04 - Blinding Lights

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O cãozinho realmente despertou o interesse de Jamie, mesmo não sendo tão popular para si, e muito menos místico como ele gostaria; na verdade, Yamper era o contrário disso, era extremamente normal e bastante natural, sendo um literal cachorro elétrico por conta da sua velocidade extrema. Contudo, seria uma ótima adição a equipe, e disso não restava dúvidas, Boltund, sua evolução, era bastante forte e potente, e a gatinha do Especialista também gostaria de ter um amiguinho mais perto de seu tamanho, mesmo que fosse um cãozinho. Mesmo comovido, o rapaz não escolheria apenas capturar o bichinho, diferente do que fizera com Charmander, e ordenou a seu pássaro que atacasse.

Assim como o primeiro monstrinho, a princípio, o elétrico não entendeu o que Franssoá queria fazer, mas se afastou dos dois ao ver Xatu tomar uma posição a frente, mesmo que seu rosto continuasse completamente inexpressivo; a verdade era que o canídeo estava morrendo de medo da feição sinistra do psíquico, e preferiu se manter longe. Sentado nas patas posteriores, ele abaixou as orelhas e o rabo, não levantando a tempo de receber uma explosão de luz que o derrubou com força suficiente para quase nocauteá-lo; ele chorou, com medo, e sequer contra atacou. Aztec não tivera piedade, e disparou outro Dazzling Gleam, sendo este o golpe de misericórdia para o amarelado.

Agora, enquanto procurava a última Park Ball em sua bolsa, Jamie acabou por encontrar a caixinha que ganhara na primeira tenda, e julgou que agora seria uma ótima hora para abri-la; curioso, balançou a embalagem algumas vezes, mas nada conseguira identificar com apenas esse movimento. Sendo assim, resolveu abrir de uma vez, e o que encontrou dentro fora outra caixa, utilizada para evoluir um certo tipo de Pokémon, que sequer fazia parte dos planos do rapaz. Sendo assim, ele voltou a caçar a última esfera, lançando-a contra o monstrinho depois de encontrar, e garantindo, além de sua última captura, um último item de costura, sendo este um saquinho com espuma, dessa vez. No momento em que colocou o pé para fora da última tenda, o guia lhe abordou, questionando qual dos três Pokémon seria seu escolhido, pedindo que devolvesse os dois restantes no processo.

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Conforme a decisão de Jamie era concretizada, o guia recuperava as duas outras esferas com o garoto, e o deixava levar a de Yamper, seu mais novo monstrinho; já havia citado anteriormente o lado positivo de ter escolhido o cãozinho, então não se fazia necessário ressaltar mais uma vez, apenas deixaria a mensagem de que o monstrinho ficou bastante contente em ser escolhido pelo rapaz, e isso influenciaria em sua felicidade. Agora, tendo decifrado o que faria com tais itens resgatados durante o processo de aventura, o cabeludo demandava uma pelúcia em troca dos itens, mas o segurança só ria de sua cara, entregando-lhe uma boneca de bruxa. - Esses itens você leva pra tenda do ateliê. O que eu tenho pra te entregar é a da Bruxa da Noite. - Ele disse, com um sorriso ladinho nos lábios.

Esse seria mais um destino para o jovem, ter de ir nessa barraca especial das organizadoras, Dollie e Plushie, para conseguir outra boneca, que não fosse a já ganha ali mesmo; a bruxa era representante do tipo noturno, e fazia par com todas as outras pelúcias já distribuídas anteriormente em eventos por Hoenn, e agora se fazia presente também nos de Tohjo. Mas isso ficaria para depois, já que Franssoá era escoltado para fora das tendas de captura, e agora estaria livre para ir a barraca de seu desejo; ainda haviam muitas opções dentro do assentamento, além de que ele provavelmente voltaria a beber agora. Tinha a área de atrações, com brinquedos temáticos, as tendas mais famosas, de Arqueologia e Teste sua força, além da área de batalhas , praça de alimentação e área exotérica, com vários outros destinos que poderiam ser tomados pelo rapaz. Qualquer que fosse sua escolha, ainda teria bastante tempo para decidir, a noite ainda era uma criança, para sua sorte.

