Treino Difícil, Combate Fácil!

Poucas coisas são fortes como o coração de um treinador que não se permite esquecer a emoção da caçada, busca e, mais importante, encontro de um novo pokémon. Naquele momento, Gray era o mais perfeito exemplo dessa situação, a ansiedade gradualmente correndo por suas veias enquanto se aproximava em silêncio da aparente movimentação atrás de um dos bancos. Dave Jones foi aquele enviado por seu mestre para uma investigação primária, e o fantasma se aproximou da margem do laguinho antes de afundar silenciosamente, submergindo nas águas.

Não foi necessário muito tempo antes que retornasse, dessa vez na margem oposta - mas foi suficiente para que, contornando a área, Gray pudesse acompanhar de longe a situação que se desenrolava. Atrás de um dos bancos, dois pequenos pokémons faziam um verdadeiro "cabo-de-guerra" com uma ameixa: Um pássaro agarrava a fruta entre suas patas e brigava para tentar alçar voo, enquanto um coelho de pelagem amarelada lutava para conseguir segurar ela em mãos. Parecia um conflito extremamente disputado, que foi facilmente solucionado com a aparição da âncora, que cresceu pelas costas do bípede - consequentemente, o voador foi o primeiro alertado de sua presença e, num pio alto e assustado, largou a fruta de uma vez, fazendo com que o seu adversário caísse sentado, e fugiu num rasante repentino, batendo as asas com força e sem olhar para trás.

Já o outro pokémon… Primeiro, pareceu confuso com o desfecho brusco da disputa, mas num segundo momento começou a cantar vitória, balançando o lanche para lá e para cá… Bem, pelo menos até reparar na sombra que cobriu seu corpo, vinda do nada. O coelho parou por alguns segundos, e virou o rosto para dar de cara com Dhelmise, que o observava pacientemente. Num pulo, o animal se pôs de pé outra vez, e encarou o gramíneo com uma cara desconfiada. Ao contrário do pássaro anteriormente, porém, não fugiu, e sequer foi agressivo: Sua maior reação foi abraçar a ameixa e virar um pouco o corpo pro outro lado, como que protegendo a fruta do fantasma - então, sem tirar os olhos dele, abaixou um pouco o rosto, dando uma mordida vagarosa no alimento.


Como Gray lidaria com a situação?

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Pelo menos até o momento, era impossível dizer ao certo se a atitude do pokémon era frustrante ou não para o treinador - afinal, era mais que óbvio o fato de que o rapaz esperava por uma batalha, mas se o animal não parecia propenso à fugir ou à brigar, por qual motivo deveria forçar? Foi por isso que, contra todas as pretensões que tinha até então, Gray abandonou (pelo menos por hora) a ideia de iniciar um combate e tratou de tentar uma abordagem amigável, oferecendo uma fruta ao coelho bicolor.

Num primeiro momento, a reação do pokémon ao ouvir a voz foi se encolher e dar as costas para Dhelmise novamente, encarando o adolescente de cabelos cinzentos, e deu alguns passos para trás, inquieto - batendo, suave, o corpo contra parte do corpo de Dave Jones, que observou em silêncio enquanto seu leme se movia para lá e para cá. Agora mais próximo, o monotreinador possuía passe livre para obter uma visão melhor do espécime - o jeito como seus pelos estavam bagunçados, maltratados e até meio sujos, em algumas áreas. O elétrico encarou o rapaz por alguns segundos, agarrado com sua ameixa, mas não foi muito mais além do que os pequenos passos em recuo. Tinha uma expressão séria, desconfiada... Mas, ao mesmo tempo e em contrapartida, não parecia hesitante com o fato de estar escorado em Jones.

E então?

off:

Um olhar desconfiado passou pelo rosto do animal quando a fruta rosada foi depositada no espaço entre ele e o treinador, mas ele não se aproximou de imediato. Como uma última tentativa, o rapaz apostava suas cartas utilizando-se de um discurso para o amarelado a respeito da compreensão que tinha sobre sua situação e até mesmo ousando sugerir que o pokémon o acompanhasse - simples e somente. Independente de suas palavras, porém, considerando que Jones era um espécime que já acompanhava o mono, não era como se o coelho possuísse alguma boa prova de coisa alguma que era dita, e na maior parte do tempo apenas permaneceu agarrado com sua ameixa, encarando o rosto do garoto.

O que mais despertou seu interesse, na verdade, foi a "aposta" lançada pelo monotreinador. Por um instante, até pareceu considerar, mas então o rosto se voltou novamente para Dhelmise, que se erguia imponente sobre si. Talvez por experiência, ou simplesmente consciência, o elétrico não se demorou em balançar a cabeça em negativa para a proposta, a expressão séria adornando o rosto. Por qual motivo se entregaria de graça para apanhar? Não valia a pena, ao que tudo indicava.

