Reconstruindo os primeiros passos

Tomava meu chocolate e contava os minutos em um relógio na parede, sentado em uma mesa na recepção. Como aquilo era agoniante! Para minha sorte, Mimi demorou menos do que tinha previsto. Levantei para recebe-la e procurei por Daisuke. Não estavam juntos. E então tudo veio junto, rápido e forte! Assim como o abraço desesperado da garota.

"Acidente? Perda de memória? Como assim?" - me interrogava em pensamento.

Não estava sabendo de nada e olhava confuso ainda tentando entender, mas já ligando alguns pontos. Pensei um pouco mais antes de responder.

- Teve um dia que estávamos juntos e ele disse que queria me contar uma coisa, mas fomos interrompidos e ele não voltou mais no assunto... - segurei nas mãos da loira e olhei no fundo de seus olhos tentando seu um porto seguro - Mimi, tenha certeza de que tudo vai se ajeitar.

Eu entendia o lado dela. Até onde eu sabia os dois tinham um relacionamento, ainda não oficial, mas eram bem próximos. Devia estar sendo realmente ruim ter sido esquecida como se fosse uma qualquer, mesmo que o motivo tenha sido uma doença. E lembrando um pouco do Daisuke egoísta... Será que ele tinha piorado? Se sim, aquilo era realmente preocupante.

Dei o espaço que a guria pedia e deixava ir sozinha tomar seu ar.

Ela tinha deixado um papel comigo com o nome do hospital. Eu não conhecia, mas com a visão do meu voador aquilo não seria problema.


Chegando na instalação, fui até a recepção e perguntei pelo quarto de Tachikawa Daisuke, sendo corrigido eventualmente e indicado o número do quarto e andar. Caminhei como um fantasma pelas instalações sem me importar com os que estavam ali. O ambiente era sofrido demais para minha realidade e me lembrava de dor, algo que pretendia evitar. Ao chegar no lugar bati duas vezes e entrei sem ser anunciado ou respondido dizendo num tom amigável com aquele sorriso ingênuo:

- Licença. Sua namorada disse que eu o encontraria aqui... Como você ta amigão?

Off: Se eu fosse você desistia da rota na primeira oportunidade u-u

Saíra do centro pokemon ainda bastante revoltada, mas a doce reação de Matthew me fizera reparar que Daisuke de nada tinha culpa, eu acho, se há alguém culpada nessa história, muito provavelmente sou eu, que levou o menino a um bar mesmo sabendo de seus problemas. Que seja, ainda assim, não quero lidar com isso agora. Continuei andando, atravessando a praça central e indo direto ao espaço arborizado e vazio da cidade, sentando lá e respirando, o ar fresco em minha cara finalmente me fizera parar de chorar, estava na hora? Claro, mas fora só agora que consegui desatar o nó da garganta e falar com precisão. Cantarolei uma música, balancei as pernas, pensei em tudo que não pensava a meses: família, escola, amigos antigo e velhas diversões, pensei até se voltaria para minha vida antiga de agora em diante. Será? Não seria tão ruim assim, eu acho. Felizmente minhas memórias ruins da rotina anterior iam se dissipando e pensar nisso só me causava nostalgia.

Fiquei ali mais um tempo até finalmente poder pensar um pouco no assunto sem precisar chorar. Sorri um pouco, orgulhosa de mim, até cogitei a ideia de voltar para ajudar Daisuke - sim, ele precisava de ajudar-, mas cheguei a conclusão que precisava ser um pouco egoísta no dia de hoje; ser altruísta com aquele menino poderia me fazer perder a sanidade. Sendo assim, levantei um pouco do meu banco e fui até a fonta, olhando meu reflexo e, de início, me assustando com a maquiagem completamente borrada em meu rosto, mas logo em seguida, caindo em uma crise de riso imensa. Meu humor não estava só completamente instável, como também ferrenhamente sensível. Levantei-me de vez, me afastando daquele reflexo, tirei a poeira dos joelhos e disse para mim mesma:
- Vamos dar um jeito nisso? - Falei, indo procurar algum lugar onde eu poderia tomar um banho e me arrumar.