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Por mais que o objetivo do garoto fosse demorar tempo suficiente para que ele ficasse bêbado o suficiente antes de chegar na área de presentes e esoterismo, o destino uma vez mais se mostrava eficiente, e rapidamente ele chegava ao lugar. Já estava mais alterado do que o normal, mas não o quanto queria, a ponto de sequer saber seu nome; na verdade, a aventura na última tenda fora até revigorante para seu corpo, ele teve de se manter um pouco mais concentrado, focado nas batalhas e em como escolheria qual era o melhor Pokémon para si, além de claro, pegar todos os itens e se fazer de sóbrio para o guia. Afinal, o evento era livre, mas ele provavelmente seria expulso das tendas de captura se fizesse arruaça.

Ainda assim, ele tinha álcool suficiente no corpo para abastecer um carro, o que era definitivamente bastante, e mesmo isso começando a interferir em seus sentidos, ele ainda se mantinha de pé, falante e sustentando um papo com seu Xatu até de fato estar na barraca que era idêntica a da Madame Creuzodete; a cartomante era bastante conhecida por Kalos, e o próprio Jamie já havia consultado com a mulher algumas vezes, lá em seu continente natal, onde era uma estrela. Bem, isso significava que ela não poderia estar ali... né? Não dava para ter certeza até entrar, se fosse uma réplica da cabana dela, estava bastante fidedigna, tendo até a placa de "vende-se biscoitos de polvilho" bastante peculiar, que enfeitava a original, e que representava um lado mais humanizado da figura mística. Com coragem, Franssoá finalmente colocou seus pés para dentro, determinado a encarar o que quer que tivesse ali.

A primeiro momento, a única coisa que reconheceu foi o cheiro de incenso típico da madame, um do tipo "abre caminhos', bastante comum em locais como esse; depois, ele pôde notar alguns outros detalhes que remetiam ao ambiente original, como velas artesanais, búzios espalhados para todo lado e outras bugigangas típicas de pagãos. Contudo, estava vazia, até onde enxergara, não havia nenhuma outra alma viva, além da possível cigana que deveria estar na área mais reservada, onde Jamie se dirigia no exato momento em que uma voz chamou por ele. Não fora possível identificar de onde viera tal som, nem o que dissera com certeza, mas certamente o levava para frente de uma cortina, onda havia a sombra de uma mulher sentada á uma mesa, com velas fortes iluminando sua sombra no tecido.

Quando ele abrisse, encontraria o que queria, o mais temido por ele, a própria Madame Creudozete, em carne e osso, plena com seu vestido avermelhado cheio de babados e predarias, das mais diversas; sua mão estava depositada em uma carta, a mão mais branca e lisa que ele poderia encontrar em uma boa área de efeito, e a mais enfeitada também. Havia pelo menos dois anéis em cada dedo da mulher, e cada um era mais valioso que o anterior; subindo o olhar, o cabelo dela tomaria forma, num castanho escurecido pela meia luz do lugar, mas que certamente fora banhado em rios de creme. Seu rosto, enfim, exalava serenidade, da mais pura forma, num semblante misto de curiosidade e paz; ela ergueu a carta e virou seu rosto para encontrar o de Jamie quando ele abriu as cortinas, e lançou um sorriso na direção do rapaz. - O tolo.

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Mesmo incrédulo a princípio, no fundo, Jamie sabia que aquela era realmente a mulher que ele tão bem conhecia, Sentada, bem plena, como se nada acontecesse do lado de fora de sua tenda, era essa a característica mais marcante da cartomante, que agia como uma verdadeira rainha, e deveria mesmo; conhecidissíma como as noites de paris, ela já havia jogado cartas para diversas celebridades do mundo Pokémon, e principalmente de Kalos. Desde os líderes de menor importância para até a elite quatro, todos consultavam com Madame Creuzodete e tinham seus destinos decididos pelas cartas da cigana, que lidava com a fama bem no estilo Lana Del Rey: se escondendo de todo mundo; apesar de ser uma estrela, ela não fazia isso por fama ou glamour, ela fazia porque acreditava no que vinha por ela, e na energia que transmitia.

