[OzPantalho no País das Esmerilhas] – Forina Theater –

Infelizmente para si, um de seus maiores receios da rodada resolveu surgir em cheio num momento crítico para que o placar disparasse um pouco mais. Não imaginava que algo do tipo poderia acontecer, mas foi inevitável que mordesse com sutileza o lábio inferior, assim como não pôde evitar o leve aperto de dedos contra a própria palma num breve momento em resposta à eletricidade que cintilou ao redor do corpo de Whimsicott. E pensar que havia praticamente se counterado, se fosse parar para refletir... Bem, talvez devesse adiar um pouco mais caso acabasse desejando utilizar um Thunder Wave novamente, quem sabe?

Enfim, não se demorou muito nesses pensamentos, visto que quem chamou sua atenção logo passou a ser o próprio Senhor Espantalho, caído no chão sem quase nenhum enchimento. O fez apenas com uma pequena cutucada, mas foi suficiente para que os orbes cinzentos vagassem da batalha à frente em direção ao rapaz, e respondeu sua pergunta com um singelo encolher de ombros. Não era como se tivesse liberdade de conversar ou qualquer coisa dentro daquele palco e, sinceramente, só queria sair logo dali - o que não teria condição de jogar no ar para que ele pegasse, infelizmente. A parte boa era que aquele combate já parecia mais perto do fim que do início, então...

— Roserade, siga com um novo Protect e um Growth, dessa vez! Vamos crescer essas pétalas! — Pediu, quando o foco voltou a ser o quarteto de pokémons. Com sorte, a peça não se prolongaria tanto tempo e logo poderia descansar (e fugir daquele bando de olhares da plateia, vamos combinar. Definitivamente, aquele mundo não era para si.).

Aparentemente, o universo estava querendo brincar com a sorte (ou melhor, falta dela) no que dizia respeito às telas protetoras que Roserade invocava. Até o momento, todas haviam sido um sucesso, mas o problema era justamente a falha dos oponentes ou simples falta de ação por parte deles que destruía a maior utilidade do movimento para si naquele evento. Bem, isso era uma pena, mas a parte boa era que pelo menos conseguia manter seu venenoso protegido contra todas as investidas desferidas - e não sairia com tantos danos daquele combate, podia supôr.

Em oposição à breve falta de ânimo, não foi capaz de evitar um sorriso leve em resposta à gracinha feita por Luch por conta de ser sua felina em batalha, e até mesmo deixou escapar um pigarro divertido, puxando de leve a aba frontal da cartola um pouco para baixo e ocultando momentaneamente o olhar (mais por conta da mão que pelo acessório, na verdade), ainda que não fosse fazer tanta diferença pelo ponto de vista de Drac, considerando que ele estava sentado.

— Mais um Protect! — Insistiu. Esperava que a paralisia não atrapalhasse seus planos mais uma vez... — E dê um Giga Drain nesse Whimsicott! — Pediu. Se tudo desse certo, talvez acabasse com aquele carneiro naquele turno, mas era preciso esperar para ver.

Como bem tinha previsto, não havia sido necessário muito mais antes que a cabra enfim cedesse às investidas de Roserade e nem bem tivera a chance de tombar antes que fosse recolhida por seu treinador, aparentemente (e com uma boa justificativa) arrasado. A ruiva observou em silêncio enquanto Lírio se retirava para o canto, se sentando e encolhendo enquanto passava de participante à espectador. Já tinha consciência de que não poderia dar as costas e ir embora, mas isso não poderia fazer de qualquer jeito, possivelmente - mas, bem, primeiro deveria pensar em acabar com aquele trabalhoso (e gigantesco) Gloom antes que pudesse seguir em frente.

— Muito bem! Roserade, dessa vez quero que avance com um Energy Ball e um Giga Drain, ambos em Gloom! — Ordenou, optando por partir à ofensiva pesada quando um breve olhar no placar a fez perceber que não seriam necessários (e nem possíveis) muitos mais pontos naquele combate, ou seja, não teria motivo algum para prolongá-lo. O pokémon buquê havia tido um desempenho maravilhoso no primeiro confronto, sem dúvidas, e acreditava que não precisaria sequer gastar seus recursos de imediato. Tivera sorte na primeira leva, mas não tinha certeza quanto ao restante dos adversário que apareceriam...

Enfim, restava cruzar os dedos e torcer.

