Após a escolha muito bem calculada da minha treinadora, andamos por mais um tempinho antes de achar qualquer coisa relevante. A garota já não abria a boca para dizer nada, exceto que estava com sede. De fato, todos estávamos. O passeio no deserto com certeza deixou seus efeitos colaterais… Até Poochyena tinha parado de correr de um lado para o outro, agora só acompanhava os passos de Yoshiro, andando próximo aos pés dela. Para o nosso azar, as chances de se achar água dentro de um labirinto como aquele não eram nada altas… não é?
Na teoria, sim. Por isso, foi uma grande surpresa quando chegamos a uma câmara circular, ainda feita da mesma cerca viva que compunham as paredes do labirinto. No seu centro, havia a última coisa que esperávamos encontrar ali - uma fonte. O rosto de Yoshiro se iluminou assim que a viu, e Poochyena começou a latir de alegria. Os dois correram naquela direção, nem me esperaram. Minhas pernas são curtas, poxa! Quando consegui alcançá-los, encontrei ambos fitando algo que se equilibrava debilmente no topo da fonte, parecendo na iminência de cair caso qualquer movimento brusco fosse feito perto dele. Aquilo era mesmo…
- ...Um ovo? - Yoshiro inclinou a cabeça, tão confusa quanto eu. O que ele estava fazendo ali, sozinho? Se ficasse lá por muito mais tempo, podia acabar caindo! - Coitadinho… quem será que o deixou em um lugar tão perigoso?
Aproximando-se bem devagar, com muito cuidado para não derrubá-lo, a garota pegou o ovo nos braços. Poochyena começou a pular, tentando cheirá-lo, mas a humana teve o bom senso de não deixar o cãozinho chegar perto demais. Estavam tão focados no ovo que nem se lembraram de ficar decepcionados por não terem achado água nenhuma na fonte. Tampouco perceberam de imediato a sombra gigantesca que começava a projetar-se de uma das saídas da câmara. Fiquei travado em um primeiro momento, sem acreditar no que estava vendo. Aquela figura enorme… tinha chifres!?
“Yoshiro, Yoshiro!” Comecei a gritar para chamar a atenção dela, tentando fazê-la notar o perigo que estávamos correndo. Acabou nem sendo necessário - aquela risada voltou, vindo da mesma direção daquela sombra. Senti meu corpo todo arrepiar, aquela gargalhada nunca tinha soado tão assustadora. Ela fez os outros dois notarem o que estava acontecendo. Minha humana empalideceu na mesma hora, recuando alguns passos com as pernas trêmulas. Parecia travada demais para tentar fugir, paralisada pelo medo que estava estampado em seu rosto. Eu não estava muito melhor… no entanto, sabia que precisava tirá-la de lá. “Rápido, temos que sair daqui!”
Tentei empurrar as pernas da garota com a cabeça, mas não consegui nem fazê-la se mexer. Sem escolhas, dei uma cabeçada mais forte nela, assim como tinha feito na praia. Funcionou tão bem quanto da primeira vez. A treinadora soltou um sonoro “ai!”, contudo, pelo menos acordou do transe em que estava. Ela me olhou, segurando o ovo que tínhamos encontrado com firmeza, parecia decidida a protegê-lo.
“Vamos logo!” Não foi preciso pedir outra vez. Ela correu para a saída mais distante daquela em que a sombra vinha, tomando cuidado para que o ovo não caísse e com Poochyena guiando o caminho. Antes de ir atrás deles, usei meu Water Gun no chão da cúpula, queria deixá-lo escorregadio o bastante para atrasar aquela… coisa… se ela viesse atrás de nós. Yoshiro não conseguiria correr por muito tempo, cansada e com sede como estava. Então qualquer distração que eu conseguisse seria útil.
Não acredito que isso está acontecendo... Aquele não podia ser mesmo o minotauro, não havia chance… era só uma lenda, não era? Contudo, não seria a primeira vez que uma história que Yoshiro conta é incorporada por aquele lugar insano. A diferença foi que aquele pássaro não tentou nos assustar! Raios, sabia que ficar contando história de terror não era uma boa ideia..