OFF: Claro que pode <3 Faremos assim, quando achar Petilil e/ou Mimi, daremos uma pausa na rota e você vai lá, ok? Btw, deixarei vocês desenvolverem melhor o diálogo de vocês, deixando essa parte por conta dos dois, então vão postando, quando sentir necessidade eu narro, porque eu realmente não fazia ideia do que narrar nesse diálogo de agora, então só narrei Mimi em uma linha paralela.

Ao chegar no quarto me deparo com uma cama vazia e então ouço um estrondo vindo da porta atrás de mim. Com o susto vinha a resposta para ao menos isto. Suspirei quando o vi e pensativo fiquei ao ouvir as palavras dele. Olhei para o teto e então sentei na cama.

- Cara... É melhor você sentar - dei espaço para ele se quisesse e então começava - Tem uns meses que nos conhecemos em Violet, Johto. Você estava num torneio nerd com a loira que devia estar com você ainda hoje neste hospital. O nome dela é Mimi e vocês dois tem uma história maior do que a gente. Enfim, depois de te enfrentar no torneio e em seguida lutar ao seu lado, você me propôs viajar para Hoenn. Foi meio repentino e você parecia querer fugir de alguma coisa. Você é um dos caras mais fortes que conheço. Das duas vezes que lutamos, você me venceu - sorri ao admitir aquilo e voltei á história - Depois que chegamos em Hoenn nos separamos duas vezes, mas antes disto nós dois, sem Mimi desta vez, passamos por um momento complicado numa rota qualquer onde eu precisei confiar de verdade em você como meu amigo.

Levei a mão no rosto lembrando do soco que eu tinha levado pelo meu desaforo e pelas palavras duras que eu tinha dito. Aquele fora o momento mais forte de nossa amizade e fora ali que quase contei o segredo de minha vida e quase ouvi a confissão dele.

- Dai, como eu te chamava, você estava para me contar alguma coisa naquele dia. Algo que acho ter haver com o que está rolando agora. Mimi, a sua namorada, me disse sobre um acidente. Ontem vocês beberam demais e isto pode ter desencadeado alguma coisa na sua mente. Eu sinto muito por não ter te encontrado antes...

Não consegui continuar. Tive que virar o rosto e engolir o choro. Respirei fundo uma última vez e encarei o moreno com expressão alguma. Ele parecia perdido como se não soubesse mais qual rumo tomar na vida. Era meu dever como amigo ajudar. Não era?

- Não precisa acreditar em tudo que eu digo. É só olhar no seu celular que vai vez quantas chamadas perdidas e sms que você não retornou. O motivo? Você pode não querer ouvir, mas na minha mente só vem duas coisas: egoísmo ou você não queria que a gente sofresse como a pobre da loira está.

Contraia os lábios esperando não ter sido muito duro.

A reação dele não foi como esperada. Em verdade, não sabia o que esperar. Eu provoquei aquilo... Sutilidade não era meu ponto forte, mas compaixão sim.

Me levantei e fui sentar ao lado dele. Olhei para cima e comecei a folhear o caderno com as anotações do garoto que um dia conheci. Só fiz levar a mão na boca e sentir pena.

- você já sabia... - sussurrei para que apenas ele ouvisse, por mais que estivéssemos a sós no quarto - era isso que queria me contar naquele dia. Acho que não o fez porque eu te disse coisas muito duras sobre o que é ser um bom amigo. E em julgamento você dizia que não tinha amigos. Na verdade, você não queria ter para que não sentissem sua falta.

Ao menos achava que era realmente aquilo. Tentei colocar ele sob um de meus braços. Ninguém devia querer ficar sozinho. Eu não aceitava isso.