O fim da batalha havia trazido consigo duas grandes constatações para a moça - o fato de que, naquele momento, o público não era mais dos protagonistas e, bem mais importante, que realidade e interpretação se fusionaram num só em Lírio, que não parecia se esforçar (e talvez nem capaz de fazê-lo) para conter o choro. Em sua imagem desamparada, a ruiva não pôde evitar de enxergar a si mesma há sabe-se lá quanto tempo atrás, e o próprio coração se apertou no processo. Sentiu na alma as sensações de impotência acerca de Pewter, e mais recentemente, de Wallace Cup, e se questionou por um breve momento se a flor falante se sentiria do mesmo modo. Se viu ciente da própria vitória e, ao mesmo tempo, incapaz de comemorá-la, e tampouco fez Roserade, assistindo em silêncio a movimentação de seus oponentes ao recolherem seus pokémons.

Viu, naquelas duas "flores", a atmosfera de quem acabou de deixar uma chance única escorrer entre os dedos. Não sentiu quando os próprios passos começaram a se direcionar à dupla, mas os percebeu acelerar quando o saco de palha foi arremessado ao palco e, num limiar alarmante da saída de cena, foi capaz de alcançar e agarrar o corpo de Lírio num abraço rápido, repentino (até mesmo para si) - talvez o único gesto totalmente verdadeiro e inconsciente que havia feito na peça até então, um ato de empático silêncio que durou pouco, meros segundos, provável pelo arrependimento quase imediato ao se ver numa cena que, há muito tempo, findara de maneira catastrófica. Naquele instante o qual agira por puro impulso, sequer se importou com o fato de que as roupas certamente sairiam manchadas com o óleo esverdeado que recobria o figurino do rapaz e, sinceramente, parecia até ter se esquecido desse fato. Tudo bem que o paletó camuflaria as manchas, mas a blusa branca? Enfim...

Quando enfim afastou aquele breve contato, se viu envergonhada. Não apenas pela proximidade que havia obrigado (ainda que... acidentalmente?), mas também pelo fato de talvez houvesse destruído a saída do ator, considerando que poderia acabar com um "desfalque" na narrativa. Não era seu papel consolar alguém após o desfecho de uma batalha, e nem bem sabia se seria possível fazê-lo sem acabar ofendendo alguém mas, nem que por um só instante, quis confortá-lo. Como bem dito, tinha a desconfiança de que por ser capaz de se enxergar naquela atitude, apesar de infelizmente este ser um sentimento que não sabia se poderia transmitir.

Um reflexo.

— ...Eu sei que cheguei a falar sobre "merecimento"... — Rompeu, enfim, o silêncio. Respirou fundo, e mordeu brevemente a parte interna das bochechas. Virou o rosto por um momento para poder visualizar Roserade, e usou uma das mãos para chamar o pokémon para perto, antes que a atenção se voltasse à planta falante. — ...Mas não cheguei a dizer minha conclusão. — Comentou, o olhar correndo pelo rapaz, levemente hesitante. Com a visão periférica, percebeu o movimento do pokémon buquê, e recuou alguns passos para dar um espaço mais que suficiente para que o animal pudesse ocupar o espaço entre ambos. — Você... — Pausa. O olhar se esquivou para a Rosa, ou ao menos a direção em que a moça havia saído, se não houvesse se interrompido também. — Vocês. Talvez não pelo melhor motivo, mas não digo que a garra que têm não é admirável. — Arriscou. Com um breve aceno de cabeça à Roserade, o animal posicionou o buquê azulado à frente do rosto, e seus olhos escarlates penetraram os de Lírio. — Eu ainda não sei bem que tipo de lugar é esse... — Admitiu, e segurou a aba frontal da cartola - então, figurativa e literalmente, tirou o chapéu ao rapaz. — Mas eu fico feliz de encontrar alguém com raízes sólidas desse jeito. — Comentou, num meio sorriso quase sem graça. — Então, com ou sem pétalas, não fique murcho, senhor Lírio! — Pediu. Não sabia se estava escolhendo as melhores palavras para transmitir as melhores coisas, mas... Enfim! — E não se deixe deixar de florescer. — Finalizou. Então, numa piscadela, afastou mais um passo, e foi quando Roserade tomou ar - num sopro mais forte, algumas das pétalas azuladas se desprenderam de seu buquê, planando na direção da roupa oleosa do rapaz e se colando suavemente à fantasia esverdeada. Esperou que, assim como o exterior, as próprias palavras alcançassem também o coração do ator.

Não era dever do Mágico realizar desejos?
Bem, então que seguisse no papel!

De qualquer modo, não tinha certeza de como seria a reação, mas sabia que a cena não se prolongaria muito mais. Após esta interação breve que imaginou ser uma boa despedida (?), enfim poderia se focar no Espantalho, e utilizar o saco de palha deixado pelas plantas para deixá-lo estufado outra vez, coisa que sem dúvida nenhuma faria, e depois poderiam seguir viagem com tranquilidade - ou ao menos era o que imaginava. Até onde sabia, não teria mais nada para fazer naquela cena... Ainda que, infelizmente, não tivessem conseguido o cérebro para o pobre personagem.