Lilycove não perdia a atenção dos holofotes nem por um minuto. Mesmo com a Battle Tower acontecendo em Mu Island, a cidade ainda estava movimentada e recebendo turistas, sendo que estes não estavam interessados em assistir aos espetáculos de lutas, mas apresentações artísticas, em grande maioria amadoras e não oficiais, no Contest Hall da cidade.
O Ginásio podia ser facilmente confundido com um palco ou uma passarela, havia todo o tipo de equipamento espalhado por ali, desde objetos de iluminação à itens decorativos armazenados em caixas. Além de vários camarins, dava até para ver algumas araras de roupas do lado de fora.
Na recepção havia uma dupla de atendentes arrumados com estilos bem diferentes. Um rapaz vestindo roupas impecáveis, sem qualquer sinal de amassado, nem uma mancha sequer. Os seus cabelos castanhos levemente bagunçados, de tanto andar para um lado e para o outro. Deveria ter dezessete, ou talvez mais. Ele cheirava a ervas frescas, principalmente menta. Por outro lado, a moça de cabelos curtos e loiros trajava um terno roxo, estava simplesmente elegante sem se esforçar muito. Ao contrário do seu colega, o seu perfume era amadeirado, com notas picantes e florais. Ambos sorriram de forma simpática, mas quem o recebeu foi a moça.
- Olá querido, deixe-me apenas confirmar se Lisia pode recebê-lo agora. Chandler, por favor. – Ela pediu para o atendente ir verificar. – Você é tão novo, que bom que já encontrou algo que goste. O meu nome é Cassandra. Cassie, para os íntimos. – Sorriu, antes de ser surpreendida pelo moreno.
- Ela está terminando de ensaiar com Ali. – Chandler não demorou, voltando tão rápido quanto tinha saído. – Ela só tem esse horário, jovem cavalheiro. Acompanhe-me, caso realmente tenha vontade de se tornar aprendiz.
Off :
Oi oi @Renzinho espero que goste do que eu tenho preparado :p
Sendo ginásio ou não, o lugar certamente inspirava a magia dos contests. Aparentemente, não era fácil tirar essa energia de alguém com tanta afinidade aos concursos quanto Lisia. Vários equipamentos e utensílios úteis para coordenadores eram vistos, espalhados pelo lugar, em uma arrumada bagunça. E novamente, lá estava Lilycove, com todo seu estilo, fosse na decoração do ginásio ou nas roupas dos atendentes.
Um jovem de cabelos castanhos, cujas vestes não mostravam o mínimo sinal de descuido ou desatenção, acompanhado de uma moça igualmente bem-vestida, embora preferisse algo menos complexo, contrastava um terno roxo com seus cabelos loiros, combinação que o próprio Ren já havia provado, no teatro de Forina. Vendo ambos assim, tão impecáveis em suas vestimentas deixou o mono treinador aliviado de ter voltado para o Centro Pokémon e trocado de roupas antes de ir para o salão de beleza. Ainda um tanto quanto simples, trajava uma camisa jeans comum, com uma calça cáqui escura, e um sapato azul
— Bem, "algo que goste" ainda é um pouco subjetivo, não? Mal consegui praticar direito, e ainda acho que demorei para encontrar algo! — respondeu à Cassandra, com um sorriso sem graça, imaginando que ela estivesse referindo-se aos contests. Além disso, já era tempo de o garoto encontrar algo que realmente gostasse, uma vez que tudo que fizera anteriormente havia sido ditado pelos pais. — Ah, perdoe minha falta de educação! Sou Ren, e... Ren para os íntimos. — completou com outro sorriso, agora mais travesso e brincalhão.
Então eles foram interrompidos por Chandler, que disse que Ren teve a sorte de conseguir um horário com a celebridade. E aparentemente, logo após um ensaio com a famosa Altaria! Quem sabe o aspirante a coordenador não conseguisse um vislumbre de Lisia em ação? Agradecendo pela gentileza de ambos Cassie e Chandler, o garoto de cabelos rosados seguiu o outro rapaz pelas catracas e araras.
