Reconstruindo os primeiros passos

Corri ao centro, já que foi o único lugar gratuito que passara pela minha cabeça, pedi uma nova chave a moça - evitando o comodo que eu e Daisuke usamos - e lá entrei, tomando um banho longo de quarenta a cinquenta minutos, para só então olhar no espelho e dizer adeus a cara amassada. Respirei fundo, encarei meu reflexo e disse a ele o quanto eu conseguiria seguir em frente. Segui. Sai do comodo, indo direto ao quarto e me vesti, de forma casual, peguei um vestido rosado e fresco entre meus tantos pertences e, com uma tiara branca, joguei para trás meus fios molhados. Sequei bem o rosto, cobri minha pele de maquiagem, escondendo as marcas avermelhadas da água salgada em minhas maçãs e, com o pouco de animo que ainda me restava, peguei o celular, cogitando até ligar a Matthew, perguntando como foi. Vamos, você consegue, Mimi. Coloquei o número do menino e antes de me decidir completamente meu celular vibrou. Outra mensagem. Li, agora com os olhos livres do embaço.
Sem muita demora, respondi o óbvio, um Ok simples. Porque decidira tão fácil ir atrás disso? Por dois motivos, o primeiro é o fato de eu ter responsabilidade nisso, o segundo, era que eu só tinha duas opções, fugir dos problemas ou encará-los. O próprio Daisuke já me mostrou que a primeira é bem mais saudável.

Peguei minha mochila, pus nas costas e sai, deixando o quarto da forma que me foi entregue, sem tirar nem por, apenas com as toalhas um pouco úmidas. Sai do edifício e mais uma vez peguei um táxi para um destino ridiculamente perto. Ok, onde está a cidade grande? Qualquer lugar que me decido ir é logo ali ao lado. Paguei desnecessariamente mais uma vez, mas dei de ombros, nada daquilo era realmente relevante ao meu problema; entrei no restaurante e, com o coração disparando, vi os dois conversando serenamente, a expressão de Daisuke não era de clareza, mas pelo menos, parecia bem mais calmo, por mais que ainda confuso. Aproximei-me aos pouco e, de um jeito completamente tímido e inseguro perguntei:
- Oi... Posso? - Apontando para uma das duas cadeiras vazias.

Ao caminho da mesa alguns pontos críticos já vinham sendo martelados em minha cabeça, tinha certeza que certas coisas seriam terríveis de ouvir, e outras? Bem, outras talvez fossem boas, sendo assim, apenas sentei e deixei-o falar. No primeiro momento o diário foi mostrado a mim, mal lembra Daisuke que ele já havia me apresentado seu caderno, mesmo que eu não tivesse tido contato com o conteúdo, conseguia imaginar facilmente a quantidade de fotos e escritos que lá teria; lembro de nós tirando muitas delas. Encarei a página que me mostrara sem muita expressão, eu lembrava daquele dia, mas ver não só a foto como também ler a perspectiva do garoto quanto aquilo me mexia um pouco. Empurrei os escritos com a mãos, se tinha algo que eu não queria nesse momento, era instabilidade. Não queria ver mais. Delicadamente devolvi.

Sem nada em mãos dei ouvidos ao que tinha a me dizer, tudo se encaixava e fazia sentido, inclusive a frase final. Uma das coisas que eu já aceitava em mente era que, ninguém em sã consciência namoraria uma desconhecida, e Daisuke podia sim estar sem lembranças, mas continuava lúcido. Dei de ombros, Matthew parecia se assustar com aquilo mais que eu, já que, fora da minha pele, aquilo parecera a pior coisa que eu poderia ouvir, mas não, no fim, eu considerava-o um completo egocêntrico por achar que eu ainda teria interesse em algo do tipo depois do ocorrido. Revirei os olhos e tentei não ser grossa em minha afirmação, finalmente reparando que, depois do lapso de memória, não fora só o menino que mudara completamente seu posicionamento nesta relação.
- Eu não pretendo continuar nada além de sua amiga, Daisuke - Afirmei, botando um ponto final na história.

Ao fim disso, um silêncio pairou sobre a mesa, eu deveria falar algo mais? Bem, não via sentido passar-lhe histórias que ele leria logo mais no diário, e relembrar algo que, infelizmente, não existe mais, seria levemente doloroso pra mim, sendo assim, decidi começar uma cerimônia de despedida, empurrando um pouco minha cadeira, causando um ranger irritante e dizendo firmemente:
- Bem... Prazer, Sou Mimi - aproximei, dei-lhe um beijo na bochecha e me afastei - Tudo que precisa saber está nesse diário, então espero que leia, tome seu tempo, eu irei procurar Petilil agora, já que você nem sequer lembra como é a pokemon, serei mais útil atuando nesse problema. Caso tenha notícias te mandarei mensagem - informei, não conseguindo largar mão da formalidade.
Estava prestes a me levantar, abraçar Thito e agradecê-lo, além de me desculpar pela formalidade e rigíssidade da conversa, mas antes disso, lembrei de mais dois ditos que precisavam ser expostos antes que eu saísse:
- O médico pediu para que você voltasse para alguns exames, não esqueça - falei, desta vez de forma autoritária - E pagarei a conta do bar mais tarde, já que passarei lá atrás da pokemon; pode me dar a comanda?

OFF: Não revisei, desculpa ):