Formigueiro na rota 3!

A garota por fim obteve a perfeita chance de relaxar um pouco, visto que seus oponentes estavam caídos. O orgulho por seu pequenino Nidoran inflava no peito da ruiva, ao passo que ela limitava-se a ajeitar uma mecha rubra de cabelos atrás da orelha. Sinceramente, estava um tanto quanto preocupada pela pobre formiga do loiro a seu lado, no entanto, o que poderia fazer? O que restava-lhe era agradecer a Arceus por permitir que seu companheiro ainda estivesse firme e forte em campo.

Sua mente indicava à jovem que a partir dali as coisas poderiam se amenizar, no entanto, foi surpreendida após ambos os ladrões retornarem os pokémons em nocaute, mas retrucarem aquela derrota ao lançar mais dois oponentes ao campo. Sua face foi tingida pelo vermelho, no entanto, era apenas o mais puro ódio que corria por seu sangue. Uma chama acendeu-se em seu peito enquanto um brilho fervia em seu olhar. Respirando profundamente, fez o possível para conter o impulso de simplesmente atirar-se naquela gatuna atrevida e pregar-lhe uns bons tapas para fazê-la aprender a ser gente de verdade. No entanto, limitou-se a cerrar suavemente o punho, retornando a seus pensamentos.

Seria tolice forçar Zuby a permanecer em combate, portanto, ela apenas mirou a esfera bicolor do jovem animal, observando-o ser envolvido por um raio escarlate antes de desaparecer no ar. Apertando um pouquinho o objeto, aproximou-o dos lábios, murmurando um baixo "Obrigada", logo resguardando tal item em sua bolsa. Em contrapartida, retirou um aparelho avermelhado de tal local, mirando a lente digital contra aquela estranha rocha e também de encontro ao morcego, esperando um tanto impaciente que as informações dos animais fossem liberadas. Quando isto ocorreu, pensou por alguns segundos ao guardar novamente o eletrônico.

A fraqueza de Geodude indicava que Ryo seria uma ótima opção, no entanto, caso Gabriel resolvesse investir contra a rocha ambulante, necessitaria contra-atacar com o foco em Zubat, além disso, ainda deveria conhecer o curioso Cryogonal, pois ele seria seu único tipo realmente eficiente. A ruiva assustou-se um pouco ao ser pega de surpresa pelo estalo parecido com um tapa a seu lado, desviando o olhar para o loiro, antes de sua atenção ser voltada à voz de seu amigo de infância, acabando por limitar-se a assentir suavemente com a cabeça. Bem, aquilo resolveria todos os seus problemas, então não deveria mais preocupar-se... Ou deveria?

Novamente, agora via em campo aquele roedor que não há muito acabara por dar-lhe uma surra desagradável em Pewter. De todo modo, desfocou-se de tal detalhe. Estavam do mesmo lado agora e rivalidade se concluiria como uma derrota. Um pouco hesitante quanto sua escolha no momento, a ruiva balançou levemente a cabeça, antes de retirar uma de suas esferas bicolores do tecido que as envolviam e mirar o centro esférico prateado no chão. Um raio esbranquiçado impactava contra sua parte superior, partindo o objeto ao meio. Logo, aquela luz impactou contra o chão com o peso de uma pluma, e um pequeno formato de bulbo era a primeira coisa a ser identificada, antes das tonalidades respectivas da espécime se fizessem presente no corpo da própria.

A pequenina Bulbasaur olhou ao redor, ainda um pouco atordoada. Porém, foi só focar-se no roedor elétrico que uma expressão irritada roubou-lhe a face, antes de alguns sons característicos da espécime saírem de seus lábios, um timbre que indicava com clareza seu descontentamento. Natalie respirou profundamente, antes de se abaixar e tocar com suavidade o corpo de sua inicial de forte psicológico. Ela tinha a consciência da frustração de Ryo e do motivo para tal, no entanto, não se daria o luxo de mencionar isso em voz alta... Não com tantas testemunhas a seu redor.

- Ryo, por favor, se acalme... - A pokémon grama observou a Mestra um tanto perdida, porém, o ódio brilhava em seus olhos escarlates - Eu... O que acha de relaxar em uma batalha? - Ela pediu meio sem jeito, e foram alguns segundos que se passaram antes do animal assentir suavemente com a cabeça. Suas orbes voltaram-se de imediato para o rato elétrico, estreitando-se com suavidade - Não. Não é com ele - Suspirou baixo, indicando o pedregulho com braços alguns metros à frente - Aquele é seu foco. Posso contar com você?

