remember.
Engraçado como certas coisas funcionam.
A tão amarga e pesada raiva direcionada à ruiva figura agora começava a se dissipar como se já tivesse feito todo seu trabalho. O rancor, tão íntimo ao âmago, passeava pelos tecidos do corpo e saía pelos poros como um visitante que já não é mais desejado; antes morador, agora se via como um forasteiro, pronto para sair de vez de onde há tanto tempo habitou. Ora, diriam as boas línguas que, sim, esse é o processo de cura, mas... Mas e se eu não quiser? A ira tantos anos cultivada simplesmente vai embora aos poucos a cada frase trocada com Natalie e não há muito o que possa ser feito; não vou mentir, até tento mantê-la aprisionada, mas é em vão.
...
... Meus olhos?
Algo sobre aquela sentença ressoava em minha cabeça: os pelos do corpo imediatamente se arrepiavam, bem como os pés que se juntavam em timidez. Para mim, qualquer lembrança de nossa amizade já era estranha para a ruiva, mas parece que não. Natalie continuava, justificando - ou tentando - o porquê de não ter se despedido e, julgando por sua expressão, parecia genuíno não saber o que aconteceu. Busquei em minha mente diversas maneiras de tentar negar todo aquela desculpa absurda por ter feito o que fez, mas não conseguia culpá-la...
Se o que diz é verdade, já não há mais culpa a ser atribuída a ela...
Merda.
— Entendi.
Uma única frase foi dita e balancei a cabeça negativamente algumas vezes em debate interno comigo mesma: jurei não deixar meus sentimentos positivos por ela aflorarem dessa maneira, mas não consigo negar que, com sua presença, é como se me sentisse em casa — algo que desconheço há muitos e muitos anos. Os olhos agora voltavam-se ao click que a cela ao lado fazia: sem muito esforço Natalie conseguia abrir sua prisão de ferro e entregava-me sua chave para que fizesse o mesmo. Estiquei o braço direito e destranquei-a com certo receio, afinal, sabe-se lá onde estávamos e qual seria a próxima peça que poderia nos ser pregada... Só Arceus sabe como já estou vacinada em lidar com ambientes hostis.
— E não é que deu certo? — retoricamente perguntei em voz baixa, abrindo a porta e encaminhando-me em passos lentos e cuidadosos até os pertences — ... Hm. — apoiei ambas as mãos sobre a mesa, buscando o resto de raiva que me restava para tentar feri-la de alguma maneira -- oras, não é possível que seja eu a única a ser machucada em todo esse processo — E... — a cabeça girou-se para esquerda buscando fitar o fundo dos olhos acinzentados mais uma vez — Qual sua desculpa para o presente? — franzi o cenho, bufando logo em seguida — Aliás, não precisa responder. Deixa pra lá. — dificilmente queria deixar para lá, mas a situação não era a das mais confortáveis para o drama recorrer eternamente — Vamos trocar de roupa e sair logo dessa loucura.
Não fazia ideia do que nos aguardava em breve, mas, tendo em vista que Arceus satisfaz seu sadismo comigo, com certeza não seria algo bom. Revirei os olhos lembrando das inusitadas situações que já me encontrei e sabendo, dentro do meu ser, que essa seria mais uma delas. Ao menos...
Ao menos Natalie estaria comigo.
Tão involuntário quanto o pensamento foi o soco que a mão direita deu sobre a mesa, ecoando todo aquele estrondoso barulho pelas paredes da masmorra; que diabos de pensamento é esse, Karinna? Na primeira chance ela sairia correndo e te deixaria sozinha mais uma vez. Não viaja.
Os olhos reviraram-se mais uma vez, dessa vez pela cena que havia causado sem necessidade alguma; se pudesse, reprovaria todas minhas atitudes até agora... Como pode isso tudo estar acontecendo? O único objetivo que tinha em mente era tirar minha própria vida e agora um dos porquês fazia meu consciente repensar várias e várias vezes se era isso mesmo que almejava. Eu estava tão certa do que queria. Tão certa. Maldição.
— Clássico. — tentava aliviar o clima, respondendo ao que dissera sobre sua batalha na Battle Tower — Batalhei contra ele uma vez aí. Katakuri é até bonitinho, mas muito impulsivo e... mulherengo também. Aposto que deu em cima de você. — dei uma risada, talvez a primeira sincera desde que encontrei a ruiva — Mas se colocou um recém-nascido para batalhar, mereceu a surra que deve ter tomado. — comecei a despir-me do pijama, não importando a presença de Natalie, afinal, quando adolescentes trocávamos de roupa direto uma na frente da outra... irmãs, né? que a mente poluída de nenhum otaku pervertido leia isso e tire outras conclusões — Participei também, venci todas. Fiz até um Mr. Mime aí sangrar, provavelmente você ouviu esse rumor por Mu Island. — dei outra risada, agora sádica, lembrando do prazer que senti em fazer o psíquico quase morrer em campo. — Só perdi para a Anabel. — a mente vagou por alguns segundos, lembrando do emocional completamente destruído na batalha contra a Tower Tycoon, em razão de ter visto a ruiva fisicamente pela primeira vez — A culpa foi sua, ver que você estava viva me desestabilizou. Espero que esteja feliz. — abri um sorriso; o tom era de brincadeira, mas no fundo, sabe-se lá como teria sido a batalha caso estivesse focada como nas anteriores, né? — Enfim... — terminava de vestir a roupa e ajeitar bolsa e violino em seus devidos lugares — Como sairemos daqui?
remember
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Bônus:
- Especialista II Psychic;
- Gestora Rocket:
- Skill Rocket: Queimando a Largada! (+3 Atk; +3 Sp. Atk para Pokémon em batalhas);
- Skill Rocket: Aprendizado Prático. (20% a mais de EXP em batalhas durante uma Missão Rocket);
Awards :