O que a neve faz no verão (?)

Respirei fundo com a confusão que se sucedeu após a chegada de Delibird. Por um instante eu tinha esquecido como o bichinho podia ser desastrado. Também, de certo modo acabava de descobrir que o policial também tinha um certo potencial para isso. Ok, basta respirar pra manter a calma...

Resolvi pegar Delibird no colo, depois pousá-lo em segurança numa área aberta e plana onde eu podia me comunicar com ele com tranquilidade, ambos parados.

- Querido, tá tudo bem... Respire fundo e se concentre, okay?! Preciso muito da sua ajuda aqui. Me dê sua asinha, vou conduzir você pelo caminho, por enquanto, mas se concentre e tente localizar outras pessoas ou Pokémon, tá bem? Me avise e aponte o caminho caso encontre algo. - orientava uma vez mais - E você, senhor Nicholas... Acha prudente deixar a motocicleta aí? - questionei, enfim.

Eu tinha encontrado algo no meu radar, um algo que eu acharia bastante comprometedor quando encontrasse, lá entre o gelo nas margens do lago. Uma Pokébola com R no centro me é familiar, afinal já estive pessoalmente em instalações de pesquisas conduzidas por Rockets, sem falar na minha experiência direta e constante com eles na ocasião dos portais dimensionais.

- Droga... - deixaria escapar o sussurro de preocupação.

Qualquer coisa envolvendo os Rocket não tinha a remota chance de ser significativamente seguro ou bom. Mais uma vez, voltava meus olhos pros arredores, tanto quanto pra área onde a esfera estava, pegando ela na mão. Será que as pedras de gelo seriam em si algum item disfarçado também? Já ouvi falar de boost item que se parecem com isso...

No fim, nada encontrei senão a frustração de ter a Rocket Ball presa no gelo e o sumiço da única pessoa que tinha por ali, que por sinal também era o nome de confiança dado por meu mentor pra me auxiliar na minha tarefa - que de cuidar de Gyarados até então parecia impossível...

- Deli... Você não...?! - estranhei meu Pokemon não ter captado nada, nem sequer reagido ao sumiço do policial, sobretudo porque é uma criatura que devia estar habituada a se localizar na neve densa. Aquele Delibird sempre foi tão cuidadoso... Começo a me questionar se ser atrapalhado é sua única qualidade. Enfim, o bichinho não tem culpa alguma pela situação em que estamos.

- Ok. Ok... Parece que as coisas por aqui estão piores do que nos foi transmitido, querido. - me inclinei na direção da ave pra lhe falar sem altear tanto a voz - Sei que gostou da esfera, mas não vamos mexer nela, ta bem? Vem, depressa, precisamos voltar pra saída!

E esta era minha decisão. No caminho de volta iria tentar telefonar pra Polícia, Rangers, Bombeiros, imprensa. Qualquer suporte que pudesse atender a situação por aqui, qual seja o sumiço dos responsáveis por investigar e lidar com o problema local. Sozinha eu, uma mera civil acadêmica, não faria nada.

Averiguaria aquele ponto mostrado no radar, próximo da saída, mas tentando me arriscar o mínimo possível.

- Delibird, confio em você pra me proteger, como sempre fez la no Ice Path! - sorria com os olhos, já que a boca estava tapada pelo cachecol grosso. Por dentro, estava nervosa, é claro.

O encontro com o policial congelado na parede me tirou o fôlego, pelo susto. Para além disso, era uma palpável barreira que se erguia para me impedir de sair do lugar e, como de praxe, o Rotom Phone parava de funcionar... Até hoje eu não sei porque carregamos tal equipamento que contém, agora, até um Pokémon vivo dentro dele, se sua tecnologia sempre nos deixa na mão nos momentos mais inconvenientes.

- Que merd... - resmunguei, segurando firme a asa de Delibird que, ao meu lado, começava a se agitar.

Os últimos fatores já me permitiam concluir que o que aconteceu ao Lake continuava a agir e agora, pra piorar, estava vindo atrás de nós, como um caçador imparável de coisas vivas. Bem, sendo assim, não iria esperar parada.

