SHIMMER RUINS DUNGEON #1 - KB & SHIANNY

Não foi preciso muito tempo de combate para que Chase descobrisse quão violentos os selvagens pangolins à frente eram capazes de ser - e assustadores, principalmente considerando como o quarteto investia em ofensivas praticamente sincronizadas, uma após a outra, rasgando a pele de seus companheiros e provocando profundos ferimentos que, de maneira inevitável, quebravam pouco a pouco a guarda montada dos animais. Os dedos tremularam em resposta à observação dos poderosíssimos golpes trocados, de um lado e do outro, e um gosto amargo subiu pela garganta quando a ruiva se deu conta sobre o quão problemático seria se encontrassem várias hordas de guardiões como aquelas, dispostas a impedir seu avanço pelas vísceras das ruínas e distantes de pedir um "Por favor, se encaminhem à saída, esse lugar é proibido para vocês.". Quer dizer, até tinham medicamentos o suficiente para segurar as pontas por alguns encontros a mais, mas quem poderia garantir quanto tempo ficariam dentro daquele lugar, antes não só de encontrar os tesouros e respostas desejadas de todos os mistérios acumulados, como também uma saída segura ou que, no mínimo, não envolvesse a necessidade de atravessar um gigantesco salão repleto de cadáveres e zumbis?

...Era complicado.

— Nem brinca com um negócio desses. — Retrucou, deixando escapar um riso nervoso diante da possibilidade levantada por Karinna. — Quer dizer, não é como se isso fosse uma Dungeon de RPG ou algo assim, né? — Comentou, esfregando um dos braços com o dorso da mão oposta. — Isso aqui era um império. Não é possível que eles se locomoviam por todo o lugar sacrificando toneladas de sangue, seria absolutamente ridículo de tentar viver por aqui. — Acrescentou, torcendo a ponta do nariz para a ideia. Apesar de que, tecnicamente, não tinham visto nada até então que indicasse moradia naquele ambiente... Seria aquele salão uma ala completamente separada, ou algo do tipo?

Enfim, felizmente, naquele momento em específico, uma nova rodada não se fez necessária naquele combate. Primeiro, graças à tela protetora erguida por seu dócil gelatinoso, os danos em seus pokémons haviam sido bem menos brutais do que poderiam e, segundo, talvez por um erro de cálculo dos bípedes ou de uma colher de chá de sorte do destino, os violentos tremores invocados pelos terrestres foram responsáveis também por suas ruínas, e uma última esfera verdejante arremessada por Kaleo foi tudo que foi necessário para findar o embate. Apesar de toda a problemática enfrentada até então, uma pontinha de seu coração saboreou a possibilidade de tomar para si pelo menos um dos poderosos tatus, embora não houvesse lá muitas boas experiências por trazer consigo pokémons daquele tipo de lugar - porém, não teve muito tempo para pensar a respeito, e foi com uma surpresa infeliz que a ruiva observou os guardiões se dissolverem em pó, de maneira bem parecida com aquela que havia ocorrido com Suzan, alguns minutos atrás.

— ...Ugh... Será que tudo nesse lugar acaba desse jeito? — Perguntou, retórica, balançando a cabeça em negativa. — Você acha que realmente tem uma... Pessoa... Coisa, sei lá, responsável por controlar tudo isso? — Quis saber, volvendo um olhar preocupado na direção da loira. Afinal, se uma existência fosse responsável por todos aqueles acontecimentos, quão trágico seria se tivessem de enfrentá-la em todo seu poder para sair dali? — ...Espero que isso não atraia muitos bichos. — Comentou, incerta, olhando para o projeto de "sol" invocado por Vileplume no teto do ambiente, que agora estava repentinamente bem mais iluminado, tornando até dispensável a presença de Rotom por ali. Esse fator não a fez retorná-lo, entretanto, pois não pretendia ficar sem defesas naquele lugar; Inclusive, aproveitou o breve momento de calmaria para se aproximar de seu venenoso companheiro, remexendo a bolsa para esguichar três Potions sobre seus ferimentos, e acreditou que seria suficiente por ora. Não o fez com Duosion, porém, pois não acreditou que fosse imediatamente necessário.

