Realiti

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OFF:

Era minha primeira vez em Cinnabar. Ok, talvez não a primeira exatamente, eu com certeza já passei por aqui antes pra poder pegar alguma coisa ou simplesmente curar meus Pokémon durante uma viagem cansativa entre Kanto e Johto. Mas definitivamente era a primeira vez que vinha pra ficar por um tempo, e Kanto sempre conseguia me admirar com suas paisagens. Veja bem, eu morei por anos em Unova, a maior parte da minha vida pra ser exato, e eu era completamente apaixonado pelo meu continente. Adorava tudo lá, desde o clima e como as estações eram perfeitamente delimitadas, até as pessoas e a maneira como o Governo tratava tudo, por exemplo; então, quando vim pra Hoenn, foi extremamente difícil me adaptar. Hoenn é extremamente tropical, com mudanças de clima diárias e tudo é completamente instável. Sem dúvidas foi o lugar que menos gostei de ficar.

Mas, as coisas progrediram e eu vim parar em Tohjo, mais especificamente em Ceruelan, onde fica a base da Requiem e onde eu passei a maior parte do tempo. E devo dizer que foi uma das melhores ambientações que já vivenciei. Tudo era extremamente lindo, até um pouco simples, mas com certeza tinha seu charme; obviamente que nenhuma cidade daqui chegava aos pés de Castelia, mas com certeza eu estava aprendendo a admirar mais Kanto. O vulcão de Cinnabar, contudo, não era um lugar que eu esperaria visitar tão cedo; eu odiava calor, e gostava menos ainda de lugares extremamente claustrofóbicos. Porém, a vida tem dessas, e eu me vi preparando a bolsa dentro do Centro Pokémon para uma expedição vulcão à dentro.

Minha bolsa estava literalmente lotada de coisas de sobrevivência: muita comida, muita água, muita roupa e muito peso. Estava quase impossível carregar aquilo nas costas, mas eu teria de conseguir se quisesse estar preparado para a aventura. Enquanto eu terminava de arrumar minhas coisas no quarto do Centro Pokémon, meus filhos brigavam, de novo, mas eu mal dava atenção; Mani e Pandora eram grandinhos, mas agiam como duas crianças do prézinho. Principalmente o fantasma, as brincadeiras dele passavam do limite as vezes, mas ele havia aprendido a se controlar bastante, ainda mais agora que tinha alguém que ele se importava. Ele e Salazzle viraram irmãos, quase que literalmente, e o Gengar cuidava para não magoar a irmãzinha, quase como um primogênito fazia sempre.

Minha cabeça, no entanto, estava em outro lugar: na boca do homem que eu larguei pra trás em Pewter. Dobrava as roupas quase que em automático enquanto eu pensava na bela boca de Hector. Ok, talvez eu estivesse caidinho demais por ele, mas eu sempre fui meio assim... Emocionado. Ouvi isso a vida toda, mais ainda quando tentei me envolver com Mahiro, e principalmente de meus amigos. Mas nunca foi algo que concordei muito, eu só sabia bem o que queria e não fazia questão de tentar esconder. De qualquer forna, dessa vez era diferente, dava pra ver que ele queria ficar comigo, só não tínhamos a oportunidade de estar juntos por enquanto; ele precisava ficar mais forte, e eu também buscava poder. Talvez fosse aquela história de pessoa certa na hora errada, sabe? Bem clichê de filme.

Meu transe foi literalmente quebrado quando ouvi o barulho do único vaso que estava no quarto indo ao chão, e meus dois venenosos fingindo que não haviam sido eles. - Ai sério... Não posso deixar vocês dois sozinhos. - Dei aquela famosa bronca nos arteiros, e finalmente terminei minha mala. Não demorou muito para estar caminhando pelas ruas de Cinnabar, com meus dois ainda fora de suas esferas, e indo em direção a fronteira da cidade. O vulcão ficava ao sul, bem distante da civilização, apesar de proximidade aparente ao olhar em um mapa ou se imaginar ao ouvir que o nome do vulcão e da cidade era o mesmo; então, teríamos ainda alguns bons minutos de caminhada. Obviamente a essa altura do campeonato eu já tinha entregado a bolsa pra Manigold carregar, como forma de punição pelo vaso de antes.

Eu havia buscado todo tipo de informação sobre o vulcão que podia. Desde as rotas mais seguras, até as sinalizações, as espécies que habitavam ali e como me proteger de uma possível erupção; claro, haviam alguns estudos que analisavam a atividade vulcânica dali, e que indicavam que ele não entraria em erupção de novo tão cedo, mas precaução nunca era demais. Eu trouxe comigo Pokémon que com certeza seriam úteis para a exploração: meu Gengar que flutuava e poderia me carregar em situações de perigo; minha Salazzle que era praticamente imune a lava; um ser que havia sido criado na água, mas que lidava muito bem com situações de calor, sendo meu Dragalge; e por fim, Nidoking, que tinha uma conexão especial com a terra e saberia nos guiar através das cavernas, além de servir como força bruta mesmo, para caso precisa empurrar alguma pedra ou coisa do tipo.