- Woobie, Ezylryb, venham! - invocava uma dupla de companheiros fiéis.

Se Delibird não era capaz de me identificar com precisão os riscos, Swoobat faria esse trabalho com seus sensores naturais de morcego e, sobretudo, seus poderes psíquicos. Já Charizard era uma das minhas melhores armas de fogo (literalmente, fogo) contra esse gelo ameaçador. Isso é, enquanto eu preparava meu catálogo pra transformar Gylfie, a Rotom, em outra arma.

Time nesta rota escreveu:

Não pensei que fosse precisar, mas então aí vai...
- Swoobat: Bright Powder
- Corviknight: Muscle Band
- Delibird: Focus Sash
- Gyarados: Wide Lens
- Rotom: Wise Glasses > Em sua forma Heat, via Rotom Catalog
- Charizard: Firium Z

Estava pronta pra batalha que se aproximava, mas então... A própria batalha se afastava. Agora, pra além de tudo, havia aquela voz etérea e enigmática ecoando pelo ambiente gelado. Isso me dava arrepios, além dos que já andei tendo pelo frio. Digo, a partir daqui eu já tenho a confirmação de que quem aflige, direta ou indiretamente, o lugar é humano.

- Definitivamente, não estamos sozinhos. - murmurei pros meus companheiros que agora demonstravam que o perigo se afastava.

Rotom Phone vibrou quando reencontrou pontos no mapa, demonstrando que seu bloqueio temporário também havia passado. Olhei diretamente pra parede de gelo às minhas costas e, honestamente, desejei profundamente ter poder pra derrubá-la à força e passar de uma vez por todas pra saída. Swoobat até poderia tentar tal feito, já que é capaz de destruir até concreto com suas ondas sônicas, entretanto minha experiência e olhar indicavam que o obstáculo não seria assim tão fácil de se destruir.

- Ok, pessoal, vamos. Vamos andando... Woobie, pode ficar nas costas do Ez e se concentre em perceber inimigos que se movam à nossa volta. - graças aos seus poderes sônicos e psíquicos - Delibird, nos guie por onde o gelo é resistente. Ez... Fique pronto e em alerta. - eram minhas orientações ao time.

Caminharíamos para a floresta mais ao norte. Eu e Swoobat indo mais próximas do lagarto de fogo, aproveitando do seu calor natural pra amenizar o frio.

E aí eu cheguei na região da floresta, descobrindo apenas um dos dois pontos: era um drone dos Rangers, e eu pude reconhecer por já ter visto Ayzen usar um desses antes.

- Time, que tal tentarem pegar isso aqui, hein?! Por favor. - pedi ao meu trio que, com suas habilidades, poderiam ao menos tentar tirar o equipamento do gelo e aquilo podia me ser útil, se eu lembrasse de como usá-lo.

Não pude encontrar o segundo dos pontos marcados pelo Itemfinder. Entretanto, o que encontrei era uma cena grotesca. Se sob o lago congelado os Pokémon tinham sido aprisionados como estátuas, ali na floresta eram os humanos que tinham sofrido tal fim. O susto foi inevitável e então levei as mãos até a boca pra conter uma expiração presa e abrupta.

Algumas ideias passaram pela minha cabeça, coisas que eu podia tentar executar pra libertar ao menos alguns. Porém, nem mesmo podia julgar ser seguro fazer isso... E nem mesmo saberia alegar se ainda estariam vivos debaixo daquela camada fria. Talvez não.

Além disso tudo, minha visão periférica e minha intuição captavam a sensação de urgência e claustrofobia, algo que eu conheço muito bem uma vez que a tenho de fato. Infelizmente, o tempo e as condições não estavam nem um pouco ao meu favor, me obrigando a abandonar qualquer ação, se não a de fugir.

- Vamos, pessoal, depressa, antes que sejamos esmagados! - trouxe a urgência pro meu time - Se não tiverem conseguido pegar o drone, tudo bem... Deixem pra lá!

Levaria meu trio comigo de volta pelo lago, dessa vez atravessando pra extremidade Sul que me parece ser nossa única saída. Na mão livre o Rotom Phone voltaria a discar números de emergência como meu último recurso.