- Não se preocupe criança, tem tempo para tudo. – Com um tom de voz doce, a recepcionista acenou com sua mão direita, em despedida. – Boa sorte, Ren. – A mulher o lançou uma piscadela.
- Qualquer coisa, pode me chamar, Cassie. Por aqui, Ren. – Mantendo a formalidade e a voz polida, Chandler abriu espaço para o monotreinador ir na frente.
Os dois eram bem diferentes um do outro. Enquanto Cassandra possuía uma jovialidade marcante, mas estando na faixa dos vinte e oito, o adolescente soava como um adulto que trabalhava em um escritório. Uma combinação no mínimo intrigante.
A passarela, por onde o atendente o guiava, estava desativada, mas ainda dava para notar os detalhes e as áreas que estariam iluminadas em uma ocasião especial. No final dela, havia uma porta enorme que levava para a arena, onde as batalhas do Ginásio aconteciam e onde a coordenadora treinava.
Chandler caminhou calmamente até a porta e anunciou a chegada do monotreinador. Em seguida, ele o chamou para entrar. Do lado de fora não dava para ter uma noção do que estava acontecendo, pois assim que colocou os pés na sala Ren se deparou com uma chuva de estrelas coloridas. O detalhe e o acabamento de cada uma chamava mais atenção do que a combinação relativamente simples.
No alto do palco um pássaro gigante com asas de algodão descia para fazer a aterrissagem com a sua treinadora, montada em suas costas. O pouso, além de gracioso, fez com que as estrelas fossem carregadas na mesma direção do Altaria. Assim que a jovem de cabelos e roupas azuladas saiu de cima do voador, as figuras criadas pela combinação foram sopradas nos dois adolescentes, explodindo em brilhos coloridos. Lisia apenas se inclinou, fazendo uma reverência e terminando o seu ensaio.
- Olá! Chandler me contou que você pretende se tornar o meu aprendiz! Faz tempo que não recebo alguém verdadeiramente interessado. – Um sorriso simpático tomou forma em seus lábios. – Obrigada, querido. Pode voltar para a recepção, eu assumo daqui.
- Tudo bem, senhorita. Pode me chamar, caso necessário. Tenham um ótimo dia. - Foi apenas o que o rapaz disse, antes de dar meia volta e se retirar.
- Você também. Vamos para a minha sala? Quero que me conte o porquê do seu interesse pelo tipo fada e, é claro, que se apresente. – Ela deixou Ali na sala de treino, despedindo-se do Pokémon com um abraço.
Uma jovem de pele negra e cabelos trançados foi até ele com o que parecia ser água e uma vasilha repleta de berries. Lisia sorriu para ela e acenou a cabeça, agradecendo-a, antes de caminhar para um camarim.
Retribuindo o aceno da simpática Cassandra, Ren seguiu Chandler, observando a curiosa discrepância de personalidades entre os dois funcionários. Mesmo assim, eles pareciam ter uma relação saudável, ao observar. Ela, claramente mais extrovertida e comunicativa, e o mono treinador pôde ver um brilho brincalhão em seus olhos. Enquanto isso, o rapaz de cabelos castanhos mostrava-se mais reservado, talvez até mesmo pensativo, mas certamente tinha um brilho dentro de si também, para trabalhar ali.
Talvez por conta do unusual horário, a maior parte dos recursos de decoração interiores estavam desativados, mas Ren ainda assim conseguia imaginar o quão glorioso o lugar era quando totalmente ligado. Inclusive a passarela central, que ia em direção à arena de batalhas, a mesma direção que eles seguiam. Após ter a presença anunciada, o mono treinador adentrou a arena hesitante, sem saber ao certo o que esperava ver ali dentro.
