[Fallarbor] Eu e uma joia partida...

Foram dias de muitos voos de um lado para o outro em Hoenn. Na verdade, meu tempo naquela região estava acabando, uma vez que meus planos era retornar para minha terra natal. Mas, como o destino gosta de brincar comigo, antes de ir, teria que seguir o desejo de uma amiga que conheci na minha última missão ranger, Acerola, que me deu aquele item. Em minhas mãos, a esfera rachada, dentro do medalhão dourado parecia refletir meu rosto distorcido. O rachão no meio tinha um significado muito maior do que eu poderia lembrar. Foi por conta dele que Acerola saíra viva de Rutsboro...

Eu fiquei um tempo no Hall de entrada do Centro Pokémon. Meu olhar firme para o nada me deixava um pouco melancólico. ”Tudo bem!”, lembrava dos dizeres do capitão do Posto Avançado Ranger de Rutsboro. Era normal os rangers se envolverem em missão muito mais do que fisicamente, mas emocionalmente. A vida das três crianças que eu conheci só me sensibilizou mais. Bem, agora que eu era um capitão, eu teria mais responsabilidades, mas deixaria para um possível retorno em Kanto.

Ergui-me do sofá e ia até a recepção falar com a pessoa que mais conhece a cidade no momento: a enfermeira Joy! Todas muito atenciosas sempre deixaram claro sua vocação para ajudar. Eu sabia bem disso, afinal, quantas vezes eu não fui salvo (Das mais diferentes formas possíveis) por conta delas? Eu sorri para a mulher enquanto me aproximei.

- Bom dia!- dizia enquanto consertava a jaqueta de couro sobre a blusa branca. A calça jeans parecia mais folgada, talvez por conta do meu tempo ocioso em que perdia peso. Era meio da manhã. Nem sabia como estava o movimento. - Eu preciso de uma informação: eu queria saber onde acho artesões aqui em Fallarbor pra consertar isso.- mostrava o Life Orb partido, que mais parecia uma bijuteria ou colar simples...

Ver a enfermeira Joy dizer que o Life Orb partido de Acerola não tinha mais jeito me deixou com um coração pesado. Claro que ainda era um objeto bem simbólico e que carregaria para sempre aquela marca rachada para me lembrar daquela missão, não com pesar, mas como algo que me ensinou muito. Mas mesmo assim, tal como a vida de Acerola foi restaurada em alguma cidade de Hoenn, eu queria restaurar aquele objeto para a glória que ele tinha perdido. Era um pouco bem filosófico, mas entendia que era o desejo da menina, senão, ela não tinha me dado o item, nem muito menos sugerido onde eu poderia consertá-lo.

Mas a rosada enfermeira pareceu se lembrar de algo. Meu olhar vivo focava na face dela mudando de decepção, para um fundo de esperança. Eu não queria perder aquela esperança. Já tinha passado por missões e crimes o bastante, só queria um pouco de paz, mas se for algo um tanto quanto complicado, eu abria exceção das minhas férias para ir atrás. - Por favor!- chamava a atenção da enfermeira, repousando de forma abrupta minhas mãos no pulso dela. Claro que ao perceber o movimento indelicado, eu logo puxei minhas mãos de volta, afinal, não queria assustar a mulher.

- Não quero ser inconveniente, mas é uma pedra importante para mim, não pelo seu recurso que ele significa, mas porque foi uma amiga que me deu, e acho que seria o desejo dela ver o item restaurado um dia.- dizia com convicção, embora usasse o tempo “acho” para denotar a minha inteção. - Estou disposto a ir em qualquer lugar!- claro que eu não estava trajado como ranger, afinal, tenho direito de ser só um Às de segundo grau, um treinador pokémon, como os outros.

Meu olhar era de esperanças, que talvez Joy nem soubesse que tinha me dado. Meu coração até acelerava mais um pouco, sob a possibilidade de ter o Life orb restaurado. Claro que isso não traria a vida de Pitú de volta, mas parecia ser algo que confortaria meu coração... E talvez, nem precisaria de sessão terapêutica...

  “Kuromo Haruki”, pensava no nome em que a enfermeira Joy relatava. Claro que minha ação fora emotiva demais, não combinando nada comigo, pois estava longe de ser emotivo pra com as coisas. Sempre fui mais racional, mas devo admitir que minha última missão mexeu comigo. As férias vieram em um momento certo. Mais uma vez, a esperança que tinha sido renascida pela enfermeira era fortificada. - Kuromo Haruki...- as palavras saiam da minha boca de forma espontânea. Eu olhei para a mulher, que revelava que não seria fácil convencer o senhor a me ajudar....

Eu fiquei segundos pensativos. Era difícil dizer que estava tão perto e tão longe. Um passo de cada vez seria necessário ser usado. - Eu penso que o não eu já tenho... De fato, em outra situação, eu não insistiria muito, pois respeito muito os outros e gosto de manter o espaço, mas isso realmente é muito importante para mim. Por favor, eu vou querer ir até ele, se a senhorita me ajudar.- tentei dar o espaço à mulher, pois não queria que todo aquele drama que surgiu nas últimas rotas narradas atacasse a mulher em minha frente.

