"Todos ao seu arredor te isolavam, tinham medo de você, o odiavam, tentavam inutilmente retirar sua vida. Eram monstros que apenas se arrependiam de sua existência, seus amigos eram monstros, seus pais eram monstros, seus irmãos eram monstros, mas e você... Que tipo de criatura horrendo você se tornou para que todos tivessem medo do simples fato de você existir?"
Capítulo Sete
OVERDOSE - Parte 2
Dolche caia de cara contra o chão, em um forte impacto, ao se levantar era possível analisar poucas partes do cenário em que se encontrava era nebuloso, uma fumaça cinza pairava sobre o céu. Ergueu o rosto para cima, fitando a melancólica paisagem, que lugar era aquele?
- Então, seu retardado, você lembra de algo? - Exclamava Amaro, ao seu lado, desta vez ele expressava raiva, muito raiva em seu semblante.
- Do que eu deveria lembrar? - Confuso, Dolche dirigia a palavra ao sócia mal-humorado.
- É sério isso? Argh, tudo bem - Balançou a cabeça negativamente, parecia estar decepcionado com a falta de memória do seu ''alter ego'' e então ergueu o dedo indicador para faixa de pedestres, aonde passam um pequeno grupo de crianças.
Entre elas estava Dolche e outras onze crianças totalmente desconhecidas caminhando, provavelmente para a escola, acompanhadas de um daqueles guardas de trânsitos com placas de "Pare" e "Prossiga", a cena se paralisava por alguns instantes.
Amaro virava a cabeça para o lado e percebia a reação do homem ao ''relembrar'' a cena, Dolche se via chocado, nem sequer poderia mover um único dedo ao ver a cena. De alguma forma, era como se sua cabeça fosse preenchida por pancadas e pancadas sobre sua mente, forçando as lembranças surgirem em sua cabeça pouco-a-pouco.
- A-A... - Gaguejava aos poucos, sequer conseguia soltar uma palavra.
- Humpfh - Amaro estalou os dedos e deliciou-se com a cena do sócia ao seu lado, nada melhor para ele do que ver a si mesmo voltando ao que era antes, no final do estalar, a cena dava continuidade, porém um pouco mais acelerada.
E ai adentrava a drama, Dolche soltava um berro e partia contra sua versão infantilizada para agarra-la, junto das outras crianças, porém era inútil, seu corpo passava pela delas, ele não podia fazer nada a não ser assistir. E ao virar-se para trás, era abalado pela cena, seu pequeno corpo esmagado entre a frente de dois caminhões de carga, apenas sua pequena mão estava do lado de fora, entre uma pequena brecha dos destroços, os dedos se moviam por alguns segundos e depois amoleciam, repousando sobre o chão até que uma vislumbrante e familiar luz vermelha ''explodia'' o local, tingindo o céu de outra cor.
As memórias acabavam por ali, e novamente Dolche e Amaro se viam no corredor branco.
- Não me ferra! - Gritava Dolche, partindo para cima do outro, agarrando-lhe a gola da camisa.
Este lhe devolvia com um chute na barriga, levando o jovem ao chão. Aproximou e pisou com força sobre o tórax do mesmo, tornando-o impossibilitado de levantar, uma vez que Amaro possuía uma força descomunal dentro daquele espaço criado por ele.
- Escute aqui, seu inútil, você esta vivo porque eu quero. Você respira porque eu quero que você respire. E você existe porque eu quero que você exista, então dá próxima vez que pensar em mandar eu me ferrar ou qualquer outra coisa que vier encima dessa sua cabecinha lotada de vermes escrotos, é melhor se preparar - Desferiu-lhe outro pisão no estômago, forçando Dolche a vomitar uma pequena quantidade de água, afinal não havia comido nada ou quase nada neste dias.
Algumas lágrimas escorriam sobre o rosto deste, pondo sua mão sobre os olhos tentou se acalmar e esconde-las.
- Eu ainda não entendi o que você quis dizer com ''quem eu sou'' - Dolche limpou as lágrimas e parte do vômito que jazia em sua face.
- A questão aqui, não é quem você é, mas o que você é, seu inútil. E isso é bem fácil de responder, então eu vou te dar ao luxo de escutar isso da minha própria boca - Amaro lhe encarou por alguns segundos, seu semblante havia mudado de raiva pura para um sorriso psicótico, e então proclamou - Você é, simplesmente, a ''Arca de Noé'' de todas as aberrações humanas que existem neste mundo, você é simplesmente aquele que vai carregar tudo em suas costas a partir de agora.