E definitivamente ele não imaginava ver o que vira. A planar majestosamente sobre o chão, estava Ali, o famoso Altaria. E repleta de graça, Lisia estava montada no voador, comandando o que parecia ser o encerramento de uma apresentação. Cercando a dupla, estrelas. Não estrelas quaisquer, simples e insignificantes. Mas estrelas cuidadosamente pensadas, planejadas e executadas. E com um movimento do pássaro, a queda. Conforme Altaria mergulhava em direção ao chão, as estrelas também caíam, como uma verdadeira chuva estelar, rodopiante e resplandecente, encantando o garoto de cabelos rosas, que mal percebeu quando o voador pousou e então fez os astros cintilantes explodirem em luz.
—Ah! Desculpe, estava tão entretido com sua performance que nem ao menos notei que já havia pousado! — exclamou ele, um pouco sobressaltado, quando Lisia dirigiu-lhe a palavra. Agradecendo Chandler quando este ia embora, já acenando para o mesmo, voltou sua atenção para a líder. — É, disseram-me que seria uma ótima experiência. Além disso, imagino que um pouco de ordem e um rumo sejam bons para mim... — por fim completou, já respondendo a jovem, que parecia ser tão gentil quanto seus atendentes.
— Pois não, perdoe minha falta de atenção novamente! Estou meio avoado, e admito que parte do motivo é todo esse glamour e ritmo de sua cidade, que certamente já me cativou. Sou Ren Hughes. — disse, quando a pop star pediu para que fizesse sua apresentação, enquanto deixavam Ali e a outra moça na arena e iam para o tal escritório. — Imagino que seja Lisia, a Dama dos Contests. Talvez você se surpreenda, mas acredita que só fui saber de você neste último mês? E mesmo neste pouco tempo, já pude ter o prazer de conhecê-la! Sabe, meus pais não apreciam muito os contests, então acabaram por privar-me deles. E veja bem, agora o filho deles quer participar desses eventos! — comentou então, com uma risadinha abafada por seu punho.
— Ah, o por quê. Faz sentido perguntar. Bem, a realidade é que nunca parei exatamente para pensar em um motivo. Apenas fi-lo. — respondeu, com um suspiro, a pergunta da garota sensação. Não era algo tão simples de responder, mas Ren daria seu melhor. — Acho que a primeira coisa que posso dar-lhe como resposta é amor. Considero minha avó paterna como minha verdadeira mãe, minha única família. Foi ela quem estava lá para me consolar, oferecer um ombro para chorar, deu-me biscoitos e amor, para mimar. Ela foi meu tudo.
— E bem, Dona Diana sempre teve um apreço muito especial pelos tipos fada. Sempre me contava histórias sobre as origens das fadas, sobre seu poder e mágica. Seus principais monstrinhos eram os féericos, então as fadas sempre estiveram a me cercar durante momentos de amor. Lembro-me de minha história favorita, de uma donzela que salvou uma aldeia inteira da catástrofe apenas com seu destemido Sylveon. — contou ele, com um sorriso bobo e nostálgico. O restante do tempo, quando não estava com a avó, Ren era atormentado pelos pais, com ira, cobrança, pressão. Não poderia ser algo saudável.
— Mas como em todo conto de fadas, existe um final. E como todo e qualquer corpo feito de carbono, minha avó veio a morrer. Minha fortaleza, meu amor, minha ilha em meio ao mar de caos foi-se embora. Fiquei sem rumo, e tudo começou a piorar e desabar. Acho que daí posso dar-lhe um segundo motivo: rebeldia. — Ren continuou a falar, narrando brevemente sua história, agora um pouco mais sentimental e deprimido, tendo até mesmo uma lágrima a escorrer-lhe o rosto.
— Veja bem, meus pais nunca gostaram muito do tipo fada. Provavelmente por serem os amados de minha avó, que também não era vista como uma flor a se cheirar, para eles. Nunca entendi muito bem para quê tanto ódio, mas... Começou a crescer dentro de mim a vontade de dizer não, de resistir aos abusos deles. E as fadas foram uma ótima válvula, dada tamanha repulsa que sentiam, além de eu sempre ter me sentido confortável com elas, provavelmente por conta de minha avó. — prosseguiu com o diálogo, ou mesmo monólogo, agora já mais estável, lágrimas secas. Provavelmente já teriam chegado no escritório de Lisia nesta altura, então Ren pediria a permissão da jovem para continuar a falar.
