Pokémon Mythology RPG
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Quão estranho é ser capaz de realizar (parte de) seus objetivos e, mesmo assim, se ver tragada pelo sentimento de vazio deslizando por suas entranhas?

Se parasse para pensar, era difícil de recordar ao certo quanto tempo desde a última vez que aquela sensação latente de apatia se curvava diante de uma emoção mais... Cálida, por assim dizer; Principalmente levando em consideração a inconsciência e perdição as quais fora induzida durante (e após) sua ousada exploração pelo cemitério vertical de Hoenn em meio à tempestade. Em realidade, arriscava apontar que o último momento de paz havia vindo bem antes até mesmo da peça de teatro em Forina, que apenas servira de estresse sobre como deveria fazer o quê e, mais importante, a maneira que deveria agir para dar prosseguimento leal à obra arquitetada. Era com saudosismo que cerrava as pálpebras, inerte, e refletia as tímidas interações com o moreno de orbes marinhos após a competição de Sootopolis e, de maneira até periculosa, arriscava puxar uma memória ainda mais antiga: O próprio passado, à orla de Olivine, com a brisa roçando pelos fios avermelhados, a maresia invadindo-lhe os pulmões e, principalmente, a visão das ondas que avançavam e engoliam a praia antes de recuar, envergonhadas, para desaparecer no oceano que as originara.

E, com essa recordação, fantasmas mais antigos eram aqueles que a assaltavam. Assombrações que tinham uma imagem distorcida, àquela altura; Não arriscava dizer se suas lembranças de tal época eram ou não realísticas em plenitude pois, sinceramente, tinha medo do fundo de verdade que essa consciência poderia lhe reservar - costumava tentar convencer a si mesma que os demônios que a perseguiam eram tão recentes quanto sua jornada pelas estradas e rotas perdidas entre regiões, continentes e até dimensões paralelas: E, com isso, também apagava o fato de que eles existiam antes mesmo que recuperasse sua gentil inicial, Ryo.

Ao compartilhar com Luch a leveza que o oceano lhe trazia, jamais havia revelado também o estremecer de espinha que a vibrante cor de suas águas trazia como consequência: Fosse por ironia ou sina, afinal, a preciosa tonalidade azulada sombreava não somente a serenidade de seu coração, como também a amargura distante de uma separação repentina, que nunca tivera chance de compreender em âmago. Não era como se essa não fosse uma parcela de sua existência que simplesmente desaparecera no fundo do armário, oh, não; A ausência majoritária de sua citação nos pensamentos que a atormentavam de noite não era por indiferença, e sim pelo fato de que aquele era o único fantasma silencioso dos tantos que berravam em sua cabeça, limitando-se a observar do canto do quarto, na visão periférica, ao passo que a insânia ameaçava, passo a passo, dominar-lhe e retorcer a consciência em ameaça esquizofrênica; Uma mancha não realmente ignorada, mas praticamente despercebida no caos psicológico que sofria desde a situação maldita do Limbo.

Uma mancha que, agora, tornava a tomar forma ao passo que, por um momento que seja, os demônios em sua cabeça se permitiam retroceder para que a preocupação do vínculo oceânico transbordasse: A insistência de tentativa de contato com Valassa desde a tempestade da 121, sem sucesso, trazia à tona o temor de um desaparecimento de outrora, uma nova quebra daquilo que havia tentado crer se tratar de um novo pedaço de rotina e, com ele, a definição cada vez mais vívida de um espírito que, com seus orbes também aquosos, sussurrava as confusões de um abandono que a havia assombrado por muitos, tantos anos, sem nunca fazer sentido – e, após todo aquele tempo, fazia cada vez menos, ao ponto de que a realidade insossa que a envolvia houvesse feito dissipar suas tolas tentativas de explicá-lo.

”Seus olhos... ... ... Eles...”

...As pálpebras se entreabriram, suaves, mais uma vez – após se cerrarem por um instante prolongado. Com um suspiro inquieto, os orbes acinzentados correram pelo ambiente, perdidos; E, apesar da demora em analisar a paisagem, foram incapazes de se localizar. Os ombros se encolheram, silenciosos, e uma respiração trêmula foi o único som que escapou de seu ser, naquele momento. Com discrição, a atenção então desviou-se em direção aos céus, e o canto dos lábios se torceu ao se deparar (ou não fazê-lo) com o manto celeste azulado, quase que totalmente encoberto por nuvens cinzentas que, bem, apesar de provavelmente não serem prenúncio tão forte de tempestade quanto as que se acumulavam ao redor do Monte Pyre anteriormente, certamente eram indício suficiente de que, outra vez, não enfrentaria um dia ensolarado.

Já havia se acostumado com a tormenta, àquela altura.

Sem rumo, havia chegado àquele pedaço de rota: E foi sem rumo que os passos ameaçaram seguir – e, de fato, o fizeram -, hesitantes, pela estrada de terra. Sentia o corpo envolvido num baile suave com fantasmas que há muito não tinha consciência do paradeiro: Questionou-se, por um instante, se o céu oculto por detrás dos algodões lamuriosos saberia o dizer, se ousasse realizar tal clamor, se tivesse a ideia de fazê-lo. Como obstáculo à tal possibilidade, porém, existiam também as várias noites em claro em que os orbes perdiam-se pelo manto celeste e, nas noites mais sombrias, roçavam pelo concreto acima de sua cama, em murmúrios silenciosos que buscavam não só razões, mas até mesmo auxílio de uma existência superior que, se não viesse em intercessão, pelo menos o fizesse com a mais tola das justificativas para que pudesse apaziguar a maré dolorosa e sufocante que afogava seu coração.

De uma maneira ou de outra, nunca recebera uma resposta – e, eventualmente, desistiu de encontrá-la.

