Pokémon Mythology RPG
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[Parents Meeting: Axégando na Onda do Bronzeado] – Sootopolis City –

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Tinha a sensação de que, mesmo que fosse a pessoa mais lesada do mundo - ou não tivesse ouvido, até - ainda assim não passaria despercebido aquela malícia toda estampada em Luch. Também por isso, não teve controle a respeito da maneira como o rosto se ruborizou, embora a resposta tenha se limitado à um sorriso, e as sobrancelhas e os ombros se moveram de leve numa expressão de "quem sabe?". Não deixou de achar graça, porém, na mudança de reação quando ele, aparentemente, se viu encurralado. Enquanto dizia umas coisas na maior naturalidade, outras mais "simples" (?) eram regadas daquele jeito constrangido, o que na real ela achava um amor... Apesar de não evitar um olhar de "te peguei", acabou levando uma das mãos ao rosto do rapaz, afagando seu rubor com suavidade.

Além disso, felizmente, o tutor também parecia disposto à passar mais um tempo antes de dar a noite por encerrada, e a moça acabou tendo que dar um pequeno espaço quando ele virou mais o corpo em sua direção. As pálpebras se apertaram bem de leve com o toque na ponta do nariz, e o selinho foi suficiente para que um sorriso pintasse os lábios. Parecia um pouco inacreditável como um único beijo de pontapé inicial havia sido o suficiente para que ambos se derramassem um sobre o outro, com tanta facilidade. Quase se sentia um personagem de livro - por que quais as chances de encontrar um encaixe daqueles num estalar tão rápido na vida real?

— Vamos! — Disparou, de imediato, quando ele sugeriu a volta pela praia. Só não esperava o completamento da frase, e se sentiu extremamente dividida entre rir ou se envergonhar - na dúvida, o resultado foi a junção das duas partes. — Ah, é? — Perguntou, dando uma espiadinha em sua expressão. — Bem, acho que eu tenho que aproveitar enquanto ainda não perceberam que você é "apetitoso"... — Brincou, em menção ao momento anterior sobre a gelatina. Estalou um beijo em seu rosto e, então, tomou os dedos do rapaz entre os seus novamente, se levantando e dando um puxãozinho de leve, o incentivando a fazer o mesmo, para que pudessem ir.

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Sabia que o meu último comentário ia deixar Natalie levemente envergonhada e não deu outra... Mas como eu poderia evitar se os gracejos surgiam naturalmente, como água jorra da nascente? A ruiva comentou que teria então de aproveitar, enquanto não notassem que eu era uma gelatina apetitosa, enquanto levantava e me puxava levemente após estalar um beijo em meu rosto. Sorri em resposta, levantando-me rapidamente também — Mas meu sabor não é para qualquer paladar, senhorita Chase... Só para os mais refinados... Então, digamos que eu seja um buffet de consumo particular seu — Comentei, tentando controlar o riso, conforme andávamos devagar pelas escadarias, sem qualquer pressa em chegar. Durante todo o trajeto mantinha nossas mãos unidas, com os dedos entrelaçados. Era um ato tão simples, mas tão poderoso... Mas enfim... O tempo pareceu passar mais rápido do que eu imaginava e quando menos esperávamos, chegamos até a praia.

— Posso te contar um segredo, Naty? — Questionei quase de forma retórica, porque eu já estava praticamente pronto para contar o que era de fato — Eu não sei nadar muito bem em praia assim... Normalmente tomo um caixote muito feito e me acabo todo na areia — Desabafei e depois caí na gargalhada, no momento em que deixamos o calçadão e começamos a pisar na areia da praia em si. Parei então repentinamente, retirando meus tênis, amarrando os cadarços de um no outro e colocando-os na mochila, para podermos sentir a areia nos pés sem ter que tirar caminhões dela dos calçados quando saíssemos. Esperaria Natalie, se ela quisesse fazer o mesmo e dessa vez, andaria abraçado com ela, passando minha mão por trás da garota, até segurar em seu ombro contrário, trazendo-a para o calor do meu corpo, conforme caminhávamos — Vamos molhar os pés!  

