[In the fresh air, a ghost returns] - Route 120 -

Sabe, poderia esperar por um monte de coisas que interrompessem seu caminho (ou mesmo que o rapaz grudasse em si). No entanto, a que menos aguardava no momento foi justamente a que fez a garota parar com os passos e perder o chão... Literalmente. Ela piscou algumas vezes quando se viu no chão e, apesar de ter ficado receosa com a possível reação de seu Nidoking quando ele mostrou-se um pouco mais agitado com o esbarrão, não avançou e tampouco tentou espancar a... Criança?

Quando viu, o Rocket já estava ao lado de novo. Sinceramente, tentou ignorar totalmente suas frases (ou seja, só entendera alguns fragmentos das falas), então restou-lhe se apoiar nos cotovelos e assoprar um fio que escapou pra frente do rosto e torcer de leve o lábio, quase emburrada. Às vezes, até esquecia que ele era uma ameaça, considerando todas as reações e ações que provinham do maior – no entanto, tinha mais coisas a se preocupar no momento. Os orbes se esquivaram para a pequena e ela fez um pequeno gesto com a cabeça para o arroxeado, que se aproximou e apoiou as duas patas na criança, a levantando do chão e a encarando, dando cheiradas em seu cabelo e ombros para ver se era um bichinho ou se tinha algum doce por perto. O animal pendeu a cabeça para o lado e permaneceu com os orbes castanhos vidrados naquela coisa engraçada no rosto da garota, piscando algumas vezes e a balançando de leve de um lado para o outro em uma tentativa que ela parasse de chorar.

Ato bobo, talvez, porém foi o suficiente para que a ruivinha relaxasse um pouquinho – levantou do chão e bateu a poeira das roupas, coçando levemente o braço e fitando o Rocket com o rabo do olho por alguns segundos... Ele teria algum fraco com crianças? Uh.

Respirou fundo e procurou ver se vinha mais alguém dos lados de onde a garota saiu, antes de qualquer coisa. Meu santo, será que seria um ímã de confusões? Tsc, tsc.

- Ei... Relaxa. Tá tudo bem. – Os dedos? De leve, limparam as lágrimas da garota, que agora era afofada num abraço sem jeito do evoluído. Como visto, um manteigão. Mas ela se incomodaria? Esperava que não. – O que aconteceu com você? Você quer falar...?

off:

Não poderia estar mais agradecida pelo companheirismo de Zuby, tanto para defendê-la num momento rápido de colapso, quanto para auxiliar em uma tentativa de animar a pequena garotinha. Precisaria se lembrar de recompensá-lo depois, de alguma maneira... Ou será que ele o fazia mais estimulado ainda pela Stone? ...Nah. Seria mais agradável pensar num laço firme de amizade. Afinal, não era isso que estavam construindo por todas essas rotas? Ela afagou de leve a face do arroxeado, que cerrou os olhos e emitiu um som baixinho de agrado, baixando um pouquinho a cabeça e relaxando os ombros.

Por outro lado, os orbes se focavam na criança e o cantinho dos lábios se torcia com suas palavras. Seriam Rockets? Provavelmente. Não sabia se seria muito inteligente partir na direção daquilo ou algo assim, quer dizer... Não estava exatamente protegida por um time completo – dependendo do que eles trouxessem, poderia ser suicídio. Mas também não se sentia confortável ao pensar em ignorar aquela situação e deixá-los levar a melhor. Vai saber o que poderiam ter tentado fazer com aquela garota!... E, bem... Deixá-los livres pela rota? Ah, não. Não gostava daquela opção.

Ela também reparou no olhar levemente aterrorizado da pequena na direção de Richard e, apesar de ter quase certeza que se arrependeria depois, não queria deixá-la assustada com o homem daquele jeito, afinal, não seria muito melhor se ela fugisse e acabasse topando com novos perigos na rota. Tudo deveria ser considerado em uma situação como aquela, não? Um suspiro sutil e resignou-se a se aproximar um pouco do moreno... Apesar do olhar se manter um pouco arrisco.

- Está preocupada com esse tipo aqui? Não precisa. Ele parece meio assustador, não é? – Um riso meio sem jeito; Como era a única coisa ao alcance fácil das mãos, furtou-lhe a boina e a girou nos dedos, suave. Ajeitou um dos lados do casaco do rapaz... – No fundo, é um coração mole. Não vai te fazer mal, não é, Richard? - Naquele momento, encarou direto os olhos do rapaz. Bom, talvez aquilo fosse uma chance para se aproximar dela?... Era bom que ele não vacilasse. - Aliás, qual é o seu nome, pequena? – Aproximou-se novamente da garota, sob o olhar descrente de um Nidoking que chegou a coçar os olhos com as patas para ter certeza que estava vendo bem. Não duvido que a reação de certo morcego pudesse ser a mesma, porém... Naquele momento, a importância era o bem estar daquela pequenina, não? – O meu é Natalie. Muito prazer. – Um sorriso suave e os dedos afagaram as madeixas escuras com sutileza – Esses homens maus pegaram alguma coisa sua ou algo assim? Se você quiser, podemos tentar reaver.