Com esse - ou esses - pensamento, não é surpreendente dizer que não chegou a prestar atenção pelo caminho que os pés optaram em percorrer - mas, oh, esse fato não era novidade, considerando que foi com essa exata dispersão que havia partido de Mauville, ao que aparentava. Quão distante estaria da cidade, naquele instante? Era difícil dizer, principalmente que não mais a enxergava, independente da direção que arriscasse observar. Mais perdida do que a primeira vez que arriscou um repouso para tentar se encontrar, o corpo tomou a decisão por si só e estancou no lugar; As íris, então, deslizaram de um lado à outro, silenciosas, senão para identificar alguma coisa ou pista que pudesse usar para se situar, pelo menos para verificar se não existia nada em torno que precisasse de sua atenção para que, huh, não acabasse tendo que lidar com ainda mais problemas do que já tinha, naquele momento.

...Não que isso impedisse ou evitasse, é claro.

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E a realidade é uma só: já me perdi além do que poderia me achar. Como se minha alma estivesse perdida à distância e, por mais que tente, não consiga alcança-la nunca. Antes Battle Tower, agora Galar: encarar de frente os fantasmas do passado não trouxe nada além de lástima. Minha forçada e súbita coragem há alguns dias só despedaçou mais o que já estava destruído. Dizimado. Extinto. Aniquilado. Todos sinônimos, mas tão ternos ao meu âmago que significam coisas diferentes na minha mente. Caminhei pelo campo vicejante no meio da rota cento-e-onze com a cabeça abaixada e cada passo tendia a tremer meus ossos e incomodar meus subconsciente... Será...

Será que tomei a decisão certa?

Minha tristeza é como um monólogo embaixo d'água: nunca há ninguém por perto para escutar meu desespero e, mesmo se houvesse, não é como se conseguissem ouvir claramente o que tenho a dizer. Exausta de emergir para respirar e tentar sair desse salgado mar de lágrimas só para acabar mergulhando nele uma vez mais. A força que move meus braços me é estranha, o oxigênio já esvaiu dos pulmões e os olhos fecharam-se como se aceitassem seu destino... A lamúria que recobre meu ser já me é tão intrínseca que, oras, por que não ficar de uma vez por todas aqui? Para quê continuar lutando?

Os curtos e calmos passos que me levam ao deserto alternam-se com algumas bufadas e o pesado remorso que recobre minha consciência... Eu sei, tenho plena consciência que meus pequenos jamais me perdoarão por essa decisão. Em especial Sushi, meu eterno-adolescente Alakazam. Por mais que me culpe, estamos juntos desde o começo e a preguiça psíquica sabe tudo aquilo que sinto. Sabe que me sinto sozinha, que não pertenço a lugar nenhum, que todos que se aproximam de mim acabam sumindo de uma maneira ou outra: seja pela ironia do destino de tirá-los de mim cedo demais ou pelo simples prazer de desaparecer sem deixar rastros. Ergui a esfera metálica que pertence ao psíquico e observei-a com ternura... Se me mantive sã e viva até agora foi para torná-lo forte e capaz de sobreviver em qualquer circunstância. Disso sim posso me orgulhar.

— Obrigada. — pensei comigo mesma, aproximando o receptáculo dos meus lábios e mantendo-o assim por alguns segundos — ... Sinto muito.

Prometi a mim mesma que não choraria mais. Desde o episódio na Battle Tower onde senti o ruivo passado me assombrar e destruir meu psicológico na frente de uma multidão, reservei-me ao direito de ter no mínimo esse pouco de dignidade. Chorar pra quê? A decisão já está tomada. As lágrimas marejam nas orbes azuis e o que me resta de força proíbem-nas de saírem de sua cela, como um prisioneiro mantido em solitária. Não posso fraquejar... Não mesmo.

Não tem Equipe Rocket ou Virtuum que sobressaia a gana de encerrar de uma vez por todas esse vazio que preenche meu peito. Enganei-me diversas vezes acreditando que, se focasse em alguma outra coisa, poderia encontrar um sentido na vida. Um significado em viver... já que sinto como se somente existisse, ocupando um espaço no universo que facilmente poderia substituído por alguma outra coisa mais importante. Se algum dia pedissem para definir Karinna Bley em uma única palavra, não consigo pensar em nada além de... oca. Talvez frágil, como se cair no chão me despedaçasse em milhões de pedacinhos e o conteúdo não existisse. Não é muito poético e nem precisa ser: minha existência se resume à desolação que carrego em meu íntimo e finalmente estou em paz para deixá-la para trás junto com corpo e alma nesse mundo.

Pergunto-me agora o que pode acontecer do outro lado, se é que existe. Mas em um universo onde acredita-se que alguns Pokémon regem os cosmos, posso acreditar que algo me aguarda, né? No céu ou inferno, que seja... Tudo que quero é reencontrar minha mãe e minha avó uma única vez mais. Perguntar se estão orgulhosas de mim e dizer que sei que não fiz boas escolhas na vida, mas que sei também que não me culpam por isso. Mal posso esperar para não me sentir solitária uma única vez mais após tantos e tantos anos abraçando a solidão toda noite antes de dormir.

Balancei a cabeça algumas vezes e deixei meus devaneios de lado. É preciso despedir-me de algumas pessoas já que não estarei presente para dizer tudo aquilo que desejo em palavras. Deixá-las para trás e dizer adeus mesmo que à distância e por mais que o rancor sobressaia qualquer sentimento que sinto por elas, incluindo os fios de cabelo ruivos que tanto me atormentaram há alguns dias. Isolei-me o máximo que pude de onde qualquer transeunte pudesse passar, buscando um local no famoso lago da rota cento-e-onze que pudesse sentar e tocar meu violino em paz.

Tudo que preciso é de alguns minutos.


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Tal como era incapaz de pontuar precisamente sua localização, também se via impossibilitada de arriscar até mesmo o horário daquele dia de céu oculto. Claro, sempre poderia verificar o Pokénav como uma âncora de realidade, entretanto, não sentiu segurança de fazê-lo (por conta do infindável desencontro com o unoviano, quem sabe?) - e, sinceramente, tampouco necessidade. Era difícil dizer se por algum prenúncio silencioso do coração ou se simples apatia, mas não via sentido, pelo menos naquele instante, sequer em tentar se situar tanto no espaço, quanto no próprio tempo; Arriscaria, no máximo, em dizer que o sol já havia até passado de seu pico diurno mas, de novo, não tinha nenhuma garantia além de uma aposta mental que não contava com quaisquer análises externas.