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A moça ergueu levemente uma das sobrancelhas quando o tutor começou a falar sobre como ele não era para qualquer paladar, e a expressão acabou se transformando com um sorriso bobo ao chegar na parte de que ele seria "particular" para si... Os dedos se movimentaram confortavelmente entre os seus, quando começaram a caminhar pelas ruas e vielas vazias.

— Então... Posso me servir à vontade? — Brincou, dando uma espiadinha de canto. Não demoraram tanto até chegar à praia, talvez por meio que já conhecer o caminho, e o cheiro mais forte da maresia a atingiu numa lufada só, que foi a responsável por balançar as madeixas ruivas - e também sacudir o tecido das roupas. O olhar mergulhou no mar - dessa vez, o de verdade -, observando as ondas calmas que rebentavam casualmente na costa, e inevitavelmente sorriu. Cheiro de lar: E, não obstante, a própria sensação dele intensificada, ao lado de Luch.

Falando nele, aliás, sua atenção se voltou novamente ao rapaz quando ele perguntou sobre o segredo... Mas a moça apenas esperou que ele continuasse, e acabou rindo com sua pequena confissão.

— Eu sempre fui mais de olhar, antes! Achava um caos mergulhar e tentar nadar, me debatia que nem peixe fora d'água. — Comentou — Mas acabou que me acostumei, vivendo um tempão na beira do mar, né? — Sorriu — Talvez algum dia a gente vá dar um mergulho juntos, quando a Lira virar um Gyarados, que tal? — Sugeriu, com uma pequena piscadela. Quando ele parou repentinamente, porém, freou junto para observá-lo, e o assistir retirando os calçados a fez considerar que, de fato, talvez fosse uma ideia melhor - então, fez o mesmo com as sapatilhas, sentindo os dedinhos afundarem no começo da praia.

A brisa noturna uivou, e o corpo estremeceu em resposta: Não precisou pedir, porém, e tampouco sofreu com a situação, visto que o rapaz se prontificou em manter os dois corpos juntos num abraço suave, o qual aceitou prontamente, se acomodando junto à ele. Outra coisa que não rejeitou foi a pequenina ideia de achegarem mais no mar: Na verdade, com uma espiadinha de canto, acabou que ela mesma tomou dianteira, agarrando-se à mão do rapaz e o puxando junto para que chegassem mais rápido à água, embora tivessem de parar bem no rasinho. O salitre invadiu seus pulmões, e a moça tirou um momento para respirar fundo, e deixar o ar escapar devagar.

Podia não ser sua casa, mas naquele exato momento, tinha tudo para ser um lar.

...Tinha outra coisa, porém, que até incomodava um pouquinho seus pensamentos. Se permitiu caminhar um pouquinho pela orla junto ao rapaz, o limiar entre a praia e o oceano, sentindo a água ir e vir. Reza a lenda que a água é capaz de guardar e afogar os pensamentos ruins - nesse caso, que chance melhor teria?

— ...Luch? — Deu uma olhadinha no moreno — Posso te perguntar uma coisa? — Questionou — ...Além dessa, claro! — Emendou, se esquivando de qualquer possível gracinha, e permitiu um leve sorriso. Os passos pararam, porém, e os orbes cinzentos se distanciaram no horizonte escuro. Então, suave, o olhar se voltou ao rapaz. Os dedos arriscaram roçar pelo lado esquerdo do seu cachecol, suaves, acompanhados pelas pupilas negras, antes que elas mergulhassem nas do parceiro outra vez — ...Você tem algum problema com essa tatuagem? — Perguntou. Não queria ser incisiva, e de fato não era - na verdade, o assunto nem bem era da sua conta, se ele não quisesse que fosse. Mas, em contrapartida, achou que talvez não fosse tão ruim puxar o assunto...