— Comecei então a estudar sobre as fadas, tendo em base livros deixados por vovó e até mesmo a internet, fazendo questão de deixá-los sabendo. E quando me dei conta, estava ainda mais apaixonado por estas criaturas incríveis... — parecia que finalmente tinha terminado. Só então pareceu perceber o quanto havia falado, e logo sentiu as bochechas corarem. — Hmm... Lamento, não quis falar tanto assim, acho que acabei deixando-a dispersa ou desconfortável...
Uma vez que o mono treinador havia terminado seu não tão breve discurso, esperaria por aquilo que a celebridade responderia. Sim, Ren estava nervoso, com medo de ter feito algo de errado, e até mesmo tremia um pouco. Com um suspiro, tentou acalmar-se e prestar atenção na garota. Já estava ali agora, não havia motivos para pânico. Permitiu-se brincar com o cabelo um pouco, refletindo sobre seu passado enquanto observava Lisia e seu camarim.
O espaço onde ficava o camarim era, no mínimo, inusual para ser usado na ocasião, que mais se parecia com uma entrevista de emprego. Havia uma penteadeira enorme, com um espelho maior no centro e outros dois, um pouco menores, atrelados nas laterais. A mobília era branca, com detalhes em uma paleta fria de cores pasteis. De modo geral, o espaço era organizado, levemente luxuoso e, por incrível que pareça, acolhedor.
Lisia puxou a cadeira compatível ao móvel para si, oferecendo um lugar para Ren em um puff a sua frente. Ela apontou para outros assentos, provavelmente usado pelos maquiadores, caso o monotreinador preferisse. Os seus olhos sempre faziam contato visual e o seu sorriso continuava inabalável.
- Deseja alguma coisa para beber? Água, suco, chá, refrigerante? – Ofereceu educadamente. – Obrigada. Apenas me chame de Lisia, não há necessidade para tanta formalidade, a não ser que se sinta mais confortável assim, como o Chandler. – Agradeceu pelos elogios, tanto os dirigidos a ela quanto à sua cidade.
Conforme o adolescente contava sobre a sua história conturbada com os pais e o amor pela avó, um olhar compreensivo e empático surgia na expressão da top coordenadora. No meio da narrativa, ela pegou o seu Poké Nav, mandando uma mensagem para alguém, antes de voltar a prestar atenção.
- Sinto muito, querido. Eu posso não saber como é estar em seu lugar, mas consigo perceber o quanto esses eventos repercutiram em sua vida. – A voz de Lisia estava mais dócil. Antes que ela pudesse continuar a frase, Chandler adentrou a sala com uma bandeia contendo duas canecas. Um perfume maravilhoso de chocolate quente preencheu todo o espaço. – Achei que você precisaria de um desses. Muito obrigada querido.
- Cuidado, ainda estão quentes. – Avisou o atendente, antes de se retirar.
- Construa a sua fortaleza com os paus e pedras que atiraram em você. A arte da resiliência é magnífica. – O conselho era direto, mas a coordenadora não se estendeu. Logo ela teria que voltar aos afazeres. – Tenho certeza que a sua avó estaria orgulhosa. Bom, estou adorando o momento, mas preciso voltar às minhas perguntas. Para você, quais são os atributos que se sobressaem nas fadas? E as vulnerabilidades? - Terminou soprando a xícara e tomando um cuidadoso gole.
Enquanto falava com a líder do ginásio, sentou-se no puff que a tal indicou, aprecia do brevemente o lugar, para em seguida recusar gentilmente a oferta da coordenadora. Lisia mostrava-se incrivelmente empática, e parecia esforçar-se ao máximo para compreender tudo que se passava na mente do mono treinador. Conforme continuava, pôde sentir que a líder realmente prestava atenção, e que também importava-se minimamente com o bem-estar do jovem, pedindo até mesmo um aromático chocolate quente para ele.