Válido dizer, porém, que fora capaz de aperceber-se de duas coisas, simples e somente. A primeira, não tão importante, foi a constatação da solidão - ou, pelo menos, quis crer em tal -. Não existia uma única alma, viva ou assombrada (não que tais características fossem exclusivas, oh, não), vagando pelos arredores; No mínimo, eram tão discretas que sequer foi capaz de notá-las, caso contrário: E em momento algum questionou-se se teria dado a devida atenção ao ambiente para poder se assegurar ou não da própria segurança, limitando-se à supor a resposta e aceitá-la como verdadeira - e não é isso que fazem os pobres e fragmentados sonhadores, em desespero solene para poderem dissociar de sua maldita realidade?

A segunda, arrisco dizer que talvez fosse mais fantasmagórica que existencial; Tratou-se de um cintilar distante, ocorrido em milissegundo, e a moça certamente acreditaria se tratar de uma brincadeira ingênua de seu psicológico distorcido - porém, quando a luz volveu mais uma, duas vezes, um arrepio indescritível percorreu sua coluna em calafrio mórbido: Justificável, para dizer o mínimo; Afinal, em que tipo de universo obsceno já teria ouvido falar de tão brilhante luz de farol nas entranhas de Hoenn, tão próximo - acreditava - de Mauville?

Tão silenciosamente quanto já estava, os orbes acinzentados se focaram naquele ponto em específico, que se alternava entre a luminosidade brilhante e a escuridão aterradora - e, pelo mais ínfimo instante que fosse, sentiu as pernas tremularem, inquietas, ao passo que o coração falhava uma batida e a respiração entrava em descompasso; Os ombros, em toques ritmados, se movimentaram até encolherem-se em plenitude, e os dedos se apertaram discretamente contra as palmas enquanto tentava se convencer de que, não, aquilo não era algum efeito alucinógeno que sofria - ou, pelo menos, parecia não ser.

Não saberia informar por quanto tempo se manteve ali, estática, observando um farol que existia sem existir, antes que as engrenagens do corpo finalmente ameaçassem girar mais uma vez e, com elas, as pernas se arrastaram, quase à contragosto, na direção de tão singela e (aparentemente) inofensiva assombração, que rasgava barreiras continentais e aquosas para se impor em meio à uma rota perdida - em momento algum pronunciou-se a respeito (não teria com quem fazê-lo, de qualquer forma), mas seu âmago temeu a possibilidade de, mais uma vez, se ver arremessada nos braços de uma realidade distorcida e paranoica, habitada unicamente por demônios que aguardavam pacientemente o primeiro peixe a se enroscar nas cordas de suas redes.

Como um simples inseto atraído pela luz, seguiu-a. Segundos, minutos, horas - não soube ao certo por quantos, e sequer se importou em descobrir. Limitou-se em se aproximar, obediente, olhar fixo e mente distante enquanto os passos se arrastavam por terra, grama, sabe-se lá mais o quê: Quem sabe se até não alguma outra existência, nessa caminhada distraída? É difícil dizer por quanto tempo duraria esse magnetismo, mas é com simplicidade que afirmo que não foi por sua quebra que a moça interrompeu seu trajeto; Nem a umidade em um dos pés foi a responsável por tal, inclusive, mas sim o desaparecer da imagem do holofote de Ampharos, julgou, como se não passasse de uma simples miragem na penumbra causada pelas nuvens cinzentas.

Piscou uma, duas vezes. Em consequência, a cabeça balançou com suavidade, e as pálpebras se apertaram antes que o olhar desviasse para baixo e os pés retrocedessem não mais que três passos curtos - viu-se, de repente, à beira do lago: E, mudo, o farol havia sido sua sereia. A constatação do fato fê-la estremecer, o questionamento rodopiando, singelo, sobre onde teria parado não fosse sua súbita desaparição e, com o pensamento, a imagem de uma antiga lenda de certa Dama do Lago surgiu e teceu seu desenho vívido sobre a consciência da ruiva.

...Recuou outro passo.

Enxergou o véu de névoa que pairava sobre as águas, e não soube dizer ao certo o motivo de sua presença. Olhou de lado à outro - solidão. A ideia de encarar mais uma vez a guardiã de águas fúnebres foi o responsável por um segundo arrepio - ou será que já teria perdido a contagem? - e, por um instante, prendeu a respiração como se tão discreto ato pudesse ser o responsável para que passasse despercebida à entidade que repousava no fundo das águas. Sua sina, porém, se revelou na incapacidade de dar meia volta ou mesmo retroceder - sutis, as unhas se apertaram na superfície das palmas.

Um. Dois. Sete. Quinze. Vinte e três. Trinta.

Com um sopro forçado e agoniado, o ar encontrou espaço para escapar da garganta, do peito, e se puxar numa golfada atordoada; Tal qual uma criança com medo do escuro, as pálpebras se apertaram em reação quase violenta, esmagando-se enquanto o coração clamava para que a donzela de cabelos esverdeados não emergisse em agarro sanguinolento, tragando-a ao fundo de águas tão ternas e, ao mesmo tempo, sufocantes.

...Não sabia se realmente acreditava em tal possibilidade...
Mas, àquela altura, também não era capaz de descartá-la.

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São poucas as coisas que nos fazem sentir realmente vivos.

Observo a turva e gélida água tocar as solas dos pés e arrepiar todo meu corpo — uma singela lembrança de que, apesar de não desejá-la, a existência ainda é presente em mim. Poderia culpar a temperatura, mas qual a graça em não poetizar até mesmo em cima disso? Um simples soprar da álgida brisa perfurando a névoa é o suficiente para tentar me convencer que esse mundo não é de todo mal e que, talvez, muito talvez, seja possível uma segunda chance, certo? Errado. Os lábios abriram-se e um debochado sorriso emergiu do rosto quase que de imediato: segunda? tente quinta, sétima, décima-primeira. A impossibilidade de poder contar nos dedos intensifica a gravidade do que já é óbvio: o meu existir, ainda, é como um erro na matriz. O que desejo fazer já deveria ter ocorrido há muito tempo e finalmente chegou a hora da Morte reclamar seu devido e atrasado prêmio.