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Quando Natalie perguntou se podia se servir à vontade, olhando de esgueira com o jeito fofo que só ela tinha, pensei em responder na lata algo que, dessa vez me controlaria em emitir. Certamente a resposta gracejante que eu pensei teria uma segunda ou terceira interpretação bastante comprometedora, então repensei uma forma de falar, menos... impactante, digamos assim, mas ainda assim que fosse "a minha cara" — Até te saciar, Naty! — E ao dizer, fiz o mesmo olhar de canto que a garota fez, rindo em seguida. Enfim... Estávamos nós dois retirando os calçados para pisar na areia, logo após meu "desabafo" sobre a falta de habilidade no nado quando a ruiva revelou um pouco de seu passado em Johto, na infância. Era possível ver saudade em seu rosto... Dava até um leve aperto no coração, tadinha... Eu faria qualquer coisa para trazer o lar dela de volta... Por isso não medi palavras em confirmar que iríamos sim, mergulhar juntos quando Lira evoluísse — Vamos sim! Seria maravilhoso, explorar o fundo do mar contigo, Naty! Só preciso terminar de treinar a Lira... Sinto que ela está bem próximo de evoluir. Ela anda se debatendo de um jeito diferente quando está fora da água... Só pode ser a proximidade da evolução... — Comentei, de forma séria, mesmo que parecesse uma piada.

Então, terminamos de retirar os calçados e nos aproximamos da linha da água abraçados, até é claro, Natalie me trazer pelo braço para a beiradinha da água, afundando até um pouco abaixo do joelho os nossos pés — Há! A temperatura da água está ótima! — Comentei, dando um leve chute que levantou água para frente. Viver esse momento era tão incrível que eu me beliscava de vez em quando para ver se não estava sonhando. Como era possível tanta coisa acontecer em apenas um único dia? Ficamos caminhando por ali, até Natalie me chamar pelo nome, atraindo minha atenção e depois se aproximando. Ficamos bem próximos novamente, mas eu sentia que ela tinha algo a dizer que não parecia tão fácil, o que me deixou preocupado e me fez erguer uma sobrancelha em curiosidade. Ela perguntou se podia fazer uma pergunta e foi mais rápida do que eu impedir uma gracinha do tipo "então são duas perguntas?" vindas da minha pessoa. Depois, com cuidado, ela tocou meu cachecol e perguntou sobre a tal tatuagem que eu tanto tentava esconder.

Inicialmente eu fiquei sem saber o que dizer... Olhei para o lado, para o chão e emiti apenas onomatopeias, interjeições... Depois respirei fundo, pois sinceramente... Não poderia simplesmente querer esconder isso de Natalie, principalmente dela... — É uma história complicada, Naty... — Disse, olhando para o chão e depois erguendo o olhar até o dela, ainda bem próximo da garota. Calmamente então, retirei o cachecol e puxei a gola da blusa, revelando completamente o desenho da Giratina e da Master Ball. — Com certeza não é algo de que me orgulhe... E não queria que pensasse mal de mim por isso, foi um erro tão estúpido... Mas eu vou explicar... — Complementei — Quando eu era mais novo, em Nimbasa, não tinha muito jeito com as pessoas. Elas não entendia meu senso de humor, como você... — Disse, esboçando um sorriso contido — Eu era muito sozinho, só jogando nas máquinas de fliper ou passeando sozinho pelos brinquedos do Parque. Até que... um dia me chamaram para fazer parte de um grupo. Da mesma forma que o Senhor Netero nos chamou...  — Expliquei, com cuidado para não deixar escapar os detalhes.