Considerando o trabalho que tivera até então, ainda que o elétrico não parecesse muito disposto em aceitar, o rapaz optava por insistir para que, quem sabe, tivesse sucesso em convencer o pokémon sobre acompanhá-los em jornada. Mesmo Rag Doll acabou cedendo em auxiliar e dar suporte ao monotreinador, oferecendo um de seus doces para "pescar" o coelho. O selvagem encarou a guloseima estendida, e se inclinou para frente por uns segundos, farejando a prenda oferecida pela fantasma, mas torceu o rosto e se afastou, com uma careta.

O animal remexeu a fruta que tinha em mãos, e então deu outra mordida nela. Sem pressa, começou a roer o alimento, analisando atentamente a expressão do garoto à frente. O animal não parecia muito convencido a respeito se o rapaz seria ou não capaz de manter sua palavra - afinal, quão fácil não era para que alguém prometesse alguma coisa em uma situação (como ele mesmo dizia) de necessidade, e depois descartasse como se não houvesse significado nada?

...
Por alguns momentos, o bípede dividiu o olhar entre o fantasma e o mono e, então, deu as costas e começou a andar para fora do parque. Chegou a olhar para trás, na direção de Gray: Parecia querer que o seguisse?

Aparentemente sem muito mais opções, o rapaz resolveu jogar os dados à sorte e seguir o espécime elétrico - afinal, quem sabe se assim não seria capaz de convencê-lo a respeito de continuar viagem consigo? -, guardando as frutas anteriormente oferecidas e retornando parte dos pokémons que o acompanhavam até então.

Atrás do pequeno bicolor, uma nova caminhada pela cidade se iniciou. Uma longa, na verdade, atravessando becos estreitos e ruas castigadas por trânsitos que gradualmente se tornavam quilométricos, até alcançar um ponto da cidade em que as estruturas - maiores indicativos de vida humana pelo local - já não eram mais tão bem cuidadas, ou sequer novas. Não chegavam a estar em pleno estado de precariedade, mas se o monotreinador fosse comparar com os arredores de onde começaram a busca, com lojas modernas e prédios que sufocavam os pequenos empresários, a diferença já era gritante; Além disso, mesmo o grande movimento das ruas praticamente desapareceu de uma hora para outra, como se nunca tivesse existido.

Após mais algum tempo, uma única lojinha se destacou entre as residências. Duas mesas se dispunham na entrada, na esquerda e direita, e algumas cestas de frutas pelo chão, abaixo delas, cheias até o topo. A visão pareceu animar o pequeno Minun, que de repente apressou o passo e, quando estava quase alcançando os limites da vendinha, uma movimentação por trás da mesa o fez frear, encarando desconfiado naquela direção. Detrás do móvel, vagarosamente, o rosto carrancudo de um pokémon surgiu, e o animal deu um guincho estridente, e um longo braço se revelou logo a seguir, esticando-se com velocidade na direção do elétrico, que só não foi esmagado entre fortes e afiadas pinças por ter tido o reflexo de, num pulo assustado, dar meia volta e correr para trás das pernas de Gray, se escondendo por ali e espiando a cena que se desenrolava à frente.

Devagar, um estranho espécime arroxeado se ergueu por trás do móvel, caminhando com curtas e apressadas patas até a frente do hortifrúti, encarando o fantasmagórico grupo que agora servia de escudo (ainda que não necessariamente de propósito) para o roedor. O animal inclinou o tronco para frente, liberando outro guincho frustradíssimo, e bateu as pinças umas nas outras, oferecendo uma expressão irritada ao mono.


— Drappy? Drappy, o que foi? — Da quitanda, uma voz masculina. — É ele? Aquele praguinha voltou? — O tom aumentou, tornando-se rude de repente. Surgiu do lado de dentro, então, um homem gorducho, com uma vassoura na mão e um avental amarrado na frente do corpo. Ele parou por uns segundos, analisando a situação, até que os olhos encontraram o elétrico parcialmente oculto atrás das pernas de Gray; A expressão se fechou de imediato, e o comerciante apontou com a ponta do cabo da vassoura para o grupo. — Então o diabrete tem dono?! Coragem a tua de dar as caras aqui assim, ô seu desgraçado! — Exclamou, irritado. — Ah, mas agora tu vai ver! Vou te ensinar o que se faz com ladrãozinho, praga, te dar uma lição que tu nunca mais vai esquecer! — Aumentou o tom. Parecendo acompanhar a cólera de seu dono, o escorpião emitiu um chiado raivoso, batendo as pinças outra vez e andando mais um passos para frente, perigosamente crescendo para cima dos fantasmas.

Parecia pronto para atacar, e nem bem havia oferecido ao jovem uma chance de se explicar!
Diante dessa situação, o que faria o monotreinador? Tentaria racionalizar, ou partiria para o confronto sem também pensar duas vezes?