[Fallarbor] Eu e uma joia partida...

O relato da senhora na rua era interessante, mas não poderia negar que era suspeito. Sendo verdade ou não, a falácia da mulher remetia às duas personalidades: uma que fora alertada por Joy, ainda no Centro Pokémon, dizendo que era um velho rabugento e, agora, outra, que era apresentada por aquela “prestativa” mulher, que dizia que ele mudou por conta de sua atual esposa... Bem, eu fiquei curioso, não nego, no entanto, incomodado, porque eu não esperava que fosse tão difícil assim pelo menos começar a falar com o homem sobre o que ele estava passando.

Seja verdade ou mentira, eu agora estava diante da dita cuja, a rainha Viúva Negra. A mulher saia já questionando sobre o marido. Seria ela uma possessiva? Era possível, mas matar outras pessoas era um crime bárbaro, principalmente se fosse por dinheiro, joias ou outros artefatos... Acreditava que o Sr. Haruki era muito bom no que fazia, então, pensava que ele tivesse também condição financeira condizente, afinal, se de toda a Fallarbor, repleta de artesões, apenas ele conseguiria consertar uma Life Orb, então ele tinha preferência de exclusividade em vários outros trabalhos envolvendo objetos similares...

Mas bem! A mulher! Ela vinha em sua marcha de autoridade contra mim, o que me fez piscar os olhos duas vezes para entender como que a velha fofoqueira, digo, senhora prestativa tinha sumido tão rápido de perto de mim. Após arquear a sobrancelha, eu esquecia desta, e me concentrava no “problema em potencial” que vinha até mim, possível...

- Bom dia!- sorri, despindo-me de qualquer preconceito, possivelmente criado por uma fofoca de rua. - Chamo-me Ayzen Kitshomo, sou treinador Pokémon... O senhor Haruki se encontra?- perguntei como se não soubesse de nenhuma personalidade do sr. Haruki ou Nazaré. Eu olhei de forma simpática para ela, enquanto segurava a joia em minhas mãos, deixando transparecer ser apenas um jovem procurando um joalheiro... Vamos "sentir" quem Nazaré é de verdade...

Um arrepio saia dos meus braços até a coluna. Meus olhos se arregalavam na medida em que eu via aquela mulher “marchar” até mim e me encarar como seu inimigo mortal. O questionamento seguia atrás de outro. Engolia em seco. Não tinha tamanho, a senhora, mas era mortalmente ameaçadora como tal. Claro que um gaguejo era deixado escapar diante da situação, e eu esquecia do meu treinamento e posição na organização, quando encarei a mulher. Queria só me esconder dela, era este o sentimento que mais aflorava na presença da Viúva Negra.

Ok, não estou convencido que ela queira algum mau ao senhor Haruki, mas que ela transparece ser muito o estereótipo de vilã de desenho animado, com certeza, sim. Desculpe o preconceito, baseado na primeira vez que eu me encontro com ela. No fim, eu ainda precisava reunir coragem pra poder responder e ela já estava armada (em vários sentidos) para poder proteger o seu marido. Talvez fosse super proteção... Mesmo que algumas super proteções apenas mascarassem relacionamentos abusivos. Olhar não vai matar.

- Eu preciso de uma consulta com o sr. Haruki, na verdade, um conselho dele pra poder reparar esta joia que tenho. Acho que ele como o melhor artesão da cidade tem o conhecimento para isso.- iria jogar um charme, mas era notório que ela não ia me engolir, exceto se fosse literalmente. - Prometo que não vai perturbar nem ele e nem a senhora, apenas um pouco de informação para um treinador que veio de longe. Nem pretendo ficar na cidade muito tempo...- dizia a ela, querendo ajuda pra aquela situação.

  “Ela me deixou passar?”, a Viúva estava diante de mim e parecia bem susceptível a me deixar entrar. Era fácil assim? Algo dentro de mim dizia que não! Ela certamente ficaria mais perto de mim e me encararia a cada passo que eu desse naquele momento. Mesmo que não fosse, eu me sentia observado naquela casa. Adentrei dando os meus primeiros passos meio bambos naquela residência, dando uma pequena olhada para trás procurando a mulher que estava me dando informações outrora.