Na minha cabeça eu estava o mais preparado possível que poderia estar, e me sentia realmente pronto. Meu objetivo ali era um só: encontrar Steven Stone e identificar minha Mega Stone. Não tinha tempo para perder e nem queria ficar ali por muito, mas um grande problema me assolava: eu não fazia ideia de onde ele estava. Claro, sabia que estava investigando rochas vulcânicas, mas não tinha como saber em qual das inúmeras cavernas ou tocas que haviam ali ele estava agora. Talvez eu só devesse tentar uma por uma...

Esses foram meus pensamentos enquanto caminhava até atravessar o portal de boas vindas do centro ambiental do vulcão, afinal, ali também havia fauna que era essencial para a vida na terra, assim como as rochas magmáticas, que eram usadas em diversos objetos no mundo moderno. Passei por algumas cabanas até encontrar a rota principal, ainda bem longe do vulcão em si, mas bem mais perto do que do começo da narração; era uma tarde bonita, por volta das três horas, e eu sabia que esse era o melhor horário para entrar ali, já que o sol não estaria mais tão forte. Quando finalmente encontrei a rota principal, parei na frente, fazendo meus dois monstrinhos pararem juntos, sem entender porque. - Mais preparado que isso, impossível. - Sussurrei pra mim mesmo, respirando fundo e tomando a coragem para dar o primeiro passo daquela aventura.

Se eu morresse queimado por conta de um bofe que nem mesmo me conhecia, eu ia reencarnar muito puto, pode ter certeza.

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OFF:

Não vou dizer que não sentia falta de ser completamente esculhambado pela narração dessa que está aqui conosco no momento. Na verdade, parte da maneira que a gente lidava um com o outro era na esculhambação, então tudo bem. E bem, respondendo a pergunta sobre o vulcão: garanto que eram coisas bem difrentes. Eu tinha uma afinidade muito maior com lutas, e muito menor com explorações. Talvez fosse por meu gênio... Difícil, mas certamente eu me dava muito bem em batalhas, mesmo que no improviso. Enquanto que, invadir um ecossistema novo e descobrir seus segredos nunca foi o meu forte; sempre acabava em uma enrascada difícil de sair e completamente evitável, se eu tivesse usado um pouco mais a cabeça.

Usar a cabeça também não era meu forte...

Meu devaneio foi tirado de mim quando notei a presença de... Catracas? Bom, aparentemente haviam privatizado o serviço de ecoturismo dali, e agora precisávamos pagar para entrar. Quer dizer, estava deduzindo essa última parte, mas esse tipo de privatização só funcionava para isso: arrancar dinheiro do povo e fingir que investe isso de volta na estrutura e acessibilidade do local. Balela. Todos sabiam que isso não adiantava de nada e era completamente evitável se o governo funcionasse como deveria. Mas deixemos a crítica social para depois, huh? Mais uma vez tive minha atenção roubada quando uma voz quase robótica me abordou. Tive de caçar com os olhos e ouvidos a direção que havia vindo a voz, para identificar que se tratava de um funcionário ali atrás dos portões pretos.

- Hm, acho que pode sim. - Tinha apenas alguns segundos para pensar numa desculpa para que eles me deixassem entrar, mas pensar sobre pensão também não era muito o meu forte. - Meu nome é Marshall, eu vim fazer uma pesquisa para o ginásio de Fuchsia sobre os Muks as ordens de Janine. - Era óbvio que eu tinha uma identificação de aprendiz falsificada, mas ninguém jamais suspeitaria disso. Pouco tempo antes de entrar aqui, eu havia enviado uma mensagem ao QG, afim de pegar uma missão que pudesse ser feita pelas redondezas, e havia encontrado uma perfeita, só não sabia muito bem como prosseguir uma vez que estivesse dentro do vulcão.

Conciliar essas duas coisas seria complicado, mas eu provavelmente focaria em encontrar o Steven Stone para só depois tentar ir atrás do tal caminhão de Grimers. Contudo, já tinha que pensar adiante, e revelar minha identidade logo de início seria completamente comprometedor para com a missão. Respirei fundo enquanto aguardava uma resposta da voz invisível, estralando os dedos das mãos como forma de aliviar a ansiedade. Odiava situações onde minha identidade era questionada, ainda mais quando havia todo motivo do mundo para questionar ela. Só esperava que ele caísse nessa e me evitasse confusões...

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OFF:

Por mais que a narradora estivesse certa sobre os Rockets, minhas motivações eram bem mais práticas e plausíveis, e com certeza valia o trabalho de fingir ser outra pessoa. Mesmo assim, não podia discordar dela: os Rockets realmente tinham mania de bipolaridade, existiam alguns até com transtorno severo de dissociação e múltiplas personalidades... Mas bem, ao menos a estratégia havia dado certo, e o guardinha sequer pediu minha identidade. Isso podia significar duas coisas: ou a concessionaria que cuidava do parque era muito desleixada, ou o guarda não ganhava o suficiente para se importar se eu estava mentindo ou não.

Provavelmente a segunda opção era a correta...