As frases pausadas findaram-se com aquele último questionamento, enquanto o silêncio predominava por alguns segundos entre ambas. Um barulho meio desanimado foi emitido pela inicial, que apenas assentiu levemente com a cabeça. Seu descontentamento por não obter o alvo que pretendia era claro, mas se era sua chance, ao menos deveria concentrar o ódio em seu atual adversário. Natalie permitiu que um pequeno sorriso emoldurasse seus lábios, antes de tornar a erguer-se e arrumar suavemente o tecido de suas roupas.

- Obrigada - Ajeitou uma mecha de cabelos atrás da orelha, por fim voltando o olhar para a estranha rocha ali presente. Era hora da batalha, não é verdade? Deveria focar-se e começar seus comandos... No entanto, o campo não estava apto para que gozasse de alguma estratégia. Infelizmente - ou felizmente -, a ruiva apenas deveria focar-se em comandos simples... Pelo menos, por hora.

- Ryo, inicie seus movimentos com um Sleep Powder para atrapalhar seus adversários! Logo em seguida, quero que faça uso de um Vine Whip contra Geodude; Envolva seu corpo rochoso e deixe-o impactar contra o chão o quanto for possível - Lançou as ordens em campo.

Só restava-lhe saber se aquilo realmente funcionaria...

A garota respirou profundamente, ao passo que lentamente sua mente contava de um até três. Precisou segurar-se para que não acabasse realmente se atirando naquela ruiva ao notar suas reações de acordo com o combate. Cerrando fracamente o punho, observou impotente o desenrolar do turno, e seus dentes trincaram-se no interior da boca com sua finalização. Definitivamente, estava em péssima posição. Quer dizer, além de ter obtido um dano mais abrupto para Ryo, esta ainda parecia ser a mais fraca daquele grupo um tanto quanto inusitado. Em breve, Overgrow seria ativado por pura fraqueza da menor, no entanto, não poderia dar-se ao luxo de aguardar seu enfraquecimento para que assim pudesse agir de fato.

Outro problema que enfrentava agora não era por seu lado, mas sim pelo de Gabriel. Quer dizer, a lama espalhada no solo absorvia parte da eletricidade e inutilizava certas porcentagens do golpe do loiro, e isso estava bem específico no aparente dano nulo no morcego venenoso. Um tanto quanto perdida, porém, ainda com a irritação presente em sua corrente sanguínea que espalhava-se por seu corpo, a garota questionava-se por quanto tempo ainda teria de aguentar aqueles tolos enfrentamentos. Seriam aqueles pokémons os últimos dos quais seria obrigada a derrotar? Sinceramente, parte de si não estava contente com aquele embater de forças, porém, não poderia permitir-se abandonar aquela batalha. Do contrário, poderia apenas assumir uma derrota e também acabaria sendo roubada... Isso, definitivamente, não deveria e nem poderia ignorar.

Sua atenção voltou-se ao loiro que ali estava quando o rapaz indicou uma mudança de planos, coisa que definitivamente foi aprovada pela ruiva – visto que ambos os adversários haviam resolvido investir apenas em sua pobre inicial -, no entanto, uma gota de decepção recaía sob seu peito em simultaneidade. O que ele queria dizer com “Tente fazer que Bulbasaur coopere”? O loiro por acaso estava insinuando que sua pequena estava sendo inútil, apenas ocupando espaço ali? Ou ousava dizer que ela apenas o atrapalhara?

Ela mordeu suavemente o lábio inferior, ao passo que seu olhar desviava-se e tomava um brilho fosco, praticamente impassível. Era incrível. Em menos de um dia, o rapaz conseguira apunhalar diversas vezes seu coração, chegando ao ponto de quase esmigalhá-lo. Se Ryo não estivesse sendo útil, a culpa não era toda sua? Quer dizer, as ordens eram apenas suas, não de sua Pokémon.

Uma única lágrima silenciosa transpassou a parte oculta de sua face, o que a fez se encolher um pouco e respirar profundamente. Não, não era hora para isso... Deveria concentrar-se e fazer o melhor de si. Tinha a consciência de que não se dava bem com estratégias e sua mente por diversas vezes afundava até o chão como uma bigorna amarrada em uma âncora que lentamente desliza para o fundo do mar. Ela fitou o chão e dali seu olhar ergueu-se para o combate, ao passo que seu punho cerrado tocava lentamente a lateral úmida de seu rosto, apagando os vestígios quaisquer de uma lágrima que um dia por ali deixara sua trilha salgada. Uma sombra passeou por suas orbes cinzentas antes de suas pálpebras cerrarem por alguns segundos consecutivos. Quando tornou a abri-las, seu olhar estreitou-se com suavidade e seu foco retornou apenas às ordens que o loiro impusera no campo.