- Você pode até ter razão - completava - mas isso não significa que eu vá te abandonar por uma coisa que você não tem culpa.

Por fim levantaria e daria a mão para ajudá-lo caso quisesse fazer o mesmo. Ficar no chão se lastimando não adiantaria nada.

- Quer almoçar ou fazer alguma coisa? Posso te atualizar das coisas que sei, como sua mãe, uma mocinha de cabelos pretos que você deixou em Johto e suas conquistas.

Meus planos de ir à Fortree teriam que esperar. Meu amigo precisava de mim e talvez a namorada dele também. Enquanto isso não se ajeitasse eu não poderia largá-lo sozinho por aí. Agradecia por não estar dando a mínima importância para os desafios de Hoenn. Aquilo era e sempre foi um treino para o que realmente me importava: Johto.

Assim que ele pegou minha mão e aceitou sair comigo, pensei em levá-o mesmo para um restaurante. Fazia tempo que eu não almoçava decentemente e depois do dia de hoje eu me achava merecedor.

No caminho, contei realmente como nos conhecemos em Violet e a briga que tive com ele quando tivemos que lutar juntos, mesmo ele pensando em salvar apenas a própria pele. Contei da conversa no CP naquele mesmo dia e de seus motivos para viajar para Hoenn. Primeiro que a passagem, estava de graça e depois que ele estava fugindo de alguém. Quando chegamos num lugar que parecia apetitoso pelo aroma, pedi uma mesa para dois e também o prato do dia com dois sucos refrescantes. Falei das coisas que enfrentamos assim que atracamos. Das pessoas que conhecemos. Dos desafios que nos aventuramos, como a mansão assombrada e guardada por um Aegislash e fantasmas. Disse da Copa Hoenn. Falei sobre Johto e as inundações que a assolaram. Disse também que tive um encontro com Hoppa e seus portais, o que dificultou ainda mais contatá-los. Contei das viagens que fiz sozinho com Tropius. Mostrei minhas insígnias, a fita recém ganhada e também disse que ele tinha algumas parecidas com as minhas vitórias. Terminava meu prato pedindo sorvete de sobremesa e comida Pokémon. Com isto falava do pouco que sabia sobre sua mãe, June e Mimi, revelando esta última como a melhor pessoa que poderia ter aparecido na jornada dele. Ela a seguiu por Johto e Hoenn mesmo ciente dos problemas do garoto.

- Cara, eu sei que é muita coisa, mas se você tiver dúvidas ou quiser um espaço para pensar, eu e ela - fazia referência a loira - entenderemos. Talvez devesse se divertir um pouco. Fiquei sabendo de um festival numa cidade um pouco distante, mas voando chegaríamos em poucos minutos.

Pegava meu sorvete de blue ice e repousava a comida pokémon na mesa para dar mais tarde ao pessoal.

Ao término dos fatos e histórias, Dai dizia algumas coisas que apenas assentia ou ficava observando sem precisar de resposta alguma. Quando me foi perguntado se eu podia contatar Mimi, não demorei para pegar a p-gear e escrever uma outra mensagem.

SMS escreveu:

Mimi, estou com o Daisuke num restaurante rústico próximo a Devon Corp.
Ele quer conversar com você. Pode vir nos encontrar?
Att, Matth.

Ele até que parecia reagir bem, em geral, com tudo que tinha para absorver.

- Pronto, agora é só esperar! - olhei para os lados e cheguei um pouco perto dele - Saca só.

Revelei Fera, que teve de engolir um rugido, se não seríamos expulsos dali com toda certeza. Eu quis mostrar a ele meu fiel parceiro. Meu Pokémon mais forte e incrível que, graças a sua proposta de vir para Hoenn, consegui melhorar em muito nosso estilo de batalha. pegava a metade da comida pokémon e dava para ele comer, oferecendo a outra metade para Daisuke guardar para o tal perdido.

Off: Anne, sua vez.