[Ashes] – Mt.Pyre –

Olha, pra te falar bem a verdade, não doía nadinha a ideia de que o pokémon simplesmente lhe torcia o nariz e cooperava por mera e espontânea pressão e necessidade de cumprir o próprio objetivo. Afinal, levando em consideração que já havia tido que lidar com um narigudo fudido que EXPLODIA sempre que IMAGINAVA que olhava torto pra ele, uma perseguiçãozinha e uma malcriação era literalmente a coisa mais indiferente possível para um animal que, aparentemente, não gostava de si.

...ou talvez ele só estava lidando com o luto. Era difícil dizer com certeza, sabe?

— ...bem, eu só espero que isso não leve o dia todo. — Balançou a cabeça, um suspiro ameno enquanto o élfico fazia o trabalho de desenterrar, rapidamente, todo e qualquer cadáver que suas mãos alcançavam. Talvez devesse ter trazido mais espécimes que agilizassem esse tipo de tarefa, mas agora já era tarde demais pra ficar pensando nesse tipo de coisa. Graças aos céus que tinha um Grimmsnarl para melhorar o seu lado.

...aliás, será que dava tempo de dar uma olhadinha no Pokénav?

... ... ... ...

só uma espiadinha, vai, enquanto não tá rolando nada.

Para Karinna escreveu:

@Karinna;
"IVY, MEU AMORZINHO!!! <3
Você tá cuidando da nossa loira DOIDA?
espero que esteja
E ESSE CHÃO DE LAMA AÍ, É DE ONDE???"

Para Winnie escreveu:

@Cocaine;
"venha me buscar, eu aceito
inclusive, aceito passear junto
eu tenho uma questão:
DE ONDE VOCÊ TIROU UMA MOTO???"

Uma hora o sinal volta e a mensagem envia, TÁ TUDO BEM, EU CONFIO QUE TÁ TUDO BEM. Deixa carregando ela aí porque vai que depois volta e não tem tempo pra mandar, tá ligado? Nesse EXATO momento tá tudo bem, os bichinhos tão cavando túmulo, nenhum inimigo pra lidar com... Então é só esperar que um dia vai, um dia eu respondo de novo, um dia eu leio novas mensagens - essas coisas aí.

Mas, sim, sobre o lance dos corpos: Até que demorou um pouquinho, mas não o suficiente pra que fosse algo do estilo Rainbow, o que já era um alívio pra qualquer um. Considerando que não havia vindo exatamente preparada pra fazer uma escavação longa e rápida, dava bem pra dizer que estava completamente no lucro, né? Enfim, não vou dizer que não foi boa a situação quando um dos corpos saiu (com um bonézinho amassado, que tal?) e o faérica fantasma meteu o olhão nele...

...mas também, em contrapartida, mais uma vez naquele bendito do monte tudo ameaçava ruir sobre sua cabeça.

— ...Grimm, Reflect! — Foi a instrução imediata oferecida pela ruiva. Entenda meu raciocínio: Se aquela tela protetora era mais que suficiente para lidar com golpes de monstros milhares de vezes mais potentes, com toda a certeza não teria problemas pra segurar alguns pedregulhos caindo meramente pela força da gravidade. — Pega esse aí e vamo'bora! — Acrescentou. Não precisaria de muito pra sair daquela ala, mas...

O problema seria se tivesse que voltar.

Como é que pode, tudo desandar em um ÚNICO instante?
Acho que o nome disso é narrador corno e-...

DIGO. Enfim, eu não vou te dizer que, quando a ave foi acertada e lançada ao chão, simplesmente continuou a correr. Talvez devesse tê-lo feito - bem provavelmente, aliás -, mas a questão era que: Já havia visto pokémons sendo literalmente enterrados naquele lugar e, cá entre nós, não havia sido bonito, não havia sido legal e, querendo ou não, simplesmente não tinha coragem de largar o próprio pokémon para ser amassado por sabe-se lá quantos quilos de terra para depois, e SÓ DEPOIS, resolver fazer algo a respeito.