— Bem, eram todos jovens nesse grupo. Eles prometiam que seríamos como irmãos e realmente eram todos bem unidos. Tão unidos que certamente encobririam até crimes uns dos outros. Eu comecei como recruta, então tinha que passar por várias "provas" de iniciação. Coisas bobas, mas que eu fazia para que gostassem de mim. Vandalizar lata de lixo, pichar parede, Dar susto em pessoa... Coisas bobas, mais brincadeira de criança do que qualquer coisa, mas um dia... — Fiz uma careta ao chegar nessa parte, era sempre terrível lembrar — Um dia levaram a gente até um beco e disseram que era o teste final. Então chegamos até uma lata de lixo onde tinha um Persian e alguns filhotes de Meowth... — Fui dizendo de forma dolorosa... — A gente tinha que.... maltratar... gratuitamente os Pokémon, só pra mostrar que obedecíamos e que não iríamos fraquejar por sentimentos que eles chamavam de algo "besta". Mas... Mas eu congelei! Eu não aceitei aquilo, mas não fiz nada pra impedir. Você pode imaginar, várias crianças-problemas querendo aparecer, fizeram tão mal aos bichinhos, a maioria não resistiu... E eu só olhei, sabe? — Falei, com os olhos já enchendo de lágrima.

— Então eu vi uma filhotinha, tão novinha, nem abria os olhos direito... Ela miava fininho e iria ser vista, ia seguir o mesmo caminho dos outros. Eu, a peguei e levei embora, fugi! E hoje em dia ela é a Meo-Mey... — Comentei, com um sorriso esboçado, bem frágil, mais pelas lembranças positivas que eram realmente fortes entre mim e a Meowth — No dia seguinte eu fui na delegacia com meus pais, contei tudo né... Eles me fizeram denunciar e realmente era o certo. Entreguei todos os que eu conhecia da tal "gangue". Os tais Filhos de Giratina, um nome bastante besta para um grupo besta... O problema é que eles não eram só uma gangue... Tinha todo um envolvimento com crimes bem terríveis. E eles começaram a perseguir a mim e a minha família, então saímos de Unova e viemos para Hoenn, para Verdanturf. E aqui estou... Resolvi sair em jornada com a Meo-Mey para uma grande Redenção. Viveria a vida ao lado dela, levaria ela a lugares que nunca foi. E faria a diferença quando fosse possível. Esse é o motivo de eu ter aceitado tão rápido ir na tal Reunião da CV. Não vou mais como um garoto bobo. Se algo de errado estiver rolando lá, vai deixar de rolar! Eu garanto! — Afirmei com determinação, deixando umas lágrimas escorrerem, que tratei de limpar com o antebraço. — Desculpa, Naty...

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Como já tinha imaginado, não parecia ser um assunto fácil para o rapaz: O jeito enrolado e as interjeições perdidas com o olhar desviado apenas confirmava esse fato. Em um primeiro momento, imaginou se ele não apenas pediria para deixar pra lá, especialmente quando concluiu o período prolongado de silêncio para dizer que era "complicado" - porém, quando suas mãos se moveram para retirar o cachecol, a moça afastou a própria em alguns centímetros: E logo, lá estava, espalhada em seu pescoço como uma aranha predadora. Após um curto segundo de hesitação, os dedos se aproximaram novamente, tocando a pele com suavidade, e por ali vagaram, acompanhando e desenhando os traços do lendário pokémon. Foi uma surpresa, também, quando Luch decidiu que ia explicar (embora inquietasse um pouco seu coração que admitisse não querer que pensasse mal dele... O que ele escondia, afinal?), e restou à moça ficar em silêncio enquanto ele falava, dando um sorriso leve com o comentário sobre o senso de humor.

Ouviu com atenção. E, embora no início não parecesse ser nada demais (só o fato de que tinha uma tatuagem pra isso, tão cedo, a deixava confusa, mas aí vida que segue), conseguiu enxergar a sombra que se agarrava ao pescoço do tutor, sufocante, ao chegar na parte de Persian e seus filhotes. A maior reação que teve foi os ombros se encolherem, e a alma se agitou dentro de si, quando as imagens de um passado distante que não a pertencia foram aos poucos sendo reconstruídas por meio de seu relato - um pesadelo que não havia presenciado, mas agora estava ali, sendo derramado em seus braços. O coração acelerou dentro do peito, mas desta vez não por pura emoção, mas sim pelas palavras narradas e as cenas que concebia por meio delas.