Foram inúmeras as investidas do destino para tentar me levar onde tanto quero ir agora. Recordo de uma vez quando pequena onde minha família contava essa história para todos que quisessem escutá-la: quando bebê eu gostava tanto de mar que disparei em direção ao oceano que cerca Cianwood e simplesmente deixei a água me levar. Quase morri afogada, mas minha mãe dizia que ainda assim saí de lá para o hospital sorrindo de orelha à orelha. Desde então, quase dezenove anos depois, vivo nessa intensa brincadeira de gato e rato com a Morte. Alguns dizem que Giratina é a personificação do inferno, outros dizem que não... Bom, já que não existe mais nada a perder, assumirei tal qual religiosos que, sim, o ínfimo Pokémon fantasma é o encarregado do universo onde possivelmente estarei em breve. É, rapaz... você quase conseguiu me pegar alguns meses atrás com Maxima e sua dupla dinâmica, mas ainda assim, por algum motivo, não dei o braço a torcer. Deve ser muito ruim vencer um jogo onde o outro jogador desiste ao invés de ser derrotado, né?

Lembro-me de comentar com Lysander antes do Teatro Continental o medo que sentia do poder da solidão, que me sentia sozinha desde que me entendo por gente e que estava cansada de ser assim. Devo confessar que ali esvaiu-se o último resquício que existiu do temor que sentia da morte e, consequentemente, do inferno. Ali percebi que derramar lágrimas e mais lágrimas por isso já havia deixado de ser reconfortante e era só... patético. E posso ser oca, frágil... mas me recuso a ser patética.

Sentei à beirada da rocha que mais me parecia segura: jamais entenderei o porquê do mesmo consciente que me convenceu a desaparecer prezar pela segurança em momentos como esse. Chega a ser estúpido. Posicionei o violino sobre o colo e senti a névoa encobrir-me por inteira rapidamente, me fazendo questionar se não poderia ter essa vista e essa sensação de despedida para sempre, caso pudesse fazer um último pedido ainda em vida. Ergui o instrumento e repousei a queixeira sob o rosto... Mas o que tocar?

Há tanto tempo que não vejo minha família que mal consigo lembrar de suas vozes, seus rostos, suas manias. Não me recordo qual prato favorito da minha avó que cozinhava todos os dias. Qual cheiro minha mãe tinha. Talvez esse esquecimento seja o que tanto me afeta dessa maneira e urge essa vontade de reencontrá-las tão cedo. Mas, com aquela que não deve ser mencionada e que surgiu alguns anos depois, as coisas são um poucos diferentes. Diferente da minha família, Natalie escolheu desaparecer quando finalmente acreditei que não estava mais sozinha no mundo. Éramos como irmãs, eu um ano mais velha mas ainda assim tão abestalhada quanto. Relembrar o dia que fui encontrá-la na praia da rota 40 e Chase nunca mais apareceu é como recordar um assassinato — a morte em questão sendo a da única esperança que tive de viver uma vida normal dali pra frente. Mas aí que está: se fosse só isso, minha ira talvez não fosse tão grande assim. Já mal recordo a fisionomia de seu rosto, mas existe algo que toca e ressoa na minha mente toda que vez que pego meu violino para tocar qualquer coisa: a nossa música. É, soa um tanto esquisito, mas para duas adolescentes que chamavam-se de irmãs e juraram seguir para sempre juntas não era nada demais. Lembro-me de gravar os acordes em tempo recorde para que pudéssemos tocar e cantar todo dia ao assistir o pôr-do-sol em Olivine. Triste. Triste como nunca vou poder perguntar a ela o porquê de ter feito o que fez. Como pôde ser tão má, tão...

Cruel.

Engoli seco mais uma vez, tentando conter as lágrimas que, uma vez mais, queriam sair sem sequer serem desejadas. Preciso tirar esse sentimento do meu coração. Ao contrário da minha família que torço encontrar do outro lado, Natalie está viva e muito bem pelo que vi na Battle Tower. Poderia tentar encontrá-la e dizer tudo que está entalado no meu peito, mas que bom traria isso? Ela sequer lembra que um dia já existi em sua vida. Deixemos as coisas como estão. Posicionei o arco e comecei a tocar o instrumento.

É...

Essa será minha despedida a você, cara de Wooper.


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Foi diferente do que havia esperado.

Trazidas pela brisa gélida, as primeiras notas que reverberaram por sua estrutura óssea e a fizeram tremular, em realidade, não conquistaram de imediato o impacto que em qualquer outro momento talvez o fizessem. Ainda temerosas de seu verdadeiro significado, as pálpebras não se abriram instantaneamente: Cerradas, concederam à consciência o espaço necessário para que refletisse os acordes que ecoavam acima das águas solitárias, embalando-se na névoa e aspirando a aspereza frígida intrínseca à tal; Ao contrário do que imaginou que a esperaria após a inevitável denúncia escandalosa de sua presença, o que apertou-lhe o pescoço, vagarosa e pacientemente, se tratou de um sentimento longínquo de nostalgia, de lar - mesmo que tão distante dele estivesse, separada não somente por quilômetros de terra, como também de níveis indecifráveis do próprio oceano - que, naquele instante, se apresentou de maneira alienígena e quase irreconhecível para si.

Em desarme, o aperto dos dedos se afrouxaram das palmas e penderam, perdidos, incertos de si mesmos. Com um ritmo irregular e hesitante, as pálpebras enfim arriscaram se entreabrir, e ergueram-se aos poucos no aguardo de demônios que nunca se apresentaram à sua frente e, oh, também não pareciam dispostos a ousar fazê-lo daquela vez: Pelo menos, essa foi sua conclusão ao se deparar com o vazio já costumeiro que se desenhava diante de suas pupilas, de tal modo que sequer era capaz de enxergar além de pouquíssimos metros da margem em que se encontrava. Foi com receio aturdido que o pescoço - e somente ele - se movimentou de um lado à outro, mecânico, o olhar passeando pelo véu que era incapaz de transpassar em busca não só da companhia responsável pelas notas que se apresentavam em concerto sem plateia, como também de uma explicação para sua repentina aparição.

