~ O que é uma Aventura? |02| ~

Assim como o almoço, a sobremesa ía entre conversas. Em instantes, da exuberante cheesecake restaria pouco menos da metade. Quando todos estivessem satisfeitos a mesa seria retirada mais uma vez, agora pelos irmãos, deixando Berta livre para ir se sentar em sua poltrona na sala de estar, logo ao lado. Minutos depois o jovem Tim se juntaria a ela, encontrando um sofá confortável para se atirar e jogar um videogame portátil.

– Misdreavus?! – o comentário de Leander não passaria despercebido por Tom – Ah, eu não duvido. A mulher é uma especialista em Fantasmas, deve mesmo saber como lidar com eles. Até porque Misdreavus são relativamente comuns aqui, à noite.

Por falar no tempo, tinham almoçado já após o tradicional meio do dia, o que significava que encontravam-se já pelo meio da tarde. As sombras haviam mudado de direção e a temperatura subido alguns graus, mas este último detalhe mal era percebido naquela zona rural, graças às árvores do entorno.

– Café ou chá? – o rapaz oferecia, ouvindo da cozinha o chiar da chaleira.

Como barriga cheia costuma ser sinônimo de preguiça e cochilo, assim como os humanos, os Pokémon também se dispersaram. Romildo e Kricketot tinham acompanhado seus donos e agora relaxavam sobre o tapete da sala. Timburr tinha ido se acomodar na porta dos fundos e dormia recebendo a brisa morna do quintal. Starly faria algo parecido, mas encontrou para si um lugar na janela aberta da sala. Notredam permaneceu ali por perto de Leander, enquanto Shellos...

– Oh! – a exclamação de surpresa veio de Berta que, mesmo distraída, reconhecia de longe o som de uma pokébola.

Isso é, retorcedendo alguns segundos...

Shellos estava naquele mood preguiçosa, de barriga cheia. Tinha se aproximado de Leander caminhando sobre a mesa, enquanto o rapaz devaneava sobre Misdreavus. Bem, ele tinha dito a aquática onde encontrar a pokébola que era dela, não é?! Então ela procurou e encontrou. Claro que em algum momento o rapaz veria tudo acontecer, afinal estava literalmente debaixo de seu nariz. Mas, pronto, Shellos tinha tomado a liberdade que lhe fora dada e agora oficialmente aceitara o convite. Entrou na pokébola antes de tirar seu cochilo, como uma forma de assegurar que Leander não sumiria de sua vista quando ela estivesse dormindo.

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– Bem, parabéns por conquistar Shellos. Torço pra que façam uma incrível jornada, juntos. E serão sempre nossos visitantes de honra, bem vindos por aqui. – a senhora comentava com um sorriso gentil depois de observar a cena.

– Isso aí! Agora, como falávamos... – Tom retomava o assunto enquanto servia uma xícara de café para a avó e entregava uma com chá de [fique livre para inserir um sabor tradicional da preferência aqui] – Mesmo Fantina começou leiga em muita coisa, não é?! Até ouso dizer que o interesse dela em conhecer melhor os Fantasmas possa ter começado com seu fiel Drifblim. Ao menos me parece um movimento bem natural esse.

– Vocês, jovens, não precisam se focar em nada por mera obrigação, não. Vivam suas vidas e suas aventuras tranquilos, desfrutando de cada momento e situação, indo por onde os agradar. Os desejos e conhecimentos virão naturalmente. Com o tempo saberão reconhecer os caminhos que trilharam e o que se tornaram. Digo por experiência própria. – Berta aconselhava em seu tom sábio – Mas é importante também saber ter paciência. – e aqui ela deu um olhar demorado no neto mais novo.

O tempo continuava a passar, com o sol arrastando o entardecer rumo ao horizonte, ensaiando a saída que em algumas horas ele faria para dar lugar ao luar da noite. As bebidas já tinham terminado ou até esfriado nas xícaras quando Tom lançou a pergunta para Leander:

– Se me permite a curiosidade... E depois de Hearthome, pra onde você vai?