O breve alívio veio quando o rapaz comentou sobre Meo-Mey, e de repente a relação entre treinador e pokémon pareceu mais clara aos seus olhos. Infelizmente, não acabou tão bem, com Drac sendo inclusive expulso de sua terra natal. Não obstante, claro, seu coração, que se partiu em um milhão de pedacinhos quando as lágrimas escaparam do oceano de seus olhos, e que não melhorou muito diante do pedido de desculpas do tutor, como se ele realmente fosse o pior culpado de todo aquele caos. Viu, em seus olhos, o reflexo de uma criança martirizada, assombrada por um passado que viu sair de seu controle, e então suas consequências - uma bem parecia com a que enxergava, quando encarava o espelho.

...

Não disse nada, pois não achou que deveria, num primeiro momento. Os dedos se afastaram vagarosamente do desenho eternizado em sua pele, mas apenas para que as mãos se acomodassem outra vez em seu rosto e, suave, o trouxe um pouco mais para si, e encostou as testas com delicadeza. Sentiu a brisa fria envolvendo seu corpo, e as respirações quentes entrosadas a combatiam, pelo menos parcialmente.

— Shh... — Sussurrou. Suave, recolheu suas lágrimas, e secou a área embaixo de seus olhos com os polegares. — Não precisa chorar. — Manteve o tom baixo, e se afastou minimamente para pousar um beijo em sua testa - e, então, os braços o envolveram pelo pescoço, e acolheram. Os dedos invadiram os fios escuros por um breve momento, afagando, aos poucos tentando formar ninho ao seu redor. — Não é culpa sua. Não é. — Findou, firme, ao pé do seu ouvido. Sim, de fato, ele havia participado de tudo - mas, se não tivesse, não aconteceria de qualquer jeito? A verdade é que a única diferença seria que nem Meo-Mey teria sobrado para contar a história... — ...Sua única culpa, Luch, pelo que eu tô vendo, é ter salvo a Mey. Você se arrepende, por acaso? — Perguntou, embora já ciente da resposta. E o deixou digerir - ou, pelo menos, tentar.

...

— Tinha uma coisa, que eu costumava ouvir. — Pronunciou-se outra vez, após um breve momento em silêncio. E, devagar, afastou um pouco a cabeça, embora mantivesse os rostos próximos quando eles ficaram frente a frente outra vez. O abraço se folgou, e os dedos voltaram em um afago suave para sua bochecha. — ...Se tem alguma coisa ruim guardada dentro do seu coração... — Então, o libertou daquele enlace, e o orbes cinzentos se desviaram brevemente ao horizonte, o oceano ao longe, antes de recuarem aos seus olhos azuis — ...Entrega por mar. Ele leva pra você. — Segredou. Suave, repousou um beijo em sua bochecha: Porque, naquele momento, aquilo era tudo que estava ao seu alcance.

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Havia me aberto totalmente para Natalie, não apenas relatando o ocorrido, mas também relatando minha emoção, meus sentimentos perante tudo isso. Eu estava marcado por um momento terrível, desenhado e eternizado em meu corpo para toda a eternidade, ou quase isso. Me sentia uma criança chorando copiosamente e por mais ilógico que a culpa parecesse, como bem a garota me lembrou, a dor era a mesma. De todo modo, tinha certeza que Naty entendia o que eu sentia, mesmo não vivendo-a, ela sabia que não eram palavras que iriam me "curar", portanto tratou de me aquecer entre seus braços, tão pequenos, mas ao mesmo tempo tão acolhedores. A ruiva tinha um perfume de lar, de paz, de segurança e "empoleirar" o meu rosto entre seu ombro e pescoço, sentindo este perfume, era como ser criança e proteger-se dos "bichos-papões" ao enterrar a cabeça em seu travesseiro tão... "seu". Neste instante seus braços eram tão "meus" quanto meu coração era "seu". Recuperava então a energia perdida pela lembrança da dor, Quando ela perguntou se eu me arrependia, mesmo sendo uma pergunta retórica, agitei negativamente a cabeça e fui sentindo o impulso do choro passar, principalmente quando recebi um beijo na bochecha.

