~ O que é uma Aventura? |02| ~

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Os braços de Hearthome sempre estão abertos para receber novos visitantes, como Leander e Notredam, tanto que a cidade possui até mesmo um ponto turístico onde se celebra a diversidade cultural do Mundo Pokémon. Afinal de contas, não é à toa que recebe o título de "Calorosa e Gentil", pois foram as qualidades que contribuíram para que ela fosse erguida desde sua concepção, com um forte apreço pelas relações entre Pokémon, entre humanos e deles entre si.

O ar bucólico desta cidade não seria tão estranho para um nativo da rural Celestic, acostumado às paisagens verdes e a brisa morna. Porém, é certo que outros elementos, sim, seriam diferentes aos olhos de Leander, como a arquitetura que não era tão tradicional e antiga quanto em Celestic, principalmente pela mistura cultural em Hearthome; além de boa parte das ruas e avenidas terem a pavimentação em dia, dada a importância econômica e comercial desta cidade. Apesar disso, os sentidos do rapaz já estariam mais familiarizados com quase tudo em seu segundo dia.

Em sua estadia, assim como qualquer treinador Leander teria feito do dormitório do Centro Pokémon seu lar temporário e, consequentemente, seu ponto de partida - privilégios concedidos pela Liga Pokémon. Então, era diante das portas automáticas do Centro que ele encontrava o primeiro dilema: para onde ir e o que fazer?

Tinha, literalmente, uma avenida de possibilidades aberta à sua frente. Nos fundos do Centro Pokémon, Leander teria ouvido por boatos, quase sempre haviam batalhas amistosas entre jovens que queriam aprimorar suas habilidades. Não muito longe dali, entretanto, o Contest Hall erguia-se imponente, especialmente hoje atraindo treinadores e espectadores para uma grande diversidade de atrações, artísticas ou não, prometidas em cartazes pela cidade e que durariam vários dias. Fantina em pessoa frequentaria o lugar às vezes. Por falar nela, infelizmente seu Ginásio ainda é um pouco fora de cogitação para nosso protagonista e imagino que, pelo seu histórico de conhecimento, ele saiba disso: na escala da Liga, Fantina é uma líder de alto nível para ser desafiada! Ainda assim, nada o impedia de ir lá visitar e interagir, quem sabe até assistir uma batalha ao vivo.

No mais, a cidade em si era inteira um campo de exploração, pois a fauna local é muito bem recebida em Hearthome, então é comum ver Starly e Swablu tomando sol nos peitoris e nos terraços, tanto quanto é comum tropeçar em Glameow se esgueirando pelas esquinas, ou ver Aipom catando comidas por aí. É claro que essa mesma fauna muda à noite, dando lugar à Murkrow, Houndour e, há quem diga, até fantasmas! Mas, também há de se dizer que para encontros com Pokémon selvagens e batalhas mais calorosas nenhum lugar será melhor que os parques e as zonas menos urbanas, às margens da cidade.

Apesar da habilidade de levitação de Notredam, acho que ainda podemos dizer que o céu é o limite! Mas só por enquanto.

Talvez tenha sido a distração, somada ao fluxo de pessoas indo em direção ao hall e que, eventualmente, podem ter "empurrado" Leander e Notredam para fora da rua principal. Aí, quando deram por si estavam cada vez mais distantes da barulheira que vinha do Contest Hall, em áreas onde seus pés já nem mais encontravam asfalto e seus olhos edifícios, mas sim paralelepípedos e casinhas, respectivamente. Sinais de uma zona menos urbana, mais residencial.

Dali, rumando cada vez mais em direção ao norte de Hearthome, finalmente viram as casas se tornarem mais espaçadas e os limites entre uma rua e uma calçada sumirem de vez. Estavam claramente sendo atraídos pelo verde da paisagem que crescia a medida que os minutos de caminhada passavam indo naquela direção.

Assim, quando as vistas da cidade ficaram mais distantes às suas costas, encaravam de frente um belo e convidativo bosque se estendendo para além de onde a vista alcançava. "Bolsas" cor de rosa (Burmy) penduradas nas árvores tingiam de outra cor os monótonos verdes na paisagem na cena que era, até certo ponto, pacífica graças aquele trio de Swablu que tomava sol sobre a grama na clareira a direita do rapaz, e também era alegre quando se via, a esquerda, um par de Buneary saltitando em volta de um arbusto repleto de pequenas flores. Porém, ainda havia algo a incomodar o ambiente selvagem: um som claramente humano...

– Saaaai! Chô! Chôôôô! AI! – alguém dizia aos berros e numa voz feminina e tão distante que podia passar despercebida, além de vir de algum lugar relativamente bosque a dentro.

Pela direção e pelo olhar de Notredam - com suas capacidades psíquicas - dava para dizer que vinha de algum ponto a frente dos nossos aventureiros, mas só de olhar ainda não dava para localizar a fonte, o que significava que, se quisessem descobrir, teriam que adentrar mais naquele bosque. Por outro lado, podia não ser nada assim tão grave, já que as criaturas na volta pareciam alheias ao caso e, bem, não é como se houvesse um claro pedido de "socorro" no ar... Mas, uma nova decisão precisava ser tomada.