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– Ah, claro! Monte Coronet. Não é tão longe daqui, realmente. Definitivamente é quase um ponto turístico de Sinnoh. – o mais velho comentava com empolgação.

– A escola já levou a gente até lá num passeio. Mas não entramos em carvernas e nem subimos na montanha. É legal. – o pequeno comentava distraidamente.

– Umhm. E não se preocupe, Starly e Shellos ficarão bem e satisfeitos enquanto estiverem com você. É parte do ser treinador e criar bons vínculos com seus Pokémon. – interviu Berta, atenta às minúcias da conversa – Romildo já me acompanhou e me protegeu em cada lugar que ele com certeza nunca teria ido por vontade própria. – ela tinha se levantado e se aproximado da lareira, estendendo a mão para a prateleira acima do buraco e tirando dali dois retratos, que estendeu para Leander.

Em um mostrava uma Berta muitos anos mais nova, talvez na idade que Leander e Tom tinham agora. Romildo voava pouco acima da cabeça dela, também jovem e cheio de vigor. Ao lado deles havia um homem de cabelos castanhos e óculos, tão jovem quanto a moça - até ali ainda eram apenas namorados - e o rapaz tinha nos braços uma Illumise emburradinha. O cenário era marcado pelas paredes rochosas de uma montanha, mas o fundo era um céu azul repleto de nuvens que dizia que estavam nas alturas.

A segunda foto carregava um pouco da essência alegre e descontraída da primeira, exceto pelo fato de que ali todos pareciam ter sido pegos de surpresa por uma forte ventania, pois Berta segurava um assustado Romildo que era carregado pelo vento para além das grades do convés de um navio, enquanto o homem e sua Ilumise ao lado riam. Estavam em alto mar.

– Bem, antes que escureça de vez... – Berta tinha um sorriso saudoso no rosto e também um leve desejo de não se perder tanto nas lembranças – Vamos, meninos, não nos atrasemos pra nossa tarefa. Apesar do jovem Leander aqui, ainda temos algo a fazer hoje, não é?! – ela se agitava um pouco e saía pela sala massageando os ombros dos netos como se isso fosse transmitir seu ânimo para eles – Inclusive, aproveitamos a presença do jovem... Isso é, se quiser ficar, é claro. Coincidência ou não hoje é o dia que nós fazemos arte!

– É, armamos as coisas no quintal e pintamos ou desenhamos, basicamente. Se quiser ficar e participar... Aproveita e me ajuda a montar as coisas. – parece até que quando ele fez essa última oferta, Tim ergueu as mãos em agradecimento, sugerindo que isso iria tirar a função do mais jovem.

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– Vem, vamos ali em cima então! E Tim, não pense que vai escapar, já vai organizando os bancos no quintal pra gente.

Tim revirava os olhos com o pedido, mas não protestava e após desligar o jogo já se levantava do sofá para agir. Tom por sua vez fez sinal para Leander acompanhá-lo através das escadas, rumo ao segundo andar da casa. Lá em cima era possível ver uma área mais estreita com ao menos quatro portas espaçadas entre si. Só uma delas tinha a porta aberta, dando vista para um cômodo que, pela decoração, dava para dizer que era o quarto de Berta.

– Espero que não estejamos tomando seu tempo. Por coincidência hoje é o dia que nós, netos, visitamos a vó pra fazer companhia e dar uma distração pra ela. – o rapaz admitia em um tom de voz mais baixo, deixando subentendido também que não moravam mais ali com ela – Sabe como é, pra manter os sentimentos e a mente dela ativos e tal. Fazemos algumas vezes na semana e da última vez tinhamos combinado de pintar com ela.