— Eu nunca me senti tão à vontade de contar isso a alguém... Você é tão acolhedora, tão amável Naty... Estar com você é sentir que tudo vai dar certo. .. — Comentei, fazendo carícias no rosto da ruiva e sorrindo, com um peso a menos no coração. A ruiva então comentou sobre deixar "para trás, no mar" as coisas ruins, desviando seus olhinhos maravilhosos para o horizonte do oceano. E realmente fazia sentido... Diluir as energias ruins em tantas águas eram uma bela forma de se livrar desta carga emocional pesada. Sorri com a ideia dela, virando-me para onde ela apontou com o olhar e depois voltando a encará-la com a mesma ternura de antes — Talvez seja uma ótima hora para dar um mergulho e deixar tudo no mar... Não tem ninguém por aqui mesmo... A temperatura da água está ótima... Depois a gente pode ir molhado mesmo para o Centro Pokémon, não precisamos explicar também para ninguém... — Comentei, já fazendo menção de ir até um pouco mais fundo nas águas. Não haviam ondas, então não seria qualquer perigo para mim. Ou pelo menos, esperava que não — O que acha? Vem? Vamos limpar tudo de ruim e deixar os problemas para trás? Virar a página de vez e traçar nosso novo caminho a partir de agora?

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Ainda que, querendo ou não, ela própria ainda estivesse digerindo toda aquela informação, em nenhum momento o afastou. Se oferecendo como abrigo, acolheu e aninhou o rapaz em seus braços, afagando suas madeixas e o permitindo descobrir e se livrar de um choro que contia há sabe-se lá quanto tempo. Se livrar de uma sombra que te persegue, nunca é fácil: A ruiva tinha plena consciência disso, até por experiência própria, mas amenizar as dores que estão minimamente ao seu alcance - ou ao menos tentar fazê-lo - jamais era dispensável. E, ironicamente, eis ali dois corações atormentados, enlaçados casualmente e entregues um ao outro.

Seria o destino, brincando com os dois?

Não o interrompeu: Deixou chorar, por quanto tempo fosse necessário para amenizar o peso do coração, e o próprio se acalmou quando percebeu que o moreno também o fazia. Repousou um beijo entre as madeixas escuras, e se permitiu um sorriso leve com a negativa instantânea em resposta ao arrependimento - embora, claro, não fosse nenhuma surpresa. E então, com a afirmação do rapaz logo a seguir, não pôde evitar um olhar surpreso, e uma suave tonalidade avermelhada nas bochechas mas, de qualquer maneira, deu um sorriso tímido, aproximando o rosto das carícias que recebeu.

A ideia de "entregar pro mar" parecia ter animado o tutor, que topou quase de imediato, e já deu um monte de argumentos para que o seguisse, o que não deixou de achar graça. A ideia de "virar a página", de certa forma, aqueceu seu coração, e ao mesmo tempo o fez bater mais forte - por conta de não saber ao certo que tipo de coisa poderia acontecer, talvez? Reparou, porém, que ele já se dirigia ao fundo, e não tardou em segurar sua mão de imediato, mas dessa vez, para interromper seu caminho.