Antes de entrar na casa, perguntaria sobre o estado de saúde do sr. Haruki: - Ouvi dizer que o sr. Haruki está mal de saúde... É algo grave?

  Muitas informações não estavam batendo. Primeiro, Joy informou que o Sr. Haruki era um velho ranzinza, que não tinha bom humor e tratava todo mundo muito mal, inclusive, raramente ele iria aceitar um serviço. Andando um pouco pelas ruas e encarando as velhas fofoqueiras (com todo respeito), descobri que na verdade o artesão era um homem bom, mas que mudou muito ao casar e que estava doente. A Viúva negra Nazaré dizia que ele estava perfeitamente bem de saúde, só a memória que não era das melhores. Mas deveria ser mais velho e cheio de preocupações com a idade e coisas do tipo, o que justificaria a perda de memória. Jogue a primeira pedra quem nunca esqueceu nada!

Ao entrar na casa, ia até o homem. Notoriamente estava longe de ser doente, refutando as fofocas. Será que as fofocas sobre Nazaré eram falsas também? Tudo bem que ao olhar pra aquela mulher eu me arrepiava todo, pois oh mulher que tem uma aura dark, é esta Nazaré... Mas ela me deixou entrar, então talvez fosse só um preconceito sobre a personalidade da mulher... Talvez...

- Bom dia, sr. Haruki.- cumprimentava o homem ao vê-lo. Felizmente ele pediu privacidade pra a gente, o que fez com que Nazaré possivelmente se retirasse e deixasse nós dois à vontade. Com isso, poderia tentar arrumar mais informações do que só a joia, que desde o começo estava na minha mão, envolta naquela parte resistente dourada que estava com a correntinha ligada. Eu coloquei o item para o homem ver, queria que ele, sobretudo, identificasse com o olhar. Claro, eu como treinador cujo ofício não é item não notei o Life Orb de começo, mas de fato ele conseguiria identificar melhor do que eu.

Tomaria fôlego, relembrando o que eu poderia dizer, e nada poderia dizer senão a verdade... Comovente? Nem tanto, mas era o que tinha! - Esta relíquia foi entregue a mim por uma amiga que fiz em Rutsboro. Graças a esta joia, a vida dela foi salva, mas o item foi despedaçado. Infelizmente, o amigo dela não teve a mesma sorte.- dizia olhando perdidamente para um espaço na sala, deixando um suspiro escapar. Lembro-me de Pitu e do pedido de batalha que eu neguei. “Poxa, por que eu não batalhei com ele?”, questionava-me como se uma batalha fosse trazer o menino de volta... - No fim ela me deu este item e seria muito importante para mim tê-lo restaurado. Sr Kuromo Haruki , sei que o senhor é o melhor artesão desta cidade e segundo minhas fontes o único que pode restaurar... Preciso muito da sua ajuda, mas claro, não quero, nem de longe, atrapalhar o senhor ou causar problemas. Tem minha palavra!

  A primeira personagem naquela história que parecia estar correta era a enfermeira Joy. O homem não era tão “doce” quanto as vizinhas fofoqueiras da rua dizia, ou foi a Viúva quem tinha o transformado. No entanto, apesar da falta de sensibilidade do homem, eu tinha conseguido um artesão para a Life Orb e uma oportunidade para restaurar o item. Aquilo era de fato uma alegria e uma pontada maior de esperança. Mas nem tudo são flores! Ainda restavam algumas condições, das quais teria que providenciar. O apresso de sr. Haruki pela sua esposa era notável, enquanto eu não poderia criticá-la, nunca. Oportunidade dada era uma oportunidade.

- Claro!- assentia positivamente para o mais velho. Realmente, para consertar aquele item, precisaria de materiais específicos para tal realidade e para isso eu teria que ir atrás. Também era super justo um preço, simbólico, pelo serviço. Mas que preço simbólico? Algo em mim dizia que o homem não falava em dinheiro, com certeza.

- É só o senhor me dizer onde acho os materiais e o que o senhor quer em troca de seus serviços e vou atrás.- determinação era o que não me faltava e se eu consegui me deslocar sobre tantas fofocas e chegar ali, eu não iria recuar diante da situação.