Episódio 1: A heroína da cidade

Ovo de Purrloin
Progresso: 08/--

Eu não podia acreditar. Minha primeira batalha... vitoriosa! Quer dizer, é claaaro que eu sairia vitoriosa, mas ainda assim, não tinha como não ficar feliz. Ainda mais tendo feito tudo aquilo sozinha! Ou quase. Eu tinha que dar crédito pra quem merecia, né? Então...

"Clefairy fortão, você foi incrível!" dou um abraço de urso naquela coisa rosa bombada. "Eu te amo, Clefairy fortão, eu te amo." Em meio meu desabafo emocionado, Moleque-de-touca se aproxima com a empolgação inicial já se esvaiando, e é aí que percebo a plateia. Faço uma reverência longa e pomposa para todos: "De nada, de nada, agradecemos pela presença no nosso show, a taxa de pagamento pode ser paga via Pix, anotem aí..." mas logo sou interrompida. Me viro para Moleque-de-touca com um joinha: "A gente mandou bem!" Com a permissão dada para que eu capturasse o peixinho, meus olhos brilham e lhe dou um tapinha nas costas. "VALEUZÃO!"

E aí que corro para Nevasca, vindo em direção até mim com uma pose vitoriosa (e enxarcada) digna de um filme de super-herói. Dou um abraço e giro com ela no ar, saltitando. "Quem é a Swinub mais fortona dessa cidade, quem é? Quem é? É VOCÊ!" Dou um beijinho em seu cocuruto. "Você arrasou, meu neném! A primeira vitória de muitas, obrigada!"

Minha atenção enfim se vira para o peixe glorioso. Ao assisti-lo olhando de soslaio para a árvore e a rejeição pela carne... Não era possível... ERA? Naquele momento, tudo faz sentido. Eu sei exatamente o que ele está querendo dizer:

"Basculin, eu te entendo. Você estava apenas tentando nos avisar dos perigos que nós, enquanto humanidade, teremos que enfrentar caso sigamos nessa jornada de destruição do planeta em busca de recursos não-renováveis! Era tudo um MANIFESTO AMBIENTAL SOBRE O ESTILO DE VIDA SUSTENTÁVEL! E eu te apoio, meu querido." Emocionada, levo uma mão ao coração e anuncio: "Se você quiser se juntar à mim, eu prometo que me dedicarei a defender sua missão, inclusive te apelidando com algo que deixe essa mensagem bem clara. Eu te chamarei de... Proteína de Soja. #ComamPlantasENãoVaquinhas. #NãoJogueLixoNoDragon'sDen. #HambúrguerDeSojaTambémÉGostoso!"

Triunfante após anunciar as hashtags de engajamento da nossa futura campanha para quem quisesse ouvir, eu ergo minha primeira PokéBola de captura. O nervosismo até me abala um pouco, não vou mentir, mas não deixo que atrapalhe o momento mágico. Lanço-a com confiança para conquistar meu primeiro peixinho!

OFF: amigo! se a captura rolar, queria acrescentar a seguinte personalidade do querido peixinho (depois penso na particularidade, algum adereço tipo o lacinho da Nevasca):

personalidade :

Eu. Não. Acredito. O PEIXINHO É MEU! Alço a Pokébola para o alto numa pose vitoriosa, admirando seu brilho refletir com a luz do Sol.

"Não se preocupe, Prô. Nós vamos reconstruir esse mundo com o veganismo, pelo bem ou pelo mal." Com aquela promessa, guardo a esfera na mochila e volto a pegar Nevasca no colo. QUE DIA! Não só eu tinha virado mãe de Egg, agora também tinha capturado um Pokémon com uma missão ambientalista.

"Bora lá, Moleque-de-touca. A Nevasquinha precisa de um descanso também." Ao dizer isso, decido segui-lo para o Centro Pokémon. No caminho, vou dando uma refletida em como tanta coisa já tinha rolado em apenas poucas horas... Será que toda jornada era incrível daquele jeito? Bom, eu não tinha do que reclamar. "Ei, vem cá, lembrei de uma coisa... E o tal torneio, hein? Será que vai rolar mesmo? Tô achando que falta um troféuzinho na minha coleção pra sair de Blackthorn com o pé direito!"

"... e também muito ouriçada", comento, lembrando do rebuliço que acabou de acontecer por causa do Proteína de Soja. "Brigam por qualquer razão, mas acabam pedindo perdão."

Ignoro o olhar confuso de Moleque-de-touca — quem manda não ser capaz de perceber quando eu quebro a quarta parede? — e já trato de bolar um plano. Se as coisas continuassem com aquela torta de climão, o campeonato não ia rolar era nunca! E eu não tinha esse tempo disponível, afinal, eu tava no caminho pra me tornar uma LENDA.