...se Balthazar estivesse ali, tudo seria tão mais fácil.

A tela protetora de Grimmsnarl podia não suportar e segurar absolutamente tudo, mas era o suficiente para que pudesse enrolar mais alguns instantes - as coisas não iriam soterrar tão rápido assim. Os passos frearam, os calcanhares giraram parcialmente no lugar e é aqui que eu digo para você: Me desculpe, mas seus pokémons vivos são bem mais importantes que um cadáver apodrecido.

— ...É o Ash? Vai ter que dar conta dele por enquanto. — Foi a disparada que disse à Mimikyu, um balanço curto de cabeça servindo para que o noturno colocasse o treco pútrido no chão. Pelo jeito que tinha visto o animal arrancar alguns dos corpos antes, não acreditava que seria um problema. — FaLSE Surrender. — Instruiu, então, ao élfico, indicando o fantasma otário que havia resolvido os encarar.

Não só isso, como também liberou o resto de seus pokémons. Para Dracovish, instruiu um Protect: A tela de Grimmsnarl podia não dar conta de todas as rochas, mas aquela com toda a certeza seria capaz de. Além disso, enviou Eelektross para que pudesse dar uma lapada e tirar as rochas da frente - só precisaria de um pedacinho exposto de Togekiss para que pudesse retorná-lo e tudo daria certo.

Ou não. Podia morrer também, sei lá.

O resgate ocorreu de maneira simples, rápida e efetiva - o que fazia com que a ruiva tivesse completa certeza de que a ideia de parar ao invés de simplesmente dar no pé havia sido a melhor coisa que poderia fazer em uma situação daquelas. Claro, agira um pouco por impulso e tudo poderia ter dado errado, mas naquele tipo de circunstância, seguir o próprio coração provavelmente é o melhor que poderia fazer.

Duskull corno.

Ao contrário do que fizera da primeira vez (mesmo que provavelmente morresse antes de suspeitar que Togekiss ficaria pra trás daquele jeito), o que logo fez foi simplesmente tratar de retornar todos os seus pokémons - com exceção de Grimmsnarl e da própria Larvesta que, considerando precisar de sua luz e que a carregava nos braços, não suspeitava que ela conseguiria ficar pra trás.

AGORA sim, poderia voltar a correr com os dois faéricos e... um cadáver.
Quando mesmo tinha virado um projeto de grave robber?
Que esquisito.

A parte boa de tudo aquilo era que se algum dia, por algum acaso, resolvesse largar a carreira de treinadora, podia simplesmente começar a de psicóloga de pokémon. Passar fome ou não era um detalhe que não tinha exatamente como saber se rolaria, mas aí é detalhe que não precisaria parar pra pensar agora, pois é.

O fato é: Se deu ao luxo de tomar algum fôlego - algo um pouco mais difícil pela máscara usada pra abafar o odor pútrido dos cadáveres - por alguns segundos, encarando a passagem recém-enterrada graças ao desmoronamento do lugar. O olhar não demorou muito a encontrar a imagem de Mimikyu encolhida no canto e, cá entre nós, um bicho zumbi tava dando muito mais trabalho do que deveria, no fim das contas.

Ele podia não querer ajudar, mas ele ia ter que ajudar se quisesse que as coisas rolassem bem pra ele mesmo. Quer dizer, o interessado da história não era o bonito???

— ...ei, foram só umas pedrinhas. — Comentou, um encolher de ombros vago enquanto observava o corredor bloqueado. — Tá tranquilo agora. — Suspirou, observando o teto por uns instantes só pra se certificar sobre o que dizia. Vai que, né? — ...Você já olhou se é o Ash? Como eu disse, quem conhece é você... — Pausa. — ...e se não for, vou ter que dar um jeito de desenterrar esse corredor todo. Então... — Um riso sem jeito, observando pra ver se o fantasma tinha a boa vontade de vir verificar.

Se não tivesse, ela mesma ia ter que meter a mão no cadáver pra ver se achava algo, fazer o quê.