Receou - mas isso, por si só, já não era mais novidade. À medida que o instrumental se desenvolvia ao alcance de seus ouvidos, a opacidade de uma lembrança há muito inerte no fundo de suas memórias conquistava o luxo de se alterar, reganhando traços firmes e bem delineados e, de repente, a compreensão da presença do farol que a havia atraído até ali, por mais estranho que o timing pudesse parecer, atingiu-lhe como uma pancada violenta no estômago. O ar escapou-lhe por um instante enquanto os ombros retesaram-se outra vez, as pernas repentinamente trêmulas novamente e, naquele momento, temeu o tipo de situação que a esperava além da névoa - o lago, o frio, o lugar inóspito: Tudo parecia corroborar para que mais e mais demônios viessem à tona, assombrando-a passo a passo para onde quer que fosse, sem que jamais desaparecessem ou a cedessem um único momento de descanso e alívio. O desejo de tentar correr veio palpitante em sua cabeça, ao ponto de ser substituído por dor latejante diante da negação que o corpo ousava insistir: Uma tentativa tola, até vã, da própria sanidade em agarrar-se aos seus fragmentos restantes e, quer queira ou não, proteger-se.

O coração, por outro lado, foi fisgado pelo canto da sereia que, dessa vez, veio como os acordes melancólicos de um violino.

Ainda que cada célula de seu corpo berrasse pelo oposto, a ruiva se manteve em silêncio por mais poucos segundos para que pudesse identificar de onde vinha tal melodia e, indo de encontro à seus impulsos mais primitivos, os pés foram forçados a se movimentar em sua direção, arrastando-se por terra e relva úmidas, em ritmo inicialmente vagaroso - mas que ganhou velocidade à medida que as notas tornavam-se mais agitadas, agudas, perto não só de seu ápice, como também do fim. Durante aquele espaço de tempo quase infindável - e ao mesmo tempo perigosamente próximo de simplesmente desaparecer -, é válido afirmar que a moça simplesmente esqueceu de como funcionar: A respiração não mais encontrava ritmo para fora (ou dentro) do peito, e o coração agitado era a única coisa que ecoava em seus ouvidos em companhia à tão saudosa canção de anos, raios, séculos atrás!

Correu, e arrisco dizer que já havia esquecido que o fazia quando finalmente precisou frear - e o fato ocorreu quando finalmente o fantasma que residia eternamente no canto do cômodo abandonou seu posto de figurante para domar o centro de um palco inexistente: E, válido dizer, a singela visão dos cabelos louros balançando em resposta à brisa era uma característica que concedia invejável aspecto espectral que, infelizmente, não sabia diferenciar se era real ou simplesmente a liberação geral de uma insânia que jazia contida em seu peito.

...O corpo tremulou. Ali, há poucos metros de distância, com os orbes acinzentados testemunhando e tomando nota de que uma presença perdida, fantasmagórica e antiga finalmente retornava num rompante inesperado, não soube o que fazer; Vê-la distraída, imersa na obra sonora que escoava das cordas de seu violino - isso, por si só, batalhava com a ansiedade para tentar se presentear (injustamente, talvez) com momento afável de aconchego: Enquanto os acordes sussurravam e guinchavam no instrumento, os lábios chegaram a se entreabrir, mas sem nenhuma ideia do que dizer - e a singela respiração descompassada que escapou se uniu à brisa, insignificante, sua própria existência se provando vã e desapercebida.

...

— ... ... ... — Um sussurro, inaudível até para si mesma, foi a primeira coisa que escapou. Em seu íntimo, temia interromper e macular a serenidade singular daquela lembrança preciosa para se deparar com a tormenta caótica da soltura de mais, de tantos demônios, como todos os outros que havia enfrentado até então. A mera ideia provocou um calafrio doloroso por sua coluna, retorcendo um nó furioso na própria garganta, um embate violento de consciência, razão e desejo, em um confronto que já há muito estava determinado. — ...Karinna? — Foi o que escapou - simples, de voz trêmula e instinto tolo.

Oh, pobre criança.
Realmente ainda te resta esperança?

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Trinta segundos de música.

Os acordes já regiam-se sozinhos: os dedos continuavam a dedilhar, suas belas e afiadas notas ressoavam das finas cordas de metal e ainda assim sentia não possuir mais qualquer consentimento sobre meu corpo. Ali jazia um fantasma, uma assombração adolescente que há tanto tentou invadir o consciente e mandar-me em seu lugar ao Reino do passado - não é nem preciso dizer que havia conseguido e que, dessa vez, sequer lutaria para não fazê-lo...

Já que estou aqui, por que não falar diretamente com você?

Sessenta e quatro segundos de música.

Agora as janelas cerúleas observavam um nascer do sol com apreensão e foram necessários exatos cinco segundos para dar-me conta que me encontrava no que jurávamos ser o melhor dos esconderijos; sim, exatamente em nossa rocha favorita, a maior, mais distante e onde turistas que vinham à Olivine jamais conseguiriam encontrar e perturbar os Mantine que tanto amávamos e que ali vivam. Ao longe a música continuava a tocar e ao meu redor não havia ninguém... somente você.

Oitenta e dois segundos de música.

Seus mirantes acinzentados que tanto admirava fitavam-me de volta e, que bosta, você é exatamente como me lembrava - talvez um pouco menos densa já que a realidade não nos é factual. A crescente iluminação cítrica tomava conta da imensidão azul, rebatendo sobre sua pele alva e reluzindo ainda mais seus ruivos fios de cabelo; ha, lembrei de uma época onde uma desejava ter o tom de cabelo da outra. Nos cultuávamos tanto que comentários assim eram reciprocamente comuns. Diga-me agora, por favor: quando foi que seu coração deixou de me amar? Quando que sua mente permitiu me deixar para trás?

... Éramos irmãs, não éramos?

...

...

... Nenhuma resposta.

Cento e quarenta segundos de música.

