O jovem monotreinador não recuava frente aquela afronta, ele se posicionava de modo a enfrentar o brutamontes e seu Graveler e também reivindicava o nome da sociedade a qual participava.

- Ta certo garoto, quando eu terminar com você eu darei um jeito nesse velho. – Bradou o trabalhador caminhando na direção de Gray.

A bola de pedras se preparava para uma luta, seus braços se endureciam e ele se fechava completamente, tomando uma forma esférica. O Graveler criava uma rotação em seu próprio eixo para, talvez, criar força suficiente e energia suficiente para derrubar qualquer Pokémon que entrasse em sua frente com um só golpe, e ao ver o Cleffa balançando seus bracinhos para criar o mesmo terreno antes feito contra seu treinador, o trabalhador dava altas gargalhadas.

- Hahahaha! Você ta querendo dar uma de herói usando essa coisinha aí? – Indagou.

Até mesmo o senhor suspirava como se já esperasse o seu fim.

Não bastou muito para que o rochoso se lançasse contra a pequena fada, mas com um rápido movimento, tanto de Gray como de seu Pokémon, um enorme e fantasmagórico Gengar conseguia segurar aquela bola de pedras com extrema facilidade, além de criar uma esfera de energias naturais e golpear Graveler com a mesma.

Os Pokémon se olhavam constantemente, e logo, com mais vontade, eles se chocavam novamente. Gengar repetindo o Energy Ball e o Graveler repetindo o Rollout.

As paredes se estremeciam e o chão tremia com tremendo poder.

Aquele monumento de rochas e pedras finalmente havia caído, e não foi qualquer queda não. Ao se encontrar com o chão gerou um tremor curto, mas devastados, as paredes e teto tremiam, fazendo algumas estalactites caírem e de destruírem ao se chocar qual a superfície, e as placas metálicas instaladas nas paredes também começavam a se romper e desmoronar. Eles precisavam sair dali rápido, afinal, em pouco tempo aquela caverna em específico iria vir abaixo.

O trabalhador gritava com fúria, ele usava toda sua força para reerguer seu Graveler e recuperar o máximo de instrumentos ali mantidos, o rapaz estava desesperado, ele não poderia deixar todo o seu trabalho ir por água, ou pedra, abaixo.

Mightyena conseguia morder e romper as cordas que seguravam seu mestre, logo, o senhor se apoiava no lobo noturno para sair dali, e o garoto seguia seu pai.

A repentina, e esperada queda, daquela ramificação de uma das cavernas da Granite Cave estava prestes a acontecer. O garoto usava das habilidades de seus Pokémon para salvar as pessoas ali, porém, uma delas desejava continuar salvando seus pertences. Ele buscava recuperar os papéis caídos no chão assim como diversas pastas de arquivos e alguns equipamentos eletrônicos, mas tudo era falho. Ele estava prestes a morrer soterrado caso não agisse rapidamente.

Gray não demorou para que utilizasse de sua nova parceira, Cleffa, para botar o homem e seu Graveler para dormir, eles caíam no chão como ancoras de navios piratas se encontrando com as profundezas do oceano e a habilidade de Mismagius era suficiente para fazê-los levitar para fora dali com segurança, porém, deixando para trás tudo o que ele havia tentado pegar.

O senhor, seu filho e o corajoso Mightyena conseguiam sair também, e mais importante, com segurança.

O cientista era abordado por indagações bem pertinentes de Gray, que deveriam ter um ponto concreto e bem explicativo, afinal, a sociedade Avengers não poderia deixar um crime como aquele passar batido, afinal, qual era o foco e meta do grupo?

Ele respondia tremulamente, suas mãos, ainda apoiadas no lobo noturno, continuavam acariciando seu Pokémon e seus olhos não saíam de seu filho.

- Sinceramente meu filho? Eu só estou feliz por meu querido Mightyena e meu amado filho estejam bem... eu posso lhe contar tudo o que quiser saber, mas se me permite... – Disse o senhor antes de uma breve pausa. Ele abraçava bem forte e calorosamente seu filho e seu Pokémon, aquele gesto tão amoroso poderia acalentar o coração do monotreinador. – Me desculpe por fazer vocês passarem por isso tudo... eu amo vocês!