Sem perceber, apertava a joia em minha mão, olhando para a mulher que estava ali, enquanto esperava um endereço. Claro que agradeceria a enfermeira pela informação. De fato, eu não fazia ideia como eu iria convencer a um velho artesão a me ajudar, mesmo sabendo que ele era bem rancoroso e rabugento... Pelo menos, era o que eu entendia, pelo o que a enfermeira dizia.

  Eu segurava aquele papel que tinha o endereço do homem com as duas mãos. Meus olhos fitavam naquele pedaço de papel que descrevia o local da minha primeira tentativa. Claro, já tinha colocado todo o meu desejo e expectativa naquele momento de encontrar o joalheiro, restaurar a pedra, vencer o mal, salvar o mundo e.... PERA! Pera! Eu estava muito afobado, realmente. Não era como se fosse ainda um adolescente, mas eu sentia uma grande empolgação por ter um destino em minha frente. E por falar em destino, vinha junto apenas visões de vitória, mas a realidade pode ser cruel. Eu poderia ter o meu pedido negado.

Bem, Joy morava ali há muito tempo, com certeza, e conhecia as pessoas mais do que eu. Encontrar o ranzinza, convencê-lo a me ajudar e consertar a joia pareciam vários processos, quando na verdade se resumia apenas a um só: conquistar o artesal! E digamos que eu não sou um modelo de conquista. Apesar da minha afobação no momento, pois estavam muitos processos em jogo, eu tinha certeza que eu não era o cara mais simpático do mundo, afinal, até fui muito intenso no momento com a enfermeira. Não sabia lidar com esperanças em demasia, ao visto....

Mas agora tinha o endereço e a informação que não seria fácil. Joy pelo menos me preparou, já que ela acreditava que o único homem na cidade, com habilidade e técnica suficiente para consertar o item, na verdade, não faria isso muito fácil. ”Quanto isto me custaria?”, pensava, e algo me dizia que não tinha nada a ver com valor financeiro. - Muito obrigado, Joy!- agradecia com o sorriso mais sincero que escapava dos meus lábios. Continuei segurando o papel em minhas mãos, com as informações de onde encontraria o homem. Caminhando ainda o encarando o endereço, seguia para as ruas de Fallarbor.

O pokénav era tirada do bolso. O aparelho abria em sua tela de GPS, enquanto colocava o endereço me dado, ali na cidade, vendo qual seria a melhor rota para a casa do homem, se teria linhas de ônibus ou teria que ser um uber que me levaria. A questão era que independente o que fosse (trem, carro ou jumentinho) eu chegaria lá. Mas o que diria? “MIM AJUDA POR FAVOR?”, acho que o sr. Haruki não seria o homem que aceitaria algo assim. Teria que ser mais maduro e impositivo em meus desejos, sem ser invasivo demais ou expressar uma autoridade que não tinha. Não estava ali como Capitão Ayzen. Estava ali como Treinador Ayzen! São situações que eu preferia separar, profissionalmente falando...

  O meu andar pesado pelas ruas de Fallarbor eram concentradas em encontrar o endereço. Graças à tecnologia, descobria com certeza facilidade que a rua onde morava o senhor Haruki não era muito longe dali, o que me fez pensar no que eu iria falar com o único artesão na cidade que poderia consertar o item. Mas como eu faria isso? Claro, não posso obriga-lo a nada, seria até leviano da minha parte fazer isso, mas de fato precisava de um bom argumento, e chorar não estava na lista de ser um bom argumento, então, fora de cogitação...

Enquanto fui me aproximando na casa que seria o endereço desejado, eu fui abordado por uma velhinha... uma das senhoras que moravam ali, fazendo-me olhar para o começo da rua, onde tinha outras, com certeza apreciando o dia e conversando saudavelmente (deixe-me em minha inocência). Esta vinha até mim quando reparava se aquela casa era realmente a que eu estava e... Ela acava confirmando, não era? Ali era a casa do sr. Haruki, mas ela confirmava muito mais do que apenas a localidade, mas também o quadro de saúde do homem.

Em um primeiro momento eu abaixava as anotações com a letra da Joy que eu tanto tinha questão de levar, fazendo-me olhar mais uma vez pensativo para casa. Saber que o sr. Haruki estava doente me fazia ficar com um pé atrás de incomodar. Mais uma vez as minhas esperanças voláteis, como estava nas últimas semanas, pareciam recuar meu corpo. Desta vez, por uma questão de senso, afinal, em um estado de saúde do homem, como poderia eu exigir alguma coisa? Como se, também, eu fosse exigir se ele fosse bem de saúde... Enfim, não sabia a idade dele, ou se a doença era natural do processo de envelhecimento ou não, mas de qualquer jeito, a face da triste rompia em minha fronte.

- Sério?!- não que eu estivesse duvidando da bondosa senhora que veio me informar com tamanha dedicação, mas, eu senti a necessidade de pedir mais informações, como se esperasse que a doença dele fosse apenas uma dor nas costas que passava ao tomar algum “chá de véi”. - Mas é grave? Tem alguém com ele neste estado?- nem sabia se ele cuidava bem da sua saúde ou se morava com sua esposa ou filhos... Na verdade, nem isso eu sabia se ele tinha, mas fiquei realmente preocupado pela saúde do homem.