Talvez isso seja para ser mais um monólogo. Talvez esse devaneio seja para despedir-me efetivamente da figura que criei de você... Talvez, e apenas talvez, sua essência nunca fora aquela que conheci há alguns anos e o que fez comigo seja quem é de verdade. As já incontroláveis lágrimas escorriam pelas maçãs do rosto e, bom, já não sabia dizer se era por tristeza ou por ira. Sentia, quase que subitamente, os órgãos internos revirar-sem em raiva: a urgência de querer declamar toda a fúria que sentia era rapidamente sobreposta pela felicidade de te ter ali, especialmente por saber que não era real... Nós duas sabemos que jamais seria assim de verdade. Você me conhece o suficiente pra isso.

Cerrei os olhos e quando finalmente obtive a bravura necessária para abraçá-la seu semblante já não estava mais lá.

Cento e oitenta e seis segundos de música.

Agora vejo-me alguns meses atrás. Por algum motivo observo a mim mesma à distância: estava sozinha, caminhando pelas areias da rota 121 sem nada além dos medos e decepções ao meu redor. Uma sombra andava rente a todo meu ser e em um momento específico consumiu-me por inteira, tão ágil quando um Sharpedo ataca sua presa... Mas nunca fui caçada. Sempre fui tanto a presa quanto a predadora, devorando-me aos poucos de dentro para fora em uma autofagia tão absurda que sequer restou memória do que vivia aqui dentro. Ao longe é possível ver a realidade: existe tanta escuridão em mim que já não é mais possível ver um único sorriso em minha silhueta.

Ninguém nunca deveria assistir a definhação de sua própria alma.

Duzentos e trinta e seis segundos de música.

A música encerra e com ela a consciência finalmente desperta. Senti de meus atônitos olhos lágrimas escorrerem e, honestamente, já sequer tentava controlar mais. As mãos, sabidas da importância do instrumento, repousaram suas peças com gentileza sobre o colo e logo depois guardaram-no devidamente em seu lugar. Fito agora a margem que toca meus pés limpando as lágrimas e repreendendo os soluços: isso tinha que ser feito e você conseguiu, Karinna. Finalmente.

Ergui a bolsa com meus pertences, mas... Não é possível. Não estou mais perdida em lembrança alguma. Minha cabeça já estava tão alheia à realidade que consegui ouvir meu nome ecoar ao menos umas três vezes. Como... Como é possível finalmente conseguir alcançar o adeus que tanto almejei simplesmente para tê-lo arrancado de mim tão rapidamente? Oras, se antes estava triste, agora estou furiosa. Não existia hora pior para isso acontecer.

— ... — se isso for mais alguma brincadeira do destino, que seja... mas e se for real? será? será que Natalie está realmente aqui? — ... — inclinei a cabeça quinze graus na direção de onde o som havia vindo, mas uma névoa impedia a devida visualização do que se aproximava — Hm. — a figura finalmente se revelava e senti como se pudesse vomitar imediatamente de nervosismo; as mãos tremiam e as pernas lutavam internamente contra minha vontade para que não demonstrassem qualquer fraqueza... Ainda desorientada, tentei o máximo para não manifestar emoção alguma — ... O que você quer?


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Ali estava. E, veja bem: Não era como se não estivesse esperando.

Talvez, em uma ínfima e solitária parcela de seu coração, a esperança de que as reações e situações cruéis com as quais havia se acostumado, de fato, tivera a ousadia de irradiar, embora discreta e quase que completamente sufocada. Mas, como já bem pontuado, não era a primeira vez que lidava com tais encontros amaldiçoados; Seria tolice tentar se convencer que aquele teria alguma sensação de aconchego que contrastasse com os demais, principalmente se levasse em consideração que muito provavelmente seria um dos últimos a ocorrer - bem, pelo menos no que dizia respeito à "primeiro encontro" com tais espíritos, por assim dizer -. Se por um lado o melhor costuma ficar para o final, oh, em seu caso o que acontecia era que apenas galgava mais e mais níveis de estilhaçar impróprio de sua sanidade, que malmente era capaz de manter em imagem sólida, àquela altura.

As pálpebras caíram, mas não chegaram a se cerrar por completo; Deu-se conta que já não tinha a mínima ideia sobre o que falava (pensava?), e tudo que restava entre seus dedos eram os pedaços carcomidos e dilacerados de uma colcha de retalhos esquisita e esquecida, mais e mais, ao longo do tempo. Não estava próxima o suficiente da imagem espectral que a névoa desenhou, sádica, à sua frente; Entretanto, ainda assim era capaz de reconhecer a indiferença que tão bem conhecia, fator comum à todos os demônios que sussurravam em seus ouvidos - e que normalmente costumava vir antes da explosão de fúria repentina, que arremessava cada parcela de culpa em seus ombros e afundava-os, em tentativa sórdida de afogá-la num oceano de sílabas afiadas.

Mesmo assim, era estranho.
Ao contrário de todas as outras vezes, ainda não era capaz de enxergar seus olhos; Questionou-se se por conta da nebulosidade dos próprios mas, oh, que diferença isso faria?

Não existia rispidez em sua questão - não naquele momento, embora seu coração tomasse por verdadeiro o fato de que em breve esse aspecto emergiria em cada letra soletrada pela moça acomodada na rocha. Perdida em tais pensamentos, a sombra de um mínimo sorriso afetado foi o que se desenhou como reação, oculta por detrás do nevoeiro que separava as, até então, duas existências fragmentadas. Outra questão rondou em seus pensamentos, e dessa vez era uma tentativa singela de apostar quais seriam as acusações mórbidas que saltariam da garganta da sereia (se tudo o que havia fisgado-a até ali o era, por qual motivo a violinista não o seria?), da guardiã, de sua Dama do Lago.

Mais uma vez, se deparava com o temor de ser arrastada ao fundo das águas fúnebres e gélidas que se desenhavam poucos metros à frente - e, por mais patético que pudesse parecer, pela figura que menos esperaria: Teria se acostumado demais também com sua ausência, ou constante presença de mero olhar periférico? Não sabia mais dizer se aquilo era uma obra prima tecida cautelosamente pelo destino desde muitos anos atrás, ou simplesmente coincidência infeliz; Quem poderia dizer se até mesmo não podia se tratar de uma brincadeira sádica de fantasmas que, escandalizados com a impossibilidade de afetá-la em âmago, conjuraram existências ainda mais antigas que há muito jaziam adormecidas em sua alma?