Auxílio? Poderia até negar-lhe, mas isso custaria a vitória e seu orgulho. Tinha a consciência de que o rapaz poderia cuidar daquilo sozinho, porém, de todo modo, seria tolice abandonar tudo agora e atirar uma vitória quase certa em um abismo profundo da incerteza, surpresa e cólera. A ponta de seus dedos deslizaram pela mecha que pendia à frente de sua face, movendo-a pacientemente para trás da orelha da jovem e, assim, ela desferiu as últimas palavras que sairiam de sua garganta... Pelo menos, por enquanto.

- Ryo, faça uso de um Vine Whip para enlaçar os braços de Geodude. Imobilize-o e sufoque qualquer tentativa dessa rocha soltar-se. Quero também que use um Leech Seed no mesmo animal, isso pode ser útil pelo resto do combate.

Ah, o nome disso... Não tinha certeza. Vingança, mágoa contida? Talvez. De todo modo, a única dúvida que ainda bailava em sua garganta seria...
Como aquele turno poderia ter a chance de findar-se?

Silêncio.

Isso era tudo que transpassava a mente da ruiva que, com um brilho neutro e até meio fosco a inundar-lhe o olhar, assistia sem ver o turno que seguia-se ali à sua frente. Suas mechas avermelhadas rodopiavam com o vento a estimulá-las, mas a garota apenas permanecia impassível com os fracassados estímulos da natureza. Parte de si buscava uma mínima felicidade no avanço de sua Pokémon, de seu lado. No entanto, a outra, uma bem maior desta vez, submergia em um negrume sem fim, um lamaçal que lhe assolava a alma e trazia profundas cicatrizes à seu coração. Cada movimento parecia deslizar perante suas retinas em um simples modo de câmera lenta, que corrompia seu cérebro e o impulsionava em direção a um abismo sem fim. As gotas salgadas que antes ameaçavam banhar-lhe a face alva, agora desapareciam de sua fonte sem deixar vestígios e sem umedecer as bochechas claras da garota.

Ela não mais ligava para o que aconteceria a seguir. Os laços, já frágeis, pacientemente eram rompidos e separados uns dos outros, emoldurando um vazio, um poço de solidão e mágoa perante ambos os antigos amigos de infância, que agora apenas poderiam ser vistos como rivais, treinadores com sede interna de vitória. Se compreendia o que estava acontecendo consigo mesma? Não, não conseguia. Estaria mentindo se ousasse falar o oposto de tal fato. Muitas coisas em pouquíssimo tempo se mostraram presentes em suas frágeis memórias, e agora seu coração apenas buscava a liberdade das amarras em que fora envolvido. Sua expressão era suavemente sombria, neutra. Impassível. Não, aquilo não era mágoa, ódio, rancor. Ela apenas cansara de importar-se, cansara de silenciosamente rogar por auxílio sem que ninguém ousasse pensar em estender-lhe a mão. Pelo menos, não até aquele exato momento, afinal. Não poderia julgar o futuro sem que este se mostrasse à sua disposição, não é verdade?

Talvez, ela apenas estivesse ficando... Louca. Uma loucura tragada pelo sombrio silêncio da mente, aprisionando-a em uma gaiola inquebrável, onde ali ela não mais poderia pedir ajuda para qualquer um dos que passassem por seu caminho. Como poderia estar tudo tão ruim assim? Era incrível, e ela não conseguia entender. Pouco antes, tudo estava tão claro em sua vida. Tudo jazia tão bonito em sua estrada submergida em fé. E então, tudo aparecera morto à sua frente, tragado pelos inimigos que passeavam pela escuridão do Inferno. O que antes era vivo, foi tomado pela solidão e a mágoa que se contivera até então, para explodir em um profundo dano psicológico. Ela não chorava. Ela não queria mais entregar-se para as armas psicológicas que seu caminho usava para atingir-lhe com profundidade e a demolir em meros segundos. Não poderia dizer que era forte, mas necessitava pôr um ponto final naquele sofrimento. As portas firmes daquelas grades que cercavam-lhe em um mundo ilusório apenas firmavam a opinião de que o nome do que a envolvia era nada mais que o sofrimento, onde a beleza e as cores da vida não conseguiam entrar.

