O Primeiro Voo da Andorinha

Após um primeiro dia mais cheio do que esperava, eu acordava na manhã seguinte pronto para deixar os limites da cidade e encarar minha primeira rota. Com a evolução do growlithe, eu me sentia mais seguro quanto a sair explorando e encontrar pokémons selvagens durante o caminho. Mas o meu objetivo naquele dia era outro. Ciri, minha pequena taillow, ainda era completamente inexperiente — nunca havia batalhado — e eu esperava encontrar uma boa oportunidade para que a pequenina pudesse encarar seu primeiro desafio com possibilidades de vitória. Largar com o pé direito seria ótimo para aumentar a confiança dela, que havia sofrido "bullying" de seus companheiros voadores durante a vida inteira. Entretanto, dada a condição natural frágil da pokémon, eu sabia que a tarefa não seria nada fácil.

Após algumas pesquisas e consultas com moradores locais, eu havia descoberto que havia uma floresta ao norte de Slateport, na rota 110. Lá em Kanto, de onde eu vinha, eu sabia que se podia encontrar alguns pokémons planta e insetos de nível baixo nesses tipos de lugares, como Oddishs ou Caterpies. Embora, provavelmente não pudesse encontrar os mesmos pokémons por ser uma região distante e diferente, imaginava que poderia pelo menos encontrar "variações" equivalentes e assim, quem sabe, arranjar um adversário à altura (nesse caso nivelada por baixo) da pequena Ciri.

Após caminhar por algumas horas, eu finalmente avistava o amontado de árvores que formava a floresta se aproximando. Assim que adentrava a floresta, eu procurava a sombra de uma árvore para que pudesse descansar um pouco antes de continuar. Após verificar bem os arredores e, principalmente, a copa da árvore — afinal não queria ser surpreendido por nada caindo em cima de mim durante meu descanso — eu sentava na área da sombra projetada, apoiando as costas no tronco. Depois, pegava uma maçã na mochila e começava a comê-la, ao mesmo tempo que liberava meus dois pokémons para que também pudessem aproveitar a gostosa brisa que passava pelo local.

— Quem é o garotão do papai? Quem é o bom bom garoto?? É você! É você sim! — Dizia dando um afago em Wolf que, após sair da pokébola, se deitava ao meu lado com a cabeça sobre meu colo. — E cadê minha pequena andorinha?? Não fica com ciúmes que tem Ren pra todo mundo! — Estendia o braço para que Ciri pudesse pousar, e então fazia um carinho de leve sobre sua cabeça com a outra mão.

Eu estava bastante cansado. Havia ficado tão ansioso por sair mundo afora com meus pokémons que nem havia conseguido dormir direito na noite anterior. Aquela situação estava tão agradável: a brisa, o sol "vazando" por entre as folha das árvores, o lindo ambiente natural, o carinho dos meus pokémons, a suculenta maça... Estava tão relaxado que, sem me dar conta, em algum momento acabei adormecendo...

Não sabia quanto tempo havia se passado no meu "cochilo". Teriam sido alguns minutos ou horas? Pelas pequenas frestas entre as copas das árvores, a intensidade do sol parecia a mesma de antes, o que me levava a crer que a primeira opção era a mais provável, apesar do método de medida não ser nem um pouco confiável. Meio banzo, pego o meu celular e confiro. Uffa, haviam se passado apenas uns 20 minutos.

Wolf ainda estava deitado sobre meu colo. Estava sonolento, porém acordado. Talvez tivesse tirado um pequeno cochilo como eu. Olho ao redor em busca de Ciri, que não estava mais aninhada em meu braço, ombro ou qualquer parte do meu corpo. Vejo a pequena a alguns metros dali, olhava em minha direção, depois para cima, depois para mim de novo e assim por diante. Parecia apreensiva com alguma coisa e eu logo noto o porquê: Ao me concentrar mais, conseguia escutar alguns grunhidos vindos imediatamente de cima de mim, como se alguma coisa estivesse na copa daquela árvore.

Com a mão, eu faço um sinal para que a pokémon pássaro se aproxime mais. Bastante receosa, ela se aproximava, aos poucos, com tímidos saltinhos. Quando ela chega perto o suficiente, eu falo com uma voz suave:

— Ei, pequena, acha que pode checar isso para a gente? Não precisa chegar perto, pode ficar voando de longe mesmo e ver se consegue ver algo por entre as folhas de algum ângulo em volta da árvore, ok? E se for algo perigoso, corra para junto de mim e do Wolf que te protegeremos, não precisa ter medo!

