Capítulo 28 - Vinte e três primaveras

Parece que o manual de mães seguia atualizado, muito obrigado. O jeito peculiar delas protegerem o presente e o futuro de seus filhos só mudava de endereço e de palavras, pois no fim o resultado era o mesmo: constrangimento e risos.

Aquele almoço começou assim, com Jolene indo bem direto ao ponto, sem os rodeios e as palavras extras que Beverly Musgraves teria usado para tratar do mesmo assunto. Agora o alvo das perguntas era Miranda, e o responsável por defendê-la dos ferozes questionários maternos era Blake. Se ele seria bem sucedido nisso? Veremos...

Diferente da comportada senhora Musgraves, o primeiro assunto de Jolene era logo um tabu na cartilha de pais e filhos: sexo! Pelo menos o humor de Miranda mantinha, da parte dela, as coisas menos tensas. Mas quele mesmo humor podia ser um perigo para o rapaz, que precisaria lidar com "tiros" vindos de dois lados.

– Tudo bem. Não se preocupe, Jolene, nós estamos nos cuidando sim. – a loira respondia, com os olhos fixos no namorado e, discretamente, afastando dele a jarra de suco, talvez para evitar uma tentativa de quebra ao recorde de cusparada que ela tinha atingido no dia anterior.

– Viu, filho? Não tem problema nenhum falar disso. – a mãe parecia satisfeita... só que não – É bom vocês se cuidarem. Vocês são muito novos, tem muita vida pela frente pra aproveitar antes de planejarem filhos e essas coisas, né?!

Miranda engoliu em seco. Primeiro casamento, sexo e depois filhos? Não, pera, mas essa é mesmo a ordem tradicional das coisas! Tão tradicional que preocupava suas mães, mas não eles que, nas palavras da senhora McBride, eram jovens demais para se preocupar com aquilo. Enfim, talvez para retroceder alguns passos na conversa, talvez para provocar o namorado, ou ambas as coisas, ou ainda nenhuma delas, a loira reviveu o mini Phanpy que chegou no almoço com sua família.

– Sim... Na verdade, pra ser sincera, mal temos pensado nisso. Quando muito, falamos de casamento. Não é, Blake? – ela reprimiu mais um riso, lembrando de alguns minutos atrás quando ele disse que ela não precisaria pedir sua mão em casamento hoje. Será?

Ainda assim a própria Miranda tinha um rubor de vergonha nas bochechas, pelas suas palavras. Internamente ela torcia para não ter ido longe demais com as gracinhas, mas no impulso de frear o avanço no teor das conversas, aquela foi sua primeira ideia de desvio a fazer.

Diante do assunto, Jolene até olhava para o filho, possivelmente esperando um posicionamento dele. E que fosse uma confirmação! Afinal, como toda boa mãe, ver seu filho estável com alguém era quase uma ambição. E sendo o outro filho o Jake... Bem, as esperanças daquela mulher estavam depositadas em seu primogênito.

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No fim, apesar de o almoço ter começado de forma um pouco conturbada, terminou tudo bem! Miranda tirava uma carta da manga ao falar da novela preferida de sua sogra, e até Blake pôde participar do assunto, já que além de ter assistido o episódio mais recente, teve todas as explicações possíveis de sua mãe, no dia anterior.

Depois disso, tudo voltou à normalidade e até Johny poupou o casal de comentários constrangedores e coisas do tipo. Enquanto os pais se atualizavam da rotina na cozinha, o jovem casal seguia cuidando da decoração para a festa. Não faltava muito para acabar já que a ideia não era cobrir as paredes e fazer esculturas de balões. Além disso, ainda tinham que dedicar um tempo ao fim para estender a faixa de parabéns!

Foi nesse clima de distração e descontração que Jake chegou. Ao contrário do primogênito, o caçula não fez a cerimônia de bater na porta e aguardar, já foi logo abrindo e entrando na casa - mas ele tirou os chinelos antes! Ele poderia ser a personificação da casualidade com sua camisa de botões e manga curta - quase toda aberta na parte superior para mostrar o peitoral -, branca, estampada com ondas e flores tropicais. Como de praxe, ele vestia um bermudão folgado e vários adereços feitos de produtos naturais, como caroços e pedras. Sua pele não podia estar mais bronzeada, destoando até mesmo dos pais que viviam ali na litorânea Slateport.

– Eaeeee! Olha o aniversariante aí! – foi a primeira coisa que disse, largando a mochila no chão e indo abraçar o irmão – Ué cadê o boné? Melhor ir buscar, já tô vendo uns fios brancos e uma calvície bem aqui! – disse brincando e bagunçando o cabelo de Blake, antes de voltar-se para Miranda – E olha elaaa! – cumprimentou a cunhada com um beijo no rosto.