"Escuta, Moleque-de-touca, agradeço por você ter vendido sua alma pra mim com essa parada de fazer qualquer coisa, porque já sei o que vamos fazer." Arranjo um papel qualquer e saco meu kit ultra advanced plus de lápis de cor da Smeargle-Castell com incríveis 84 cores (até as que ainda não foram descobertas!) e começo a rabiscar. Meu esforço leva uns 10 minutinhos, até que finalmente termino minha obra-prima e mostro pro garoto. "TCHARÃM! Que tal, hein? Fala dela!"

O que tenho em mãos é um cartaz que representa em qualidade MUITO FIEL E REALISTA (sem querer me gabar) o campinho de treinamento com os dois construtores brigões finalmente fazendo as pazes e sorrindo, de mãos dadas. Ao redor, rabisquei toda a galera que conheço daquela cidadezinha: tem eu e Moleque-de-touca com nossos monstrinhos, tem meu pai e meu outro pai, tem a menina que colou chiclete na minha cabeça na creche, tem a menina que eu dei um socão na fuça achando que era a menina que colou chiclete, tem a enfermeira Joy, tem o C. A. L. V. O., tem o dono da quitandinha... tem até espaço pra desenhar as crianças com a Síndrome do Swinub Doidão! Tudo isso com um letreiro que diz "BLACKTHORN É UMA CIDADE UNIDA E FELIZ!"

"Seguinte, a ideia é mostrar o quanto a nossa comunidade é próxima! Não é uma fofura? Não parece um filme?" explico com empolgação. "Vamos fazer cópias e sair espalhando esses cartazes por aí, chamando toda a galera pra ajudar. Aqueles dois chatões vão ter que abrir mão dessa briguinha quando TODO MUNDO aparecer pra ajudar! Fora que a gente vai fazer o trabalho muito mais rápido assim!" Mal espero a resposta de Moleque-de-touca e já começo a me arrumar pra sair. "O que tava faltando era BARULHO e PERSUASÃO. E vamos combinar que esse é meu forte, né? Ainda mais agora que sou conhecida por aqui como a Domadora de Feras Aquáticas."

Não tinha certeza se aquela alcunha estava mesmo oficializada, mas saio do Centro Pokémon assim mesmo com o cartaz em mãos e já gritando pra quem eu via: "Ajuda, gente! Vamos todos reconstruir a pracinha que amamos tanto! TEM CRIANÇA CHORANDO! Eu vou chorar bem aqui na sua frente se você não ajudar, quer ver? FALA DUVIDO! FALA DUVIDO AGORA!"

"Se você faz parte de uma seita", começo, apontando pras roupas do sujeito, meio desconfiada. "já vou logo avisando que não quero nada não, moço. O que eu tô fazendo aqui é um projeto social, tá vendo? Ô, Moleque-de-touca, vem cá!"

Aponto para que meu lacaio favorito se aproxime quanto brado e aponto pro cartaz que desenvolvi. "A gente precisa reconstruir a pracinha, tá vendo? Senão eu não vou conseguir participar do campeonato, não vou conseguir provar que a Nevasca é a coisa peluda mais poderosa que Blackthorn já viu, aí não tem mais troféu, aí não vou conseguir provar pros meus pais que sair de casa numa jornada foi uma boa, aí não vão me nomear A Lendária Garota da Cidade dos Dragões, não vou aparecer na TV, não vão fazer documentários sobre mim, não vou entrar pro recorde de Treinadora mais rápida e mais jovem a receber uma medalha desde que saiu numa jornada, minha vida vai ser uma vergonha e eu vou ter que me encolher e sumir. Entendeu?" Suspiro, recuperando fôlego. "Então, moço, se puder deixar a gente continuar com a nossa campanha..." digo, esperando o que ele vai dizer depois de analisar nosso cartaz. É brincadeira, hein? Logo no primeiro que abordamos, é um esquisitão...

OFF: TÔ VIVO! desculpa!!! D:
nem te conto, fui fazer uma torta de limão e deu muito errado
mas estamos de volta!!!

Não posso acreditar no que acabei de ouvir. Não posso... porque tô feliz DEMAIS!

"NÃO ACREDITO! Você ouviu isso, Moleque-de-touca?" Começo a pular, empolgada. "É exatamente o que eu precisava! A coisa que faltava pro começo da minha jornada... UM RIVAL! E ele é tão babaca quanto eu poderia querer!" Dou uma giradinha de felicidade. "Isso só vai deixar mais gostoso na hora de esfregar aquela careta no asfalto! Bora lá acabar com ele, Moleque-de-touca!"

Eu tentaria puxar Moleque-de-touca pelo braço pra que não perdêssemos tempo, mas de qualquer forma, eu estaria embolando uma bolinha de papel usando o cartaz; depois, usaria a melhor pontaria possível pra acertar bem no cocuruto do Metido da Seita dos Dragões.

"Ô, Metidão!", começo a gritar: "Se você é tão bonzão assim, só posso dizer: DE NADA! Já que foi a mamãe aqui que cuidou do Caso Basculin!" Será que já tínhamos chegado na pracinha? Bem, quem sabe se a gente começasse uma briguinha na frente dos construtores, isso os motivasse a terminar a obra logo...