Enquanto Ciri saía em sua "missão" de reconhecimento, eu lentamente me levantava e me afastava da árvore, tentando evitar movimentos bruscos ou agressivos que pudessem atiçar algum possível "predador". Wolf me seguia durante o processo.

Após investigar a copa da árvore, Ciri voltava para nós a toda velocidade, ao mesmo tempo que do meio das folhas surgiam dois pokémons ainda desconhecidos para mim. A primeira coisa que faço é pegar a pokedex, apontar para as criaturas e apertar o botão azul; analisava-os a fim de descobrir mais informações sobre eles. Ou aqueles pokémons tinham uma cara muito enfezada ou não estavam nada felizes de ter seu cafofo perturbado.

"Pela cara deles, acho que já sei como isso vai terminar... Bom, não adianta tentar adiar o inevitável, então acho que podemos pelo menos ter a iniciativa!"

Me virava para Ciri sobre a cabeça de Wolf e dizia: — Ei, pequena, acha que está pronta para sua primeira batalha? E, Wolf, tome conta dela, ok? — Ciri dava um pio sem confiança enquanto que Wolf dava um único latido enérgico assentindo e demonstrando-se pronto.

"Hmmm, aquela lagarta possui um chifre parecido com o do Weedle, pode ser venenosa... Melhor precaver..."

— Wolf, comece com safeguard! Depois, utilize o Ember naquele casulo! — Como os dois adversários ainda estavam a uma certa altura do chão, um golpe físico poderia não dar muito certo, portanto um golpe a distância como o Ember me parecia a opção mais confiável.

"Normalmente, pássaros comem lagartas, então acho que a Ciri vai se dar melhor contra o vermelhinho ali..."

- Ciri, você utilize duplo Peck na lagarta vermelha!

Ciri agia primeiro, mas seus ataques pareciam sequer fazer cócegas no Wurple inimigo. Eu via a frustração atingir minha poké e dizia algumas palavras para encorajá-la:

— Ciri, não se abale, você está apenas começando, mas logo vai pegar o jeito!

"Os ataques de Ciri foram quase irrelevantes... Será que minha lógica do pássaro comer lagartas está errada? Ou isso seria apenas uma diferença bruta entre as forças dos pokémons?"

Se minha segunda suposição fosse a correta, além dos ataques de Ciri não serem uma fonte de dano confiável, eu ainda teria que tomar bastante cuidado com os avanços da lagarta pra cima dela. Uma mudança de estratégia, portanto, seria necessária e eu me dirigia à pokémon pássaro mais uma vez:

— Dessa vez, você vai prestar suporte ao Wolf, mas preste bastante atenção aos movimentos dele, pois em breve você fará suas próprias batalhas sozinha!

Após orientar a pequena, dava meus comandos para a batalha:

— Ciri, procure-se manter no ar, se possível fora da área de ataque do Wurple, e utilize o Peck no fio de seda que prende o Wurple a árvore. Depois, use o Growl!

Se a investida de Ciri havia surtido quase nenhum de feito, o ataque de Wolf, por outro lado, havia nocauteado o casulo instantaneamente, tornando a situação mais favorável para nós. Wurple parecia querer vingar o companheiro, mas permitir aquilo estava fora dos meus planos.

— Wolf, tente pegar o Wurple no meio da queda — para que não tenha chance de escapar — com um Flame Wheel! Se você errar ou o Wurple se manter de pé, emende outro Flame Wheel em seguida!

Por pouco, Ciri não conseguiu cortar o fio, mas independente, a própria Wurple tomou a atitude de descer ao solo. Sendo recebida por uma poderosa investida flamejante de Wolf, a pequena lagarta foi instantaneamente a nocaute.

— Nossa, Wolf, impressionante! Você está muito mais forte do que quando começamos! — Elogiava o canino e depois me dirigia a pequena: — Você quase conseguiu, Ciri! Mais um ataque e o fio romperia... Mas já dá pra ver que a técnica e a intensidade dos seus ataques está melhorando! E logo colocaremos isso a prova! Mas antes...

Retirava do meu bolso uma das pequenas esferas branca e vermelhas e arremessava na Wurple caída em frente a árvore. — Vai, pokébola! — Depois, apenas torcia para que a pokémon permanecesse dentro da esfera. Como Ciri havia se juntado a mim por vontade própria, aquela seria efetivamente minha primeira captura, caso eu tivesse sucesso.

— Vocês dois se saíram muito bem juntos, parabéns! Agora que tal descansarem um pouco? — Após dizer aquilo, eu retornava Wolf e Ciri para suas respectivas pokébolas.