Agradecendo mais uma vez, tanto Lisia quanto Chandler, Ren concluiu sua fala, queimando a língua logo em seguida, por não dar atenção ao aviso do atendente. A pop star era uma ótima ouvinte, e certamente uma maravilhosa conselheira também, aquecendo o coração do mono treinador com suas singelas palavras, mas tinha razão. Precisavam continuar a aparente entrevista, e de fato, não tinham a noite toda, fato que obrigou a jovem a lançar aos ares outra pergunta.
— Se há algo que aprendi neste tempo que estive fora de casa é que cada ser possui suas características e particularidades, então talvez eu esteja generalizando as coisas mas... Pude notar que todas as fadas são muito dóceis e amigáveis, além de determinadas e emotivas. — iniciou, após pensar um pouco. Suas palavras começaram hesitantes, mas logo encontraram um desenrolar confortável para a conversação. — Ao mesmo tempo que tais características possam ser nobres e altruístas, esta mesma inocência, sentimentalismo, a teimosia que têm, podem acabar por colocá-las em grandes apuros. Não muito diferente de alguns de nós, confesso. — concluiu com um riso morno, pensando também em si mesmo, e em como aquelas palavras poderiam ser utilizadas para defini-lo, em certos casos.
— As fadas são seres corajosos, que não ficam calados perante às injustiças. Não gostam da sensação de estarem presas, e sempre ansiarão pelo dia que poderão esticar suas asas. Como disse, são sentimentos que podem ser um tanto quanto caóticos, uma vez que podem tanto ajudá-las quanto encrencá-las. — arriscou mais um gole de seu chocolate quente, agora assoprando cuidadosamente antes de tentar beber. Ao conseguir engolir alguns goles, levantou o olhar para sua entrevistadora. — Haveria alguma característica que você aprecia mais que as outras?
Mesmo com o aviso de Chandler, o adolescente queimava a sua língua com o chocolate. Isso não passou despercebido pela jovem, mas ela apenas pegou a própria xícara e assoprou, uma mensagem direta e rápida, antes de tomar outro gole. Não era a hora dela falar, então apenas escutou o rapaz em silêncio.
Quando Ren começou a contar sobre a sua experiência Lisia sorriu, fechando os olhos e se apoiando no encosto da cadeira. Ela parecia estar confortável e relaxando, provavelmente aprendeu a otimizar o tempo que possuía livre para render mais. Entretanto, dava para sentir a sua presença na sala, garantindo que ela não estivesse pegado no sono por qualquer exaustão.
- Bom. Eu esperava ouvir algo como “tipo metal e venenoso”” nas vulnerabilidades e “lutador, dragão, noturno” nos atributos positivos. A sua resposta foi uma surpresa agradável. – Ainda de olhos fechados, a coordenadora dava uma breve explicação ao jovem. – Só tome cuidado para não deixar o subjetivo tomar conta em situações que você precisa ser direto. No entanto, eu gosto do seu tipo de resposta. – Tomou outro gole do chocolate, antes de abrir os olhos e responder a pergunta de Ren. – Trazer luz e esperança à quem precisa. – Havia uma firmeza na voz da líder ao dizer a frase, o que indicava a importância desse ajetivo para ela.
Então ela deu uma pausa longa, apenas para respirar e descansar por um minuto. Dava para sentir um clima levemente tenso, que aos poucos foi amenizado. Com um longo gole, Lisia terminava o seu chocolate quente, mas continuava com a xícara em mãos.
- Você não faz ideia do quanto eu sou procurada por pessoas fúteis, mal-intencionadas e completamente alheias de empatia. – Sua voz não perdia o tom doce, mas revelava certa preocupação. - Boa parte de quem tenta se tornar aprendiz desiste ao receber tarefas de ajuda a comunidade, ambientais e trabalhos voluntários, no geral. Por acaso, você teria algum problema com isso?