Nesse meio tempo, Jolene já estava na porta da cozinha de braços cruzados e cara fechada, contrariada por não ter sido a primeira a ser cumprimentada. Mas Jake foi logo lhe dar atenção, assim como ao pai que, do jeito dele, demonstrou alegria em ter o filho ali.

– Perdi alguma coisa já? Cortaram o bolo? – ouvia-se a voz do mais novo, vinda da cozinha enquanto ele abria a geladeira para se servir de água – O tráfego pra cá não tava dos melhores, achei que não ia chegar nunca! Ainda passei na Feira pra ver se achava o pai mas ele já tinha vindo embora. – de volta para perto de Blake e Miranda, ele vinha com a voz baixando o tom – Já estão bebendo? Qual a boa?

Era interessante ver o quão diferente Jake era de Blake. Chegava quase a ter um teor experimental testemunhar aquelas personalidades distintas. Mas, sem dúvida, a animação do caçula era contagiante! Talvez fosse bom direcioná-la para coisas positivas, como encher mais balões, armar faixas, ou até preparar drinks! Por quê não? Muito cedo ainda?

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Jake chegou trazendo um ar animado para o ambiente, com todo seu bom humor e molecagem. Sua presença despertava risos em todos - até Jolene, obviamente depois das preocupações maternais.

Mas o assunto que mais trouxe graça para a ocasião, de fato, foi o rolo entre o caçula dos McBride e as filhas da vizinha! Quem poderia imaginar que Jake já tinha se envolvido com elas? E ao mesmo tempo! Por um lado, aquilo adiantava os planos de Jolene de arranjar uma parceira para o filho. Por outro lado, aquilo frustraria os planos da mãe em fazer o mesmo para Blake. Apesar de que, com Miranda por perto, talvez a matriarca até tenha abandonado aquela ideia boba. Em todo caso, Blake podia ficar mais despreocupado sabendo que, se qualquer treta acontecesse envolvendo as gêmeas, muito provavelmente não seria com ele!

– Ok, ok. Então vamos começar os serviços. Só de leve, suave, pra gente ficar no brilho. Se vem menos gente, sobra mais bebida, né não?! – Jake ia se intrometendo na cozinha, revirando as coisas atrás das Pinap e das garrafas de destilado.

– Jake, sai da minha cozinha, eu tô ocupada! – Jolene retomava sua personalidade de mãe.

– Relaxa mamacita. Nem vai perceber que eu tô aqui. – tentou ludibriá-la sem sucesso, já que ele se atrapalhava buscando nos armários e desorganizava algumas coisas no processo – Ô loco velho, só duas garrafas?! Quê isso maninho, tá com preguiça de capinar uns lotes é?! Ah mas eu vou buscar mais depois, com certeza.

– Buscar o que? Hein Jake?! Duas tá bom, não quero ninguém dando trabalho. E se sujarem meu banheiro, vão limpar! – o som intenso da faca picando chocolate revelava que a mãe não estava de brincadeira. Entretanto, seu filho mais novo não a levava a sério e ria baixinho.

Como prometido, o irmão bronzeadíssimo preparou as Pinap Colada. Três copos generosos, mas com uma dose de álcool mais "leve", por enquanto. Obviamente dois dos copos eram para Miranda e Blake, mas até Johny arriscou bebericar um gole do de seu caçula, antes de subir para o quarto para descansar até a hora da festa.

– Aí maninho. Norinha... – ia servindo os dois que terminavam de decorar o ambiente e só ouviam as discussões da cozinha – ... Sogrinha. Genrrinha. Sei lá como chama essas coisas, foi mal Mirandinha. – dava um beijinho de desculpas no topo da cabeça da loira; afinal, Jake sempre era agradável com as mulheres, independente das intenções – Então, qual a boa? O que me contam? Querem jogar alguma coisa? Mó tédio...

Aquele McBride tinha um quê de hiperatividade que o impedia de ficar quieto por um tempo. A não ser, claro, se fosse para outros fins como esperar a melhor onda, um passe de bola ou coisa assim. Pensando bem, talvez os McBride de forma geral fossem pessoas dinâmicas e ativas, cada um a sua maneira.

Enfim, o jeito que Jolene quase expulsava o filho da cozinha deixava subentendido que ela recusaria qualquer ajuda, principalmente se fosse de Blake, o aniversariante. O trio então teria o tempo livre para jogar conversa fora ou se divertir como bem entendessem. Tinham as bebidas nas mãos, inclusive. Desde que não perdessem a hora para se arrumar para a festa... Ou que percam, azar! A festa é de Blake e ele pode passá-la do jeito que bem entender!