Com o caminho livre, então, pôde enfim voltar a se aproximar do altar adiante mas, no meio do caminho, os pés encontraram com um obstáculo... Duro, de certa forma, mas não o suficiente para doer. Os orbes cinzentos se voltaram para o chão, e se surpreendeu ao encontrar os olhos grandes de uma minhoca no meio dos restos dos Sandslash. Naquele instante, um inevitável arrepio escorregou por sua espinha, e seus membros tremularam enquanto a moça engolia a seco, inquieta, antes de se abaixar para pegar os objetos largados ao chão, ouvindo vagamente as palavras de Karinna no processo.

— ... ... ...Sabe. — Chamou, em baixo tom, o polegar afagando devagar a superfície ondulada do brinquedo. A treinadora engoliu saliva, e cerrou as pálpebras por um instante, respirando profundamente antes de voltar as pupilas para a monotreinadora ao seu lado. — Da última vez que eu encontrei um pokémon segurando um desses, acabei esbarrando com Zapdos. — Disse, um sorriso torto e quase sem emoção despontando do canto dos lábios, as pernas hesitando por um instante enquanto observava as instruções da loira para Sushi, em uma tentativa de abrir a passagem A moça ficou parada, assentindo brevemente com a cabeça para Kaleo, e aguardou o resultado daquele plano - embora não acreditasse que seria simples daquele jeito.

Resultado positivo, resultado negativo, em realidade, todos se afunilavam em um único destino: Pretendia chegar mais perto e analisar melhor o que existia por ali, tanto o painel, quanto o portão, seus símbolos e até mesmo o chão - pois devia aproveitar enquanto o Sunny Day invocado por Vileplume não desaparecia, fornecendo-as uma melhor oportunidade para checar os detalhes daquela área. Se possível, pretendia até mesmo movimentar as esferas sobre o painel, para testar que tipo de coisa elas fariam se ativadas, ou algo assim.

Só esperava que Karinna estivesse, de fato, errada quanto a utilização de sangue para que pudessem seguir o caminho.

— Se eu tivesse capturado... — A ruiva riu, apoiando a mão aberta sobre a cara da loira e a empurrando, sem força, logo após enfiar os bonequinhos (eles tinham se transformado em algo completamente diferente do que eram originalmente enquanto se abaixava para pegá-los, ou teria sido produto esquizofrênico de sua imaginação?) na mochila, após balançar com suavidade a própria cabeça, tentando espantar os pensamentos mórbidos a respeito de sua experiência no sombrio cemitério vertical. — Acho que não ia poder nem te falar dele, pra você pegar e correr por aí tocando o terror. — Provocou, erguendo com suavidade uma das sobrancelhas, e ajeitando com delicadeza uma das madeixas ruivas por detrás da orelha. — A gente acabou... Batalhando, sei lá. — Comentou, virando os pés para se aproximar do altar no fim do corredor. — Eu achei que tava tudo sob controle, dando certo... Mas, no fim, acho que tava errada. — Riu, meio sem graça, observando as esferas acinzentadas sobre as pedras, movendo-as e analisando com atenção tanto as próprias, quanto o alfabeto gravado por baixo delas. — Sei que acabei no hospital por uns dias, depois de lá. Foi meio... Sofrido, sabe? Era horrível até pra conseguir mexer o corpo. — Disse, torcendo o canto do lábio, estreitando o olhar com sutileza ao perceber o brilho por baixo do objeto quando o tocou novamente acima de uma das letras. — Ele não era muito do tipo que gostava de visitas, se é que você me entende. — Acrescentou, deixando as pokéballs de lado por um instante, apoiando as palmas sobre o altar.

— Será? — Perguntou, o olhar passeando pelo portão trancado por um momento, movimentando os ombros com discrição enquanto refletia sobre o novo enigma que se punha à sua frente. — Faz sentido, mas... Parece simples demais. — Comentou. Sem muito receio (embora possivelmente tivesse de ter algum, considerando tudo que estava se desenrolando nos últimos minutos), trabalhou para tentar colocar as esferas em ordem, para "escrever" a palavra Abra no processo. Esperou, então, para ver se teria algum efeito, respirando devagar antes de volver a atenção para a monotreinadora. — Se não der certo, talvez a gente precise procurar alguma coisa "compatível", ou algo assim, pra colocar dentro das esferas. Quer dizer... Elas não abrem à toa, né? — Disse, sem jeito, enquanto retornava seu Vileplume mais uma vez para a própria esfera.