A partir do momento em que foi praticamente obrigada a ter uma interação bem mais próxima e amigável em relação ao rapaz, tentou não manter o olhar nele por muito tempo. Não tinha muita certeza de como ele levaria aquelas coisas e, sinceramente, não queria pensar naquele tipo de “problema” por enquanto. Infelizmente, a garota não deixou os contatos passarem e branco e foi direto na pergunta que ela mais desejava evitar. De pálida, a face coloriu-se por completo com o carmesim, quase fundindo-se de vez com as madeixas da jovem. Sacudiu rapidamente a cabeça em uma negativa e inflou de leve as bochechas para tentar amenizar a vergonha, engolindo o ar que por ali se estancara.

- N-Não! Não somos. Ele... Ele é só... – As palavras sumiram. Afinal, o que ele era? Nada, teoricamente. Seria complicado falar isso sem eu a pequena voltasse a ter algum pé atrás com o maior, então perdeu-se no momento. Bom... Teve que revirar o vocabulário para tentar achar as palavras corretas, então a resposta foi mais simples do que supunha – ...Não temos nenhum tipo de relação romântica. – O tom foi baixo, mas antes isso que não existir resposta nenhuma. Certo?

Os lábios formaram um sorriso com a apresentação da menor... No entanto, se torceram quando esta constatou o roubo do Pokémon. Os dedos tocaram sua bochecha de leve quando reparou no desespero aflorando da criança – tinha consciência de como ela se sentia. Já havia sofrido muito por pensar que perdera seus companheiros e olha que não tinha sido só uma vez. Ocorrera com Ryo, com Spinda, com Zuby... Enfim, um rastro de azar perseguia-lhe como uma sombra indesejável. Cada um possuía sua importância; Como poderia ser diferente para alguém bem mais nova? Era de se supor que o carinho fosse bem maior, afinal, seriam os primeiros passos de uma infância.

Ela se ergueu.

- ...Levaram, é? Então a gente vai atrás. Não precisa chorar, Vic. Vai dar tudo certo. – Um sorriso de canto e uma carícia sutil nas madeixas da garota. Tinha consciência de que não estava com um time completo... Mas também queria confiar em seu time. E também tinha algumas poções para dar um auxílio nas batalhas, certo? Só restava torcer que não encontrasse oponentes extremamente fortes, ou estaria ferrada.

Richard ajudaria? Duvidava um pouco. Ele provavelmente não tentaria se queimar com a própria gangue.

Um suspiro sutil; Caminhou para a direção que a pequena acabara de abandonar. Zuby foi atrás, óbvio, apesar de já estar expelindo raiva só com as pequenas partes que pudera entender de toda a situação. Ainda teriam sorte de encontrar os responsáveis ou o animal estaria perdido?

off:

Considerando que já havia impedido uma nova leva de choro, estava até em certa vantagem. Richard podia não ser a melhor das companhias, mas pelo menos não atrapalharia (quer dizer... tinha esperança nisso). Era meio complicado andar com tanto mato, então não foi novidade a alegria em seu coração quando a paisagem mudou e ficou relativamente mais livre para a locomoção. Ela também não se preocupou com a suave distância do Rocket para consigo... Ele ainda estava ali, de todo modo, e não precisaria estar grudado para fazer alguma coisa. Até preferia aquela distância; Caso ele resolvesse se virar contra si e a pequena, teria uma pequena vantagem de espaço para montar alguma proteção. Ele também não sabia que estava em desvantagem numérica de pokémons.. E, sinceramente, nem precisava. Supunha também que a garota teria outros companheiros para se enfiar tão fundo naquelas bandas, então... Já seria útil o suficiente.

Quando ouviu os murmúrios e o sino, atentou-se um pouco mais e parou de andar por alguns segundos. Virou-se para Zuby e Victória apenas para colocar um dos dedos na frente dos lábios em um mudo pedido de silêncio – feito isso, continuou a andar, tentando ao máximo parecer menos óbvia possível a sua presença. Se tivesse pelo menos a capacidade de olhar em quantos estariam antes de fazer alguma coisa... Já seria alguma vantagem boa.

Certo?