...

— ...Por quê? — Quis saber. Uma pergunta sem sentido, tecida em voz trêmula. Em realidade, ela própria não tinha certeza de que resposta almejava com tal ousadia - e, mesmo assim, faltavam-lhe palavras para pronunciar algo melhor. Não era capaz de informar se era uma súplica para que tudo parasse - mas, oh, a moça duvidava do fato. Havia desistido de rogar piedade há muito, muito tempo atrás; Uma casca vazia de jarro quebrado não pode fazê-lo, afinal.

...Ah, Dama do Lago...
...Ah, Karinna.

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tudo bem? :

Emotional Storm

Em meio a rota cento e onze, duas figuras caminhavam, o clima parecia querer combinar com a melancolia de ambas, mas provavelmente teria que se esforçar um pouco mais para tal. Em meio á tanta tristeza pensavam uma na outra, e o universo atua de formas interessantes... atraindo até nós exatamente aquilo no que pensamos. As garotas ao se verem, até acreditem ser uma peça de suas mentes, e é bem justo salientar que o lago enevoado colaborava em muito para essa impressão.

As figuras se entreolhava por sabe-se á quanto tempo até ou se darem conta de que aquilo é real, ou quem sabe parar de dar importância de ser ou não real para reagirem. O que parecia que não ocorreria logo, ja que ambas permaneciam paradas, sem querer ou conseguir acreditar em seus olhos. Ambas se conheciam, bem demais até, tanto que a figura ruiva antecipava a rispidez da loira, mesmo antes de se manifestar.

O destino havia sido definitivamente cruel com ambas, para Natalie, parecia o destino respondendo a uma pergunta silenciosa "não tem como ficar pior né?". Já para Karrina ele parecia dizer que recusava o adeus que havia orquestrado em sua bela performance. estava montado o palco para a tormenta de emoções contidas ás custas da saúde emocional de ambas, enquanto os céus prometiam um espetáculo á altura


PROGRESSOS DA ROTA - Karrina :

PROGRESSOS DA ROTA - Shianny :

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Off :



remember.


Era como se pudesse sentir a ira tecendo seu caminho dentre todas teias do corpo antes de poder manifestar-se de fato pela boca; digo, sabia exatamente tudo aquilo que deveria ser dito, mas por algum motivo as pernas ainda estremeciam e os nervos impediam-me de desferir como uma metralhadora tudo aquilo que há tantos anos havia treinado e praticado como um atleta faz anos antes de uma Olimpíada. Sonhar com esse momento era uma das utopias favoritas — não porque nos acertaríamos mas sim pelo sadismo de fazê-la sentir na pele tudo aquilo que seu abandono causou em minha vida e, bom, finalmente sentir-me vingada.

Os punhos cerravam-se sob o colo enquanto as janelas cerúleas fixavam os olhos acinzentados do fantasma que jazia em minha frente: as íris tentavam contar tudo aquilo que os lábios trêmulos tentavam e não sucediam — corra, Natalie... as coisas ficarão feias por aqui. Senti os membros inferiores moverem involuntariamente e, quando dei por mim, já estava em pé. A uivante brisa que nos circulava parecia caçoar de nosso reencontro, agindo quase que como uma trilha sonora para um filme que conhecíamos o final e não era nada feliz.

Ainda em silêncio dei um único passo. Senti a garganta seca e, apesar do gélido clima, os punhos transpiraram como se o calor fosse um fator significante no momento - àquela altura tinha plena certeza que nem mesmo a estrela central do universo conseguiria acalentar nossos alvos seres; não há um único raio solar capaz de estimular serotonina em um dos vazios corpos à beira do lago. Conseguia sentir meu corpo envolto por uma mórbida cápsula, deixando qualquer auto-controle do lado de fora e impedindo a consciência de sequer manifestar-se. O cenho franziu-se e os olhos encheram d'água, caindo em tristeza enquanto outro passo era dado em direção ao que tanto almejei.

Juro que queria te abraçar.

Meu braço direito moveu-se tão rapidamente que a ideia de impedi-lo sequer passou em sinapse. O punho manteve-se fechado: o despertar veio assim que acertou-lhe a bochecha esquerda com tanta força que as falanges gemeram em dor. O soluço de um choro preso há minutos deu-se antes mesmo das lágrimas descerem e, meu deus, assim que vieram, não pararam mais. Fecharam-se os lábios e a força esvaiu completamente das trêmulas pernas: caí em desolação sobre os joelhos com as mãos apertando as pedras que ali repousavam, pedindo a Arceus que fossem feitas por alguma magia que encerrassem de uma vez o sofrimento que me parecia finito.

Se vim aqui para morrer, por que fazê-lo ainda em vida?

— ... — sentia a dor queimar seja lá o que ainda restava dentro de mim; a raiva que sentia de Natalie não é e nunca foi um terço da que sinto de mim mesma mas, bom, se ela precisar ser o bode expiatório de meu auto-ódio, que seja — E-eu — os soluços impediam uma única frase contínua e completa — Te — um esforço descomunal ainda era falho em recitar o que meu coração sentia; a frustração fazia-me socar as rochas em raiva por diversos segundos, machucando as já calejadas mãos de quando fiz a mesma coisa assim que cheguei em Hoenn — Odeio. Eu te odeio. — os dedos já sangravam e finalmente erguia a cabeça para voltar a olhar diretamente para Natalie — Você t- — mais uma vez o soluço atrapalhava a fala e, por algum motivo, a já doente cabeça teimava que desferir socos no chão ajudava a tomar controle sob suas cordas vocais — Você tem ideia do qu- — mais e mais socos; as mãos níveas tornavam-se rubras — Você tem ideia do que passei? — as lágrimas cerravam de imediato e os olhos apertavam-se o suficiente para a expressão ser unicamente de raiva; era quase se como os estágios de luto que escrevi na Wallace Cup tomassem conta da minha narrativa — E remorso? Algum dia sentiu? — as orbes azuis tornaram a lacrimejar...

