Episódio 1: A heroína da cidade

Ah,minha querida Lola. Você ainda tem muito o que aprender na sua jornada, e por que não começar pelo nem tudo que da certo uma vez da certo sempre? Claro, fazer uma cena generalizada para um monte de crianças parece uma boa ideia, mas se você tenta isso com adultos? Pode esquecer. Nem mesmo a sorte ficou do seu lado dessa vez, e como num belo puxão de orelha, o destino se encarregava de lhe mostrar que as coisas não são tão fáceis sempre.

Inicialmente sem entender nada, o menino de touca observava o que Verdegin iria tentar, no entanto, quando ela foi toda grandona para cima dos operários, o menino não pode evitar arregalar os olhos e ficar pálido. Claro, em que MUNDO alguém teria coragem de meter o louco daquele jeito?! Só mesmo no mundo de Lola Verdegin.

Quando a garota iniciou o falso sermão os operários briguentos interromperam por um instante a briga e se entreolharam. Quando a garota iniciou a contagem, o mais a direito se enfezou de vez. - Ô sua pirralha idiota, que porra você ta fazendo?! - Praticamente gritou a afirmação. - Some daqui, e só volte com a droga de um capacete de segurança! - Bradou o mesmo homem, enquanto o segundo continuava. - Ta vendo?! É disso que eu tô falando! Toda hora alguém nos interrompe, e pra ajudar, você é sempre um estúpido e grosseiro. - Praguejou o segundo.

E é claro que eles retomaram a briga exatamente de onde estava, mas acho melhor sair daí Verdegin, já que um executivo parece estar marchando na sua direção, muito impaciente, e aparentemente, você não é bem vinda aqui sem um capacete de proteção. No mais, o moleque de touca continuava imóvel no mesmo lugar, exceto, é claro, que continuava de olhos arregalados e praticamente tremendo de nervoso. Alguém dê uma água com açúcar pra esse sujeito!

Certo, certo. Talvez as coisas tenham saído um pouquinho fora do que eu estava esperando. Ainda assim, não querendo deixar aquele moço grosseiro com a última palavra, eu respondi antes de sair correndo (claramente não gaguejando nem próxima de cair no choro):

"M-m-meus a-advogados e-entrarão em c-contato!"

Conforme me afastei, percebi o Cara Engravatado Louco de Vingança e Ódio (vou chamar de C. A. L. V. O. pra encurtar) vindo na minha direção. E é pra isso que eu sempre tenho uma saída com estilo planejada. Dei o sinal pra Nevasca nos meus braços: Modo Fofura, ATIVAR.

"Olha! Olha que coisa fofa! Olha que coisinha peludinha linda da mamãe!", chacoalhei a Swinub na frente da minha cara enquanto corria pra onde eu tinha vindo. "O homem mau não vai querer me machucar, né? Ah, não vai, não vai, não! Cadê o meu malvado favorito, hein?"

Apressei o passo e corri até chegar perto do Moleque-de-touca.

"Seguinte, seu amor por tricô vai ter que esperar mais um pouco", bufei ofegante. "Pensa rápido! Tem um CALVO vindo, o que a gente faz?", pedi ajuda enquanto já vasculhava minha infalível mente em busca de alguma desculpa mirabolante; e me assustava com a falta de estoque. Será que eu precisaria ativar o humilhante e terrível Plano PVMB (Pai, vem me buscar?)?

E não é que deu ruim mesmo? Logo após tomar um esporro daqueles de um homem nada educado, Lola logo havia percebido que o tal CALVO estava indo na direção dos operários, gritou algo sobre trabalhar em equipe e pararem de brigar, e os dois logo voltaram para suas máquinas. Quanto ao menino de touca, ele parecia EXTREMAMENTE CONFUSO com tudo o que Verdegin havia dito. - Espera, AMOR POR TRICÔ?! - Perguntava, sem entender nada.

Parecia que ele havia acabado de entrar em pane, tentando assimilar a informação enquanto só fazia tremer a boca. Se Lola desejava tirar alguma coisa dele, até mesmo uma palavra de agradecimento, teria de explicar melhor, eu acho. E, bom, para o bem dos dois, já que um ranger bem alto e forte surgia atrás dos dois, coçando a garganta.

30 minutos depois...

Sim, quinze minutos foi o tempo necessário para as crianças treinadores horrorizadas acionarem os rangers a respeito de uma garota de cabelos verdes com um Swinub que estava espumando pela boca e delirando, fato confirmado, inclusive, pelos adultos do local. Vou te dizer, não aconteceu nada demais. O ranger alto os levou para o posto mais próximo, examinou a menina e o Swinub, e viu que ela só havia feito uma encenação para se livrar dos meninos que a cercavam.