Caso falasse que desejaria muito usar uma certa agenda eletrônica, estaria mentindo. A proporção de sua vontade em fazê-lo era extremamente maior do que um simples “muito”, no entanto, a voz do aparelho provavelmente os denunciaria antes do que planejava. Os lábios se torceram com sutileza e o coração se apertou quando o animal foi preso numa gaiola... Porém, seria burrice se jogar no meio deles de uma vez, então teve que permanecer quieta naquele momento.

Zuby se ocupou em fazer carinho nos cabelos da garota, bagunçando-os acidental e desajeitadamente, ao passo que a ruiva se abaixou e segurou uma das únicas pokébolas cheias que mantinha consigo. Aproximou o máximo o objeto do chão e, visto que o lugar onde o animal repousaria estaria bem mais próximo, fez a esfera se partir ao meio e liberar um rápido feixe luminoso que logo se findou ao esbarrar com o chão, dando formato ao quadrúpede de tons escuros. A voz tinha que ser bem baixa para que não acabasse chamando a atenção dos homens... Mas, considerando os ouvidos grandes de ambos os pokémons, acreditava que não teria tantos problemas com isso.


Com isso. Afinal, quase morreu do coração quando reparou numa animação extrema da raposa assim que seus olhos piscaram o suficiente para se acostumar à luminosidade do lugar e reparar no ambiente. Para ser sincera, já estava pensando que teria de correr atrás da espécime... Porém, os olhos desta se estreitaram logo a seguir. Não tinha certeza do que passaria por sua cabeça, no entanto, pareceu bem mais tensa do que estava a segundos atrás. Talvez por notar a tensão do grupo ou alguma coisa do tipo...?

A canina sacudiu a cabeça e bateu uma pata no chão, torcendo a mandíbula e rosnando baixinho. Por meio segundo, chegou a pensar que estaria livre em sua antiga floresta... Mas aquele não era seu lar. Era mais escuro, mais... Sombrio. E a atmosfera pesada que pairava por ali jamais existiria na Floresta da Felicidade. O focinho movimentou-se para o lado oposto e se movimentou com sutileza – um ganido quase inaudível e as orelhas se baixaram – limitou-se apenas à isto, e os afagos suaves da ruivinha entre suas orelhas a fizeram se tensionar por alguns segundos e fugir do contato; Não por muito tempo. Logo cedeu, afinal... Não adiantaria muito ficar mais frustrada ainda.

A garota só teve tempo de explicar a situação por cima, visto que não poderiam demorar-se; Os homens poderiam ir embora a qualquer momento; Já tinham Chimecho bem preso naquele projeto de jaula. Teria de agir mais rápido do que processar, infelizmente.

- Zorua, eu sei que você não se contenta muito com isso... Mas nós precisamos da sua ajuda. Você não quer que o Chim se machuque, quer? – Sentiu-se vigiada até a alma por aqueles penetrantes olhos azulados... Mas não esquivou os próprios e permaneceu séria. A raposa fez um “hnf” baixo e virou um pouco o focinho pra baixo, roçando uma das patinhas timidamente no chão. Ela poderia se zangar... Porém, aquele era seu ponto fraco. Iria ajudar, tinha certeza disso. – Zuby, quero que você fique por aqui, por enquanto. Acumule um pouco as forças com um Focus Energy. Zorua... Você é ótima com ilusões, certo? Tente tomar o formato de Chimecho e se aproxime deles. Não vamos te deixar sozinha, então não precisa ter medo. – Respirou fundo... Encolheu os ombros. De fato, sua pequenina não precisava ter medo; Já estava receando demais por todos eles. Era um tiro no escuro aquilo que estava fazendo. – Tente focar o Spoink... Você já enfrentou um uma vez, certo? Bem, caso não consiga, pode virar no Aipom. Mas espere-os se aproximarem. Só entre em seu campo de visão. Faça algum barulho, se for preciso, ok? Quando tiver a oportunidade, use um Leer e um Feint Attack – Correu o olhar rapidamente pelo campo... A raposinha apenas assentiu de leve com a cabeça e começou a caminhar entre as moitas, enquanto sua imagem tremeluzia. Sim, sabia que seria arriscada a visão de um Chimecho que não se distanciava exatamente do chão... Apesar disso, não seria o suficiente para denunciar uma farsa, não é verdade? E ela não precisaria se afastar muito de onde estariam. – Zuby... Eu quero que você fique na retaguarda. Se a Zorua entrar em problemas, se aproxime e a auxilie. Eu acho impossível sairmos daqui sem uma luta, então... É. Tenta focar especialmente aquele macaquinho, ok? Entre na batalha com um Double Kick se eles cercarem nossa raposinha, tá? – O animal piscou de leve... No entanto, tudo o que pôde fazer foi assentir de leve e atentar-se no que poderia ocorrer a seguir.

Recuperaria aquele Chimecho para Victória, nem que fosse a última coisa que fizesse.
Era tudo ou nada.