— Espera aí, Luch! — Pediu. Então, sem pressa, se aproximou mais do moreno... Para retirar sua mochila das costas, e também tomou seu cachecol entre os dedos. — Não precisa de pressa. — Deu uma piscadela. Então, recuou à areia, onde deixou as coisas e também a própria mochila, usando o cachecol para dar um nó frouxo nas alças das duas. Feito isso, pôde voltar para perto do treinador - tinha consciência de que era uma ideia meio maluca, mas... Como poderia recusar um convite para o mar, principalmente se a intenção era tão especial? Tanto que, dessa vez, ela mesma passou à sua frente, sentindo o nível da água subir para o meio das coxas, mas logo se voltou para observá-lo — Você vem? — Convidou, a brisa fria de companhia.

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Se não fosse Natalie colocando um pouco de juízo na minha cabeça de vez em quando, eu certamente só me meteria em problemas... Já ia entrando, extremamente empolgado, no mar com as minhas coisas todas nas costas, uma tragédia. Entretanto, a garota com bastante calma e paciência me chamou a atenção e retirou meu cachecol, juntamente da minha mochila, deixando-a junto da dela na areia, atadas por um nó frouxo do acessório de inverno — Ai ai.. O que eu faria sem você, não é mesmo? Eu gostei da forma como deixou as mochilas, é quase como nós dois juntinhos lado a lado... — Disse, rindo em seguida da minha cabeça dura e esperando ela voltar, tremendo com a brisa bem mais fria do que aquelas águas. Imagino que o desafio maior seria sair de lá... A ruiva veio em minha direção e já passou por mim, indo até as águas, afundando até mais ou menos a altura das coxas, além de me questionar se eu não viria. Tomei coragem e fui, de uma só vez, vendo a água subir pelas pernas, cintura e finalmente alcançando a minha barriga, onde causava mais arrepios, mesmo não sendo tão gélida. — Por Arceus, loucuras nossas do dia-a-dia, mas... Vai ser ótimo! Até termos que sair, é claro — Comentei, sorrindo e batendo os queixos de leve. Eu tinha noção de que era bem mais alto do que a garota, portanto não iria tão fundo assim, abaixando-me quando a água estivesse numa altura boa para Natalie.

Quando o ponto ideal surgiu, abaixei-me e deixei a cabeça e parte do tórax de fora, apenas, segurando as mãos da menina e trazendo ela para perto de mim — Acho melhor nos esquentarmos... — Comentei, um pouco antes de dar uma abaixada ainda maior, até cobrir até o topo da minha cabeça, voltando logo para cima, com a maior parte dos fios tampando minha visão, provavelmente de uma forma cômica — Opa, acho que escureceu de repente — Brinquei, sacudindo a cabeça e afastando a maioria dos fios para trás com as mãos, rindo em seguida. — Bem, já to começando a me sentir melhor! — Comentei, com uma expressão mais aliviada e menos castigada pelas lembranças do que antes. Procurei esquecer das roupas encharcadas e abracei a menina em seguida, depositando um selinho em seus lábios — Espero que não peguemos um resfriado, mas pelo menos temos agora um ao outro para dar cuidado, carinho e... sopa! Se for preciso... — Disse e depois ri, abraçando novamente a ruiva. Era como se meu coração estivesse aos poucos se aliviando de um peso, descongelando pelo calor do amor ou se minha alma estivesse sendo desacorrentada. Poderia sim ser apenas um "Efeito Placebo", mas que seja, estava funcionando para mim e era isso que importava. Questionei então Natalie, em tom de brincadeira — Senhorita Chase, por algum momento passou pela sua cabeça hoje de manhã que estaria de noite nadando de roupa com um "estranho"?

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A parte boa é que o rapaz não teve problemas em ir mais pro fundo junto consigo. Já a ruim, por outro lado, foi o pequeno fato de que ele a lembrou que, sim, podia até ser ótimo, mas ainda teriam que sair depois, e o mero pensamento foi suficiente para fazer arrepiar todos os seus ossos. Resolveu, então, deixar para lá esse pequeno detalhe, porque esse era um problema a ser engolido pela Natalie do futuro de daqui a pouco, não seu - por isso, o acompanhou mais para dentro do mar, e não esperou sua sugestão antes de dar um mergulho (tanto que, na realidade, sequer a ouviu).