O senhor estava quase chorando, as lágrimas se acumulavam em seus olhos, por trás de óculos, e estavam prestes a descer. O garoto e o Mightyena exibiam um largo sorriso de calma e paixão.

Após alguns segundos de momento fraternal o senhor se levantava, ainda com dificuldades, e se punha frente a Gray, prestes a contar tudo o que havia feito e sobre os planos a respeito do Porygon.

- Bom... primeiramente eu queria lhe agradecer por ser uma pessoa tão corajosa. Quero pedir desculpas também e mais importante quero falar toda a verdade para que você possa dar um fim a isso. – O senhor colocava suas mãos dentro de seu jaleco e tirava alguns papéis repletos de cálculos e informações bem complexas a respeito do Porygon, ele entregava a Gray e continuava. – Tudo isso diz respeito ao Pokémon a qual estávamos pesquisando, são informações sobre suas características naturais e suas habilidades. – Ele dava uma breve pausa e olhava para o “trabalhador” a qual estava em sono profundo alguns metros a frente deles. – Tudo começou alguns dias atrás quando ouvimos sobre um treinador que havia abandonado alguns filhotes. Naqueles dias eu estava prestes ao desespero, não tinha nenhum dinheiro para criar meu filho e minhas pesquisas iam de mal a pior, mas de repente este... rapaz... veio até meu laboratório e me ofereceu um bom dinheiro para fazer uma pesquisa com um Pokémon raro, eu fiquei animado, por aquilo poderia ser uma oportunidade para dar uma vida melhor a meu filho, eu logo aceitei e tratei de começar os experimentos, e guiado por puro medo eu não poderia falhar, a vida de meu filho estava em jogo... eu sei que isso não justifica as péssimas coisas que fiz, porém, como um pai eu tinha que fazer algo. – O senhor se virava, olhava para seu filho e logo colocava uma de suas mãos sobre a cabeça dele. – Ele e o Mightyena são minha família.

Gray agora sabia tudo o que havia acontecido, logo, com planos que provavelmente deveria ter, era hora de agir e decidir o que fazer com o trabalhador, seu Pokémon e o cientista.

Até então, devido o desmoronamento, a caverna estava interditada, sua única saída havia sido bloqueada por rochas e a única iluminação eram os olhos e corpo rosado da pequena Cleffa que segurava a calça de Gray por medo do escuro.

Gray ignorava completamente o “monólogo” do senhor justificando suas ações para com o Porygon e seus experimentos, ele só guardava os papéis recebidos e continuava seu caminho procurando por sua namorada que havia, caso ela fosse adentro da caverna, ficado presa junta com eles.

O jovem não precisaria caminhar muito para ver outra lanterna ao fundo de uma das cavernas que também ficaram debilitadas devido ao pequeno desmoronamento. Ela iluminava uma parede enorme a frente com alguns escritos antigos e também ecoavam alguns passos por sua extensão, como se alguém caminhasse por ali despreocupadamente, talvez.

O jovem percebia isso sem dificuldades e também poderia interagir seja com o ambiente, com o senhor que lhe olhava confuso, com o trabalhador amarrado em diversas cordas e também com a pessoa que empunhava uma lanterna iluminando aquela caverna a sua frente.

Gray estava preparado a qualquer eventualidade, e seus dizeres breves e bem objetivos para com o senhor cortavam completamente o assunto. Ele também estava atento a quem estaria se aproximando enquanto a luz crescia diante da escuridão da caverna.

A luz se aproximava, a cada passo era uma gota de suor descendo por sua testa e pescoço congelando o interior de sua alma como agulhas extremamente afiadas prestes a arrancar um pedaço de seu coração. A cada passo um novo sentimento de aventura, talvez.

Por fim, após alguns segundos de espera, ele dava de cara com sua namorada. Ela ainda não conseguia o ver, devido a escuridão em que ele estava e a proximidade da luz da lanterna atrapalhava a sua vista, mas certamente Gray conseguia ver que era ela.

O senhor, seu filho e o Mightyena ainda permaneciam parados esperando alguma ação para tirá-los dali, assim como o trabalhador ainda desmaiado e amarrado.