Ela acreditava que nada poderia quebrar uma amizade, e fora traída por seu próprio pensamento. Suas orbes acinzentadas subiram aos céus, bailando na tonalidade azulada que protegia-lhe do infinito que transpassava por todo o Universo. Sentia a sensação quente e ao mesmo tempo suave que o Sol trazia para sua pele, roçando suavemente os lábios de seus raios solares por seu coração. Fitava as poucas folhas que rodopiavam com delicadeza no ar, impulsionadas pelo vento a abandonar seu verdadeiro lar, e sentia-se como uma destas citadas. O vento era uma fonte que, rápida e fria, arrancava as rosas – que faziam papel de folhas – de seu monte e arrastavam-nas para o mar, rumo ao desconhecido perigoso de profundas agitações violentas. Uma teoria talvez mórbida, talvez não. Ela perdia-se entre os significados dos próprios pensamentos, desaparecendo entre questões nunca erguidas, mas que feriam-lhe alma e coração.

Então, chegou a finalmente olhar para os ladrões ali à frente, antes de desviar seu foco para o loiro ao lado. Centrado, sua atenção ignorava quaisquer outras coisas que buscavam um aconchego de seu olhar para trocá-los por uma batalha quase sanguinária, uma vingança planejada contra os seres que ousaram traçar uma tentativa falha de sequestro aos animais pertencentes a ambos os... Bem, poderia julgar como ex-amigos, ou talvez estaria precipitando-se. Mas por qual motivo oculto estaria? Aquele não era Gabriel que conhecera, e nunca seria ou teria chance de voltar a ser. Quem sabe a ruiva não houvesse apenas encantado-se por uma falsa, uma passageira personalidade que marcava o passado do rapaz de mechas douradas que fitava com desejo de vitória aquele travamento e embater de forças em plena Rota Três? As tantas lágrimas que derramara por culpa daquele jovem haviam sido em vão? Bem, ele não parecia realmente importar-se com tudo aquilo, embora um ponto de interrogação ainda emoldurasse seu cérebro com a lembrança dos segundos que se correram pouco antes da abrupta interrupção daquela bomba de gás. Não entendia o motivo que o impulsionara a agir de tal modo, visto que na maior parte do tempo apenas passara para trás os sentimentos que antes sentia. Será que sentia? Ela não mais sabia, ela não mais queria saber.

Um soluçar, um choro aprisionado e nunca libertado de sua garganta. Foi com neutralidade que o assistiu abrir a boca apenas para pedir um mero favor, sem sequer dar-se o trabalho de desviar suas pupilas enegrecidas daquela insuportável batalha que desenrolava-se naquele campo inusitado. E mesmo com aquele pedido, ignorou qualquer reação que poderia manter apenas para lançar suas ordens em campo, o que desencadeou uma tormenta maior ainda em seu peito sufocado. Uma silenciosa oração foi feita no fundo de sua mente, para que jamais tornassem a ver-se novamente se os atos que seguiam-se apenas traziam dor à sua alma recém-cicatrizada. O que necessitava no momento era afastar-se, retornar à cidade, descansar... Não sabia, tampouco fazia-lhe diferença tal fato. Seu olhar desviou-se ao campo, apenas torcendo para que aquele encontro indesejado fosse destroçado o mais rápido possível.

- Aproveite que já está a segurar Geodude. Erga-o e faça-o impactar contra o solo até que o nocaute seja feito. Também desejo que faça uso de suas vinhas para afastar a lama da terra e afastar Zubat de si com uma chicotada (Vine Whip). Use um Leech Seed no morcego para atrapalhar seu voo, e desvie de qualquer possível ofensiva. A paralisia lhe dará tempo para perceber qualquer movimento que possa provir de seu oponente. Caso não seja possível realizar algum dos movimentos, atinja o voador com um Headbutt. – Foi tudo que obteve a permissão para escapar de sua garganta, em um tom neutro, porém, pendendo para o desânimo. Por fim, suas orbes baixaram-se até que suas retinas pudessem roças e captar a imagem da terra e nada mais.

Aquele era seu destino, afinal? Definhar em mágoa, solidão e trevas para o resto de toda a sua eternidade naquele planeta iluminado por Arceus?