma, afinal, se seguirmos as leis antigas, foram as pernas dela que levaram ela e o príncipe para a taverna. A voz tinha pouco, quase nada, a ver com isso. E eu, particularmente, preferia ficar aleijado do que sem voz, sendo bem sincero. - As pernas... - Diferente da garota que me acompanhava eu não gritei, na verdade, mal conseguiam me ouvir, mas garanti que entenderiam minha decisão.

Quem sabe eu não sofreria tanto com o que acontecera aqui, igual foi com aquela noite. E quem sabe eu deveria procurar um psicólogo urgentemente. Quem sabe.

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O rei assente com a cabeça, após ouvir a sentença dada pelos treinadores. - Que assim seja! - e com a mão direita erguida, aponta na direção de Meredith, e os guardas começam a acatar a ordem. Príncipe Philip cai prostrado diante do inevitável destino de sua amiga e professora. Acertando o cabo da arma na boca do estômago da mulher, dois guardas forçam que esta permaneça no chão, enquanto um terceiro busca um machado de execução. O cenário, então, começa a novamente esmaecer, como um castelo de areia sob o jugo da maré. As cores se tornam opacas, em tons amarelados, já não sendo mais possível distinguir rostos a expressões. Todos, exceto Meredith, que permanece como Winnie e Luke a avistaram. O guarda ergue o machado e os olhos antes brilhantes e vívidos de mulher encaram a lâmina. Seu destino estava selado. Um último grito, agudo e repleto de dor, sai de sua boca. Grito esse que chega até os treinadores e seus Pokémon e os perfuram como estacas. Dói, fisicamente. Tanto nas pernas, onde aconteceu o golpe, quando no peito, como a mais suprema das angústias.

O golpe do machado não só separou Meredith de suas pernas. Ele também rompeu a estrutura de todo o cenário. Como um tampão sendo retirado de uma banheira, aos poucos todo o grupo era tragado para o centro de um grande vórtice de areia colorida, não tendo como escapar. O cenário agora era uma grande montanha de areia, e ao fundo, Luke e Winnie podiam ouvir o som de uma única pessoa batendo palmas…

Aos poucos, a consciência voltava aos seus respectivos seres. Estavam, agora, caídos em um campo verdejante, com um punhado de fragmentos próximo a cada um deles. Não era mais um cenário de uma peça, tampouco o teatro em si. Na verdade, estavam de volta aos jardins do castelo. Ou ao menos era o que imaginavam. A grande fonte iluminada agora estava apagada e seca. Atrás deles, um vilarejo desolado, destruído, em pura ruína de abandono e catástrofe. Os arbustos de orquídeas agora eram crisântemos que lutavam pelo seu espaço com inúmeras trepadeiras e ervas-daninha. Dentro do campo de visão de todos, era possível ver uma série de mobílias diferenciadas: mesas de jardim, cadeiras de metal, paredes e colunas de plantas ornamentais, um chafariz, estátuas, uma estufa e longos canteiros de flores. Tudo parecia estagnado no tempo. O decaimento não os atingia, ao passo que nenhuma alma fazia a manutenção, aparentemente. Eles estavam ali, sozinhos, em um campo aberto.

Ou ao menos era o que imaginavam. O vento carregava consigo uma melodia, um canto doce e melancólico. Uma canção de dor, de angústia, de recordação. Se assim quiserem, os treinadores e seus parceiros poderiam seguir a melodia até um ponto um pouco mais afastado. Ali, sentada sobre uma toalha e diante de um conjunto de chá, havia um Pokémon. De corpo esguio, pequeno e feições delicadas, ela toma uma das xícaras e leva até a boca. E então, seus grandes olhos redondos avistam a presença dos visitantes. - Oh, convidados! - suas pequenas mãozinhas se unem diante de seu peito, e o leve tombar de sua cabeça faz o longo cabelo esverdeado balançar com o vento - Por favor, sentem-se e sirvam-se! Há muito estou sozinha e aprecio uma companhia! - a voz da Pokémon era doce e convidativa, lembrando em muito a forma como Meredith falava. - Este momento pede uma brincadeira! Eu adoro esconde-esconde! Por que não começam se escondendo? Eu irei contar! - e então, ela cobre os olhos com as mãozinhas, já começando a contagem. Se havia escolha por parte de Winnie e Luke? Não tinha como saber. Mas não havia nem sinal do castelo, ou da ponte arco-íris que os trouxeram para este mundo. Além de que todas as sensações e sentimentos que vivenciaram até aqui permanecem latejando a cada batida de seus corações, com a exceção da embriaguez que misteriosamente desapareceu.                              




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Para cada um


Progresso da Rota - Winnie e Luke :

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