Como bem Karinna dissera, porém, se não desse certo, era possível que precisassem deixar aquela trívia para depois - mas, nesse caso, só concederia duas das esferas para a moça, pois vai que... Precisassem usar ao mesmo tempo, ou algo do tipo? Era difícil de explorar grandes hipóteses sem ter consciência das possibilidades que encontrariam adiante; Enfim, de qualquer jeito, antes prevenir que remediar. E voltando à narrativa: Caso tivessem de retornar, sugeriria o caminho à direita para explorarem.

Afinal, já tinha ouvido certa feita...
Direita é sucesso, não é verdade?

Foi com certa graça que a moça observou os passinhos carismáticos da loira, que seguia em frente com seu jeito besta em uma tentativa bem explícita de fazê-la se animar. De certa forma, bem, admitia que a ideia (e o fato!) de vê-la tentar levantar seu astral com aquela bobagem infantil era, para dizer o mínimo, acolhedor; Mesmo assim, era incapaz de deixar de considerar quão caótica toda a situação poderia se tornar - quer dizer, mais do que já estava sendo - caso existisse algum lendário raivoso por detrás de todas as cordas de marionetes espalhadas pelas pessoas e pokémons que repousavam nas vísceras das ruínas de Oirar't: E foi se mantendo nessa linha de pensamento que os pés se guiaram para o andar inferior, quase saltitando pelos degraus enquanto deixavam para trás um portão que, pelo menos momentaneamente, não parecia que poderia ser aberto.

— Se existir algum lendário por trás disso tudo... — Começou, enquanto viravam o corredor, seguindo seu fantasma fosforescente para as entranhas da trilha direita, os orbes acinzentados passeando vagarosamente pelas inscrições que surgiam nas paredes, tingidas em altíssimo relevo, quase ao ponto de parecerem... Reais demais, sabe? — ...Quem você acha que podia ser? — Perguntou, se aproximando de uma das paredes para tocar com delicadeza a superfície de uma das gravuras próximas. — Acho bom ficar atenta se não encontra nada parecido com o que vimos lá em cima. Se parar pra pensar, aquelas letras eram até bem parecidas com um alfabeto normal, olhando um pouco mais de longe... — Comentou, incerta, a atenção redobrada em uma tentativa das pupilas de desvendarem o mistério por detrás do altar do andar superior.

...E então, repentino como um raio, o coração rodopiou dentro do peito, num giro violento de trezentos e sessenta graus que quase fê-la ter um ataque fulminante em reação ao berro próximo de sua companheira, tal como o barulho abafado de um saco de batatas tombando no chão. A cabeça volveu com tanta velocidade que uma dor pulsou nas dobras de seu pescoço, e um latejo brincou pela consciência quando enxergou a loira ser arremessada para trás, sem mais nem menos, envolta pela energia rosácea da preguiça psíquica. Pensou em perguntar, mas não foi capaz quando as ordens de ofensiva partiram da boca da menina, numa reação quase chorosa, e foi só nesse instante que as pupilas enxergaram as pequenas pedras tão parecidas com os pangolins de outrora.

— Kal, Reflect e Energy Ball! — Mandou ao gelatinoso, veloz, antes que os pés se apressassem na direção da companheira, abaixando-se ao seu lado e acolhendo-a nos braços, o susto sendo o responsável pelo pulsar violento do músculo cardíaco dentro do torso. — Que foi isso? Você tá bem?! — Perguntou, trazendo seu corpo mais para si, repousando um beijo demorado no topo das madeixas loiras, transformando o próprio peito em um ninho para a mais velha. — Se machucou? Ei, ei, calma, vem cá... — Pediu, afagando os cabelos dourados em uma tentativa de afastar o sobressalto da consciência da moça.

Oh, céus. Não era engraçado o quão indefeso alguém pode ser, independente da dureza que tente demonstrar?