We Will We Will Rock You

Ao gritar a voz de Nicholas ecoara por todo o arredor, ouviu a própria voz várias vezes por vários segundos e era impossível que aquele eco todo não tivesse chegado aos ouvidos de Jolteon, ou melhor, era impossível alguém naquela caverna não ter o ouvido. Felizmente Jolteon logo deu sinal de vida, ele, sem dúvidas, fora o mais sortudo de todos, ainda estava no alto, em cima de um fino pilar de gelo que existia ao canto de uma das paredes intactas. Aparentemente era o único que estivera em cima de algo firme e com base.

Tendo certeza de que seu pokemon estava bem melhor que qualquer um ali, o grupo podia decidir o que fazer; tirar Jolteon de lá não seria tão difícil tendo Starmie que podia o fazer escorregar ou Alakazam que podia só trazê-lo ao chão. Sem contar que só precisavam diminuir um pouco a distância para que retorna-lo a pokebola seja possível. Com certeza tinham muitas opções, o que não tinham era calor. Sim, Alakazam começava a endurecer um pouco e sentir dor em algumas juntas; suas feridas ardiam mais do que deveriam, e as de Nicholas também. As mãos do treinador já não mexiam direito e o frio tornava o ar uma faca para sua garganta. Respirar doía, andar doía, falar doía, ficar parado doía e, a cima de tudo, estar ali doía.

Com todos os pokemons encontrados Nicholas decidiu retornar a todos - menos Starmie - e seguir na única direção que conseguia traçar um caminho; ao norte. Andou bastante, reparara que ainda estava descendo, mas não havia outro caminho para seguir. Descer era uma boa maneira de sair daquele lugar? Não sei, porém se fosse o único caminho existente, talvez sim. Descer talvez fosse útil para achar um lago submerso ou talvez uma bolha de calor. Quem sabe talvez sair do núcleo congelado do local. Será mesmo que pior do que está fica? Ao menos desta vez não parecia andar em círculos e o ambiente realmente mudava. Depois de quase um quilômetro de quase congelar, Nicholas encontrara quase que um oasis ao meio do deserto, um Iglu! Ok, ele era feito de gelo, mas todo mundo sabe que a capacidade térmica da água fazia com que seu interior esfriasse muito mais devagar que o resto do local, e lá não seria exposto a todo esse vento gelado, quem sabe talvez fazer uma fogueira? Bem, em sua bolsa, não achara nada útil, nem sequer um Ice Heal ou uma Berry que ardesse como pimenta para o aquecer, talvez a Lun, mas compensaria gastar desta forma?

Decidido que não tinha um lugar melhor para ficar, entrou no iglu e percebeu o quão mais agradável era aquele lugar, talvez não devesse sair dali nunca. Liberou Infernape e ficou por ali com seus dois pokemons durante um tempo, evitando mais uma vez por fogo no local, só a presença do pokemon de fogo já era suficiente para esquentar aquela pequena casinha de gelo.
O tempo fora passando e dentro da caverna escurecendo, eis que vinha a questão; de onde viera a luz esse tempo todo? Se olhasse para cima veria que o teto não era translúcido como a água, mas sim muito denso, então o que tornava o lugar visível? Este não era fácil de entender só de olha, mas quando a caverna enche de água, a única forma de escoamento que ela tem são pelas frestas nas paredes e no teto, isso era óbvio para quem estudasse o funcionamento daquele lugar, caso isso não existisse, seria só uma grande piscina subterrânea. Agora que Nicholas quebrara toda aquela região que deveria ficar logo a cima de suas cabeças, a luz do teto alcançava o local subterrâneo por reflexão entre suas paredes, então quando o sol chegava próximo ao meio dia, havia um ápice de luz, com paredes bem refletidas e até mesmo alguns espetáculos ópticos como pequenos arco-íris, porém, depois disso, a luz começava a entrar de modo lateral, escurecendo rapidamente o local e, infelizmente, esfriando. Isso mesmo, já passava de meio dia a uma cota e a tendencia era só piorar.

Aos poucos o local parecia como noite e, se continuasse andando, começaria a achar a parte intacta do teto, a que as rachaduras e quebras não chegou, sendo assim, era melhor se preparar muito para esse frio, talvez entender como funciona a construção de um Inglu para passar a noite em outros lugares. Podia usar Starmie para aprender a fazer isso. Além disso, antes de construir fogueiras, podia usar a pokemon mais uma vez para certificar-se da espessura do gelo e até reforçá-lo. Se fosse esperto, conseguiria sobreviver, sem muito conforto, mas conseguiria.

Com o corpo menos dormente e anestesiado, Nicholas decidira voltar a caminhar. Manter-se ali podia ser gostoso, porém sair parecia bem mais interessante. A medida que o pequeno homem ao meio da imensidão fora explorar, o escuro tomava seu infinito, chegando ao ponto de sequer ver as paredes ou por onde andava; sorte dele estar em um lugar aberto e liso, não tão cedo cairia ou bateria em algo. Infelizmente temo dizer a Nicholas que ele não era o primeiro a passar por ali, talvez será o primeiro a sair vivo e contar uma história sagaz, porém posso afirmar que era o pioneiro a enfrentar todo aquele ambiente naquelas condições climáticas. Caso pegasse seu celular, veria que não era mais que quatro horas e o frio não estava tão pior que antes; ainda. O fato de ter ou não ter sol ao redor da caverna interfere bastante na temperatura interna.

Andara mais um pouco, talvez algo em sua bolsa pudera emitir luz, mas como toda a tecnologia, teria que saber administrar muito bem a bateria e julgar se é de fato necessário o uso do aparelho agora. Andara um tempo e finalmente ouvira algo que não fosse os próprios passos ou a própria respiração; e nem o vento gelado vindo de sabe-se lá onde. Eram claramente criaturas. O som estridente causara um susto em Starmie que, sem preparo nenhum, andara para trás como quem estivesse com medo de prosseguir; o tom mudava e a pokemon conseguia interpretar claramente o que era dito. Aos poucos a estrela foi se aproximando novamente, dando "passos" curtos em direção norte, e a medida que ia, o som continuava. Se ouvisse bem, Nicholas perceberia que não se tratava de apenas um pokemon; a tonalidade mudava, a frequência e a percepção de distância também, poderia supor que seriam no mínimo dois pokemons por ali, mas apenas supor, porque nenhum olho veria nada ali, seja humano ou selvagem.

Andou a frente seguindo o som, porém percebendo a aproximação todos se calaram. Agora completamente cego e surdo, Nicholas não tinha mais certeza de pra onde ir, ainda assim seus pokemons prosseguiram na direção que julgavam certo. Infernape era o que mais ia a frente sem medo, de peito aberto e demonstrando uma coragem que até intimidava os selvagens locais que nunca passaram por algo parecido. Era a primeira vez que teriam que lidar com isso, também a primeira vez que sentem medo de aproximação desconhecida. Dado mais de três passos um dos pokemons desconhecidos não suportou a pressão e atirou um fraco, porém ofensivo, jato gelado em Robb, porém errou por pouco o alvo, servindo apenas como diminuidor de temperatura. Starmie continuava logo atrás de seu companheiro, porém não se atrevera passar antes de conhecer o que estava lidando.