— Eu não tinha mais ninguém, Natalie.


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Considerando os tantos pensamentos amaldiçoados que insistiam em rastejar por cada célula nervosa - ou não - de seu ser fragmentado, chegava a ser engraçada a maneira como a mais inútil e improvável (pelo menos para si) hipótese se tornava, aparentemente, verdadeira. Veja bem: O olhar marejado alheio, a atmosfera fúnebre e gélida, fantasmas de um passado; Cada detalhe, cada aspecto daquela situação maldita lhe era extremamente familiar - e gabava-se com a ideia de que de cabo-a-rabo já conhecia aquele roteiro. Por conta disso, apesar da respiração trêmula e do choque inicial, era em apatia que seu coração vagarosamente mergulhava, envolvendo-se e retornando ao silêncio inquieto que há pouco abandonara; Se uma coisa todas aquelas ocorrências tinham em comum, além de tudo posteriormente citado, era o ponto de que jamais tinham a capacidade de forçar seu próprio físico ao limite - embora, huh, não poderia dizer o mesmo de seus pokémons.

Com um tique discreto, os dedos de uma das mãos se movimentaram, e a ruiva sequer se deu ao luxo de mover do lugar quando o espectro louro se ergueu e, em sua sina fantasmagórica, caminhou com passos furiosos em sua direção - naquele instante infinito, limitou-se em aguardar; Em quietude mórbida, aguardou o momento em que aquela assombração maldita derramaria sobre si todo o ódio, toda a infâmia, todo o desespero que guardava dentro de sua existência miserável para que pudesse balançar-lhe a existência e se transformar em mais um dos tantos demônios que a perseguiam incessavelmente por dias, noites e além.

Foi então que, como um passe de mágica, todas as suas poucas certezas desapareceram.

Admito: Não compreendeu ao certo a sensação, quando ela aconteceu. Enxergou o movimento ríspido do braço de Karinna enquanto o membro se erguia, sua aproximação, e até sentiu o baque latejante que atingiu-lhe o rosto com violência inconsciente. O cérebro demorou de processar a situação na qual se encontrava enquanto lidava com o repentino bambear das pernas e a perda do equilíbrio que tão bem havia mantido, até então - os passos fizeram-na cambalear para trás uma, duas, três vezes, e os orbes acinzentados se desprenderam da Dama do Lago para se perder em sua morada recoberta pela névoa. O ardor da fronte foi o segundo ponto que fê-la se perder em confusão e, então, o barulho cascalhado de golpes aturdidos foi o responsável por, vagarosamente, obrigar que Chase volvesse sua atenção na direção da figura, descobriu, ajoelhada em rinha fútil com os seixos afiados que recobriam o solo.

Ouviu suas sílabas - as poucas que parecia capaz de pronunciar, gaguejadas e pausadas, enquanto as sinapses tentavam combinar uma sequência compreensível no repentino emaranhado confuso que se formou na mente da ruiva. Assistiu, sem interromper ou arriscar uma palavra sequer, os gestos mecânicos da outra enquanto seus punhos pareciam tentar castigar os minerais abaixo de si e, compreensível, apenas arrancavam lascas de sua casca e revelavam o manto escarlate que corria por baixo do véu pálido que cerceava e delimitava aquela existência confusa, distante e, estranhamente, real.

...Seria?

— ...Você. — Sussurrou, incerta, após sabe-se lá quanto tempo em silêncio. Não havia se dado conta, ainda, do significado real por detrás das palavras cuspidas em fúria em sua direção e, acima de tudo, muito provavelmente não desejava fazê-lo. Desajeitadas e medrosas, as pupilas correram por sua imagem, em uma tentativa tola de reconhecimento que há anos era incapaz de realizar - fator piorado por conta da névoa que as envolvia e sufocava, pouco a pouco, num véu sórdido que parecia ser o responsável por invocar memórias há muito enterradas. — ...É você. Você, de verdade. — Arriscou opinar, em delírio esquizofrênico que não tinha certeza se alcançaria ou não o espírito da outra. Tolice, ingenuidade, rotule como bem entender: Mas, naquele instante insignificantemente significativo, desejou crer em tal oportunidade que tão distante parecia da realidade.

Não parou por aí: Ousou mais ainda, afirmo. Em gesto desesperado, o corpo lançou-se para frente e os joelhos se fincaram nos seixos espalhados pelo chão: Sedentos, os braços se abriram e agarraram o corpo alheio, apertando-o num abraço sufocado que tinha como titereiro nada mais, nada menos, que uma saudade morna que parecia se inflar em chamas estrondosas enquanto a esperança corrompia-lhe a alma. Em gesto mais inconsciente, arrisco pontuar que tal gesto poderia ser até uma maneira de forçar para que a loira interrompesse sua violência ao tão descuidadamente agredir as pedras espalhadas pelo solo úmido.

O olhar se perdeu no horizonte enevoado - e as forças se desviaram para aprisionar a monotreinadora em seu ninho. Esperou pela rejeição, e o subconsciente se preparou para impedir uma tentativa forçada de afastamento: Talvez não fosse capaz de fazê-lo por completo, é claro, mas certamente seria um obstáculo extra que seu fantasma deveria transpassar se desejasse a própria liberdade.

— Karinna... — Sussurrou um lamurio perdido, o lábio inferior apoiado no ombro da moça. As unhas de uma mão se fincaram sobre o dorso da outra, os dentes trincaram em reação inevitável - oh, céus, era real. Era capaz de imaginar que era, pelo menos: A sensação do toque, do aperto, da proximidade, do calor gélido - por mais irônica que tal dualidade possa parecer -, da impressão do coração que batia tão forte e tão próximo ao seu. Não soube dizer quando, pois era incapaz de perceber meramente pela paisagem que a área lhe concedia, mas sentiu quando as gotas salgadas traçaram linhas finas por seu rosto, fato que se destacou diante de um açoite de brisa que pareceu debochar da temperatura molhada da fronte.

...
Insânia, esquizofrenia - não importava. Se deu ao luxo de curtir a própria desilusão, mesmo que apenas por alguns segundos.
O que tinha mais a perder, afinal?

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