Enquanto falava, agia. Tom ía até uma porta mais isolada e a abria, revelando um cômodo estreito, mas com uma janela bem ampla que dava para os fundos da casa. Sem muitos rodeios: estava uma bagunça! Mas certamente era a "bagunça organizada" da moradora. Uma mistura de escritório com depósito e também sala de pinturas. Algo bem multifuncional.

– Vamos lá, hora do trabalho em grupo! Deixa eu ver, acho que vamos precisar... – ele abria as cortinas para que a luz da tarde iluminasse o ambiente e ajudasse a encontrar os objetos lá dentro – ... cavaletes, telas, paletas... os pincéis, é claro... Não fiquem aí parados! – falava para os Pokémon, é claro, que tinham seguido seus treinadores até ali.

Tom apontava os materiais que listou. Ele e seu Timburr se abaixavam diante de um armário próximo ao chão, de onde tiravam cavaletes e telas brancas de tamanhos diversos. Pincéis e paletas ele tinha indicado que estavam guardados na parte superior de um armário na parede oposta, onde talvez Starly e Notredam pudessem alcançar com ajuda de Leander. As tintas eram um detalhe à parte, pois pareciam espalhadas por vários cantos e superfícies da sala, até mesmo junto a quadros que Berta tinha usado recentemente ou ainda estava pintando - belas paisagens da sua janela e Romildo, por sinal -, mas de repente Shellos pudesse encontrar alguns frasquinhos que Leander pudesse ajudar a reunir depois.

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– Muito obrigado pela oferta e compreensão. Graças a Arceus a Dona Berta está ótima de saúde, tirando o joelho que se tornou um incomodo de uns meses pra cá, mas dos males os menores! O que fazemos por ela é mais pelos sentimentos, mesmo. Nas palavras dela: "os dias se tornaram muito longos, com muito pouco a ser feito", ainda mais por ela ser tão ligeira em tudo que faz.

Enquanto Tom aprofundava no assunto Berta, a salinha bagunçada ganhava vida. O próprio rapaz e Timbur já tinham feito uma distinta pilha de madeira com os cavaletes, os quais o Lutador começava a levar para o andar de baixo, um a um, pela escada.

Ao lado, Notredam e Starly também faziam sua pilha de objetos, mas com paletas de tamanhos e manchas diversas. A dinâmica era bem simples ali, pois o Voador se aproveitava do tamanho para literalmente entrar no armário, de onde empurrava os objetos que Notredam habilmente aparava e conduzia até o chão com seu conveniente poder psíquico. O único contratempo possível ali era de que Starly se empolgasse e, sendo mais rápido, começasse a lançar mais objetos do que o Metálico pudesse dar conta de conduzir.

Para Shellos o ambiente era uma feliz novidade, mas ela estava pronta para ajudar apesar de não saber com precisão o que procurar. Foi só depois de ver Leander encontrar a primeira meia dúzia de frasquinhos de tinta é que ela entendeu a demanda e seguiu, o que foi uma tremenda sorte para o seu novo treinador pois muitos frascos de tinta estavam entocados entre as coisas da sala, atrás de móveis ou debaixo de outros quadros. Sem habilidade necessária para pegá-los, Shellos ao menos os indicava para Leander fazer bom uso dos polegares opositores e das articulações humanas.

– Enfim, moramos mais pro centro da cidade então não é nenhum problema vir lhe fazer companhia às vezes, e vice-versa quando ela não encrenca com a agitação da cidade. Eu até passo a noite aqui de vez em quando, já que é até mais perto da obra.

Os artistas não eram muitos e também não tão criteriosos assim. Por isso, em instantes já teriam encontrado e empilhado um bom número de telas, cavaletes, paletas e tintas que, por sua vez, estavam mais em variedade de tipos do que de cores, afinal Berta é a artista aqui e, bem, dê a ela as cores primárias, o branco e o preto e então veja mágicas acontecerem! Em todo caso, com a primeira organização quase terminando, logo precisariam coordenar o transporte do material até o quintal.

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