Alice em um país nada maravilhoso feat. Rei de copas amargurado

Matthew;

Ainda que houvesse desistido de se pronunciar, as palavras do coordenador foram mais que suficientes para atrair a atenção da moça mais uma vez. Os orbes escuros passearam com curiosidade pelo loiro fantasiado mas, nos primeiros momentos, não falou absolutamente nada. O olhar se manteve sobre a imagem do homem por algum tempo, e pareceu hesitar, mas arranjou coragem para mais uma última pergunta:

— E por que você atua, Alice? — Uma questão singela, sem intenções por trás - nem poderia ter, aliás, considerando que malmente se conheciam até pouquíssimos segundos. De qualquer jeito, talvez fosse algo a se pensar.

Daisuke;

Após as falas iniciais, o rapaz deu algum tempo para que Tachikawa adentrasse com as frases do próprio papel. Impossibilitado de se mover (afinal, era uma porta), restaram para o ator apenas as caras e bocas chocadíssimas diante das heresias proclamadas por, vejam só, o Rei de seu país! Claro, tinha que se controlar para não acabar rindo diante dos xingamentos improvisados proferidos por Daisuke, mas até que estava conseguindo contornar bem a situação.

— Cruz em credo, majestade! — Exclamou, escondendo o rosto entre as mãos por um segundo. — Que coisa horrorosa de se dizer! Tu tá é doido, agindo desse jeito! Começou a andar demais com o Chapeleiro, sabia que isso ia acontecer! — Disse, sacudindo a cabeça de um lado para o outro. — Pare, e pare já com essas bobagens todas! Aproveite que cá as paredes não têm ouvidos; É só voltar pro reino e pedir desculpas! — Cruzou os braços, franzindo o cenho. — E que escolha você tem? Aqui, morre aqui! Ninguém daqui sai, até porque não tem pra onde, ora bolas! — Afirmou.

Matthew + Daisuke;

— Opa, é a nossa vez! — Exclamou a menina, e tomou fôlego antes de se virar para o palco. Foi uma questão maravilhosa de timing, pouquíssimos segundos após a frase da "porta" e já entrava a Coelha pelo lado oposto, com pequenos saltitos e desespero no olhar. — Céus, céus, que tarde que é! Atrasada, atrasada, sabia que não devia ter vindo à pé! — Exclamou. Do outro lado, restou um facepalm para o ator que fazia a porta: Não havia dito agora mesmo que não tinha para onde ir? E como raios o Coelho havia saído, então? Aliás, de onde tinha vindo??? — ...Minha alteza! — Exclamou, de súbito, ao parar de repente próximo ao rei que vagava pelo cenário. O corpo se movimentava com agitação, ainda que os pés não avançassem de imediato, nem que por um segundo apenas. — O que está fazendo aqui? Temos que ir, vamos, vamos, vamos pro castelo! — Afirmou, agarrando a mão de Tachikawa e se preparando para ir na direção da porta, o mais rápido possível.

Era aquela a deixa para que ambos os protagonistas entrosassem os personagens - assim como deveriam mostrar seu descontentamento e, então, armar rebelião. Que se iniciasse o show!

Foi um grande espanto que se apossou dos traços de expressão da atriz quando, quase violento, a tal Majestade não apenas se libertou de seu toque, como também ameaçou a (não tão) queridíssima Rainha de Copas. Seus passos apressados frearam perto do rapaz que trazia vida à porta do país e, por alguns segundos, a morena se manteve estática, de queixo caído. Com total descrença, trocou alguns olhares com o moreno atrás de si, e esfregou a orelha, como em uma pergunta muda se realmente estava ouvindo bem.

— Nem me fale! — "Respondeu" o homem. — O Rei pirou na batatinha! Tanto tempo vendo cabeças perdidas, que ele próprio se tornou um descabeçado! — Comentou o amadeirado, sacudindo a cabeça rapidamente em negativa. — Já falei pra deixar pra lá, mas ele não me escuta!

— Santo pepino estrelado! — Gritou a mamífera, esfregando as mãos no rosto, inquieta. — Eu preciso avisar a rainha! Ela vai ficar uma fera, vai rasgar o manto especial de pão de ló do rei em mil pedacinhos! — Afirmou, sucinta. Em resposta, a porta "se abriu" para a moça, que não perdeu tempo em passar por ela em pulos velozes, abandonando de vez o cenário. A fala nada mais era que uma tentativa de atrair a atenção de Tachikawa para que ignorasse a presença de Alice e, enfim, uma verdadeira perseguição ao coelho se iniciasse - afinal, era preciso colocar os dois para dentro do país outra vez, ou a peça nunca teria prosseguimento!

Ao contrário do que ocorreu quando a moça passou tranquilamente pelo caminho em direção ao coração do País das Maravilhas, o rapaz imediatamente "se fechou" quando o Rei fez menção de seguir e impedir o caminho da roedora, barrando a passagem que anteriormente abrira ao arredar de lado. Uma de suas mãos se estendeu para frente em um claro aviso de "PARE!", antes que os outros dedos se fechassem e restasse o indicador para se movimentar em um sinal negativo na direção dos dois rapazes.

— Desculpe, Majestade... — A porta sorriu, com tranquilidade. — ...Eu dei a oportunidade de você mudar de ideia... — Acrescentou. Com a mão livre, duas pequenas esferas bicolores foram retiradas do bolso da calça do moreno, e dançaram entre seus dedos com digníssima maestria. — ...Mas não posso deixar que tente segurar a Mensageira. — Concluiu, com uma piscadela amigável.

Foi nesse exato momento que as pokéballs entre seus dedos se partiram, e um feixe ofuscante de luz branca cortou o ar antes que dois estranhos corpos começassem a se moldar no ar, servindo como obstáculo entre a dupla e sua passagem. Se quisessem seguir caminho, teriam que "passar por cima" daqueles empecilhos primeiro e, se fossem levar em consideração as palavras do ator, com toda a certeza não era um confronto opcional.


— Tenho certeza que entende, Alteza... — Acrescentou o homem, com uma breve mesura que beirava ironia. — ...Eu não vou permitir que vocês passem! — Sentenciou, cruzando os braços em frente ao peito em uma pose firme. Não parecia aberto a conversas, negociações ou qualquer coisa do tipo; Então, como procederiam os coordenadores?