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A decisão de ir à praia não podia ser mais acertada! O dia realmente estava incrível para uma tarde com os pés na areia, vendo o mar de Slateport. Além de agradar à todos, já que cresceram ali e tinham então a rara oportunidade de aproveitarem o momento juntos, já que a vida dinâmica os mantinha a maior parte do tempo distantes.

Era tarde de domingo, então tanto a orla como a praia em si estavam bem movimentadas de pessoas e Pokémon curtindo o tempo agradável. Como a maioria dos estabelecimentos fechava mais cedo, era natural encontrar tanto habitantes quanto turistas se divertindo e passeando. Por sorte, como bons jovens que cresceram naquela cidade, o trio não teria dificuldade para encontrar um canto mais reservado - se quisessem.

A primeira coisa que Jake fez ao chegar foi recolher os chinelos para sentir a areia, tirar a camisa e pôr os óculos escuros para observar as mulheres com discrição. Seu corpo certamente chamava atenção, por ter um padrão que fugia do da maioria das pessoas comuns, então naturalmente as mulheres também o olhavam.

– Putz... Tô começando a me arrepender de ter chamado a Simone pra vir hoje... – Simone era a gêmea mais velha, filha de Shirley, vale dizer – Ei minha gente, que tal umas competições saudáveis na água? Só de leve... Que eu acho que preciso me refrescar.

Ele dizia baixando parcialmente os óculos, sem cerimônia, para admirar uma bela moça que brincava com um Eevee na beira da água. Talvez pudessem ter lembrado de levar as bebidas para a praia, já que aparentemente Jake estava com sede. Digo isso por conta daquela língua exagerada que ele passou nos lábios, para umedecê-los. Enfim...

No meio daquilo tudo, Miranda seguia lutando para ignorar o fato de estar meio acanhada com a própria ousadia de pôr um biquíni. E ainda mais, um com estampas divertidas! Ela também ocasionalmente lançava olhares para Blake. Teria percebido que ele já estava mais soltinho pelo álcool? Estaria conferindo se ele não olhava para outras moças assim como o irmão? Ou simplesmente conferia se ele não estava olhando para ela? Parecia mesmo ser um olhar com sutil timidez.

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A praia mostrava-se o espaço mais democrático possível para o prazer de todos. Tinha a movimentação ideal de gente bonita para Jake, e a tranquilidade necessária para o romance de Blake e Miranda. Além, claro, de dar oportunidade às melhores corridas aquáticas!

Marshall ficou na frente pelos primeiros minutos, tendo aquela iniciativa como vantagem, e o tartarugão de Blake precisava se aquecer - enquanto o próprio treinador precisava apreciar aquela visão de Miranda de costas usando um biquíni. Mas, antes da metade do caminho Sheldon já estava à todo vapor e os dois Pokémon emparelharam, com Blastoise começando a ganhar vantagem, até que...

Miranda e Blake quase foram derrubados pela onda que atravessou o caminho entre os dois quando Jake entrou na corrida montado em seu Gyarados.

– Vocês são foda! Nem chamam pra brincar, pô! – ele precisou gritar para ser ouvido em meio aquela confusão de água jorrando e vento intenso.

Dali em diante a disputa ficou realmente acirrada, com Marshall e Miranda ficando progressivamente para trás; Blake e Jake competindo pela liderança. O caçula é um atleta profissional e, como tal, naturalmente competitivo, dando o melhor de si naquela corrida, mesmo que fosse uma brincadeira. Mas ninguém esperava que Blake com seu Pokémon cascudo - lento e desajeitado quando em terra firme - chegaria à boia primeiro! Sorte de aniversariante? Quem sabe.

– Ô loco essa tartaruga ninja aí... – Jake vinha em segundo, respirando fundo como se fosse ele que estivesse nadando no lugar de Gyarados.

– Vocês não sabem brincar! Eu quase morri afogada ali atrás... Queria ver quanto tempo levariam pra perceber se eu tivesse caído na água! – Miranda revirou os olhos, provavelmente um pouco ressentida por ter perdido, mas em segundos começou a sorrir largamente.

A loira apalpou os cabelos e percebeu que estavam muito embaraçados pela umidade e o vento, daí mergulhou ali mesmo ao lado de Marshall, para que ao voltar na superfície da água seu cabelo ficasse uniforme de novo, todo para trás. A pele alva da moça estava levemente corada nas bochechas, pelo sol e pelo esforço feito na atividade, mas aquilo lhe conferia um charme adicional...

– Tá, vo mergulhar mais lá pra frente, que aqui ainda tá muito raso. Quando começar a segunda rodada me chamem, falô?! – dava uma piscadela de cumplicidade para o irmão, reconhecendo que, em parte, tinha se intrometido entre o casal.

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