Quanto ao mais velho, ele parecia... em estado de choque quando chegou, mas logo explicou que havia simplesmente ficado estático com a atitude impulsiva da menina e o mal entendido foi resolvido. No momento, os dois estavam de frente pro ranger grandão que os olhava de cima a baixo. Nevasca estava comendo uma ração especial pra Pokémon da sua espécie ao lado de Lola, mas eu duvido que nesse momento ela a escutaria, já o menino, evitava contato visual com os dois. O ranger suspirava por um momento, então já sabe, né? Prepara que lá vem sermão.

- Olha... entendo que vocês queiram MUITO voltar a treinar no parque. - Disse o homem. - Mas invadir um canteiro de obras pra dar esporro nos operários FINGINDO ser do sindicato? - Balançou a cabeça em negativa. - Isso, normalmente, rende um antecedente criminal, sabiam né? - E olhou bem carrancudo para os dois. - Além do que, tem sorte do gerente de obras não ter visto nada, do contrário, ele poderia te processar, já que se algo acontecesse com vocês, sem capacete nas proximidades, eles seriam os responsáveis. - Falava, pausadamente. - Mas... como ninguém se machucou e consegui tirar vocês de lá a tempo, acho que não tem problema. - E suspirou.

O menino tímido, calmamente, levantava a mão. - So-sobre o incidente do Swinub... - Lembrou o menino.

- Ah, aquilo não foi nada. - Deu de ombros. - No lugar de vocês, caso fosse cercado, também inventaria uma bobeira qualquer pra me livrar daquilo. - Deu de ombros. - Se estão saudáveis, então não tem problema nenhum. - E olhava bem para os dois juniores enquanto puxava uma prancheta. - Olha, Lola Verdegin e... Ricardo Nogueira? Okay. - Se virava para os meninos. - Infelizmente, acho que vão ter de esperar os três dias para o tal campeonato, se quiserem treinar, tem o campo do Centro Pokémon, então por favor, não apareçam mais lá por perto daquela maneira, tudo bem? - Perguntava. - Se prometerem que serão bons meninos, eu vou lhes dar um prêmio, o que acham? - Sorria para os jovens.

Bom, era nítido que o patrulheiro apenas suavizou a situação por se tratarem de crianças, mas... Lola aceitaria aquele meio esporro e um mimo? Ou tentaria encenar alguma coisa pra sair dessa novamente?

Nananinanão. Quem estava engolindo o choro era o Moleque-de-touca. Claro que eu estava TRANQUILA lidando com as consequências dos meus atos. Como eu acho que já ficou bem óbvio, eu não tenho problema nenhum em admitir quando eu tô errada. Ainda mais depois daquela proposta: peça desculpas e receba uma recompensa. Era tudo o que eu vinha fazendo com meus pais desde que eu me conhecia por gente!

"Descuuulpa, senhor ranger, não vai acontecer de novo", falei, balançando os pés na cadeira meio constrangida. "Eu às vezes tomo decisões precipitadas pra apaziguar o espectro obscuro que habita a minha alma", eu disse, tentando soar como uma letra de música pop rock melodramática apesar de eu ter apenas 10 anos e ser incapaz de compreender totalmente o significado daquilo.

Agora falando sério, eu havia sido derrotada e doía demais admitir. Fazer o quê? Nevasca estava ocupada demais enchendo a pança e eu tinha gastado meu estoque de ideias mirabolantes. Pra que não ficasse tããão feio pro meu lado, só me restava uma última coisinha: ser JUSTA e passar uma parte da culpa pro próximo. Sem favoritismo aqui!

"Ai, ai, ai, é a última vez que eu vou na sua onda, hein, Moleque-da-touca?", dei uma cutucada nele com o cotovelo. "Que isso não se repita, viu? Chega dessas ideias malucas", fiz o sinal de "doidinho" pro senhor ranger, junto do olhar que eu esperava transmitir a mensagem de tadinho-ele-não-sabe-o-que-faz.

E agora, o que nos restava? Um prêmio por ser uma boa menina e talvez um rolê no Centro Pokémon. Quem sabe se eu ficasse quieta um pouquinho daria pra finalmente entender qual era a treta do Moleque-da-touca. Cruzei os braços e dei uma encarada nele...