O silêncio que veio embaixo d'água e envolveu todo o seu ser, como há muito tempo não acontecia, lembrou: Era um bálsamo. O movimento das águas, pela correnteza e as ondas quase inexistentes, pulsava em suas veias como um amigo que não via há anos, cumprimentando com um abraço marinho que já até tinha esquecido a sensação. Infelizmente, o fôlego não permitia permanecer muito tempo embaixo, e emergiu, as pálpebras bem fechadinhas (que se abriram quando as mãos afastaram os cabelos da frente, agora escorridos), e riu quando se deu conta que o treinador estava praticamente no mesmo estado. Foi um pequeno alívio, também, perceber os seus traços de expressão mais suaves que há pouco - e parecia que o mar realmente o lavara, afinal.

— Me parece uma sugestão preciosa! — Retrucou, e sorriu quando se sentiu ser envolvida pelos seus braços. Fez o mesmo, com os próprios torneando seus ombros num enlace frouxo, e afagou sua nuca devagar, achando graça do questionamento repentino. — E você, Senhor Drac, imaginou que estaria fazendo algo tão inconsequente no meio da noite? — Gracejou. Suave, pousou um beijo em sua bochecha, no canto dos lábios... — Porque não tem ninguém pra proteger essa sua suculência gelatinosa... — Brincou, e aproximou os rostos de leve para ousar um mordisco em seu lábio inferior, roubando-lhe um manso selinho de leveza salitre.

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Não deveria me surpreender com o fato de Natalie ter mergulhado antes mesmo de eu sugerir entrarmos de "corpo todo" na água, afinal ela era um peixinho lindinho nascido na litorânea Olivine, de Johto. Certamente ela se sentia livre por aqui e eu, extremamente feliz de vê-la feliz. Pois bem... Depois de se divertir bastante no seu "mundinho subaquático", a ruiva levantou das águas novamente e, para a minha surpresa, encontrava-se tão às cegas pelo cabelo molhado quanto eu, despertando-me uma gostosa gargalhada. Gargalhada esta de limpar o peito das últimas fagulhas de qualquer amargor indesejado que ainda mantivesse, ainda mais depois da menina ter achado bela a sugestão de "cuidarmos um dos outro" caso fosse necessário... Já sobre a pergunta direta e engraçadinha sobre "estar nadando com um estranho', acabei recebendo de volta uma pergunta sobre "estar fazendo algo tão inconsequente" à noite, o que não deixava ser verdade, mas... Que seja, não é? Estamos vivos! — Deve ser porque você desperta algumas coisas dentro de mim que eu nem sabia que existiam, Senhorita Chase... — Comentei, delineando a lateral de seu rosto com as costas do dedo indicador, terminando de afastar os fios grudados pela água.

Natalie então se aproximou de mim e complementou o assunto anterior, dizendo que ninguém me protegeria, com toda a suculência gelatinosa que possuía. Estava prestes a rir de novo sobre isso, quando ela fez algo surpreendente, aproximou-se de mim e realmente me devorou. Digo, mordiscou meu lábio inferior, terminando em um selinho salgado — Oshi, Naty! Não sabia que se morder uma gelatina suculenta você vira outra gelatina suculenta? Agora vou ter que te morder, Senhorita Chase... — E segurando-a firme pela cintura em um abraço, aproximei-me de seu rosto, mordiscando seu lábio superior, mas não terminando em um selinho salgado, mas num beijo bastante completo e simplesmente delicioso. Aproveitei para apertar ainda mais o abraço, mas sem manter minha mão simplesmente parada em suas costas. Percorria sua pele, por baixo da roupa com a ponta dos dedos, em leves arranhões, bem leves mesmo, sem qualquer chance de feri-la. De vez em quando inclinava um pouco o rosto, mudando de posição do beijo e dando uma leve respirada para não perder por completo o ar.

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