PvPzin da rapeize

Nicholas não ignorara só meu pedido para que ele pedisse desculpas como também meu pedido para pegar leve. Oh deus, não acredito nisso! Revirei os olhos irritada e como quem sabia que se metera na maior furada do século, bradei:
- Eu pedi para que pegasse leve! Meu deus, você não tem coração! - Reclamei; meu lamento era sincero e a voz já agarrava na garganta. O dó era inevitável e o pequeno Loki parecia menos afetado do que eu. Na verdade sua animação em batalha me assustara; ele estava tão motivado para enfrentar aquilo que não se importara em ouvir o que Nicholas pronunciou - Ok, vamos fazer durar o máximo! Earthquake e Protect - Por fim ordenei.

Confesso que a animação de Loki me dera um pequeno ar de esperança. Não de ganhar mas de ao menos sair daquilo com uma experiência e um problema dissolvido. Meus olhos marejaram; aquele era um momento raro para mim, estava entregando Loki para uma derrota e, ainda assim, ele seguia firme e confiante em mim e em si. Queria ter a garra desse pokemon; felizmente o tinha para mim. Ele não só confiava em mim por completo como também me amava: pode deixar Loki, eu também amo você. Justamente por isto o farei; não deixarei que Nicholas saia daqui sem o mínimo de sentimento de culpa.

A batalha se sucedera mais do que imaginei: duramos uma rodada. Pulei animada; neste instante eu já havia esquecido o motivo daquilo tudo mas Teddiursa definitivamente não. Bradei aos ventos quando o pequenino pulou e deferiu seu Earthquake apressado e ao fazê-lo sorri. Era um golpe tão irrisório e tão bobo naqueles monstros que mal pude conter a risada. Loki por outro lado se orgulhou: conseguiu golpear os três grandalhões e ao menos causar alguns estragos. Mesmo envenenado e queimado o ursinho não parecia desanimado; é o que dizem né, movido pelo ódio.

Ao fim do turno parei e pensei. Não precisava de muito para entender que dali para frente não restaria mais nada! O fim estava próximo e eu sabia disso. Um leve "estamos ferrados" saíra da minha boca e chegara até o ouvido de Loki; ele não pareceu se abalar. Talvez o pequeno nunca achara que fosse ganhar, apenas queria descontar seu ódio usando alguns golpes:
- Ok, vamos continuar o máximo que conseguirmos. Já que quis tanto por este golpe em prática, vamos tentar usar dois Shadow Claw em Alakazam!

Eu poderia ter ordenado Brick Break para evitar o Reflect mas eu sabia que de nada ia adiantar. Não por não confiar no dano de Loki mas por saber que Infernape e Alakazam são mais rápidos que o ursinho e muito provavelmente tudo acabaria antes de começar.

OFF: OI MATT <3
OFF²: Posso te pedir uma tarefa chata? Eu quera pedir para você tirar os seguintes itens que estão equipados nos seguintes pokemons
(BOX) Toxic Orb > Furfrou (Vili)
(BOX) Lum Berry > Chatot (Chatinho)
(BOX) Oran Berry > Eevee
(STORAGE) Sitrus Berry > Poliwrath (Balder), Bellossom (Gin)
(STORAGE) Persim Berry > Meganium (Tyr)

Eu não sabia qual era a expectativa de todos para este meu ato mas sabia que não era de todo boa. Era mais que óbvio que Nicholas não me conhecia: eu não era essa pessoa que ele desenhava e tentava prever. Eu não sou fã de batalhas; eu não gosto de violência gratuita e temo por crimes contra a vida... entende meu dilema?! Eu impedi o golpe de Teddiursa por dois motivos óbvios; o primeiro é porque eu podia. Loki está comigo desde Johto, passou vinte e seis estágios ao meu lado. É um dos meus primeiros pokemons! Ele é mais velho que Jellicent ou ainda Furfrou. Minha relação com Loki é impossível de se sobrepor pelo meu receio com Nicholas e... vice-versa. Loki não deixaria sua raiva passar por cima de nada que se relacionasse a mim! A beleza desta relação não está no entendimento mas na cumplicidade e na ambivalência. O pokemon não atacaria alguém que eu prezo pelo simples fato de amar a mim; não há mais o que falar sobre isto, minha maternidade compulsória talvez tenha criando filhos mas, ao mesmo tempo, me garante um respeito dual e mutual.