A segunda frase de Lola imediatamente causou estranheza no Ranger, que não pode deixar de encarar a jovem de cabelos verdes com um olhar de aflição, ele ficou alguns bons minutos encarando a menina se perguntando se ela realmente sabia o que significava as palavras que havia dito. Por fim, decidiu que não e só deu de ombros. Quando a menina tentou passar a culpa para Ricardo, o menino arregalou os olhos em descrença absoluta com a CARA DE PAU de Verdegin, e balbuciou algumas muitas coisas em protesto que jamais conseguirão ser distinguidas.

O ranger encarou a menina um pouco mas por fim, é aquilo: fazer o que. Ele havia tentado ensinar uma coisa ou duas para a menina, não sabia se havia dado certo mas ela cumpriu com sua parte do acordo, então de uma gaveta maior tirou um ovo roxo e entregou pra menina. - Meu Liepard teve uma aventura com uma geleia rosa durante uma patrulha e eu ganhei esse ovo. Espero que cuide bem dele! - Disse, com um sorriso de todo tamanho, enquanto entregava o ovo para Verdegin e um punhadinho de pedras coloridas.

Recebeu:
+ Egg de Purrloin
+ 3 Blue Shards

Com as tais recompensas entregue a menina, o ranger entregou umas pedrinhas vermelhas pro jovem Ricardo que prontamente recebeu o presente, se levantou, despediu-se e encarou Lola bem irritado enquanto saía. Bom, essa é sua deixa minha querida, especialmente porque Nevasca havia terminado de comer e acabara de arrotar.

Independente da cara feia do Moleque-de-touca ou do sonoro arroto de Nevasca, NADA podia tirar a magia do momento em que recebi aquele ovo nas mãos. Eu tinha sido inundada por uma vontade absoluta de proteger e nutrir por aquela criatura que nem ainda havia nascido, e que eu já amava TANTO! Foi aí que eu percebi o que estava acontecendo... eu agora era uma MÃE.

"Xiiiuuu!", fiz um sinal de silêncio para Moleque-de-touca enquanto abraçava o ovo emocionada. "Respeita o meu bebê, ô! Não tá vendo que eu acabei de iniciar minha jornada de descoberta sobre todos os infortúnios e milagres do nascimento?", dei um beijinho no ovo e o guardei delicadamente na mochila. "Cadê o neném? Cadê? Gugugu~ A mamãe vai te proteger com a PRÓPRIA VIDA", jurei dramaticamente antes de guardá-lo.

Neste momento, senti um menu digital surgir sobre minha cabeça:

Lola recebeu experiência!
Lola quer aprender MATERNIDADE. Deseja apagar algo para aprender MATERNIDADE?
Escolha qual opção apagar:

• Responsabilidades
  
• Tempo Livre
  
• A Melancolia da Inocência
  
• ➤ Mas que diacho você tá falando?! Você só tem dez anos, menina!

Não tinha certeza se a última opção foi dita pelas vozes da minha cabeça ou por Moleque-de-touca, mas foi o suficiente pra me fazer acordar e voltar minha atenção pra ele.

"Tá bom, escuta", suspirei enquanto pegava Nevasca no colo e dava uma encarada sincera pro menino. Eu reconheço que eu tinha pisado na bola com meu jeitinho de ser, e o que começou naquela pracinha com o anúncio do campeonato acabou levando o coitado a tomar uma bronca de um ranger. Tava na hora de eu dar uma maneirada. "Foi mal, tá? É que hoje é meu primeiro dia na minha carreira como Treinadora Pokémon, e eu queria começar com um BANG!", fiz um gesto de explosão segurando Nevasca pra demonstrar. "Sacou? E eu queria fazer isso antes mesmo de sair da cidade e ir pelo mundão afora, deixar minha marca em Blackthorn! Mas eu acabo só atraindo problemas, e ai de quem estiver por perto." Fiz uma pequena pausa enquanto Nevasca arrotava novamente. "Claro, não que eu vou parar de ser assim, jamais! Mas assim, desculpa, tá bom? Se você quiser finalmente fazer um longo monólogo sobre a arte milenar dos pontos de tricô, eu e Nevasca vamos escutar quietinhas, prometo."

A cena da menininha comovida com seu recém recebido ovinho chegou a encher os olhos do ranger grandão de lágrimas, soltando um arzinho orgulhoso de dever cumprido, ele se virou pra frente e voltou a trabalhar em sua cabine enquanto os meninos saíam de cena.