Mantive um sorriso nos lábios durante quase toda a conversa, da maneira mais falsa possível. - Na verdade não... É minha primeira vez aqui, e Janine não me passou nenhuma informação. Sendo sincero, eu nem sabia que agora tudo isso havia sido privatizado. - Comentei, sendo bastante honesto com ele. Eu realmente tinha pouca informação sobre como chegar até Steven, e menos ainda para concluir a missão que me foi passada, mas acreditava no poder de minha narradora explicar tudo conforme a história for progredindo. Assenti quando ele me indicou o setor de cadastro para que eu pudesse entrar e sair dali livremente, seria realmente muito útil e eu definitivamente não estava com pressa.

- Seria ótimo! Muito obrigado. - Já estava me dirigindo para a barraquinha quando terminei de falar, e esperei ele vir junto para poder realizar o cadastro. Sequer prestei muita atenção em suas características físicas... Meus olhos tinham um dono, e ele ficou em Pewter junto com meu coração.

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Dei um pequeno risinho com a reação do pobre funcionário. Meu OFF entendia muito bem como era trabalhar com o público e ter que repetir a mesma informação um zilhão de vezes, por isso ele se compadecia do rapaz. Pelo mesmo motivo, tive de me manter bastante atento a toda informação que ele soltava, não queria desperdiçar o tempo do coitado, e menos ainda fazer perguntas idiotas quanto ao acesso ao parque. Até então, parecia tudo muito fácil de seguir e encontrar. Obviamente eu teria de ir para a direita, contornando o vulcão e acessando as cavernas ao norte, onde Steven definitivamente estaria. Como o vovô havia me dito que ele estava fissurado em rochas vulcânicas, faria total sentido ele estar nas cavernas.

Mas eu não podia falar isso pra ele. Eu não precisaria disfarçar minha ida para as cavernas, afinal era de meu interesse encontrar Pokémon que habitavam no vulcão, e nenhum lugar melhor do que as cavernas para encontra-los. Talvez os lagos, mas ainda assim, as cavernas seriam parte do álibi e também meu objetivo principal. O rapaz terminou sua explicação e eu assenti com a cabeça, garantindo que entendi tudo. - Certo, acho que decorei tudo... Agora, se não tiver nenhuma outra informação, acho que vou indo! Caminho longo e não quero tomar mais do seu tempo. - Comentei, sorrindo. Manigold e Pandora ficaram curiosos com a presença do homem, provavelmente querendo pregar alguma peça nele, mas sem muita oportunidade, por conta da minha breve despedida.

Seguimos então, eu e minha dupla, pela trilha improvisada de terra compactada, carregando aquele montão de coisas e analisando bastante o caminho. Era bem cedo ainda, não haviam muitos treinadores naquele começo, o que facilitava a visibilidade da trilha e de seus arredores. - Vocês dois tem que colaborar hoje... Estamos numa missão bastante importante para encontrar um rapaz que pode mudar a forma de Mani. Ele vai ficar ainda mais forte! - Os olhos do fantasma brilharam com aquela informação, quase como uma criança quando ganha um brinquedo novo. Quem não ficou nada feliz foi Pandora, mas eu não consegui perceber naquele momento, já que estavam atrás de mim enquanto falava; isso com certeza nos traria algum problema num futuro próximo, mas não era algo que eu tinha como lidar agora.

Se tudo desse certo, a gente chegaria em pouco tempo nas cavernas, para depois então lidar com a missão Rocket.

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Se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é não se meter com mulheres. Se Pandora queria ficar brava por conta da possível Mega-Evolução de Manigold, eu é que não falaria para ela ficar calma. Com certeza só pioraria, e já não bastava ter que lidar com todo esse calor, ela com certeza faria eu me arrepender de ter falado qualquer coisa. Deixei que os dois se resolvessem ali, pelo tempo que já se conhecem e a maneira que a relação deles era mantida; com certeza seria mais saudável para mim, e menos trabalhoso também.

Entre os caminhos da trilha, eu fui seguindo adiante até não dar mais e ter de fazer uma escolha, tanto quanto fácil, de ir ao traçado que o guardinha havia me explicado. Antes disso, contudo, eu tinha um obstáculo bastante peculiar em minha frente: uma oferenda a sabe-se lá o que. Definitivamente não mexeria com aquilo, um antepassado meu já havia se metido com cultos e não terminou muito bem; eu não queria ser o próximo a ter uma perna quebrada, definitivamente. Minha opção foi a óbvia: desviei da oferenda e segui pelo meu caminho, sem nem passar perto dos itens ali presentes.

E se fosse uma amarração? Algo direcionado a uma pessoa especifica? Com certeza não era de bom tom mexer naquilo, e o mínimo que eu poderia fazer era respeitar. Inclusive, antes de passar eu dei um breve pré-sermão para meus Pokémon, enfatizando que, caso eles mexessem naquilo, iriam ficar de castigo o resto da vida. E não estava brincando. Meu objetivo ali era um só, e não envolvia me meter com bruxaria ou trabalhos umbandistas.

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