Jamie também acreditava nisso, e esse era o motivo de ter sentado rapidamente quando se certificou da identidade da mulher. O comentário dele a fez sorrir levemente, para depois colocar a carta na mesa e encarar o rapaz com seus olhos perfurantes de sempre, que causavam um arrepio em qualquer um que tivesse sensores para tal; ela aproveitou para colocar o restante do deck também a frente, mais próximo dele, mas sem tirar sua mão de cima, ainda. - Alguma vez você precisou? - Ela questionou, erguendo uma sobrancelha e aí então, retirando a mão de cima do baralho, que agora dividia a mesa em dois. De um lado, um garoto perdido que buscava conhecimento, e do outro, a bela vidente que detinha tal poder, e poderia ajuda-lo; parecia uma cena de filme, huh?

A mão da mulher agiu novamente, dessa vez colocando a carta do tolo virada em direção a Franssoá, com um indicador no meio, mantendo-a sobre seu controle. - Aqueles que estão perdidos buscam o caminho. Mas como o tolo, sempre voltam ao início. - Retirou o dedo e cruzou as mãos sobre a tábua da mesa, ainda analisando o rosto de seu velho conhecido de cima a baixo. - Quando um ciclo chega ao seu fim, ele há de se encerrar... o que você não quer deixar ir, Jamie? - Sua pergunta provavelmente perfuraria o pensamento do cabeludo como uma agulha, mas ela não lhe daria tempo pra pensar; logo, bateria com a ponta da unha no topo do tarot, insinuando que era hora dele tirar um carta. O que quer que ele buscasse, provavelmente descobriria ali...

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Perdido em seus próprios pensamentos, Jamie analisava cada pedacinho de sua vida para tentar descobrir o que faltava em si; não era a primeira vez que ele se consultava com a madame, mas certamente uma das únicas em que ele realmente estava mal, e precisava de ajuda real para melhorar. Quem sabe o que aconteceria se ele se mantesse cada dia mais viciado na bebida? Se ele voltasse com o vício em cigarro, e tudo isso somado a um período de instabilidade mental, onde seu psicológico não estava tão bom assim, ele chegaria aonde? Certamente a vida de treinador não pedia isso dele, e mais certo ainda era o destino que ele teria se gastasse toda a sua juventude lidando com problemas que ele ainda não deveria lidar.

A taróloga sabia disso tudo, ou melhor, ela sentia isso tudo, e fazia questão de reforçar para Franssoá todos os pontos onde ele mesmo se enfiou, com apenas uma carta; a morte. A morte para a cartomancia não representava a passagem para a próxima vida, como muitos pensavam, ela não dizia que você iria morrer, como todo mundo pensava; na verdade, ela dizia o contrário, dizia uma nova vida, um novo começo. A morte para o tarot representa renascimento, a quebra de um ciclo para o começo de um novo, e era exatamente essa a situação em que nosso protagonista se encontrava. - Mudar de continente não significa mudar de vida... eu lhe disse isso em nossa última consulta, mas parece que você não se lembra. - O baque foi real, e ele poderia sentir a rispidez no tom de voz da mulher.

- Eu entendo o medo do futuro... realmente entendo. As vezes o que temos planejado não sai como esperado, e acabamos nos decepcionando com uma expectativa que nossa própria cabeça criou; mas não passa disso. Expectativa é algo que não se deve brincar. Quebrar os laços com seu antigo eu, deixar que o novo renasça mais forte, mais poderoso, mais confiante e mais sábio, principalmente; isso tudo é o que a morte me diz. Mas o que a morte te diz? - Creuzodete sabia que Jamie tinha conhecimento suficiente do baralho para entender o que aquela pergunta significava. Ela nunca daria uma resposta concreta, porque ela não podia, e nem precisava. A única pessoa que poderia ajudar o garoto, era ele mesmo; e com isso, ela pediu que ele tirasse a última carta.