Na saída, quando Lola para para se explicar Ricardo, o menino parecia extremamente incomodado, desviando o olhar o tempo todo. Será que ele realmente não esperava um pedido de desculpas?! No entanto, quando Lola falou sobre pontos de tricô, o menino arqueou a sobrancelha. - Pontos de tricô? - Perguntava, e balançou a cabeça em negativa rapidamente, como se ele se recuperasse de um transe. - Não, menina. Você entendeu tudo errado. Não quero tricotar, eu queria batalhar! - Explicou. - Olha, eu não posso sair da cidade, meus pais dizem que só posso fazer isso depois de terminar o ensino médio, torneios como o que foram adiados são minha única chance de batalhar. - Suspirou. - Mas os construtores não param de brigar, então parece que tudo vai levar uma eternidade... - Pontuou, até que um grito desesperado de uma multidão que corriam na direção oposta da Dragon's Den começou.

- BASCULINNNNNNNNNNNN!!! - Gritavam, desesperados.

Bom, não seria uma batalha épica, afinal de contas, um Basculin não deve gerar tanto problema, mas era o suficiente para incendiar os olhos de Ricardo, que saía correndo com um sorriso empolgado no rosto na direção oposta da multidão. Bom, Lola, aí está sua deixa! Se torne uma heroína e salve a cidade de uma malvada, temível e horrenda... PIRANHA!

Era admirável o empenho de Moleque-de-touca em não admitir seu amor por tecidos decorados em degradê. Eu já ia explicar que tava na hora dele se desfazer daquela masculinidade tóxica, mas fomos impedidos por uma das minhas atividades recreativas favoritas: uma multidão em polvorosa gritando. Só pra me enturmar, também gritei BASCULIIINNN devolta pra galera que passava pela gente.

"Tá sentindo, Nevasca? O cheirinho de oportunidade?" Pra minha surpresa, foi Moleque-de-touca quem correu primeiro. Eu era capaz de entender a situ dele, eu também tinha pais que só há alguns dias me deixaram sair numa aventura. E apesar de todos os rolês que terminaram em enrascadas naquele dia, agora surgia outra chance única: o lucrativo negócio da pescaria. Saquei a vara de pescar -- magicamente compactada na mochila -- e comecei a correr também. "Bora, Nevasca! Pega o peixe, pega!"

Mas, enquanto eu andava, fui tentando desvendar que tipo de ameaça um Pokémon aquático poderia oferecer em uma cidade terrestre e montanhosa. As opções eram gloriosas: talvez um raríssimo caso de evolução biológica com um enxame de Basculin voadores? Ou então um Basculin com as duas listras de cores, azul e vermelho, igual aqueles joguinhos dos anos 90? Ou talvez um Basculin participando de um reality show de namoro em busca de uma pretendente frufru? Nesse caso...

Fiz uma pequena pausa pra pegar um toquezinho especial no bolso do meu macacão: um lacinho cor-de-rosa. Nevasca não parava quieta, mas finalmente consegui colocar o adereço na querida.

"Vamos lá conhecer seu garanhão", cantarolei animada e continuei saltitando na direção do caos.

OFF¹: amigo, será que eu poderia acrescentar essa particularidade do lacinho na Nevasca? vi que tem essa seção na box e seria só pra condizer com as artezinhas, mas se não for o caso, posso editar o post!

Particularidade:

OFF²: e sim, acabei decidindo em fazer uma artezinha decorativa pra cada post... vamos ver se eu aguento! -q

A incrível capacidade de Lola de se enturmar em meio a confusão era no mínimo, admirável. A multidão corria assustada da Dragon's Den gritando louca de medo? Lola também! Se saíam correndo atrás do motivo de todo mundo sair correndo, ela ia atrás! Chamando sua fiel escudeira, partiam a dupla da nevasca esverdeada para a origem de todo o tumulto. Demorou um pouco pra chegar, mas não era muito difícil deduzir de onde o povo tava vindo, já que a todo momento alguém tentava evitar o dito cujo local.

Ao chegar na frente da entrada da Dragon's Den, Lola podia reparar a presença de um pequeno lago cercando a entrada, onde Ricardo acabava de ter seu Litwick nocauteado pelo Basculin, que batia sua calda na água e jogava água no menino, rindo dele no processo.

- Ora, seu...! - Reclamava.

Enquanto isso, moradores jogavam carne e alguns outros peixes mortos no lago, na intenção de atrair o Basculin para a rede, mas advinha? O bicho rebatia tudo na cara dos moradores com sua calda, e ficava nitidamente incomodado com a tentativa. E a situação permaneceu assim por alguns minutos, até que o peixe se afastou e tentava, aparentemente, pegar uma Oran Berry num galho, mas nunca pulava alto o suficiente para retirar a fruta do galho.

O que Lola faria?