Havia uma diferença sutil entre o começo do bosque onde o rapaz esteve para a área mais adiante, com cerca de três minutos de caminhada a partir da borda. Ali naquele ponto as árvores e os arbustos eram um pouco mais numerosos e altos, dando a sensação de que a mata abraçava cada vez mais quem entrava, além de também se esforçar para que o verde tomasse a vista de tal modo que os topos dos edifícios da cidade mal pudessem ser vistos no horizonte.

Os sons podiam também serem característicos desse ambiente natural, mas neste caso aqui eram todos superados pelas exclamações da humana que se tornava cada vez mais próxima, consequentemente atraindo nosso protagonista para lá e afastando as criaturas dos gritos, exceto por um e outro Pokémon que ousava se esgueirar pelas sombras para bisbilhotar o acontecido.

Não demoraria para que Leander encontrasse a fonte daquele distúrbio e a cena era a seguinte: uma mulher de olhar assustado e bravo estava recuada, com as costas bem coladas no tronco grosso de uma árvore; ela olhava fixamente para um ponto a sua frente, para o qual agitava um pedaço de pau que tinha nas mãos toda vez que gritava "Chô! Sai!"; ora seu alvo estava no chão, ora voava e conseguia alcançar alguns pontos para bicar a mulher, resultando naqueles "Ai!".

Tratava-se de uma senhora com todo o combo de características de uma vovó, sobretudo os cabelos brancos e as rugas [imagem ilustrativa], além de um volume alto nas costas que parecia uma corcunda bem anormal. Quem ela insistia em afastar era um Starly que, a julgar pelo olhar, não parecia estar agindo por pura agressividade, mas sim tentando alcançar alguma coisa que a mulher tentava proteger.

– Ei! Menino! Que bom que alguém apareceu... Me ajudem aqui! – ela avistou Leander e Notredam a alguma distância e agora sim pedia ajuda –  Esse pestinha não me deixa em paz! Chô-chôôô!

Hearthome – Manhã | 23ºC – Leander

Mesmo sob um suposto ataque a mulher parava de reagir para olhar com um certo ar de indignação na direção de Leander. Não era um olhar de raiva nem nada, apenas de surpresa por ele ter questionado antes de reagir.

– Mas o que...?! Eu tava voltando pra casa, ora bolas! E tenho saúde suficiente pra andar sozinha! – também havia uma leve indignação no seu tom de voz.

Em tempo, quando o rapaz falou ele também marcou sua presença naquela cena, atraindo a atenção do Starly que simplesmente parava de afligir a mulher, pousava quieto e recuava alguns bons passos. Não precisaria muito para interpretar essa cautela como o Pokémon reconhecendo estar em desvantagem ali, sozinho entre humanos. Talvez por isso ele começava a piar, repetidamente e alto.

– Uff... Obrigada mesmo assim. Parece que ele parou... Venha, Romildo, vamos nos mexer antes que ele volte ou chame os amigos. – a senhora murmurava, dando palmadinhas no próprio ombro, fazendo sua corcunda se remexer!

Por debaixo do casaquinho da mulher um Pokémon rolou para baixo, reduziu a velocidade de queda a centímetros antes de atingir o chão e então pousou seu corpinho rechonchudo. Era um Volbeat com as cores mais desbotadas que o padrão, provavelmente como reflexo da idade avançada. Enfim, a velha senhora se afastou da árvore acompanhada de seu Pokémon, mas ainda olhando aflita de Starly para Leander e vice versa.

– Cuidado, mocinho, se quer evitar batalhar. Romildo só tinha comido uma fruta quando esse pestinha começou a atacar... Eu nem vou catar mais fruta alguma, acho que vou é pra casa. – ela resmungou, contando mais uma parte da sua versão – A não ser que, de repente, você me ajude com isso. Não é nada demais, só um punhadinho de frutas pra sobremesa... – suspirava, coçando os olhos por debaixo dos óculos de um modo que evidenciou a velha e brilhante aliança de casamento em seu dedo.

Enquanto a mulher caminhava para mais perto de Leander, Starly seguia emitindo seus pios no mesmo ritmo. O som soava como um pedido de ajuda, mas se era mesmo isso não estava surtindo o efeito esperado porque, neste ambiente natural, se outros Starly fossem atender ao chamado já estariam ali num piscar de olhos, não é?! Será que o Pokémon era tão esperto assim que estaria blefando? Ou era só uma fachada de durão... Sendo ainda menor que Notredam e Romildo, o velho Volbeat.

Hearthome – Manhã | 23ºC – Leander

– Tudo bem, tudo bem... – a mulher gesticulava com a mão livre tentando amenizar a situação – E obrigada pelo "simpática", é muito gentil da sua parte. – enquanto falava a mulher também se afastava uns passos por notar que uma batalha estava prestes a ser travada ali – Não se preocupe... Faço esse caminho às vezes. Meu neto trabalha nas obras aqui perto. De dia quase nunca tive problemas com os Pokémon, mas hoje esse pequeno me achou pra encrenca. – contou um pouco mais do caso.

Àquela altura Starly já estava entendendo a mensagem e a postura de Leander, tinha até parado de piar e inclinava a cabeça para um lado enquanto a coisa toda se desenrolava. Mas, foi só quando Notredam flutuou mais a frente é que a ave finalmente compreendeu e aceitou que estava sendo convidado para uma batalha. Starly bateu asas e planou alguns centímetros do chão, antes de pousar e, ainda de asas abertas, piar alto para tentar intimidar seu adversário.

Hearthome – Manhã | 23ºC – Leander