A segunda razão é ainda mais óbvia que a primeira; eu não teria condições de arcar com os traumas. Aqui me refiro a todas as condições de "arcar com" e "traumas". Eu não saberia ajudá-lo com a dor ou ferimentos mas também não saberia como me desculpar ou consertar nossa parceria. Provável que aquele Shadow Claw não destruísse só a epiderme do rapaz como também nossa recém... amizade? Acredito que possa chamar disto. Ao menos para mim. Era isto que eu estava defendendo também; um lapso era meu motivador. Veio-me enquanto tristeza profunda, como um pesar pesado, um luto. Luto de perda do que eu ainda não tinha: os sentimentos de Nicholas.

Fora com estes dois sentimentos que arranjei um meio termo; é padrão desta Winnie que vos fala querer resolver questões pendentes de outrem. Acidentes acontecem em ruas o tempo todo, ainda assim o motorista paga por crime culposo, certo? Pois bem; ainda que sem intenção Nicholas cometera um erro e seu dever era ao menos se desculpar. A agressividade de Loki podia ter chegado a níveis não sadios mas há que se respeitar a mágoa do garoto. Se eu estivesse sendo usada de tapete por quatro seres provavelmente não iria mais deferir palavra alguma ao treinador. Sendo sincera? Estremece-me e assusta-me pensar que o rapaz não consiga entender isto. Um erro acidental não deixa de ser um erro e a maioria dos acidentes são displicência e falha humana; não é por não ter sido intencional que não é uma falha sua.

Bem, dito isso, podemos prosseguir com a descrição do que ocorreu: a derrota veio. Com a derrota veio também o dano, um cúmplice inevitável do desfecho. O dano de Infernape era o suficiente para derrubar Teddi em um só golpe; aqui deixo meu agradecimento ao Nicholas que, humildemente, ordenou um golpe só. Se Alakazan ou Ferrothorn tivessem golpeado antes disso talvez Loki nem estivesse mais consciente para mostrar seu sorriso amarelado e banguelo após a derrota. Olhei-o com um marasmo inevitável nos olhos. Corri para ti num instintivo senso maternal e abracei-o com ternura.

Um abraço lene; tão sincero e doce que parecia grudar. Fora um tempão para descolar! Deixei-o ali... no colo, o ninei um pouco e, quando cansei de carregar seus quilos no braço, levei-o ao chão novamente. Pude olhá-lo no olho e reparar no seu choro. Pude acalmá-lo com meu lacrimejar bochornoso; ao menos um símbolo que repassava e relembrava a dor: "veja só, também doeu em mim". Passei a mão em sua cabeça como de costume e disse-lhe num sussurro... baixo o suficiente para surgir como um segredo; quase que um recado que ninguém mais deveria ler: "ao menos a gente aprendeu uma lição hoje". Era inevitável dizer isso; não o faríamos de novo. Era infindável lutar para perder novamente; lutar sem esperança se tornara verde escuro-demais.

No fim do acalento toquei-me do lugar ermo que estávamos: ao menos não há testemunhas. Não havia outra recorrência se não Nicholas e fora a ele que me deferi as segundas (e seguintes) palavras:
- Desculpa por isso - Disse num tom choroso. Loki não poderia falar então o faria por ele; o português é um delimitador bastante limitador para a compreensão das falas ditas sem sua norma... principalmente quando o falante é um urso e não um humano - Você pode... teleportar a gente para um centro pokemon? Por favor? - Limitei-me a frases educadas e educativas.
Meu final viera com uma amostra das condições de Teddiursa, ou seja, sai da frente e destampei a cena: revelei ao ruivo o dente perdido e o sangue escorrido para informá-lo da gravidade da situação. Devo deixar aqui anotado minha preocupação com o estado saudável de Loki mas não de seu dente de leite destituído. Quando evoluir tornara a tê-lo como adulto; não é como se fosse uma má formação.