Lisia parecia extremamente relaxada e confortável, aproveitando o momento ao máximo. Certamente, liderar um ginásio e um contest hall não eram tarefas simples. Mas ela conseguia dar seu jeito, cumprindo tudo que tinha obrigação. Poderia terminar o dia exausta, mas não seria chamada de irrelevante. Provavelmente a presença de um bom aprendiz a ajudá-la faria uma diferença significativa, embora Ren não tivesse certeza de que seria ele quem o faria.
— Ah, de fato são características marcantes, mas não foram as primeiras coisas que vieram na minha cabeça com "atributos que se sobressaem" — contra-argumentou à líder, quando esta alertou-lhe sobre as respostas. Tomando o exemplo desta, procurou relaxar um pouco também, em seu puff, e sorriu com o outro comentário dela. — De fato, é algo que fadas fazem muito bem. Fico feliz que elas puderam ajudar tantas pessoas.
— Ah sim. Algo que aprendi com meus pais foi sobre a frieza e ignorância, então posso tentar imaginar, embora seja mais complicado, dadas as circunstâncias. — Lisia continuava calma e paciente, as palavras a saírem de seus lábios docemente. De fato, o mundo dos holofotes exigia uma boa lábia e comportamento. — Na verdade, se eu for parar para pensar, todas as coisas que fiz desde que saí de casa meio que envolveram tudo isso... Estarei contente em ser útil, e tenho certeza de que eu adoraria interagir mais com a comunidade de Lilycove!
- Bom. Algumas fadas não ajudam. Algumas fábulas deixam bem claro que esse tipo de monstrinho pode ser carregado de malícia e travessura. – Lisia fez questão de chamar a atenção do menino para esse fato, o Fairy Type não era exclusivamente bondade, purpurina e unha branca da paz. – Por isso não é comum ver pessoas tão... Você sabe. Usando esse elemento. – A jovem censurava um possível palavrão, ou uma palavra que julgou inapropriada para o momento.
Sem mais nem menos, a jovem levantou da cadeira. Espreguiçou-se antes de começar a procurar por algo na sala. Quando encontrou, puxou um baú para mais perto de onde estavam. Uma pequena caixinha de música estava no meio dos itens e captou a atenção do monotreinador. A decoração delicada de pérolas e tons de azuis a tornava ainda mais especial, por algum motivo ela estava acompanhada de uma cartinha.
Entretanto, o item apanhado pela coordenadora era outro. Era uma caixa qualquer, nem ao menos dava para ver o conteúdo. Lísia ficou reflexiva por algum tempo, antes de voltar a prestar atenção em Ren.
- Admiro o seu espírito. – Limitou-se a dizer isso, abrindo um sorriso. – Está pronto para uma pequena dinâmica?
Lisia fez questão de lembrar Ren que nem todas as fadas eram dóceis e amigáveis. De fato, todos os seres possuíam suas próprias particularidades, tanto que o garoto dissera anteriormente que o que viesse a dizer poderia ser um pouco... generalizado. Mas não fazia mal, afinal, ela estava certa, e Ren não via problemas em ser corrigido ora ou outra, então acatara a resposta da líder sem mais delongas.
E então a pop star levantou-se, após ter terminado de ouvir, falar e beber, e começou a olhar o recinto em volta deles, aparentemente à procura de algo. O mono treinador até fez menção de sair de seu lugar para ajudá-la, mas assim que começou a mover-se, Lisia já estava puxando para perto um baú, com a comum satisfação de achei! no rosto. Dentro de tal baú haviam diversas coisas, itens misturados naquela famosa bagunça organizada. Dentre eles, Ren notou uma bela e delicada caixinha de música, com os mais singelos dos detalhes, que fez questão de citar. — É uma caixinha de música? Ela é linda...!
Mas o que Lisia tirou do vasto conteúdo de cacarecos que tinha foi uma caixa muito mais simples, mas que fazia seu papel de guardar muito bem. Ren não conseguia nem ao menos imaginar o que haveria ali dentro. Assim que a líder de ginásio falasse com ele, ele sorriria, levantaria e até mesmo ousaria abraçá-la rapidamente, antes que esta tivesse como reagir ao gesto. — Estou sim!
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