Eu… perdi? Tudo escureceu tão rápido… antes de cair, um último pensamento percorreu minha consciência: eu tinha falhado. Não pude proteger Yoshiro, como jurei que faria. Raios, não tinha protegido nem a mim mesmo! Estávamos os dois condenados, e tudo porque meu corpo não resistiu a um bocejo. Que fim humilhante… o olhar frio da Arbok foi a última coisa que vi antes de apagar. O grito de Yoshiro, chamando meu nome, não era mais do que um eco distante - quase irreconhecível para a minha mente em seus momentos finais de consciência. Será que morrer era assim também? Tão vazio e escuro? Eu provavelmente descobriria logo...
… Por que a morte cheira a biscoitos?
Não sei quanto tempo passei dormindo, para mim pareceram apenas alguns instantes. Acordei com um sabor adocicado em minha boca - revigorante e deliciosamente familiar. Ele espantou todo o sono que eu estava sentindo, e neutralizou uma dor estranha que percorria meu corpo - algo que eu nem tinha reparado que estava sentindo até acordar. Yoshiro estava na minha frente, com um sorriso aliviado. Eu não sabia ao certo o que ela tinha feito, mas de alguma forma tinha me salvado.
- Eu te disse que era bom guardar os biscoitos. - Ela tentou soltar uma risadinha, mas soou meio rouca, provavelmente pela garganta da menina não estar nas melhores condições. Não tivemos tempo de conversar mais, Gulpin avançou para cima de mim, visivelmente irritado. Eu sentia meu corpo todo cansado e dolorido (nem parecia que tinha acabado de cochilar), no entanto, nunca tinha me sentido tão forte. O Water Gun que lancei contra ele saiu com um poder que eu nem sabia que tinha. Talvez fosse a adrenalina do momento? Não sei, mas estava gostando daquela sensação. Sentia que agora podia arrancar a vitória das mãos (mãos?) daquela Arbok. - Sapphire, não deixe o Gulpin chegar perto daquela poça de ácido.
Não entendi a razão, mas era melhor ouvir, Yoshiro estava muito mais a par da situação. A única coisa que ainda me preocupava era aquele bocejo… e se Gulpin fizesse de novo? O jeito era derrotá-lo antes que isso acontecesse. Entretanto, seria muito bom ter uma garantia… olhei para minha treinadora, e ela estava bem pensativa, eu quase conseguia ver as engrenagens girando dentro da sua cabeça. Após alguns instantes, ela arregalou os olhos, como se tivesse acabado de perceber algo.
- Foi o bocejo… - A voz dela não saiu mais que um sussurro, contudo, deu para ouvir. Era algo meio óbvio, foi a única coisa que aquela bola verde fez além de me estapear, não tinha como ter sido outra coisa. Porém, eu tinha que levar em consideração que Yoshiro não sabia muito sobre batalhas, então nem tudo era tão óbvio assim para ela. Minha dona andou por alguns metros antes de parar e (para a surpresa geral) começar a falar diretamente com nossa assassina em potencial. - Arbok, quando isso tudo acabar, pode ensinar o Sapphire a falar minha língua também? Seria muito legal entendê-lo.
Do que raios aquela tonta estava falando…? É claro que ela não poderia. Já tentei pra caramba fazer os humanos me entenderem, e nunca consegui, não seria uma cobra que seria capaz de me ensinar. E eu tinha certeza de que Yoshiro sabia que aquele pedido era absurdo. Então, por quê...?
Ela me olhou pelo canto do olho, como se estivesse me apressando. Só então reparei o que minha humana estava tentando fazer: impedir o Gulpin de bocejar. Da última vez, ele só tinha se atrevido a fazer isso quando Arbok desviou os olhos, provavelmente não queria dar uma prova tão descarada de falta de vontade na frente dela. E Yoshiro estava posicionada de forma que a cobra não poderia olhar para ela sem olhar também para o seu servo. A menina estava tentando puxar assunto para manter os olhos de Arbok na direção dela e, consequentemente, na de Gulpin. Eu tinha que admitir… essa garota não é tão tola quanto parece.
É claro, aquilo não duraria por muito tempo, Arbok logo a mandaria se calar. E insistir demais em falar com uma cobra que não queria conversa não era uma boa ideia. Yoshiro me arranjou algum tempo, preciso aproveitar… resolvi continuar com o Water Gun e aproveitar ao máximo a nova força que tinha conseguido, torcendo para conseguir acabar aquilo rápido. Iria insistir nesse ataque até que Gulpin fosse derrotado. Afinal, não tenho muitas opções de ataque, e eu é que não vou cabecear uma bola de veneno ambulante.