Antes de partir fiz um favor para o mundo: catei do chão o jornal que trouxe para o balneário e levei-o comigo. Isto não era só para entretenimento no saguão de espera do centro pokemon mas também por uma consciência ambiental implícita! Se trouxe o papel para lá, independente do quão biodegradável ele era, não o deixaria no chão. É isso; o fiz e voltei a tocar Lamora e, num instante, voltamos ao centro. É sabido que não estávamos tão longe, ainda assim fora um bom adianto.

É importante salientar também que meu pedido fora recebido bem por Nicholas e meu pequeno Teddi ganhava um desculpar, ainda que dormidongo; olhei-o com um sorriso bobo e disse-lhe que conseguimos o que queria. Não sabia ao certo se o pequeno urso conseguia absorver aquela atmosfera piedosa de dentro de seu sonho mas esperava fielmente que sim.
- Eu não acho que ele vá te atacar- Respondi com sinceridade; eu não podia dar-lhe certeza mas não sentia que era este o ritmo da música que Loki parecia querer tocar por hora - Acho que ele entendeu a situação. Seria bom falar isso para ele talvez, essa já seria uma boa recompensa... né?!

Adentrei o estabelecimento ainda com o Pokémon no colo e chamei a atendente; deixei que Nicholas se afastasse de novo e voltasse quando quisesse, enquanto isso sentei e li. Folheei as páginas que restaram do que antes era um jornal completo; sem a capa, por exemplo, eu não poderia escolher apenas as manchetes principais da edição. Para achar algo do meu interesse tive que ler quase tudo! Em ordem numérica, de um à trinta e dois; ao menos seria esta a lógica se o bloco sobre meio ambiente não houvesse me chamado tanta atenção e me feito parar.

Entre as notícias populares, os resumos de novelas, as discussões políticas que eu pouco entendia e as crises econômicas havia algo de interessante para mim: uma curiosa tempestade estava se formando no Monte Pyre: sem previsão. Eu sabia melhor que ninguém onde curiosas tempestades podiam acabar; tratei de levantar o artigo até a altura de minha cabeça e chegá-lo mais perto do meu rosto, li com atenção cada miúda palavra da notícia e me atentei ao não falado: causa desconhecida? Corta essa! Isso é papo de governo que não quer revelar o problema. O local não está isolado? O problema parece advir de algum pokemon? Isto é uma espécie de convite? Oh deus; Nicholas viu isso? Ainda que longe, chamei-o. Quando veio, mostrei o pedaço de papel em destaque. Meu receio era enorme; ele deveria saber disto? Ele seria capaz de se matar apenas para descobrir e capturar o que estava naquele lugar? Não sei. Não conheço Nicholas ao ponto de dizer-lhes se ele arriscaria a vida para tal, ainda assim findei o ato:
- Ei, você viu isso? - Chamei a atenção do rapaz - Parece....... perigosamente curioso. É uma tempestade não natural que se formou no Mt Pyre... é aqui do lado, talvez por isso o céu nublado derre pente. Tem crescido o impacto pelas várias cidades de Hoenn. A gente já ouviu essa história com Kanto e Johto né, não acha estranho estar se repetindo? Além disso... qual era mesmo a razão que deram para o caso Tohjo? -Indaguei; este era meu jeito de puxar assunto ao mesmo tempo que dizia "parece perigoso".

Ao fim perguntei à enfermeira sobre o estado de Loki e esperei que logo mais ele fosse liberado; eu queria ele aqui antes que Nico desse o pé uma terceira vez. Queria garantir que o mínimo de diálogo fosse feito e que meu Teddiursa não ficasse com uma impressão desordenada do rapaz que tanto convive com nós.