Foi uma alegria relaxante que invadiu-lhe o espírito quando, praticamente sem teimosia, as esferas utilizadas por si desapareceram em tímido brilho prateado, em uma viagem longa e despreocupada na direção de seu longínquo depósito de pokémons. Se parasse para pensar, em realidade, apesar de automático, aquele era um sistema curioso; Independente de onde estivessem, do universo, da realidade, do clima - os objetos usados para captura sempre pareciam surgir em seu Storage, e a tecnologia necessária para tal era, no mínimo, curiosa. Transcender as barreiras de espaço-tempo não era para qualquer um ou qualquer coisa, afinal, mas deixemos tais considerações e reflexões para outra hora, outra situação: A parte importante de tudo aquilo era que, apesar de demorar um pouco mais, Karinna também foi capaz de capturar pelo menos um dos monstrinhos desejados, e a ruiva acabou deixando escapar um sorriso de canto, cheio de graça, ao perceber a desistência quase imediata da moça de levar consigo o Sandslash.
— Tem certeza que não vai querer um deles? — Perguntou, olhando para o pokémon nocauteado quando continuaram o caminho, cuidando para não acabar pisando no selvagem sem querer - ora, apesar da batalha quase imediata travada, não tinha motivo algum para maltratar os animais inconscientes. Veja: Independente da ferocidade deles, ela era justificável, considerando que possivelmente os terrestres estavam aprisionados ali por sabe-se lá quanto tempo e, bem, não era como se eles fossem acostumados com a presença de... Humanos, não é? — Não pode morrer não, patetinha. Logo agora que a gente se encontrou? Quem é que vai dar a benção pro Luch, hein? — Brincou, levando a mão oposta à companheira para apertar seu nariz, travessa - embora admitisse que as próprias palavras serviram pala colorir delicadamente suas bochechas com um suave tom rosáceo, talvez não tão explícito por conta do inevitável bronzeado resultante da longa viagem através do deserto. — Rotom, siga em frente. Esguiche um pouco de água da sua mangueira, vamos molhando as paredes e ver se alguma dessas inscrições reagem. — Pediu, caminhando logo atrás do elétrico, atentando-se aos desenhos de alto relevo em busca de alguma reação das gravuras que enfeitavam o corredor.
Felizmente, logo descobriu, isso não seria necessário.
Em realidade, outra coisa o era: E se tratava de uma provável batalha contra mais um dos violentos guardiões, descobriu, logo que o olhar pousou sobre a imagem barrosa de um corpulento pokémon com vários, vários olhos - não tantos quantos os que cobriam as paredes do salão na ala anterior, mas certamente o suficiente para que possuísse um campo de visão bem maior do que um monstrinho comum. Aquele ali, porém, ela conhecia: Já havia visto um em uma e outra oportunidade, e era capaz de recordar a parede que aquele tipo de bichinho era...
E ele também era uma parede que guardava o final do corredor, onde repousavam serenamente dois de seus aparentes objetivos.
Óbvio, né?
— Ugh. — Reclamou, quase em sincronia com a aspirante à especialista, e um riso nasal acabou escapando como reação. — Não tenho ideia. Mas posso arriscar que esses bichos talvez só estejam aqui justamente por não ter mais ninguém. — Respondeu, tirando do bolso uma de suas esferas bicolores, girando-a nos dedos; Sem hesitar, a mão livre agarrou o pulso de Karinna, e a ruiva arrastou-a de encontro a uma das paredes, movimento que Kaleo quase prontamente imitou, dando cabeçadinhas gentis em Sushi. — Mas tenho certeza que não dá pra só pedir por favor. — Disse, enquanto o objeto se abria e materializava uma gigantesca serpente aquática por uma longa extensão de metros ao longo do corredor.
...Bom, talvez a besta não pudesse ficar de "pé", por assim dizer, mas sabia que ela não se importaria de tomar sua frente por um momento que fosse.
— Ariel, eu preciso de você! — Pediu, aumentando o tom de voz, apontando na direção de Claydol; Tinha a consciência de que provavelmente o dragão não a enxergaria fazendo isso, mas não era como se existissem muito mais coisas à sua frente. — Vamos demolir essa estátua! Duplo Waterfall! — Instruiu, afastando-se mais alguns centímetros (e trazendo a companheira consigo) para não correr o risco de sofrer com a imponência destrutiva de seu pokémon.
Se as ruínas podiam liberar toda a sua fúria, o que a impedia de fazer o mesmo, afinal?
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O amanhã é efeito de seus atos. Se você se arrepender de tudo que fez hoje, como viverá o amanhã?